domingo, fevereiro 28, 2010

No meu mar de silêncio...


Procuro uma voz neste meu mar de silêncio,
assim, cortado pelo mar de chuva que não pára,
irrita a chuva assim,
quando é demasiada,
mais porque nos prende,
que pelo facto de ser apenas chuva.
vou procurando então no mar de silêncio que é meu,
lembrando o outro mar calmo da parte da ria,
porque o silêncio não pode ser quebrado,
como a corrente de vazante ou de enchente nas marés vivas,
procura tua voz nem que seja apenas um sussuro,
é coisa de vício, já, decerto,
vício que não quero perder,
enquanto a água correr,
como na enchente ou na vazante,
assim fico a ouvir o silêncio, a recordar as palavras,
a lembrar momentos,
como remoinhos em dia de cabeça de maré,
como correntes fortes da barra,
espero o teu sussurro, mas espera...
Parece que estou a ouvir!
Ou então,
é apenas coisa imaginada do sonho,
embalado pelo barulho da chuva que não pára de cair,
no meu mar de silêncio...
Nota: o texto é da autoria de quem publica assim como as imagens tiradas de pinturas do próprio.
Não cumprirei o acordo ortográfico feito à revelia de uma nação e de um povo.
Quero agradecer as palavras do amigo que escreveu acerca de Goethe.

A trela invisível

"Existe uma forma subtil de o poder político premiar ou punir os órgãos de comunicação: através da publicidade institucional. Quando o órgão é manso, recebe o seu biscoito. Quando o órgão ladra e morde, a ração é controlada. Por isso é fundamental saber quanto se gasta e, sobretudo, onde se gasta o dinheiro público: a ‘liberdade de expressão’, hoje, não se faz com comissões prévias de censura. Faz-se com o livro de cheques na mão. A trela é a mesma.

Infelizmente, esta informação simplória foi recusada ao Parlamento e aos portugueses. O Bloco de Esquerda requereu (várias vezes) uma lista com as despesas em publicidade efectuadas em 2008/09 por ministérios, institutos ou empresas do Estado. Meses depois, o governo admite que não sabe, não quer saber e tem raiva a quem sabe. ‘Não há registos’, diz o ministro Lacão, uma resposta que faria sentido em Chicago, nos anos 20, e não num país da União Europeia, em 2010.

Percebe-se: se não há registos, não há abusos; se não há abusos, não há problemas; se não há problemas, tanto barulho para quê?
"

João Pereira Coutinho

Médico para todos, emprego para todos e por aí fora...

Contrariado, venho aqui escrever sobre a falta de verdade de políticos que têm culpas na desgraça dos sistemass

sábado, fevereiro 27, 2010

Percorre-me de lés a lés...

Dizia o poeta que os poemas de amor são ridículos,
os amantes são ridículos ,
o ridículo é o que é,
mas dizia por ser tímido ou por acreditar que os poemas de amor são ridículos,
eu digo que amar não é ridículo,
ridículo será viver sem amar, ridículo e triste,
como tudo na vida,
podemos ter uma ideia sobre uma coisa e pensar que existe,
algo mais que aquele dedo em riste,
que mais ou menos nos aponta até que ponto somos seres pouco, ou muito ridículos,
mas ridículo, ridículo, é dizer disparates,
tolices ou dislates,
por isso, encosta-te a mim,
enrosca-te a mim,
mesmo que comigo não estejas, imagina e sonha comigo,
enquanto o tempo lá fora ruge,
dobra e parte a mais forte árvore,
porque o nosso tempo urge,
acossa-nos como à mais forte árvore,
assim fecha os olhos e pensa que me aqueces os pés,
me limpas a alma, pensa que o que fazes me acalma,
corre o meu espiríto de lés a lés,
porque isso não tem nada de ridículo,
tem algo a ver com viver,
como esta coisa irritante de ter,
que fazer poesia com rima,
porque de certeza faz perder,
todo o sentido das coisas como a estima,
daí as poesias de amor e todas as outras,
serem coisas sem grande sentido,
assim, prefiro escrever sem rima,
fica menos ridículo e melhor composto,
porque ser poeta com rima,
é coisa que se não aprende de um momento para o outro,
é coisa de nascença, como um defeito de nascença,
ou um talento ou crença,
assim sendo, doravante vou escrever como me der na gana,
que se lixem os críticos e os piquinhas das sílabas e das métricas,
porque não tenho arte nem jeito,
e a palavra com alma não engana,
mas o que queria mesmo dizer,
é que te encostes a mim,
me aqueças os pés, me apertes as mãos,
porque me quero sentir reviver,
faz-me sonhar nas asas do desejo,
esquece o ridículo do poema de amor,
ajuda-me apenas a viver o momento,
a manter o desejo,
a viver sem baias,
fecha os olhos e chega-te a mim,
como se a presença fosse verdade para mim.


Nota:
O texto é da autoria de quem publica e Goethe, (quem sou eu para citar essa grande alma), disse pouco antes de falecer, que tudo aquilo que escreveu, não era dele, era tudo o que outros tinham escrito ou dito.
As ilustrações essas são minhas.

Não me apetece porque não há nada para dizer...

Muitos me perguntam porque deixei de escrever sobre questões de política ou de coisas do género, digamos que não conheço onde pára a grande política, porque de facto, é uma coisa que não existe.
Gosto de cães, mas detesto ter um, porque depois teria de o ensinar a ter hábitos que são semelhantes aos humanos, ter que os levar a passear à trela e depois ser mandado por eles e para onde eles querem se dirigir, dependendo do tamanho do bicho é claro, e eu, não gosto nem de ser arrastado ou empurrado, nem gosto de arrastar um pobre bicho.
Prefiro os gatos são independentes.
Dito isto, percebe-se o desprezo que tenho pela classe politica: cães de trela dos tipos que controlam esta coisa a que se lembraram de chamar de país.
Desprezo portanto quem nos governa, quem está na oposição, os que dizem que exercem a justiça e que de facto não a aplicam, ou por ameaças ou porque simplesmente são irmãos gémeos ou colegas de loja, daí não me ser fácil escrever sobre esta grande choldra agonizante.
De facto não há nada dizer, porque em ruim doente não vale a pena tentar a cura e para fazer de conta andam por aí muitos.
" A espiritualidade superior independente, a vontade de solidão, a grande razão são já sentidas como perigosas; tudo o que eleve o indivíduo acima do rebanho e amedronte o próximo, chama-se, a partir de agora mau; a mentalidade tolerante, modesta, submissa, igualitária, a mediocridade dos desejos recebem nome e honras morais. Finalmente, em condições muito pacíficas faltam cada vez mais a ocasião e a necessidade de nos educarmos para a serenidade e a dureza; e agora toda a severidade, mesmo na justiça, começa a incomodaras consciências; uma aristocracia e auto-responsabilidade altivas e duras quase são insultos e provocam a desconfiança, «o cordeiro», ou melhor «a ovelha» são cada vez mais respeitados."
... Algum dia - a vontade e o caminho que conduzem para esse dia chama-se hoje, em toda a Europa, «progresso».
Nietzsche in " Para além de bem e mal"

No More Lies

Inimigos do povo

"A saloiada nativa não gosta que digam mal da Pátria. Parece que o ‘estrangeiro’ está atento à paróquia e a melhor forma de velar pelos interesses dela é pelo silêncio ou pela fantasia, não pela crítica ou pela verdade.

Há uns tempos, em discurso no Parlamento Europeu, Paulo Rangel avisava que o Estado de Direito estava em risco em Portugal. O discurso era ligeiramente histérico (no conteúdo e no tom), mas a saloiada não perdeu tempo com as palavras do homem; apenas com a atitude dele em levar para fora as nossas misérias internas. Nesta semana, novo capítulo. Com Manuela Ferreira Leite. A economia portuguesa está a caminho do abismo grego? Não existe economista sério que não contemple essa possibilidade. Mas ter a líder da oposição a verbalizá-la em público é um crime contra a nossa imagem e, no limite, um crime contra Portugal. Cinco anos de socratismo, no fundo, deram nisto: transformar qualquer crítico do governo em ‘inimigo do povo’, uma categoria célebre que, depois das desgraças do século XX, eu julgava definitivamente enterrada
."

João Pereira Coutinho

Nobre foi só a quarta escolha

"A candidatura de Manuel Alegre às presidenciais de 2011 e o mais que provável apoio do PS obrigaram os soaristas a pôr de pé um plano engenhoso para impedir que o poeta de Águeda tenha alguma hipótese de derrotar Cavaco Silva e sentar-se em Belém.

Como o apoio de José Sócrates, com mais ou menos dificuldade, é praticamente um dado adquirido, algumas figuras próximas de Mário Soares multiplicaram-se em contactos para encontrar na esquerda uma personalidade de prestígio que estivesse disposta a meter o pescoço no cepo e assim tirar uns votos preciosos a Manuel Alegre nas eleições de Janeiro de 2011. ‘Correio Indiscreto’ sabe que Fernando Nobre, presidente da AMI, foi a quarta escolha dos soaristas. Antes de Nobre foram contactadas pelo menos mais três figuras da vida nacional, com grande prestígio, capazes de tirar votos a Alegre na esquerda e no centro do espectro político. Uma delas foi Guilherme d’Oliveira Martins, socialista, presidente do Tribunal de Contas. A outra foi Rui Vilar, socialista, presidente da Gulbenkian. A terceira foi Artur Santos Silva, presidente do BPI e da comissão dos 100 anos da República.

'FACE OCULTA'

UMA LUSA MUITO, MUITO CRIMINOSA

O director da Lusa, Luís Miguel Viana, esteve em muitos maus lençóis no final da semana passada. Então não é que a agência estatal fez uma notícia sobre os despachos do senhor procurador-geral da República que estão, ou estavam, em segredo de justiça, contrariando as ordens do primeiro-ministro, que considera essas violações um crime contra o Estado de Direito? O que o safou foi o facto de ser amigo de Sócrates e os despachos serem muito favoráveis ao primeiro-ministro.

NEGÓCIOS DO PS

SÓCRATES FALHA DATA DE FIGO

José Sócrates foi o primeiro entrevistado do novo programa de Miguel Sousa Tavares. E sobre o suspeito apoio de Figo na campanha eleitoral, afirmou que o ex-jogador já tinha dado uma entrevista ao ‘Diário Económico’ em Junho. Aldra. Foi em Agosto. E nem Miguel Sousa Tavares o corrigiu. Coisas.

SALÁRIOS DOS POLÍTICOS

A MÃEZINHA DÁ-LHE O CHEQUE

Os salários dos políticos têm estado na berra. Paulo Portas defende uma baixa ou pelo menos que não recebam o décimo terceiro mês. José Sócrates começou por rejeitar a ideia, mas acabou por dizer que estava disposto a abdicar do subsídio. Esta afirmação provocou diversas reacções nas bancadas do seu próprio partido. E alguns deputados socialistas andavam pelos Passos Perdidos do Parlamento a sussurrar que Sócrates só fala assim porque tem uma mãezinha que lhe passa uns cheques
. "

António Ribeiro Ferreira

A floresta da ética

"A Comissão de Ética parece-se cada vez mais com o Capuchinho Vermelho. Está perdida na floresta que plantou. Com um pouco de sorte, nunca conseguirá descobrir a saída e acabará devorada pelo Lobo Mau. Não se perderia grande coisa. A chamada de dezenas de pessoas para testemunhar sobre a liberdade de expressão e a de imprensa (dois valores que estão a deixar de ser semelhantes) está a servir para que a comédia de enganos se tenha instalado no local. Já não se percebe o que as pessoas estão ali a justificar e, pior, não se entende já o que se pretende saber. Se os deputados soubessem o que querem saber, o que estão ali a fazer e fizessem o trabalho de casa, todos estes acontecimentos inexplicáveis seriam mais fáceis de explicar. A verdade é óbvia, mas preferiu-se fazer um drama com muitos episódios para ver se há algum final feliz como em Hollywood.
A Comissão de Ética não quer saber nada. Senão, em vez de questionar os jornalistas sobre quem são os accionistas das empresas de comunicação social deste país, mandava saber isso. Mas nem isso a Comissão de Ética se deu ao trabalho de fazer. Criou-se um labirinto de questões, de onde ninguém sairá com conclusões. A inquirição é uma sopa de pedra: cabem lá todos os condimentos. O resultado será simples: não terá sabor a nada. A Comissão de Ética vive em lua-de-mel com as suas questões e o País sofre com os pesadelos desta comédia sem arte. Criou-se um teatrinho para os deputados representarem uma ficção sem sentido. No meio de tantas perguntas sem nexo ninguém encontrará as respostas fulcrais."

Fernando Sobral

[346.] ILGA Portugal

"A actual campanha da ILGA Portugal abre nova frente na batalha das lésbicas e homossexuais: a aceitação pelos filhos da orientação sexual diferente dos pais.

O anúncio televisivo centra-se na aceitação pelo filho jovem de que o pai é gay. O narrador do anúncio em off é o filho, enquanto viaja com o pai de carro e rememora o passado com ele. Os elementos referidos fazem deste um pai atencioso, extremoso, sempre presente. Daí que o filme, começando com a hipótese de um afastamento (o rapaz vai no carro pensativo e sem dialogar ou mesmo olhar para o pai) acabe com ambos abraçados na praia. A conclusão do texto é dirigida ao espectador: "Por um pai ser gay será menos pai por isso? (…) Antes de julgar o que está certo ou errado, pense."

O anúncio exterior, para mupis, mostra uma fotografia de uma mulher abraçando o filho no campo, num momento feliz de partilha com a criança. O texto está colocado bem por cima da foto: "Se a tua mãe fosse lésbica, mudava alguma coisa?" O observador é convidado a estabelecer a relação entre o texto (em que se trata da maternidade lésbica) e a imagem (onde se vê uma mulher e uma criança).

Os dois anúncios têm pontos comuns. Primeiro, faz-se a construção retórica da mensagem nos dois anúncios através de perguntas no momento crucial em que se aborda a sexualidade parental. Para que serve a pergunta? Para evitar ou relativizar afirmações mais fortes; e para colocar o ónus da resposta no observador do reclame.

Em segundo lugar, os anúncios procuram estabelecer uma racionalidade na aceitação da homossexualidade dos pais. Enquanto no mupi se sugere ao observador que raciocine sobre a relação entre a homossexualidade parental e a ligação mãe-filho, no spot televisivo esse convite é abertamente formulado, quando se diz que o espectador deve pensar "antes de julgar".

Em terceiro lugar, todavia, a racionalidade é submergida pela emotividade. No mupi as cores da foto fornecem o mesmo ar de memória da infância que constrói a narrativa do spot televisivo. As fotografias do passado têm sempre uma atracção nostálgica para os interessados, que, de alguma forma, transborda para outros observadores. No mupi, a fotografia exerce a função de emocionar a relação mãe-filho pelo que ela foi no passado (ou até ao momento). Além disso, as imagens transferem para pessoas concretas a situação abordada, que deixa de ser abstracta. No caso da TV, a emoção é facilitada pela força das imagens em movimento e pela voz humana e música que as complementam.

Há, entretanto, uma diferença de peso entre os dois anúncios. A narrativa do spot coloca a questão da homossexualidade do pai numa idade crescida do filho e não interpela o observador a respeito do seu próprio caso, colocando a pergunta genericamente ("por um pai ser gay será menos pai por isso?"); já o anúncio do mupi interpela o observador colocando-o na posição hipotética de ter uma mãe lésbica.

Mas faz mais: apesar do tom de "passado" da fotografia, o anúncio é dirigido a crianças. Na imagem, vê-se um miúdo; e, ao contrário do spot, que trata o observador por você ("pense"), o mupi trata o leitor por tu ("se a tua mãe…"). Desta forma, o mupi interpela directamente crianças. Este aspecto do anúncio é negativo e, a bem dizer, uma provocação às próprias crianças, antes de o ser a adultos. Não cabe a uma campanha publicitária tratar de um assunto como este, confrontando crianças com questões que devem ser tratadas noutras circunstâncias e não quando atravessam a rua ou vão no autocarro. Trata-se de uma irresponsabilidade dos publicitários e da ILGA Portugal (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero), um acto perfeitamente escusado numa campanha de causas fora disso correcta e perfeitamente integrada num espaço público aberto como deve ser o nosso."


Eduardo Cintra Torres

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

O nascente e o poente

Passo os dias fazendo perguntas,
procurando respostas,
indagando,
olhando o que parece estar mal e muitas vezes está bem,
para além do que me é possível saber,
para além do que é aquilo que penso ser o meu ser,
se apenas o meu ser também será o que penso ser,
mas o que me preocupa, quem quer saber?
São apenas coisas sem importância por que minhas.
Por vezes torno-me injusto e exijo o que não pode acontecer,
quero no fundo viver os suaves milagres,
mas esses,
são o poder viver sem grande sofrimento, tu sabes,
viver apenas, assim,
como as almas que me atormentam como cumprimento de penas,
as almas que não choram as lágrimas para fora,
e que só fazem fechar os olhos para as chorar para dentro,
porque assim apenas não me fazem pensar,
não me deixam apreensivo,
mas eu estou habituado a viver a tristeza,
porque ela faz parte de mim há muito,
e ela é a minha companhia,
digamos que sou um veterano, em tristeza,
por isso não suporto viver,
e sentir que ela está a passar de mim para outro ser,
porque não quero repartir essa coisa que se me colou à alma,
quero manhãs mais promissoras,
quero madrugadas em que te aqueça os pés se estão frios,
quero fins de tarde de cansaço feliz e aconchegado,
quero ver as paisagens que estão ainda para ver,
quero sentir mais felicidade no teu olhar,
no teu ser,
não quero lágrimas que se não vejam nos teus olhos,
quero que a tua alma seja um espelho sem defeitos de imagem,
quero que esse espeho não tenha defeitos,
mesmo que o tenha de partir para o mudar por outro,
quero que o impossível seja todos os dias,
quero ser a teimosa pedra de Sísifo,
quero ser a sua tarefa até morrer exausto,
quero quebrar esse desencanto,
quero quebrar o teu desalento,
quero voltar a ver o teu sorriso,
e ouvir o seu cristalino som,
quero que não te preocupes com as minhas tarefas,
porque quando quero sou teimoso como Sísifo esse ser da mitologia,
só que menos forte, mas teimoso,
e a teimosia é uma força,
quero que não te fragilizes,
quero ver tua força,
quero que a conserves e a contagies,
quero porque sei ler as almas que sei ler,
sei ver um raio de sol antes dele nascer,
sei que as madrugadas não são poentes,
sei que as coisas partidas se conseguem colar se tivermos paciência e saber,
por isso, quero que a felicidade seja o nascente e o poente da tua vida,
mesmo que me não aqueças os pés,
que me não segures as mãos,
que me não seques as lágrimas,
porque quero ser autêntico, quero ser eu,
assim como o homem da forja,
teimoso como Sísifo,
duro como a pedra que teima a rolar do cume,
torto como a montanha de onde ela teima em voltar,
quero que sejas o mais feliz dos seres, porque sim,
porque a vida é feita de nascentes e poentes,
e cada um tem os que tem,
porque não os controlamos e ainda bem,
porque quero voltar às portas do deserto e voltar a chorar as lágrimas da impossibilidade,
de não voar na criatura que Alá criou do vento do Sul,
do cavalo que voa sobre os ventos do deserto,
no silêncio que só o deserto tem,
porque quero que seques as lágrimas que choras para dentro da tua alma,
quero que sejas o que queres ser,
quero que as manhãs te nasçam radiantes mesmo que esteja a chover,
mesmo que o vento não esteja feição,
porque te ensino a bolinar,
é só procurar o vento e ser paciente,
e ser paciente é viver,
é gozar o nascer e esperar o sol poente,
gozar o esplendor das suas cores,
porque são sempre diferentes, basta saberes olhar...

Pequeno-almoço incluído

"No meio de tantos milhões desviados para aqui ou para ali, já acho irrelevante distinguir se o sr. Luís Figo recebeu ilicitamente 750 mil euros para apoiar o PS, se recebeu licitamente (?) 250 mil para promover uma coisa chamada Taguspark, de que a PT é fatal accionista, ou se não recebeu nada de ninguém. Triste é viver num país e numa época que acreditam, com razão, no peso eleitoral de uma "celebridade", no caso uma "celebridade" da bola e com palmarés interessante em matéria de seriedade contratual. "Essa merda", explica numa das "escutas" o actual secretário de Estado da Defesa, "vale muitos votos". A fotografia que junta o sr. Figo e o eng. Sócrates ao pequeno-almoço é o retrato do que somos e do que merecemos."

Alberto Gonçalves

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Um raio de luz


Há coisas que entristecem a alma,

que se revelam na impotência de seguir o caminho da felicidade,

porque há lágrimas que não escorrem dos olhos,

escorrem para o mais íntimo sentir de um ser,

fazem-me sofrer,
lembram-me o tempo que passou,

de um tempo que passou,

do tempo que deveria ter acontecido quando deveria ter acontecido,

e depois estes seres que amamos,

fecham os olhos para não mostrar as lágrimas da alma,

e lutam mais ainda contra a angústia da existência,

para não dizer o que fica sempre por dizer,

porque ao dizer sofrem ainda mais,

revivem no sentimento a nostalgia que sempre vencem com um sorrriso,

sim porque eu conheço os sorrisos,

conheço as dores da alma,

as suas feridas,

as impossibilidades das vidas,

a tristeza das existências,

as solidões vencidas junto de pequenas multidões,

conheço o desfazer de sonhos e o nascimento de outros ,

como na ressurreição das coisas,

conheço a força destas almas que parecem frágeis,

acredito na força porque ela se demonstra no tom da voz,

na decisão que não na indecisão,

e eu, que me julgo um conhecedor das forças e fraquezas,

que muitas vezes me engano e ainda bem,

que vejo as lágrimas que se não choram por ser sinal de fraqueza,

e beleza de alma,

e eu, que me julgo um ser que já viu muito e que afinal pouco sei,

sei no entanto que almas sofridas têm muito mais força que a minha,

reconheço no tom da voz,

no sorriso cristalino,

na beleza do olhar, no brilho que a esperança lhe dá,

no saber que amanhã vai ser melhor,

porque a vida deve ser assim,

como o choro de uma criança que logo pára,

e que se transforma num sorriso que enternece,

e que nos aquece a alma,

como quando as embalamos,

quando olhamos os seus rostos nas asas do anjo da guarda,

um dia a seguir ao outro,

sempre,

sempre com esperança que o dia seguinte vai ser de sol,

mesmo que o sol tarde,

ele virá esplendoroso,

como o teu sorriso cristalino que não negas,

quando as palavras são de alguma graça,

e, assim vive sempre um dia a seguir ao outro,

porque eu sei que na mais tenebrosa escuridão,

há sempre um raio de luz que o romperá, e que será cada vez mais forte,

por isso acredita,

que a um dia se seguirá outro e que muitos serão de felicidade,

muito poucos de tristeza e de nostalgia,

porque esta é apenas um instante, que as almas fortes vencem.

O poder amordaçado

"Se os objectivos da Comissão parlamentar de Ética são ridicularizar o assunto que a levou a reunir-se e promover o livro de Mário Crespo, a comissão cumpriu os objectivos - com o bónus de nos elucidar sobre o nível médio dos nossos representantes.

Na audição de Crespo, por exemplo, uma deputada socialista inverteu os termos em análise e avisou, com ar alvoroçado, para o perigo de se abolir a livre expressão dos governantes. Ainda por cima, a excêntrica lembrança não foi um alívio pessoal da senhora: a recente convocatória por SMS de uma manifestação "espontânea" de apoio ao eng. Sócrates, a realizar na memorável Fonte Luminosa, também referia a urgência em proteger "a democracia e a liberdade".

Aparentemente, há por aí gente convencida ou interessada em convencer os outros de que o primeiro-ministro que manda no país há cinco anos, quase todos com maioria absoluta na AR, está a ser alvo de uma campanha para o silenciar. Por acaso, julgo que a campanha, a existir, visa fazer com que o eng. Sócrates fale, e fale bastante mais do que as trivialidades sentimentais com que responde às acusações de interferência nos media.

De qualquer modo, mesmo os governos formalmente democráticos possuem demasiado poder para necessitar de aclamações populares, de resto típicas de ditaduras e regimes afins. O PS, ou os que tomam as dores do PS, não percebe esta evidência. O povo, incluindo o povo que aprecia o eng. Sócrates, talvez perceba, e por isso não terá comparecido a uma manifestação entretanto cancelada por falta de espontâneos. Ou então pela brutalidade da censura, hipótese a esclarecer sem demora e, literalmente, sem olhar a meios: sugiro nova reunião da Comissão de Ética.
"

Alberto Gonçalves

Procuremos o vento...

Se um dia nos fosse possível o poder de vencer a relação tempo/espaço,
se nos fosse possível adivinhar o passado para prever o futuro,
não seríamos feitos desta massa de que é feito o homem.
Somos um acaso da lotaria cósmica.
Um cavalo quando vive em estado selvagem, come erva e bebe água,
quando se sentem felizes roçam os pescoços e esfregam-se uns nos outros.
Quando se zangam dão meia volta sobre si mesmos e escoiceiam o chão.
Eles sabem.
Quando os aparelhamos e os constrangimos, passam sempre a olhar para o lado,
correm a toda velocidade tentando cuspir o freio e libertar-se das amarras.
Assim meu amor,
o mais livre dos humanos não é aquele que se oriente pelo que escolheu,
é aquele que nunca tem de escolher.
Por isso eu digo que estamos agrilhoados,
porque somos as criaturas que Deus fez cair na terra, somos seres caídos,
não dominamos o tempo e o espaço.
Podemos ser felizes nos breves instantes em que não escolhemos,
em que somos guiados pelo cheiro do vento como os bichos,
pelas correntes de ar que nos podem elevar,
como fazem as águias,
porque o sonho é possível,
mesmo que estejamos agrilhoados ao pecado mortal do anjo caído,
porque a vida é o que podemos ir tirando dela, e, assim, agarrando o impossível,
podemos talvez enganar o tempo e o espaço, e ser felizes, contra ventos e marés,
porque é possível bolinar e fazer a nave procurar o vento da esperança,
mas não esqueças que as coisas são o que são,
e o destino é isso,
procuremos então o vento, para bolinar se não estiver de feição.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

O silêncio do mar de vento...

Vou continuar a sonhar o meu sonho como se os olhos apenas vissem a minha alma,
como tentasse saber o que vai na tua,
sei que a vida é feita de decisões e de indecisões,
feita de dor e de pouca felicidade,
sei que o tempo de ser feliz dura muito mais que o outro,
sei o que se arrasta,
o que custa puxar uma coisa muito pesada,
mas sei também que vale a pena plantar muitas árvores com as minhas mãos,
sei que elas vão dar frutos porque os degustei, com deleite,
como queria degustar o que me aparece no horizonte,
como sei que que as coisas são o que são,
e não me deixo vencer pelas coisas impossíveis,
faz parte do meu dia a a dia,
gosto do vinho em conta e com corpo, aroma e alma,
os que sabem do que falo não me deixam mentir,
gosto de repetir palavras,
como gosto da imagem do cavalo puro sangue árabe,
feito pelo Deus Alá do pó e do vento do Sul,
para que voasse em vez de cavalgar, porque sei e porque já vi,
e porque gosto das palavras de Jesus e dos seus suaves milagres.
Gosto do teu doce olhar que me ficou na memória gravado na alma,
mesmo que seja impossível o que julgamos ser,
gosto do cristalino sorriso que me contagia o ar taciturno,
gosto que me faças feliz, nem que seja por um segundo,
porque o tempo é elástico,
e nós é que o moldamos,
o fazemos parar,
porque as equações dadas como certas estão erradas,
porque as equações são feitas por doidos e são efémeras,
nós também somos, mas somos verdadeiros,
porque partimos de premissas certas,
porque o espírito vale mais que os números,
e porque as letras fora do nosso a,b ou c e não o y, beta, delta ou gama, são de outros.
Assim, ficamos pelas nossas conhecidas palavras,
pelas palavras que nunca teria coragem de dizer,
mas que vou dizendo,
como o que cavalo que voa no silêncio do deserto,
no silêncio do mar de vento,
assim,
vou quebrando o silêncio das palavras que vão ficando por dizer,
mesmo que nunca sejam ditas,
vou lembrando o gosto a fruta silvestre colhida no momento,
o sentir o cetim ou a seda pura,
o estremecer sem saber controlar o voo das asas do desejo,
voar mais alto que a mais forte águia,
sentir o prazer do ar rarefeito,
porque é disso que falo,
é deste embalo em que me fico,
sonhando e pedindo que me não acordem do sonho,
porque o sonho é tudo o que nos resta,
e ao acordar quero sentir o gosto a framboesas, mirtilho e amoras silvestres,
e contemplar o objecto do desejo,
como se fosse a última vez,
de muitas outras vezes,
porque o sonho é tudo e sem sonho um homem não vive...

Se o dr. Nobre não existisse

"Talvez seja um sintoma do curioso estado a que o País chegou, mas além de cumprirem os preceitos constitucionais (idade, nacionalidade, etc.), até ver todos os candidatos confirmados às próximas "presidenciais" convergem num critério: são apreciadores de "Che" Guevara.

Manuel Alegre manifestou a reverência através de um longo poema que ocupa um livrinho de 40 páginas (aliás bem bonito: "De todos os guerrilheiros / ele é o único insepulto / nem sequer se sabe se ressuscitou / ao terceiro dia / Não está em parte nenhuma / o que significa que pode estar em toda a parte"). Fernando Nobre escolheu o elogio em prosa, e declara sentir "certa admiração" pelo seu "colega de profissão", cujo fascinante exemplo o inspira a acreditar que "muitas vezes isto só se resolve com metralhadora" (entrevista à Notícias Magazine, 21 de Setembro de 2008).

Diga-se que Ernesto Guevara não é o único psicopata que entusiasma o dr. Nobre, que noutras ocasiões confessou prezar bastante o Hezbollah, agremiação composta por, cito, "gente qualificada, professores universitários, muitos médicos". Por este andar, é possível que o dr. Nobre acabe a gostar do velho Mengele. O dr. Nobre apenas não gosta de Israel, dos Estados Unidos e, vá lá, do Ocidente em geral, que responsabiliza por cada mal da Terra, incluindo o de oprimir o Islão e o de excitar o respectivo fundamentalismo, que estava tão sossegadinho, coitado. O mundo restante é um paraíso onde as chatices se resolvem a tiro e onde não prosperam aberrações como democracias, partidos e as "politiquices" (sic) de que o dr. Nobre, do alto das autoproclamadas "multiculturalidade" e "mundivivência" (?), garante fugir.

Não fugiu o suficiente. Só nos últimos anos o dr. Nobre apoiou activamente políticos de três partidos diferentes e agora concorre a uma eleição democrática, consta que a pedido de Mário Soares para irritar Alegre. O discurso de apresentação, naturalmente populista e assustador, foi uma demorada elegia a Portugal e, o que não espanta em quem prefere a acção à teoria, um atentado de metralhadora em riste contra a língua portuguesa. Do que consegui decifrar, ouvi o santo fundador da AMI prometer que a candidatura "não será inútil". O prof. Cavaco concorda. Se o dr. Nobre não existisse, não teria de ser inventado
."

Alberto Gonçalves

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Nas asas de um anjo

Voarei com o meu pensamento,
com a minha maneira,
com o meu ser, de ser,
mesmo que seja contra o vento,
mesmo que tenha de bolinar,
e fazer os bordos que precisar,
porque sei que estás no vento que me acompanha,
que sinto que me aquece a alma,
que me faz subir nas correntes das águias,
dos ares aquecidos junto às escarpas,
dos ares que fazem o desejo,
que desafiam o equilíbrio,
de tudo,
das coisas por viver,
das que ficam por dizer,
por viver,
como as asas dos anjos,
como o destino que me guia,
como o colo que me acolhe,
como aquilo que desejo,
como aquilo que espero,
como a vida por viver,
como o vento que procuro,
porque tenho de bolinar,
porque o vento tem de me servir,
e à sua procura,
encontrarei o objecto do meu desejo,
como tudo o que nunca me foi oferecido,
porque desistir é dos fracos,
e fraqueza é coisa que não procuro,
procuro, com o vento,
mesmo que não esteja de feição,
voar nas asas de um anjo.

Um inocente às oito da noite

"O eng. Sócrates irrompeu no início dos "telejornais" a clamar inocência na novela da PT e a revelar uma conspiração para abalar a sua inabalável pessoa. Não é exactamente um discurso inédito. Aliás, tenho a impressão de que, sempre que não está a inaugurar fábricas que fecham passados seis meses ou a constatar o progresso nacional, o primeiro-ministro está a queixar-se de cabalas arquitectadas por invejosos das suas proezas.

Nos quatro minutos da intervenção, o eng. Sócrates ainda teve tempo para se afirmar inamovível e condenar a divulgação das "escutas" pelo Sol. Talvez porque o Benfica jogasse às 20.05, já não houve tempo para condenar os escutados, os quais, por iniciativa própria, usaram o bom nome do eng. Sócrates de modo a congeminar um plano sujo, quase tão sujo quanto as campanhas que teimam em perseguir um homem digno, generoso e inocente nos vários sentidos da palavra.

Curioso. Se amanhã a Trombeta das Beiras noticiar que uma quadrilha de ladrões diz roubar auto-rádios em meu benefício, não será com a Trombeta que me zangarei. Mas eu sou um reles mortal. O eng. Sócrates não é. Por isso chegou ao lugar que ocupa, do qual, na cabeça dele e cada vez mais apenas na cabeça dele, nunca ninguém o há-de tirar
. "

Alberto Gonçalves

Serenidade

Sereno como um esteiro da minha ria em dia de luz que só lá há,
reflexo de Santa Maria,
um dos meus grandes amores,
hoje ameaçada não digo por quê,
porque há coisas que se não sabem,
sabem de algumas os que gostam de a ver e de a desfrutar,
porque o Diabo anda à solta no país de Santa Maria Imaculada,
mas anda à solta por tudo quanto é lado,
por isso deixo de ver as notícias,
ajudarei no que posso e devo,
mas não quero por uns tempos ouvir as notícias e as más novas,
porque o Diabo anda à solta.
mas é da serenidade que mais gosto e só quem por lá anda sabe do que falo.

n. Artigo de quem publica

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Deixa-me sonhar ...

Do momento que nunca esqueço,
da razão do momento,
do gosto a framboesas, a amoras silvestres e mirtilho,
a cetim,
a lençóis de seda,
a tudo o que me faz sentir vivo,
a me sentir embalado de te embalar,
de te poder proteger,
e poder fechar os olhos para sentir o teu sorriso,
a ti ,
a todo o ser que és e me ajuda a viver a e a respirar,
que me ajuda a degustar como se provasse um nectar novo da Primavera que demora,
e meu Deus como está demorada,
e como está teimoso este Inverno.
Sabes?
Sinto-me como uma abelha que procura o néctar,
como a rainha que bebe a geleia para si feita,
assim,
assim, deixa-me sentir e viver a eternidade do momento,
e não,
não movam os relógios,
não os acertem,
porque o tempo é inimigo da felicidade.
Deixa-me lembrar o gosto, o gesto a saudade que fica,
porque assim sou feliz,
pouco me basta como se fosse de gosto espartano,
e de filosofia grega.
Deixa-me adormecer no teu colo de sonho,
porque do sono não quero acordar,
deixa-e lembrar o gosto e os outros sentidos todos,
porque de sentimentos não quero falar, esse serão ou não.
Deixa-me sonhar meu amor,
deixa-me adormecer nas asas do desejo,
e pede ao sol que nasça um pouco mais tarde,
porque o que sinto meu amor é demasiado forte,
é a razão do momento,
é o momento sem razão,
porque não quero ser razoável e detesto os que o são,
e as suas razões de infelizes,
por isso deixa-me sonhar nos braços da fantasia e do desejo,
deixa-me sonhar, acordado,
porque o sonho é tudo, e o momento é o universo todo,
e o sentido é cetim,
é seda pura, é fruto silvestre,
é a geleia real das abelhas e elas são a Primavera que tarda,
por isso deixa o tempo parar e fecha os olhos, faz como eu faço.
Sonha,
mesmo que te custe,
sonha e esquece porque tudo é possível,
porque o que conta é o momento .

N. O texto e todo o artigo são da autoria de quem publica

Mansos Costumes

"Enquanto um ministro jura que o Estado "não tem responsabilidade directa" na escolha dos administradores da PT, um dirigente socialista lamenta a nomeação de "dois jovens impreparados para a PT". A verdade está no meio? Sem dúvida, se alguma verdade sobreviver a tamanhos malabarismos verbais.

Por um lado, os "jovens" em questão apenas se revelaram "impreparados" na medida em que permitiram a divulgação pública dos planos do Chefe Maior (sic). Por um lado, o conceito de "responsabilidade directa" permite esconder as inúmeras interferências que resultam da "responsabilidade indirecta", se quisermos designar assim o controlo que o Estado, leia-se o Governo e leia-se o partido do Governo, mantém em diversas empresas inexplicavelmente públicas ou "privadas" no eufemístico sentido da PT. Não é à toa que o eng. Sócrates regularmente aconselha mais Estado para solucionar a crise, desde que por "crise" se entenda uma necessidade acrescida de empregar serviçais, manipular negócios, comprar favores, calar dissidências e, em suma, utilizar o dinheiro de todos para assegurar o peso e a influência de uns poucos.

Porém, não se culpe exclusivamente o eng. Sócrates, ou sequer o PS. Os dois partidos comunistas gostariam de nacionalizar praticamente tudo, incluindo a mercearia que me vende a ração dos cães. E a própria direita é menos adepta da livre iniciativa do que a fama sugere. Ainda há dias, os três candidatos à liderança do PSD criticavam por conveniência a golden share na PT e lembravam por convicção a importância reguladora do Estado e o "interesse nacional".

Certo é que os governos passam e, chame-se-lhe "regulação", "interesse nacional" ou "polvo", o lastro estatal na economia permanece essencialmente imaculado, quando, como também acontece, não sofre dilatações. Perante uma conhecidíssima tradição pátria, é um bocadinho estranho que, face à descoberta das actividades lúdicas dos administradores "impreparados", um administrador experiente da PT se sinta "encornado". E é muito estranho que o cidadão comum não se sinta. O cidadão comum resmunga imenso mas, numa expressão coerente com a potência estilística do dr. Henrique Granadeiro, em última instância tende para o manso
."

Alberto Gonçalves

domingo, fevereiro 21, 2010

Assassing

O tango do elefante

"O Estado português parece um elefante a exercitar-se na nobre arte do tango. Quando agarra o seu par, pisa-a. Depois esmaga-a. E, como passo final, esborracha-a. Esta falta de jeito para dançar não é de hoje: há muitos séculos que o Estado português sufoca a sociedade civil e a existência de grupos económicos que vivam longe da sua bananeira. Foi assim no tempo dos Descobrimentos, na época em que os monopólios eram outorgados aos amigos, é assim agora. Saltitando como um elefante que quer fazer de Rudolf Nureyev, o Estado tem actuado de forma elegante na PT e na Cimpor. Mostra o desprezo que tem pela sociedade civil e o receio que algo escape ao seu controle. Na Cimpor, a CGD (braço armado do Estado) conseguiu substituir uma bagunça nacional por uma confusão brasileira. Na PT, o Governo, impondo gestores amigalhaços, conseguiu criar uma tourada nacional, embora ainda não se saiba se é à antiga portuguesa ou a se a pega é de cernelha. O Estado português precisa daquilo que Hamlet disse de Polonius: "Deixem que as portas se fechem atrás dele, para que não possa fazer de louco em lado algum para lá da sua própria casa". Este Governo é uma Popotinha louca. Aquilo que o actual Governo está a fazer com o Estado mostra que o socialismo de Sócrates já nem está na gaveta: perdeu--se num "blog" qualquer da sua central de propaganda. Nenhum Governo conservador ou liberal denegriria tanto o Estado como aquilo que este que se diz "socialista" faria. Com Sócrates, o Estado tornou-se um elefante que destrói todas as lojas de porcelana da sociedade civil."

Fernando Sobral

Cai lama na ventoínha

"À hora a que escrevo, o total de nomes incluídos na lista dos que irão ser ouvidos pela Comissão de Ética da Assembleia da República já soma 55 personalidades da área da Comunicação Social. Há nomes de jornalistas que são conhecidos por terem denunciado as pressões deste Governo em geral - e de José Sócrates em particular - sobre jornais e televisões, bem como das tentativas do Executivo, através da PT, de vir a controlar um ou vários grupos de media. É também neste âmbito que serão ouvidos alguns patrões da Comunicação Social, tal como Francisco Pinto Balsemão ou Paulo Azevedo.

Mas a grande novidade pós-Carnaval é que foram agora adicionados à lista nomes de jornalistas do "Público", nomeadamente Luciano Alvarez e Tolentino Nóbrega. Estes jornalistas vêm testemunhar sobre alegadas tentativas por parte da Presidência da República de publicar notícias falsas acerca de um suposto plano do Governo para colocar escutas no Palácio de Belém. Também Fernando Lima, (ex?)-assessor da Presidência da República, no centro daquela polémica será chamado à Comissão de Ética da Assembleia da República.

A ser assim, a audição, que foi criada com o intuito de avaliar as alegadas interferências do Governo na comunicação social, está rapidamente a transformar-se num exercício mais vasto de análise sobre a relação entre poder político, poder económico e comunicação social. A estratégia de alargamento das audições do PS é correcta tanto de uma perspectiva institucional como histórica: Sócrates não é o primeiro chefe do Executivo a tentar influenciar a comunicação social, nem o único que o tenta fazer e que está em exercício de funções. Para se compreender o papel do primeiro-ministro nesta história, é melhor analisar o caso em perspectiva comparada, até para se perceber a magnitude do fenómeno em causa. Mas sendo correcta, é também uma estratégia extremamente arriscada, porque a lama vai cair na ventoinha, e nenhum grupo sairá ileso.

No mínimo, haverá um agravamento da falta de confiança na classe política. No máximo, o frágil entendimento conseguido entre PS, PSD e CDS para a aprovação do PEC poderá ser colocado em causa.

Nem todos serão enlameados por igual, e o primeiro-ministro está obviamente numa situação particularmente fragilizada, deste ponto de vista, pelas notícias divulgadas pelo jornal "Sol". No entanto, o mais provável é que, no global, estas audições venham a servir para que o eleitorado em geral - independentemente do seu perfil ideológico - conclua pelo descrédito das instituições políticas, e talvez também pelo descrédito da informação jornalística em Portugal. A acontecer, este último será uma novidade, pois a comunicação social goza de elevada confiança por parte dos portugueses. Não vai ser bonito.

Mais grave será se o processo de audições conseguir quebrar o tão necessário entendimento entre Governo e oposição para a aprovação do orçamento. Que foi conseguido, aliás, também devido aos bons ofícios do Presidente da República junto de Ferreira Leite. Por enquanto, por razões conjunturais, externas e internas, na oposição não há para já quem queira substituir-se a este Governo. Com essa suposta certeza, o primeiro-ministro e o grupo parlamentar do PS não hesitam em rediscutir o episódio das escutas de Belém, até porque daqui a pouco será anunciado o candidato que o PS apoia às eleições presidenciais.

A verdade da relação entre oposição e Governo ainda pode ser - sensatamente, de resto - aferida a partir do comportamento dos partidos em relação à discussão do orçamento para 2010. Mas o episódio da Lei das Finanças Regionais atesta as dificuldades de obtenção de um consenso. Sabendo que o Presidente da República foi fundamental para conseguir que o PSD decidisse abster-se na aprovação do orçamento, não há garantias de que um prolongado processo de audições que o envolva também a ele ou a quem lhe é próximo não inquine todo o relacionamento entre agentes políticos precisamente no momento em que a estabilidade institucional é mais importante
. "

Marina Costa Lobo

Constrangimentos políticos

"O plano de ajuda à Grécia anunciado pelo Conselho Europeu foi, antes de mais, um momento de grande significado histórico.

A União Europeia (UE) admitiu, pela primeira vez, que a zona euro tem uma dimensão política e está decidida a defender-se de ataques especulativos.

Espero que a garantia de ajuda ponha cobro a esta fase aguda da crise grega, contanto que o governo de Atenas cumpra as suas promessas. Os pormenores técnicos do pacote de ajuda vão, seguramente, incluir fortes condicionantes para evitar o risco de ‘moral hazard'. Trata-se, pois, de uma decisão de grande importância, mas que, por si só, não vai resolver os problemas da zona euro.

Consideremos por instantes a posição da Alemanha sobre a ajuda à Grécia. Os media alemães reagiram ao salvamento com algum histerismo. As opiniões dividem-se inclusive no partido da chanceler Angela Merkel, que por sua vez também está limitada pela decisão do Tribunal Constitucional alemão tomada no âmbito do Tratado de Maastricht, que consagrou a estabilidade como um princípio inalienável para a Alemanha participar numa união monetária. Em caso de violação, a participação da Alemanha deixa de ser válida. Ora, o Artigo 125º do Tratado de Lisboa - a infame cláusula ‘no bail-out' - é, legalmente, um aspecto importante para a estabilidade do sistema. Para muitos, o salvamento da Grécia violaria o Artigo 125º.

O debate sobre o futuro da zona euro deve, por isso, contemplar os constrangimentos legais e políticos, visto a UE não estar interessada em instituir um novo tratado. Assim sendo, o que pode ser feito dentro do actual enquadramento? A primeira prioridade é debelar os desequilíbrios internos.

Espanha e Grécia perderam competitividade face à Alemanha, tendência essa que deve ser invertida ao longo da década. O fosso entre os salários reais continua, aliás, a agravar-se. Para mudar isto, é preciso um mecanismo de coordenação política que envolva todos os líderes políticos e não apenas os ministros das finanças. Espanha, Portugal, Grécia e Itália devem reformar o seu mercado de trabalho, ao passo que a Alemanha deve ser encorajada - dentro dos limites estabelecidos pela constituição - a estimular a procura interna.

A consolidação orçamental é a segunda prioridade. É absurdo pensarmos que o crescimento económico pode, por si só, resolver o problema da dívida. A taxa de crescimento nesta década será, muito provavelmente, mais baixa do que na década passada. A consolidação na maior parte dos países da zona euro deve seguir a via da redução da despesa e não da subida dos impostos. Em suma, temos de dar prioridade à redução dos desequilíbrios orçamentais e tomar decisões difíceis. Os líderes políticos não podem furtar-se a elas como fizeram na última década
."

Wolfgang Münchau

Um cheque em branco

"Com a autoridade política desfeita em cacos, o primeiro-ministro mandou chamar o partido. Para quê? Para conseguir ‘unidade’, ou seja, uma espécie de polícia de choque que o proteja das negras trapalhadas da vida. Um líder, por definição, lidera. Mas Sócrates já não lidera o seu rebanho; esconde-se atrás dele, o que não deixa de ser uma confrangedora exibição de tibieza e fragilidade.

E o rebanho? O rebanho parece disposto a caminhar para o matadouro, ignorando por completo esse fantasma tremendo que se chama ‘dia de amanhã’. Porque existem ‘dias de amanhã’ que o PS, logicamente, desconhece. Que fará o PS, este PS comprometido e arregimentado, se a imprensa continuar a retirar da cartola coelhos que mais parecem ratazanas? Que fará o PS, este PS silencioso e timorato, quando a degradação política, já alarmante, atingir níveis insuportáveis? Fingir que não tem nada a ver com nada?

O PS não se prepara para apoiar Sócrates. Prepara-se, coisa pior, para lhe passar um cheque em branco sem exigir fiador. É o princípio da falência partidária
. "

João Pereira Coutinho

sábado, fevereiro 20, 2010

Deixa-me estar assim, quieto...


As flores são paisagens impossíveis porque são todas diferentes,
há quem tenha dúvidas sobre as diferenças,
há quem as sinta como coisas indiferentes,
há os que gostam de tons mais ou menos quentes,
ou mais ou menos frios,
mas o momento das coisas é tudo,
e tudo pode acontecer num momento,
tão rápido e ténue,
que faz com que uma pequena coisa seja grande e grandiosa,
como uma grande coisa seja nada.
Não me esqueço das coisas simples,
das coisas complicadas ou mais estruturadas,
porque as pequenas coisas ou o mundo dos pequenos seres,
são como viver e renascer muitas vezes.
O carinho, o pequeno toque,
aquele que não se dá por ele,
o momento das grandes coisas nas nossas pequenas vidas,
o não esperes por mim,
o não esqueças que existe o medo do momento,
o medo de acordar de um momento fixado,
como tudo o que nos aproxima ou afasta,
o deixem-me estar no meu canto,
o não me acordem do sonho,
o não me perturbem o pesadelo,
o não me estraguem o dia,
o não me acendam a luz que me fere os olhos e o sentido,
o deixem-me estar no meu canto,
ou então acordem-me,
acordem-me, porque quero estar acordado,
quero sentir o que sinto,
quero ter os sentidos ,
todos,
mas todos alerta,
sem que me doa a cabeça,
sem que me tolham os movimentos,
porque o momento é tudo,
e deixem-me reviver os momentos fugazes,
como a vida de um insecto,
porque o tempo é tudo,
e porque me lembro de tudo
e porque a lembrança é assim
e o meu mundo é o instante,
por isso deixem-me sonhar acordado,
deixem-me viver este pequeno momento,
como se da vida de um insecto se tratasse antes de se transformar,
deixem-me viver a fase do insecto, não ninfa,
o insecto de cor e vida que chama para o amor,
como se abraçasse a vida no instante
e porque o momento é e foi tudo.
Deixem-me estar, assim.
Deixa-me estar assim meu amor.
N. As palavra e todo o artigo são da autoria de quem publica

Mudam-se os tempos, as vontades e o que calha

"Socialistas têm vindo a tentar junto de Jorge Sampaio a substituição imediata do PGR" (DN, 6-7-2005) "Ferro Rodrigues acusa PGR de parcialidade" (JN, 12/11/2005). "Altos dirigentes do PS tentaram promover a demissão do procurador-geral da República logo a seguir à vitória de José Sócrates nas eleições legislativas." (Público, 25/11/2005). "Vera Jardim disse que as palavras do PGR não contribuem para cimentar a confiança dos cidadãos na Justiça nem o prestígio das instituições judiciárias." (Expresso, 10/12/2005). "Alegre defendeu a demissão do PGR." (JN, 14/1/2006). "O porta-voz do PS, Vitalino Canas, sugeriu no Parlamento que o PGR foi penalizado politicamente pela forma como lidou com o caso do envelope 9." (Público, 4/10/2006). Alberto Martins exigiu que "o PGR assuma as responsabilidades perante os erros processuais cometidos." (Público, 10/12/2005).

Isto era dantes, quando o PGR se chamava Souto Moura. Agora o PS, justamente pela voz do ministro da Justiça, Alberto Martins, considera que a crítica, qualquer crítica, ao dr. Pinto Monteiro "reveste-se de enorme gravidade" e "não pode ser aceite por quem tenha apego aos valores do Estado de direito democrático". Estranho? Nem por isso. A verdade é que, em quatro ou cinco anos, não foi só o titular da procuradoria-geral que mudou: os valores do Estado de direito mudaram imenso, e a democracia, ou o que resta dela, também
."

Alberto Gonçalves

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Porque é preciso lembrar que há muitos traidores à solta!

A Pátria

" A Pátria não tem processos de inocência. Reflecte todos os actos dos seus filhos. Cada geração volta ao pé da mesma terra e é recebida maternalmente sem distinçaõ, seja qual for o legado que acrescentar à herança ou a delapidação que produziu.
A Pátria recege tudo sem benefício de inventário como o nosso corpo recebe o tumor maligno e as árvores morrem do raio. Não vale a pena procurar esquecê-la, embora seja evidente que a tentativa seja reprovável. Vai durar mais do que todos os que a exaltam ou ferem. e escreverá no seu livro a biogrfia dos seus filhos sem nada omitir.
O balanço geral de cada época, o patriotismo espera ter mais razões de orgulho do que mágoa, e encontrar um saldo positivo ao serviço do género humnao. A gesta dos descobrimentos, a unificação do globo, o desbravamento da África, a construção do Brasil, a angiografia, os primórdios da antropologia, o método experimental são a Pátria. D. Afonso Henriques, D. Nuno Alvares Pereira, o Infante D. Henrique, , Mouzinho de Albuquerque, D. Nuno Álvares Pereira. O Infante D. Henrique, Mouzinho de Albuquerque, D. João de Castro, Egas Moniz, são a Pátria. Também o são as brutalidades cometidas no Oriente, , as entradas contras os índios, o trabalho forçado, a escravidão, os traidores de 1580, os heróis de 1640, eo desertores e os mortos da década de 60. Tudo lhe pertence e nos cabe. Para além de aprovar ou reprovar cada um dos elementos do inventário secular, a única alternativa é amá-la ou renegá-la. Mas ninguém pode ser autorizado a tentar a sua destruição, e a colocar o partido, a ideologia, o serviço d imperialismos estranhos, a ambição pessoal, acima dela. A Pátria não é um estribo. A Pátria não é um acidente. A Pátria não é uma ocasião.A Pátria não é um estorvo. A Pátria não é um peso. A Pátria é um dever entre o berço eo caixão, as duas únicas formas que tem para nos receber."
In " O novíssimo Princípe de Adriano Moreira

Voarei como o alazão feito do vento do Sul...

Uma paisagem repousante para descansar a mente,
vou fazer-te vaguear através das fantasias e dos horizontes,
esbatidos,
do mais quente para o mais frio,
mas quem sou eu pobre animal de toca,
para ensinar como se usa a água, como se usa chá, café ou outros pigmentos,
para fazer uma pobre aguarela?
No entanto para mim é repousante.
Afasta-me dos medos dos meus predadores, dos que me afligem a alma,
de todos os que me querem agrilhoar o pensamento e o sentimento,
não sou um animal acossado,
apenas sinto que o meu coração por vezes pára,
depois bate forte,
como a chuva que não pára,
e como eu desejo um dia de sol!
Mesmo de Inverno,
que dá calor ao contrário do que alguns dizem,
porque o calor não é apenas isso o físico, da agitação e da aceleração das partículas,
porque a física não é tudo,
o calor da alma aquece-nos o coração,
o que vai contra as leis dos que falam de ciência,
como se a ciência fosse tudo,
por isso,
descansa e olha para além do horizonte, imagina outros,
encontra a paz que mereces,
como o condenado mal julgado e mal defendido,
descansa que eu te embalo,
no meu colo imaginário, como os avós embalam os netos,
que sentem o seu calor
e o suor do início do sono,
que sabem que sonham quando os olhos se movem sob as pálpebras,
e assim, sabem que vem o sono e o sonho,
apenas invejando o que sonham,
e que os aconchegam e acalmam se é sonho mau.
Adormece então e pensa nos horizontes,
não penses nas misérias porque delas pouco podemos mudar.
Dorme que eu zelo por ti,
porque eu sei voar,
eu sei fazer o que o cavalo arábe faz,
voar,
em vez de cavalgar.
Vigiarei o teu sonho porque sei como se faz,
falo com os espíritos,
os bons, os que me acalmam quando fico colérico,
porque não sou santo,
sou apenas um animal que quer ser melhor,
estando longe da perfeição,
Como disse o profeta Boutros-Ghali,
sem desprimor dos profetas da nossa Bíblia,
Deus criou o cavalo e chamou o vento do Sul que obedeceu,
e Deus pegou num punhado de vento,
e criou o alazão fogueado,
extraído do vento do Sul,
atou a felicidade às crinas que caem entre os seus olhos,
e disse-lhe:
voarás sem asas, serás o princípe de todos os outros animais.
Descansa que eu zelo e vou voar como o alazão feito do vento do Sul...


N.
O artigo é da autoria de quem publica na sua totalidade.

Um gigante

"O ministro Silva Pereira jura que as "escutas" do Sol mostram que o Governo nunca teve qualquer ideia de controlar os media. Logo, conclui-se que o dr. Silva Pereira ficou radiante com a respectiva divulgação, certo? Errado: considerou-a um "acto criminoso". Se é verdade que os grandes homens são complexos, eis um gigante, para não lhe chamar outra coisa."

Alberto Gonçalves

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Não me acordem...

Não me acordem, hoje quero dormir com os olhos abertos,
como um sonâmbulo,
daqueles que vagueiam por onde calha,
que vagueiam por sítios já estabelecidos antes do sono,
e antes do sonho,
não eu que não quero ser racional, porque a razão tolda o sentimento,
ou entendimento de querer apenas ser feliz,
nem que seja por um simples momento,
por um lampejo de luz,
por uma simples ocasião de um pequeno momento,
daqueles momentos que ficam gravados na alma,
como se fosse gravado por um daqueles homens que gravam a pedra mais dura,
ou pelas garras de um leão que as precisa afiadas,
por isso, preciso afinar o meu espírito,
preciso de viver e voar como uma ave de rapina,
sentindo o ar quente,
e pressentindo que pode subir e pairar e ver o que só elas conseguem ver,
como eu no meu sonho,
naquele instante em que fechei os olhos e saboreei o gosto do mar,
do vento,
da lua de tudo o que pode saber bem,
como frutos silvestres que se colhem e comem no momento,
porque o momento é tudo,
mas mesmo que seja esse único e o último,
porque eu sou assim e não quero pensar pelos outros,
quero ser assim,
ficar assim e viver o momento do tudo e do nada,
até que a alma comece a reclamar e o coração acelere,
mas não tenho medo,
o medo é uma coisa que se pode vencer convivendo com ele,
por isso e por tudo o mais,
temos que viver o momento,
com silêncio e em silêncio,
para não acordar o sonâmbulo que sou eu
e não avisar os que teimam em acordar os sonâmbulos,
que sofrem da mania de os acordar,
porque o génio é feito de pequenas coisas,
desde um traço,
até ao conjunto de todos os traços,
que fazem a obra, que pode ser uma construção inacabada,
como um sonho que é interrompido,
quando nos sabe melhor,
ou quando ao cair,
acordamos de repente,
e chamamos de pesadelo no fundo,
ao que é um sonho ainda por construir
Não me acordem...


N. Todo o artigo é da autoria de quem publica

O legado de Sócrates

"Na nova fábula da política portuguesa a raposa não abdica das uvas porque estão verdes. Alguém lhe oferece uma escada para ela as deglutir. Esta raposa não distingue uvas verdes de maduras: não come por prazer. Come pelo poder. Sócrates criou uma tribo que não distingue uvas verdes de maduras: só quer empanturrar-se. Talvez esteja agora em extinção.

Ou deveria estar. Sócrates transformou desconhecidos carreiristas políticos em gestores com barriga cheia. É esse o legado do Governo de Sócrates: nunca, como nestes anos, se tinha tornado o Estado uma prova de 110 metros sem barreiras para aqueles que seguem cegamente o chefe. Antigamente, a política era lealdade, afeição, respeito, memória. Com Sócrates criou-se o princípio de que a lealdade canina é mais importante que a qualidade pessoal. O resultado vê-se.

O que se passou na PT, como se depreende das próprias palavras de Henrique Granadeiro, foi o arrombar das últimas portas da decência política. O que foi feito na PT já não é moral nem imoral: é simplesmente amoral. Esta gente não tem sentimentos. Quer apenas poder e os benefícios da sua gestão. Já não é a legalidade, ou não, das escutas que está em jogo. É o assalto à mão desarmada à PT, empresa onde a "golden share" do Estado serve para tornar o amiguismo a nova ideologia política. De Sócrates não sobra uma ideologia de direita ou de esquerda: resta um clube de devoradores. Ninguém duvida que, como Macbeth de Shakespeare, Sócrates lutará até ao fim. Mas a tragédia do País perdurará depois dele
. "

Fernando Sobral

A anatomia de Sócrates

"Como é que um primeiro-ministro supremo e intocável está à beira da morte política? Sócrates não percorre os terrenos do abismo em virtude de uma acção política forte e derradeira com vista à regeneração do País.

Bem pelo contrário. O primeiro-ministro deixou-se envolver em pequenos rancores e guerras pueris contra a comunicação social, contra imaginárias forças de bloqueio e contra um exército de inimigos escondidos na sombra. Na política nacional, o primeiro-ministro é uma espécie de Quixote atormentado. Centro da verdade e da política, Sócrates ignora que uma sociedade livre não é uma arma e que o Governo não é um projéctil apontado a todos os alvos. O primeiro-ministro é a grande vítima dos métodos políticos de Sócrates.

E eis o país mergulhado no descrédito das conspirações, com escutas, providências cautelares, jornalistas afastados, administradores comprometidos, gestores enganados e o escândalo das intrigas que corrói e que corrompe. Perante esta entusiástica pestilência, o PS foge para a frente e desafia a oposição para o duelo de uma moção de censura. Perigoso equívoco. Com um Governo fragilizado e refugiado na secura das justificações formais, a lógica da situação aponta para a apresentação de uma moção de confiança. No terreno da coragem e da política, a iniciativa está no lado do Governo.
O caso das escutas coloca à superfície a completa erosão dos mecanismos que regulam as relações entre o poder político e a comunicação social. Com um poder político sem uma oposição eficiente e alternativa, o Governo concentrou-se demasiado no controlo da opinião pública como garante de uma longa estadia no poder. Curiosamente, este conflito acaba por rasgar definitivamente na fronteira entre o poder político e o poder judicial. A publicação das escutas são um desafio directo ao poder político envolvendo a independência do poder judicial. Neste sentido, em Portugal não funciona uma efectiva separação de poderes, mas sim um conflito público e notório entre poder político, poder judicial e o famigerado quarto poder. As escutas são um enorme ruído que coloca em cheque a neutralidade do poder judicial na mediação do conflito entre a verdade e a política.

Toda esta situação surge num país em situação económica difícil e num quadro de brutal apatia do PSD. Ninguém imagina uma intervenção do Fundo Monetário Internacional em Portugal, mas o auxílio da Europa parece uma hipótese a considerar. Politicamente, o PSD não está preparado para o peso da governação, enquanto o PS parece já não estar à altura dos trabalhos do Governo. Este impasse representa a violência do atraso económico e social dominado pela paranóia política. E o silêncio de Belém é uma má notícia para o país
. "

Carlos Marques de Almeida

Para que serve o PSD?

"No jornal Metro, o meu amigo Luciano Amaral pergunta: o que tem o PSD a oferecer de diferente? Muito pouco, responde o próprio Luciano e responde a amostra da recentíssima sondagem do Expresso, que reproduz quase até às décimas os resultados das últimas "legislativas".

Eu também acho que o eng. Sócrates já provou com abundância não possuir capacidade nem carácter (sim, o famoso "carácter" conta) para mandar nisto. Mas as trágicas limitações do primeiro- -ministro não legitimam excessivamente a ambição de qualquer dos candidatos à liderança do PSD. Um quer "mudar", o outro quer "romper" e um terceiro quer "unir". Infelizmente para eles, não consta que boa parte do eleitorado se excite com tão louváveis propósitos, ou porque não os percebe, ou porque percebe demasiado o vazio que encerram.

Se Paulo Rangel parece o melhor candidato é apenas devido aos remoques que recebe do lado socialista. Nessa linha, a simpatia que o PS lhe dedica fazem de Passos Coelho o pior (e a ausência de insultos ou louvores tornam Aguiar-Branco irrelevante). Por aí, os congressistas do PSD têm a tarefa facilitada. Os restantes cidadãos, não. Ser o alvo preferencial dos adversários talvez constitua critério para remendar o PSD: não é condição suficiente para resgatar o fosso em que o País caiu. Assim como a tese da "asfixia democrática" talvez chegue para demonstrar que o eng. Sócrates está a mais: a liberdade respiratória prometida pelo dr. Rangel (e sobre a qual os antecedentes do PSD suscitam algumas reservas) não chega para demonstrar que o PSD está a menos.

Com Paulo ou Pedro, o PSD só será alternativa de poder se alargar o discurso à economia e apresentar um programa de contenção potencialmente impopular e francamente oposto ao ruinoso legado do eng. Sócrates. E só será poder se ultrapassar o velho dilema: aquilo de que o País precisa é aquilo que o País deseja?

O ministro Silva Pereira jura que as "escutas" do Sol mostram que o Governo nunca teve qualquer ideia de controlar os media. Logo, conclui-se que o dr. Silva Pereira ficou radiante com a respectiva divulgação, certo? Errado: considerou-a um "acto criminoso". Se é verdade que os grandes homens são complexos, eis um gigante, para não lhe chamar outra coisa
."

Alberto Gonçalves

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Até amanhã e boa sorte!

Eles disseram...

"Na perspetiva de Almeida Santos, as acusações que têm sido dirigidas a José Sócrates no âmbito de processos judiciais, “traduzem-se no fim em nada - e agora vai acontecer o mesmo (mais aqui)”.

Venezuelanos estão cada vez mais desiludidos com Chávez

"Racionamento da luz eléctrica, cortes frequentes de água e aumento da violência diminuem popularidade do Presidente (mais aqui)"
Para compensar as “desistências” sempre podíamos enviar uns moços admiradores que por cá andam. E não são poucos...

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Novas da tal Justiça do Santo Ofício...

"Cinco indivíduos acusados de tentarem matar dois polícias e de três assaltos violentos a ourivesarias, incluindo o Museu do Ouro (Viana do Castelo), vão continuar em liberdade. Os suspeitos foram alvo de uma polémica libertação devido a um erro processual (mais aqui)"
Assim vai a tal Justiça do Santo Ofício aonde um cidadão não pode defender-se (mais aqui)...

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E a criminalidade continua a diminuir...

"O grupo que assaltou uma farmácia, anteontem à noite, em Fernão Ferro, no Seixal, é suspeito de na noite anterior ter roubado uma barbearia em Alcochete e um supermercado no Monte da Caparica, em Almada. Recorde-se que nos três casos os ladrões sequestraram vários clientes, exigindo-lhes que entregassem os seus bens pessoais. Na barbearia, o proprietário chegou mesmo a ser brutalmente agredido à coronhada e esteve atado a uma cadeira (mais aqui)"

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Turn Me On & TV Is King

Velhas oportunidades

"Nem tudo é mau na novela das "escutas". Pelo menos o percurso de um dos escutados permite-nos constatar os méritos socialistas em matéria de formação profissional: o mundo está ao alcance de quem ignore as Novas Oportunidades e suba através das velhas, leia-se o "aparelho" do PS.

O jovem Rui Não Sei Quê Soares, que os conhecidos dele acham "inteligente" e "capaz", trepou à administração da PT em dez anos, os que separam o tempo em que andava pela JS a estampar T-shirts com a cara do "Che" e o tempo em que, levando a sério a concepção de liberdade do argentino, interpôs a providência cautelar ao Sol.

Pelo meio, o jovem Rui vendeu créditos na Cetelem, desenhou websites, passou pela TV Cabo e, na PT propriamente dita, correu postos em sentido ascendente até atingir o cargo actual, pago a um milhão e duzentos mil euros anuais. Nada mau. Principalmente porque as regalias do jovem Rui incluem disponibilidade para continuar a frequentar a vida partidária, onde concorreu a líder da "jota", dirigiu o Grupo de Estudos, colaborou na campanha que elegeu o eng. Sócrates e estabeleceu interessantes vínculos entre a PT e o PS, ao fornecer telemóveis substitutos dos destruídos pelos acessos de fúria do "chefe maior" (sic) e, não menos importante, ao representar ambas as entidades no admirável negócio da TVI. Nos telefonemas interceptados (sempre o bichinho das telecomunicações), o jovem Rui trata empresas e bancos teoricamente privados por "os nossos", prova cabal da importância do moço.

Não sei a que alturas esta esperança pátria ainda chegará. A história mostra-nos que já chegou longe, e que, logo que possua ambição e duas ou três virtudes adicionais que me abstenho de enumerar, neste igualitário país qualquer um pode imitar o exemplo do jovem Rui. E o "qualquer um" é literal
."

Alberto Gonçalves

Chefe, mas pouco

"O senhor presidente relativo do Conselho, o chefe, obviamente que não se demite. Os boys do chefe na Portugal Telecom obviamente que não se demitem. O chairman da PT obviamente que não se demite. O presidente executivo da maior empresa lusa obviamente que não se demite. O senhor procurador-geral da República obviamente que não se demite. O senhor presidente do Supremo Tribunal de Justiça obviamente que não se demite.

Os partidos da oposição obviamente que não vão apresentar qualquer moção de censura ao Governo do senhor presidente relativo do Conselho, o chefe. E o senhor Presidente da República, preocupado com o desemprego, o défice, a dívida pública, o endividamento externo e as agências de rating, obviamente que não vai demitir o senhor presidente relativo do Conselho, o chefe de um bando de incompetentes que andou por aí a tentar controlar a Comunicação Social e que foi apanhado numa rede estendida pela polícia a um sucateiro manhoso, especialista em fintas ao Fisco e outros negócios escuros.

Dito isto, não se passa nada. O sítio continua como dantes miserável, deprimido, manhoso, hipócrita, corrupto, incompetente e, obviamente, cada vez mais mal frequentado. Bem podem andar por aí uns socialistas atrevidos a congeminar conspirações contra o senhor presidente relativo do Conselho, o chefe. Bem podem andar por aí algumas almas indignadas com a degradação a que isto chegou. Bem podem andar por aí umas comissões de ética a ouvir vilões e mártires sobre a liberdade de expressão e outras importantes liberdades consagradas na Constituição desta III República, herdeira de duas ditaduras de má memória. A verdade é que ninguém acredita em nada.

Da política à justiça, passando por uma economia dependente do Estado, com empresários de joelhos à espera de negócios, benefícios e subsídios. Na verdade, o único que teve algum senso nestes dias agitados e cheios de emoções foi o senhor que preside ao conselho de administração da Portugal Telecom.

O homem, embrulhado em contradições, aflito com uma memória malvada que o trai sempre que abre a boca, acabou por confessar que se sentia encornado. Na verdade, quem se deve sentir completamente encornado são os indígenas que andam a fazer pela vidinha e dependem destes encornados. Mas, no meio desta desgraça toda, importa salvar a Pátria e impedir que o chefe também nos venha dizer que se sente encornado
."

António Ribeiro Ferreira

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Palavras de um sonho num céu assim...

Como curiosidade, esta série de palavras soltas foram o meu Carnaval, e não, não tive fim de semana prolongado, trabalhei no domingo e amanhã é Quarta Feira de Cinzas, começa a Quaresma.
Sou como muitos, uma pessoa que tem altos e baixos, mas o sol faz-me falta e a todos nós, está claro de ver, dizia uma pessoa de grande estima que o sol fazia melhorar aquela depressão de que todos sofremos, quando se aproxima a Primavera e o Outono, é natural, mas felizmente não mandamos no tempo.
Do que costumo falar, nem uma palavra, isto não tem mesmo cura, é paliativo.

Contaram-me e eu sei, porque já vi,
que os bichos, quando chega a sua hora e sentem a senhora da gadanha,
procuram um local quieto e calmo, longe de tudo,
e esperam.
Antes diziam os antigos e eu vejo da forma como se lembra num sonho,
habitualmente os velhos, ou os novos que perdiam as forças e esperanças,
faziam como aqueles seres a que chamamos de bichos.
E eu,
que vagueio por vezes,
pelos campos e pela minha consciência,
que por vezes não consigo distinguir a realidade, ou a verdade da mentira,
que me interrogo do bem e do mal,
que vivo rodeado de sombras, com as quais não posso falar nem ver,
mas pressinto,
que são pessoas idas para o outro lado,
porque, por vezes,
e duvido que outros que não apenas eu,
já não sofressem esse sentimento,
que se manifesta como um arrepio,
se sente no corpo, principalmente nos cabelos,
como se fôssemos um cão de pêlo eriçado pressentindo o perigo.
Eu, na minha imaginação ou ignorância,
penso que são seres etéreos, querubins ou outros anjos,
que de hierarquia de anjos pouco conheço,
dos outros não sei, porque lhes conheço apenas a superfície da alma,
algumas coisas boas ou más do corpo,
o que para aprendiz de feiticeiro que sempre quis ser,
não é nada mau,
ou então trata-se de um pouco de vaidade.
Dos outros pouco conheço e de mim, o mesmo posso dizer,
ainda não consegui sabero que sou eu,
e o que são os outros, bichos, terra, mar e ar.
Tudo junto.
Daí, a minha sempre dúvida, de não saber onde começa o bicho e acaba o homem,
porque, no fundo acredito que todos temos alma.
Já experimentaram olhar nos olhos de um animal que se aconchega, ou nos suplica algo,
com o olhar que só so bichos podem ter,
e, se isso não é alma o que é?
Se homens e bichos procuram um recanto para morrer, quando de morte não violenta,
que somos todos, senão animais com alma?
O mundo afinal, se calhar somos todos,
como as estrelas todas são iguais,
diferentes no brilho dado ou não pela distância,
e do combustível que um dia se há-de gastar, como a vida dos outros e de eu.

As palavras e o resto são da autoria de quem as publica.

Apetece-me falar em loucura,
esssa coisa que assim foi determinada como tal,
mas parece que andam aí uns doidos que se querem apoderar da nossa consciência,
e logo aqui estabeleço uma diferença entre uma coisa e a outra.
Deixemos este assunto, assim por muito tempo, porque é tema aborrecido.
Depois de sabermos falar com os bichos e as plantas,
sabemos que afinal tudo é fácil,
mas não esqueçamos que não é o mesmo que falar com pessoas,
gente.
As nossas lembranças são coisas que trazemos nos sonhos,
e, como os sonhos são realidades com determinados efeitos,
sabemos que tentar ser realista ou usar a razão é tarefa sem efeito.
As lembranças são como sombras, fantasmas que connosco vivem,
que nos fazem sorrir ,
ou então rasar os olhos de lágrimas,
sim porque chorar não é coisa avulsa,
como a manteiga que se vendia avulsa em papel vegetal,
lembram-se decerto alguns,
porque a vida é uma conta de mercearia,
uma conta de deve e haver,
mas vale apenas ser vivida se tiver uns momentos de felicidade,
de afectos,
ou do amor que começa quase sempre de forma tempestuosa,
que assim está até o tempo querer,
e que quando acalma ou fica e é mar calmo,
ou fica e é amor para ser,
e sendo, pode ser efémero,
pode ser o que quisermos ou o que a vida nos dá e nos deixa,
porque é como uma conta de mercearia,
ou se paga a bem ou a mal,
mas esses momentos,
não são de pagar,
são momentos em que o tempo pára,
contrariando, ou não, a equação do tempo e do espaço,
por isso não acordemos os razoáveis,
vivamos o que for,
nem que seja um segundo ou um décimo do mesmo, porque o tempo esse,
é um ladrão,
só quando o enganamos ficamos saciados,
satisfeitos,
porque roubámos um ladrão,
coisa difícil,
é como enganar um cigano,
mas como me dou bem com um cigano velho,
aprendi com um, a roubar e a enganar o tempo,
mas apenas isso,
no negócio de um burro, porque se não se percebe de burros,
é melhor comprar um burro que não seja inteiro,
depois, dexemos que as coisas vão acontecendo,
como a chuva lá fora,
sentindo o coração ir batendo,
pensando nas palavras que ficam sempre por dizer.

O que está publicado é da autoria de quem publica.

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Contos.


Sempre que passava no caminho olhava para aquela casa com curiosidade. Curiosidade que os altos muros iam alimentando cada vez mais. As lendas que circulavam na aldeia falavam de mistérios e fantasmas. O tempo passava e a casa continuava solitária e altiva no alto do monte, desafiando o tempo e as gentes. Mas sempre que conseguia arranjar coragem, o sol, que se punha sobre as árvores, avisava-me que estava na hora de sair dali e nunca cheguei a entrar nela. Um dia parti e esqueci-a. Passados muitos anos, voltei. O mistério da casa continuava imutável no tempo. Mas este tinha passado a sua mão pela casa. Mais alguns vidros partidos e os telhados que sob o efeito do peso se deformavam, denunciavam a sua passagem. Mas, se a sua passagem pouco afectou a casa, em mim tinha deixado duras marcas. Já não era dos fantasmas da casa que eu tinha medo mas sim dos meus próprios fantasmas.

Fruto do longo abandono temporal, a porta de entrada estava entreaberta. Empurrei-a e entrei na casa, desafiando trocista os medos de outrora. A claridade do dia e os sons transformaram-se em escuridão e silêncio, quebrado unicamente pelo gemido das velhas tábuas do soalho prensadas pelo peso dos meus passos. Abrindo caminho por entre enormes teias de aranha, tentava visualizar o caminho no meio da densa poeira que pairava no ar enquanto o meu aspecto se embranquecia cada vez mais. Pequenos feixes de luz, que emergiam entre frinchas e telhas partidas, pouco ou nada ajudavam. Tal como é habitual nos filmes, em vez de estar vazia, a casa tinha móveis cuidadosamente cobertos por lençóis e mantos de poeira. Parecia que aguardava o regresso de alguém.

Continuei com o pensamento absorto na descoberta, quando um ruído ecoou pela casa. Dei um salto a tremer de medo. Voltei-me com os cabelos em pé. Mas atrás de mim não havia nada. Só as trevas silenciosas. Ao perscrutá-las profundamente senti-me invadido por suores frios. Os piores receios começaram então a emergir.

Mas nada perturbou o silêncio e a imobilidade da escuridão. De repente gritei impulsionado pelo terror do momento: "Está aí alguém?" tendo por única resposta o murmúrio do eco. Dominado pelo medo, em desespero, procurei a porta de saída. Entrei num quarto e tornei a ouvir novamente o ruído. Tentei sossegar, atribuindo a sua origem ao vento e continuei à procura da porta da salvação. Ouvi novamente o ruído e senti o coração parar. Vinha da janela em frente. Enchi-me de coragem e abri os cortinados empoeirados. Um vulto negro raspou-me a cabeça, parou no outro lado da sala fitando-me olhos nos olhos. O seu olhar fixo e ardente gelava-me até ao mais íntimo do meu ser. O ar tornou-se irrespirável. No meu último folgo de coragem, apontei a lanterna na sua direcção. Tratava-se de um corvo. Um miserável corvo que quase me matava de coração. Lágrimas de alívio brotaram. Alegre entrei no Hall, preparando-me para abandonar a maldita casa de vez. Mas o chiar das escadas prendeu-me a atenção. Uma figura humana transparente descia na minha direcção.

A pouca luz tornou-se turva até desaparecer na escuridão total. Quando acordei, estava deitado no jardim, em frente à porta. Sorri de alegria, pensado ter sido vítima de um medonho pesadelo. Comecei a sacudir o pó do fato quando reparei que nele tinha a marca de duas mãos. Senti um arrepio invadir-me a espinha. Olhei para a casa. A porta estava totalmente aberta. Não queria que o quer que estava encerrado no interior daquela casa se escapulisse e corri a fechá-la. Pareceu-me ouvir uma voz a agradecer o gesto mas não arrisquei a confirmar.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Cinzas quentes com brasas...

Porque estou já nas cinzas como se fosse quarta feira,
porque o frio corta como antigamente,
e isso pode ser um bom presságio,
porque não me apetece repetir o que muitos repetem à exaustão,
porque sempre assim foi, embora não me conforme,
Mas deixem-me dormir em paz,
sim,
conheço o poema de Maiakovski,
sim, sei que foi assassinado pelos esbirros de Lenine,
sei que nos começam por dizer que aquele está melhor que o outro,
depois tiram ao que está pior,
depois vão tirando aos mais miseráveis,
até que cheguem a ti ou a mim,
mas decididamente hoje não estou para isso,
não decidiram?
Pois limpem-se na porcaria que criaram, no monstro que criaram.
Odeio cada vez mais os políticos e a política e sobre isso hoje estamos conversados.


Vou continuar a sonhar o meu sonho como se os olhos apenas vissem a minha alma,
como tentasse saber o que te vai na tua,
sei que a vida é feita de decisões e de indecisões,
feita de dor e de pouca felicidade,
sei que o tempo de ser feliz dura muito mais que o outro,
sei o que se arrasta, o que custa puxar uma coisa muito pesada,
mas sei também que vale a pena plantar muitas árvores com as minhas mãos,
sei que elas vão dar frutos porque os degustei, com deleite,
como queria degustar o que me aparece no horizonte,
como sei que as coisas são o que são,
não me deixo vencer pelas coisas impossíveis, faz parte do meu dia a dia,
gosto do vinho em conta e com corpo, aroma e alma,
os que sabem do que falo não podem desmentir,
gosto de repetir palavras,
como gosto da imagem do cavalo puro sangue árabe,
feito pelo Deus Alá do pó e do vento,
para que voasse em vez de cavalgar,porque sei e porque o vi,
e porque gosto das palavras de Jesus e dos seus suaves milagres.
Gosto do teu doce olhar que me ficou na memória gravado na alma,
mesmo que seja impossível o que julgamos ser,
gosto do cristalino sorriso que me contagia o ar taciturno,
gosto que me faças feliz, nem que seja um segundo,
porque o tempo é elástico,e nós é que o moldamos,
o fazemos parar,
porque as equações dadas como certas estão erradas,
porque as equações são feitas por doidos e são efémeras,
nós também somos, mas somos verdadeiros,
e porque partimos de premissas certas,
porque o espírito vale mais que os números ,
e porque as letras fora do nosso a, b ou c e não o y, beta, delta ou gama, são de outros.
Assim, ficamos pelas nossas conhecidas palavras,
pelas palavras que nunca teria a coragem de dizer,
mas que vou dizendo,
como o cavalo que voa no silêncio do deserto,
no silêncio do mar de vento,
asssim,
vou quebrando o silêncio das palavras que vão ficando por dizer,
mesmo que nunca sejam ditas...

Tudo, são originais do autor que aqui publica.

Don't say a word

O eng. Sócrates e a pouca vergonha

"No sábado, ao almoço, um colunista do Público irritou-se comigo. Porquê? Se bem percebi, porque o "perigo" (sic) que o eng. Sócrates representa para o País não pode ser tratado em textos irónicos do tipo dos que, de acordo com o meu generoso colega, eu pratico. A hora, diz ele, exige franqueza, indignação, os pontos nos ii. Na altura, sorri e, em tom ligeiro, confessei-lhe falta de apetência para manifestos. Mas no domingo saiu a minha crónica no DN e compreendi, enfim, as armadilhas do duplo sentido.

Uma artigo em que, a propósito do episódio Mário Crespo, "defendi" com o sarcasmo possível o direito do eng. Sócrates a atacar jornalistas e quem lhe aprouver foi, a julgar pelos comentários no site do jornal e pelas citações em blogues, tomado à letra por diversos leitores. Num ápice, e por uma vez na vida, vi-me elogiado por gente que venera o primeiro-ministro e insultado pelos que o abominam. Não gostei. Embora seja indiferente aos elogios e sobretudo aos insultos, não sou indiferente aos motivos que os fundamentam: é chato vermo-nos avaliados a partir de um equívoco. De modo a desfazê-lo, venho por este meio exercer uma rectificação (e dar razão ao meu colega). Aqui vai ela, sem ironia, sem açúcar, sem afecto e, convenhamos, sem grande entusiasmo.

Não concebo que um governante interpele jornalistas em público, como Mário Crespo garante que o eng. Sócrates fez ao director da Sic. Não concebo que um governante interpele jornalistas em privado, como uma multidão de profissionais testemunha que o eng. Sócrates e seus subordinados fazem. Sei que a ingerência dos governos nos media não começou ontem e não terminará amanhã. Sei que este particular Governo elevou a ingerência a níveis inéditos, em parte por inclinação natural, em parte por necessidade: nunca, desde a democracia iniciada em 1975, tivemos um primeiro-ministro de currículo tão dúbio e competência tão nula. O currículo, oficialmente embelezado por uma licenciatura curiosa, é uma sucessão de "casos" cuja inconsequência fala pelo estado da Justiça. A competência está à vista no estado do País.

O mentiroso foguetório da propaganda, que disfarça muito, não disfarça tudo, donde a obsessão (um eufemismo) do eng. Sócrates & Cia. com a imprensa, de que a história da TVI seria pretexto bastante para que, num país menos folclórico, o Governo fosse sumariamente varrido e o seu chefe confrontado com os respectivos actos. Por azar, tocou-nos um presidente da República tolhido pelas próprias artimanhas, uma oposição presa a estratégias eleitorais e um eleitorado abúlico. Resta algum PS, o qual, segundo consta, começa a ponderar livrar-se da desagradável gente que ocupou o partido. Mesmo que improvável, a hipótese serviria. O PS dispõe de legitimidade para governar: esta gente não. Esta gente é inacreditável nos vários sentidos da palavra. Cada dia que resista no poder é um dia que o País perde e que a pouca-vergonha ganha.

E agora, se me permitem, vou descansar a indignação. Ainda acho que, se não for o melhor remédio, o riso é um paliativo.
"

Alberto Gonçalves

Mártires e imbecis

"Estão bem uns para os outros. Uns adoram sonhar com guilhotinas e fogueiras. Outros, por imbecilidade, realizam-lhes os sonhos. Vem isto a propósito da esquizofrenia que por aí vai com a história da liberdade de expressão em Portugal e os golpes do Governo e do primeiro-ministro para controlar a Comunicação Social em Portugal.

Mais uma vez, estão bem uns para os outros. A verdade é que a censura de uma crónica ou de um artigo de opinião é sempre um acto de profunda imbecilidade num País em que há liberdade de expressão. Um texto que mereceria alguns comentários transforma-se rapidamente num caso exemplar de asfixia e perseguição e o seu autor integra imediatamente a longa lista de mártires da liberdade.

É evidente que o acto imbecil, como sempre, tem alguns seguidores fiéis, que se transformam rapidamente nos arautos da imbecilidade. Uma providência cautelar para impedir a publicação de escutas num jornal é um acto previsto na lei e o seu autor tem toda a legitimidade para recorrer aos tribunais. E a decisão judicial é igualmente legítima e deve ser cumprida por quem de direito. Mas não deixa de ser uma enorme imbecilidade num País em que há liberdade de expressão. E, assim, de imbecilidade em imbecilidade, vai aumentando a longa lista de mártires da Pátria.
"

António Ribeiro Ferreira

Uma história de amor

"O caso das escutas dividiu o país em duas metades. A primeira, obviamente cínica, proclama por aí que Portugal não é um país civilizado. Se fosse um país civilizado, o primeiro-ministro já estaria na rua e o PS, a oposição ou até o Presidente da República já teriam encontrado um novo chefe.

Aos cínicos, respondem os românticos: o ‘Sol’ até pode revelar que a compra da TVI pela PT era o primeiro passo para controlar a comunicação social a favor do governo. Um ‘polvo’, no fundo. Mas isso não prova necessariamente que o governo sabia do arranjo. Para os românticos, a única parte que não sabia de nada era a parte que mais beneficiava com o todo.

Perante este sublime paradoxo, resta-nos concluir que os rapazes da PT actuaram por puro amor ao chefe; e que tencionavam, para infinita surpresa deste, oferecer-lhe os órgãos de comunicação social no sapatinho, de preferência com embrulho natalício a condizer.

Razão tem Henrique Granadeiro, o presidente da PT que se sentiu ‘encornado’ com tanta paixão. Nesta história de amor, afinal havia outro
. "

João Pereira Coutinho

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