domingo, julho 31, 2011

Out in the cold

Sermão aos peixinhos

"(Onde o autor, absolutamente seguro de ser escutado pelo A. J. Seguro, deixa uns palpites de fina água e recomendações de igual timbre para o PS, agora exorcisado de Sócrates, e assim regressado ao chamado concerto das nações).

Depois de quase 15 amos de governação socialista - com o interregno Barroso/ Santana - o País, pediu pé sanga e deixou a penosa purga necessariamente para outros. Mesmo reintroduzida a polémica civilizada, baseada nos princípios da boa fé e da discussão cordata, com um notório apaziguamento duma crispação patológica, o inventário é catastrófico. Desde a necessidade de recorrer a ajuda financeira internacional, com o acumular de défices, dívidas e crescimento permanente da despesa, até ao miserável crescimento económico dos últimos 12 anos (182º no ranking mundial, segundo o FMI), passando pela arrogância e mentira sistemática e o assalto ao poder por colocação de membros fiéis nos centros de decisão, até ao silenciamento de vozes incómodas, tivemos de tudo. Se não se pode dizer que não deixaram pedra sobre pedra, isso deve-se ao facto de o País estar coberto a asfalto.

Com Guterres, pessoa de bem e que levou o meu voto graças à rosa da "terceira via", abriu-se o cordão à alforria do gasto, e a oportunidade para uma excelente piada de Durão Barroso: " Se houvesse prémio Nobel do despesismo, V. Exa. seria seguramente laureado". Assim chegamos rapidamente ao "pântano" e ao título de primeiro país a violar o Pacto de Estabilidade e Crescimento". Mas é Sócrates que representa tudo o que de mau existe na política, nos políticos e na governação, isto não obstante se ter iniciado de forma promissora. O perfil pessoal já estava delineado, com o CV para a Assembleia da República, as licenciaturas pífias, as licenças esquisitas do Freeport ou os negócios tipo Cova da Beira. Pessoas assim atraem Varas não Gaspares (e os Campos fogem), esbatem facilmente a percepção do serviço público pela promoção e pela hubris do poder e, subsequentemente, os resultados são em conformidade e espelham-se nas casinhas abortivas das Beiras com a sua assinatura… e na falência do País.

O Partido Socialista que Sócrates moldou ficou representado no Congresso de Matosinhos que eu segui entre fascinado e incrédulo na TV. As imagens sugeriam uma amálgama de mortos-vivos de Cesar Romero e crentes da IURD, entre evocações lancinantes e elogios rocambolescos, passando pela tirada de um personagem notável: "Vai-te a eles Zé!" (sic).Tudo isto foi regado com mais de 97% dos votos em vésperas da histórica derrota nas eleições nacionais, em boa ilustração do ambiente de alienação e irrealidade.

Uma entidade com este palmarés, numa visão moderada para amigos, necessitaria pelo menos de uma "desbaathificação", mas ficar por António José Seguro e uma nova concepção já não é nada mau. Quem esteve no poder tanto tempo, com tantos tiques de Partido Revolucionário Mexicano, bem precisa de uma cura de oposição, como diz Mário Soares, e anda lá muita clientela a precisar de subsídio de desemprego. Seguro deve conhecê-los, até o trataram como leproso no assaz citado Congresso de Matosinhos. Mas, se eu fosse socialista, diria que o essencial neste grande partido de poder e oposição é a autocrítica para as políticas que levaram o país ao ponto onde chegamos, em permanente recusa da realidade. O socialismo à portuguesa, como aliás o socialismo em geral, acaba por ser um projecto de intenções e não de resultados, em que no final há-de haver alguém que apareça a salvar o que pode ser salvo e a pagar as contas por liquidar.

O partido socialista voltou ao signo do punho fechado, uma emanação das duras lutas sociais dos séculos anteriores que os partidos social-democratas substituíram com grande sucesso pela cooperação. Mas não ganhou nada com a alteração e muito menos os que foram assim governados à marretada. Tanto invoca o PS o exemplo dos estados do norte da Europa, aliás actualmente governados à Direita, e tão difícil parece ser avocar os grandes princípios e métodos que lhes deram sucesso: boa governança, pragmatismo, flexibilidade, responsabilidade fiscal, mercados competitivos e estado forte mas adequadamente contido. Assim sendo, ficar mais à esquerda ou mais à direita passa a ser mera topografia, pelo menos no que ao simples cidadão concerne
."

Fernando Braga de Matos

sábado, julho 30, 2011

A Touch Of Evil

Pode não ser uma bolha mas tem mau aspecto

"Quando o tema é o sector imobiliário, aquilo que se tem escutado nos tempos mais recentes são vozes a garantir que Portugal não é Espanha, nem a Irlanda.

Em terras lusitanas, tudo estaria tranquilo porque não existe, nem se prevê que venha a existir, uma "bolha" imobiliária. Esta é a realidade ou apenas o desejo de que fosse esta a realidade?

A percepção de que o país tem muitos problemas graves mas que, entre eles, não se contabilizam quaisquer consequências de eventuais excessos no imobiliário, supera fronteiras. Ontem, um artigo publicado na revista alemã "Der Spiegel", sobre a actual situação da economia portuguesa, enumerava as principais deficiências nacionais e identificava áreas em que o país devia apostar para aumentar o ritmo de crescimento. Para sublinhar que, por cá, nem tudo estava tão assustador como noutros mercados, subscrevia a tese de que, no imobiliário, não se vislumbram fenómenos semelhantes àquele que, noutras paragens, é apelidado de "bolha".

É um facto que os preços da habitação em Portugal não registaram as quedas violentas que se verificaram em Espanha. E é certo que os bancos portugueses não entraram em cavalarias, enquanto as instituições financeiras de outras economias se entretinham a empacotar créditos hipotecários e a passá-los para terceiros com a chancela de risco de boa qualidade concedida pelas agências de "rating". Mas se há "bolhas" que estouram de forma estrepitosa, há outras que crescem com lentidão e alastram como um veneno administrado em pequenas doses de cada vez.

A acumulação de sinais sobre a "bolha" portuguesa, cozinhada em lume brando, está à vista. Os dados recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística revelam que as avaliações das casas estão, actualmente, ao nível a que se encontravam há nove anos.

Na região de Lisboa, exemplo de um mercado em que a procura exerceu uma forte pressão sobre os preços durante a era do dinheiro de acesso fácil e a baixo custo, o valor médio do metro quadrado tombou quase 5% durante o mês passado. Se estivesse em causa a qualificação de uma descida daquela amplitude num índice de bolsa, a expressão "mini-crash" poderia ser usada sem temer exageros.

Tudo indica que o arrefecimento vai prosseguir. O aumento da taxa de desemprego nos próximos anos, a subida de tarifas em serviços essenciais e a redução do rendimento disponível das famílias, por via dos cortes salariais e da voracidade fiscal, vão continuar a provocar apertos no consumo. Mas também irão adiar decisões de investimento como a compra de habitação própria, sobretudo numa altura em que cresce o número de proprietários que cessam o pagamento das quotas de condomínio para terem condições de honrar os compromissos com os créditos contraídos.

No mercado português já existem, hoje, 350 mil casas disponíveis à espera de compradores que surjam para as arrematar. E não se espera que uma milagrosa vaga de imigração venha a reequilibrar a situação do mercado. Se o cruzamento entre a escassez de procura e a abundância de oferta for decisivo para fixar os preços, estes só poderão descer ainda mais. Pode chamar-se-lhe "bolha", "borbulha" ou um pequeno incómodo. Mas que tem mau aspecto, tem
."

Joao Silva

sexta-feira, julho 29, 2011

Turn The Page

Banca, governo...

"Pois o dinheiro emprestado pelos banqueiros vai para a mão dos banqueiros. O BPN deveria ter falido e não faliu porque não foi conveniente para uma meia dúzia de gente, isso explica tudo o resto e a voragem e a falta de vergonha desta gente da banca.

Vai para alguns que especularam com dinheiro emprestado pelos bancos e ganharam fortunas ou perderam pouco em relação com o que ganharam.
Isso tem sido referido e sabido, por alguns de nós que estão mais ou menos atentos.
O BCE é de banqueiros, não é uma etérea entidade criada pela UE e a UE foi uma ideia que de ideia se está tornar num sonho que virou pesadêlo.

Sobre o Senhor Presidente da República volto a dizer que se serviu do cargo e do silêncio para ser reeleito e é figura que apenas gera despesa graças à maldita contituição que temos e o termo é consequência das malfeitorias de Abril e da abrilada, daí os medíocres que ocupam sempre o lugar do bons, acabarem por tomar conta do poder, o que faz chegar à conclusão que a democracia é uma coisa de treta, uma coisa pavloviana em que os cachorros são todos os que votam e especialmente os que ainda pagam impostos.

Claro que os senhores da banca vão ficar com o dinheiro da troika e quem vai pagar é quem ainda pode pagar, depois se verá, porque já é cada um por si e as células estão em desuso, porque ninguém confia em ninguém e uma célula vai ser feita de um homem só, por causa dos bufos.Salazar sabia que este país era um país de bufos daí a PIDE ter pouco trabalho, eles apenas íam falar e fichar com quem era denunciado pelo vizinho, pelo camarada de partido que era contra algumas ideias dos ideais das liturgias em voga e por todo o resto, uma multidão de povo mesquinho e invejoso.


Certo é que o governo tem 1 mês, vamos ver se tem coragem de cortar nas despesas e se coloca os senhores da justiça na ordem, para que não sejam pagas indemnizações a negócis de fraude com o Estado Morto, mas se há telhados de vidro e se tods se vigiam e escutam sem saberem, ou até sabendo que os outros sabem, estamos numa situação igual à grega e vamo-nos ver gregos, falo dos pobres mortais porque os outros já roubaram e já o colocaram em offshore.

Portanto o que o Presidente da República hoje fala em excesso calou quando lhe foi conveniente. Sobre o estudante de filosofia e seus acólitos é um case study para todos nós, para os que estudam diagnósticos de doenças mentais com alguns sintomas somáticos ao nível de dedos falo de cleptocracia por exemplo e para ser estudado e julgado por quem de direito. Mas o direito morreu, o Estado é o Estado Morto e a justiça é semântica pura e as leis são beneficiar os amigos, tramar os inimigos e para aplicar aos ursos
.

Fiquem bem."

Toupeira

quinta-feira, julho 28, 2011

I Don't Believe In Love

O que está a dar é ter muita preocupação

"Andamos nisto há muitos meses. O Presidente da República, com excepção do período em que preferiu assistir de Belém e em silêncio ao rebentar da crise política, tem falado imenso dos sacrifícios exigidos aos portugueses, que, obviamente, têm limites. Pessoas e empresas que já suportam cargas fiscais violentas, burocracias medievais e incompetências a todos os níveis na gestão da coisa pública. Pessoas e empresas que também têm culpas no cartório. Embarcaram no canto das sereias do dinheiro fácil, barato e que até dava milhões, da casinha para toda a vida, do endividamento demente e sem limites, do goze agora e pague depois e das auto-estradas sem custos para o utilizador. Como se sabe agora, era tudo mentira.

O dinheiro era tóxico, o crédito uma ilusão, a casinha virou caixão e agora não há mesmo nada para ninguém. Nem os bancos, a santa casa do dinheiro, têm notas e moedas para emprestar. Andaram a investir a torto e a direito na dívida soberana, com ou sem pressões políticas, atiraram com milhões para cima das empresas públicas falidas, alinharam em negócios com garantias mais que duvidosas e agora não há ninguém no mundo que lhes empreste um cêntimo, com a honrosa excepção do Banco Central Europeu, uma torneira que está longe de ser inesgotável. Neste quadro lamentável, é natural que ande muita gente preocupada. O Presidente da República com as pessoas que não têm rendimentos suficientes para pagar o imposto de Natal ao ministro Vítor Gaspar e os banqueiros com o Memorando da troika.

Percebe-se o primeiro, é muito estranha a posição dos segundos. O acordo com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI foi assinado há mais de dois meses. Os bancos nacionais tiveram um papel importante nesse processo. Pressionaram até mais não o então ministro das Finanças e o teimoso Sócrates e lá conseguiram que no dia 6 de Abril fosse anunciado o pedido de ajuda externa. Estiveram serenos durante as negociações, saudaram os resultados eleitorais de 5 de Junho, as escolhas ministeriais de Passos Coelho e eis que, inesperadamente, nestes últimos dias de Julho, quando a troika se encontra em Lisboa para a primeira avaliação do cumprimento do Memorando, saltam para a ribalta com um pedido de revisão das medidas previstas para o sector bancário.

Basicamente não querem que os créditos sejam passados a pente fino por técnicos especializados de diversos bancos centrais europeus, como aconteceu na Irlanda quando o governo de Dublin accionou o pedido de ajuda externo. Esta reacção tardia, inesperada e despropositada é ainda mais estranha porque o Presidente da República não está nada preocupado com a banca nacional e elogia a sua solidez à prova de bala, dos mercados e das agências de rating. A não ser que, numa linguagem muito usada na recente campanha eleitoral, haja por aí muitos esqueletos escondidos nos cofres dos banqueiros. Esqueletos para todos os gostos e feitios, de gente feia e bonita e, quem sabe, de muitos empresários de sucessos múltiplos e variados que sempre viveram da banca e do querido Estado
. "

António Ribeiro Ferreira

Porque é que os salários em Portugal são mais baixos do que em toda a Zona Euro?

"Esta é uma questão que certamente inquieta grande parte dos portugueses. Portugal tem feito parte do grupo de países que registam os salários nominais mais baixos da Zona Euro e da UE. Desde que se aderiu à CEE em 1986 (agora União Europeia) que tal característica tem acompanhado o processo de integração. Procurou-se identificar as principais causas das diferenças de evolução dos salários nominais face à média da Zona Euro (a 12 países) ao longo das últimas duas décadas. As principais conclusões são ilustradas no quadro auxiliar.

Os salários nominais portugueses são significativamente mais baixos, aproximadamente 56% da média da Zona Euro em 2006. É também possível observar que o diferencial salarial tem vindo a decrescer. Os salários são o espelho da economia. Se esta registar um baixo nível de preços, os salários nominais seguirão essa mesma tendência; se a produtividade for baixa, os salários serão correspondentemente mais baixos; por outro lado, as dinâmicas do mercado também surtem efeitos ao nível salarial, como sejam o nível de concorrência da economia ou o poder negocial dos sindicatos.

Dos factores assinalados, a produtividade é sem dúvida aquele que maior importância assume - concentremo-nos então na sua análise. Através do quadro vemos que o diferencial diminui, mas não de forma significativa. Na última década não se verificou praticamente convergência da produtividade portuguesa para a média da Zona Euro - a aproximação foi ligeira e apenas se verificou no período referente aos primeiros dez anos, tendo esta última década sido marcada por uma estagnação da produtividade.

No caso português, esta discrepância é sobretudo justificada pelo baixo stock de capital existente por trabalhador. Embora se tenha registado uma aproximação, o nível de acumulação de capital em Portugal é significativamente inferior. Por outro lado, o diferencial também pode ser analisado em termos da composição sectorial da economia. Importa reter que é apenas uma abordagem possível. Parte do princípio que existem diferenças em termos de produtividade nos vários sectores da economia que irão produzir efeito a nível agregado. Neste contexto, a crescente predominância do sector dos bens não transaccionáveis na nossa economia ajuda a explicar o diferencial produtivo. Tal acontece porque o sector não transaccionável assume-se como um sector relativamente menos produtivo, pois tende a ser mais intensivo em mão-de-obra e menos propenso aos benefícios do progresso tecnológico.

A expansão deste sector em detrimento do sector transaccionável tem sido consequência de uma série de acontecimentos - se recuarmos na história, processo de descolonização e o consequente choque da oferta de trabalho foi acomodado por uma expansão da máquina estatal, aumentando a burocracia e comprometendo a eficiência; a entrada no euro e consequente perda do instrumento cambial, que havia segurado os níveis de competitividade, resultou em sérias perdas de rentabilidade para os transaccionáveis. Tal acabou por gerar um processo de "selecção natural" ao qual apenas as empresas competitivas em termos produtivos resistiriam - o que veio possibilitar uma libertação de recursos susceptíveis de serem aplicados em actividades mais produtivas. Todavia o que se verificou foi uma absorção destes recursos pelo sector não transaccionável.

Já vimos o peso crucial do factor produtivo. Quanto à componente das relações industriais, esta tem vindo a ter um efeito positivo na aproximação salarial; a componente do câmbio real tem vindo a contribuir para a redução do diferencial nesta última década, consequência da apreciação real da economia portuguesa face à Zona Euro
."

Inês Gomes

quarta-feira, julho 27, 2011

Breaking The Law

sábado, julho 23, 2011

Portugal junk

"O País vive em pleno Ramadão político. Nos ministérios estuda-se e pratica-se o jejum político como forma de religião. Enquanto o Governo inferniza os neurónios, descobre-se um “desvio colossal” de 2 mil milhões de euros. Não há responsáveis.

Segue-se a sobretaxa no IRS e mais um prometido corte na despesa do Estado. Uma auditoria à dívida pública é uma sentença de morte num País em que o dinheiro se evapora ao mínimo sinal. Quando é que o País conhece a verdadeira dimensão da dívida que não vai conseguir pagar?

Neste ponto chegam os observadores da ‘Troika'. Falar em auditorias é colocar em cheque a imagem internacional de Portugal. Aliás, o Governo de Passos Coelho não governa para os portugueses, mas governa sim para a ‘Troika' ver. Este pormenor explica a sensação de que Portugal não tem Governo porque é governado por um Memorando infalível. Com o livro vermelho do Memorando, Portugal vive numa tranquilidade e apatia preocupantes.

E os sinais acumulam-se. Isento de responsabilidades, Portugal aguarda por uma solução da Europa. A Moody's é a principal aliada da Oposição, o Presidente da República fala na desvalorização do euro depois de criticar os mercados, outros exigem a emissão de Eurobonds ou a mutualização da dívida, mais a solidariedade da Europa e a condenação da conspiração do capitalismo internacional e especulativo, sem esquecer o egoísmo na indecisão crónica de Angela Merkel. Em súmula, com a crise na Europa, Portugal é absolvido de todas as culpas na governação interna, comportando-se como vítima de um mundo que não entende nem quer perceber. Os portugueses têm o direito de saber como é que a má governação nacional acabou por colocar o País nesta débil situação económica. Mas não. Portugal está viciado no facilitismo e pretende asfixiar a crise financeira com uma espécie de vudu económico - indolor e instantâneo.

Enquanto tudo acontece, o País confiante dos profissionais da satisfação dissertam sobre a política dos pequenos gestos simbólicos. O moralismo é um velho vício nacional. Primeiro, são as viagens em classe turística, depois é o estilo económico e sincopado do ministro das Finanças, sem esquecer a proibição dos carros ministeriais nas passeatas domingueiras, junta-se ainda o ministro da ‘scooter' e mais a proibição das gravatas no Ministério da Agricultura para efeitos da redução da pegada ecológica do Governo. A pegada política do Governo começa a preocupar pela timidez das reformas estruturais que não se vêem. O Governo precisa de um plano para os próximos 100 dias com 20 ou 30 decisões para começar a mudar Portugal. A este ritmo de governação, ainda se salva primeiro a Europa, e se Portugal se afundar, ainda sobra tempo para resgatar o náufrago pela segunda vez. O costume. Há qualquer coisa de ‘Oprah Show' neste País
."

Carlos Marques de Almeida

sexta-feira, julho 22, 2011

Dividocracia (Debtocracy) - Parte 5

quinta-feira, julho 21, 2011

A China e a América - Pate 3 (última)

"Em 1990 as exportações chinesas para os Estados Unidos atingiram os 15 mil milhões de dólares principalmente devido ao trabalho sem cessar da Província do Sul, Guangdong, que tivemos a oportunidade de visitar. O Ministro Deng Xiaoping baseando-se neste facto empreendeu uma campanha pelo País sobre as reformas inovadoras do sul. Como consequência desta mensagem de Deng o aumento do PIB aflorou os 15% ao ano. Os investimentos estrangeiros atingiram os 58 mil milhões de dólares e em 1997 ultrapassaram os 100 mil milhões.. Em Xangai foi construído o aeroporto mais moderno no Mundo, e uma cidade repleta de arranha-céus. Deng classificou estas zonas como "económicas especiais".

Em Dezembro de 2001 a China deu entrada na OMC(Organização Mundial do Comércio) que lhe assegurou a exportação sem entraves para a Europa e Estados Unidos. entretanto Deng morre e é substituído por Jiang Zhemin. Nos anos 2000 os chineses passaram a controlar a geografia da indústria mundial. Tudo isto graças ao fornecimento da tecnologia informática dos Estados unidos. Rapidamente a China torna-se o maior fabricante de computadores, aviões, telefones portáteis,etc. Em Setembro de 2008, o dia da falência da Lehman Brothers, dá-se a sincronização do Mundo inteiro. Entretanto Pequim dispõe de mais de 2 biliões de dólares de reservas em divisas. Mas de metade desta zoana é investida em bens do Tesouro Americano.

Em suma os americanos endividaram-se para comprar produtos chineses
..."

Toupeira

A China e a América - Parte 2

"A China testemunhou apenas uma inflexão passageira no início de 2009. Um ano depois a China alcançava recordes de crescimento com progressos de dois algarismos enquanto a dívida se mantinha modesta. A sua integração na economia mundial é bastante mais profunda do que a do Brasil ou da Índia, não fazendo a Rússia mais do que vender petróleo, matérias primas e armas. Possui um pecúlio considerável, vantagem substancial num mundo vergado sob o peso do endividamento: 2500 mil milhões de dólares de reservas financeiras em divisas.

Quando há que procurar dinheiro sobre a terra, é à China que se é forçado a render: em 2010 todos os caminhos da finança levam a Pequim. A economia mundial está , de ora em diante, nas mãos dos chineses. Enquanto em Setembro de 2008 no ano da falência da Lehman Brothers, o banco de negócios norte americano cuja submersão desencadeou a crise financeira, a China exibia o seu poder com a organização de cerimónias faustosas e marciais, cujas imagens impressionaram o Mundo, como os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008,o aniversário da República Popular em Outubro de 2009, ou a Exposição Internacional de Xangai em Maio de 2010.

Sobre os mares com uma modernização sem precedentes da sua frota militar, tornou-se uma potência naval de primeiro plano. Na Internet lança ataques quase quotidianos sobre alvos americanos, empresas de tecnologia , atiçando as suas hordas de cibernautas. Tudo isto foi possível pela venda durante anos de toda a mais sofisticada ocidental à China tal como no século passado os Estados Unidos vendiam ou cediam o mesmo tipo de tecnologia à União Soviética e seus aliados enquanto milhares de soldados aliados eram mortos pelas suas armas ao Vietname e na Coreia.

Milhares de jovens intelectuais, empresários, comerciantes, arquitectos abandonam a sua terras natal em troca do "el dorado" chinês. Aliciados pelas promessas de um mundo onde cada um tem a sua oportunidade, o "Chinese Dream". Esta aura do êxito chinês via muito além do Ocidente, alcança o Mundo inteiro e em particular o mundo emergente defendendo-se assim da política desenfreada que lhes tinha sido imposta pelo FMI. Recentemente temos os exemplos do Cazaquistão ou o Uzbequistão anteriormente na órbita soviética olham agora a China com interesse.

Citando Lee Kuan Yew em 2008, os ocidentais privilegiam a liberdade e os direitos do homem. Quanto a mim, enquanto asiático de cultura chinesa, os meus valores fazem-me preferir um governo honesto e eficaz". Não se pode ser mais claro. Além disso a democracia não é necessariamente um bom professor de economia, nem um garante de prosperidade. Com algumas excepções próximas a democracia não trouxe bons governos aos Países em desenvolvimento. (Lee Kuan Yew)."

Toupeira

A China e a América - Parte 1

"Nos anos setenta em que criticava os Estados Unidos e Reino Unido pelo fornecimento e venda de material informático, armas sofisticadas,camiões de guerra ,etc., à União Soviética e China, ao mesmo tempo que milhares de soldados aliados eram mortos lutando contra as sua próprias armas, quer na Coreia , quer no Vietname.

Passadas várias décadas o mesmo cenário repete-se mas desta vez envolvendo a China e os Estados Unidos. Uns e outros estão dependentes e estão condenados a entenderem-se devido à sua interdependência financeira e comercial. Para os Estados Unidos derrotados, não há salvação sem o Banco de Pequim, que compra dezenas de biliões de dólares de títulos de tesouro. E para o principal exportador mundial que é a China, não há crescimento sem acesso ao mercado principal, o dos Estados Unidos da América.

Estamos na véspera de um recontro semelhante aos que o nosso planeta conhece a intervalos regulares, a cada três ou quatro gerações, assim que o líder afronta a potência em declínio, enfraquecida pelas desordens financeiras e pelas intervenções
militares exteriores.

A História tem-nos mostrado que essa batalha pelo poder nunca ocorre de forma pacífica. Constitui, pelo contrário o resultado de guerras violentas. Haverá que relembrar os conflitos que despoletaram o avanço da Alemanha e do Japão na primeira metade do século XX ou do Reino Unido e da França ainda antes disso?. Em 2010 vários são os fenómenos que mutuamente se reforça,. Após a queda do Muro o sistema geopolítico simplificou-se ainda mais com o triunfo da ordem norte americana, do seu capitalismo. este foi um breve período da hiper potência americana.A grave crise financeira e económica que o Mundo conheceu depois de 2007 abalou as fundações
daquele mundo unipolar, porque esta crise não foi planetária. Foi uma crise do mundo ocidental, e testou o modelo liberal, o seu crescimento através do endividamento e o empolamento da finança que lhe está associado. A prosperidade dos Estados unidos constituía aprova material da sua supremacia geopolítica, tecnológica que contribuía para a preservação do seu avanço em matéria militar e o seu crescimento.

Tudo isso foi abalado. Ao sair da crise o Ocidente deixa para trás uma dívida considerável que irá congestioná-lo durante anos, ou mesmo como sucedeu aos Países mais vulneráveis da Europa, e levá-lo para o abismo
."

Toupeira

Dividocracia (Debtocracy) - Parte 4

Adiem as férias por uns bons anos

"Veja-se o que se passa na União Europeia. Atente-se melhor no que dizem todos os dias os principais responsáveis europeus. Perceba-se que o que se passa nos Estados Unidos vai muito para além de um conflito entre democratas e republicanos com as presidenciais de 2012 no horizonte. Importa também não atirar para debaixo do tapete a evolução económica da China. E, já agora, é bom pôr definitivamente os pés na terra e perceber que Portugal está a viver uma das suas piores crises de sempre. Ainda por cima numa altura em que o destino desta pátria não depende exclusivamente do cumprimento rigoroso do Memorando da troika e das reformas estruturais prometidas pelo governo. Importa, mais do que nunca, dizer a verdade. Os sacrifícios em curso e os que vêm já a seguir podem ser pura e simplesmente inúteis.

Todos os cenários têm de estar em cima da mesa, sem optimismos bacocos e inconsequentes, apelos à confiança e outras balelas que não só não convencem ninguém como são profundamente irritantes. A realidade aí está, com toda a sua brutalidade. E o pior ainda está para vir. É natural por isso que até um homem prudente e sabedor como Paulo Rangel venha alertar para a possibilidade de uma nova guerra. Não de palavras, não económica, não financeira, mas a sério. Com armas a sério, com feridos a sério, com mortos a sério e com muitas desgraças a sério. A tempestade perfeita, como alguns já lhe chamam, está a formar-se. Os sinais estão todos aí, cá e lá fora, a oriente e a ocidente, do lado de cá e de lá do Atlântico. É neste quadro que há coisas que deixam de fazer sentido e são manifestamente imorais.

Andar por aí a discutir duas ou três semanas de férias dos deputados é uma delas. É evidente que muita gente pensa que podem todos ir a banhos. Que a sua presença em S. Bento não aquece nem arrefece. Mas há sempre o exemplo e a sua total disponibilidade para discutir e votar muitas medidas, as da troika e as outras que o governo vai por certo apresentar a grande velocidade. Com uma certeza. As discussões têm de ser rápidas e as decisões tomadas em tempo útil, ao contrário do que é habitual na Assembleia da República. Os senhores representantes da nação não podem esquecer que o país vive uma emergência, que há milhões de pessoas que vão sofrer na pele as consequências deste terrível tsunami económico e social e que perder tempo é simplesmente criminoso.

Os rituais e os salamaleques democráticos são muito bonitos, há mesmo quem os considere fundamentais, mas em tempo de guerra não se limpam armas. A palavra de ordem deve ser o trabalho, por muito que isso custe a uma casa, por acaso da democracia, em que uma boa parte dos deputados entram incógnitos e saem sem ninguém dar por eles, fruto do anacrónico sistema eleitoral que os principais partidos, leia-se PSD e PS, insistem em manter contra tudo e contra todos por uma mera atitude conservadora de defesa dos aparelhos partidários. Mas como não é esta a altura para discussões estéreis, o que se pede aos deputados é que se mantenham firmes nos seus lugares, prontos a levantar as mãos depressa e bem
. "

António Ribeiro Ferreira

quarta-feira, julho 20, 2011

Dívida soberna? Não, dívida odiosa!

Ora vivam!
Ainda mexem?
Depois das eleições ficámos satisfeitos, Sócrates foi para Paris num exílio dourado, sem dinheiro, porque disse que o que ganhou, gastou, no entanto, como Soares,frequenta os bairros ricos de Paris e os seus bons e caros restaurantes e cafés, para estudar filosofia... Que aprenderá Sócrates de filosofia?
Depois, perguntarão alguns então safou-se, não vai ser julgado por crimes contra o Estado e contra a Nação Portuguesa só porque foi eleito por uma minoria da população?
Entra então Coelho e diz:
Não quero falar do passado.
Então, não fala na dívida soberana ou melhor na dívida odiosa?
O que quer dizer então Coelho?
Que uma esponja apagará tudo, mas que a dívida tem de ser paga.
Mas que dívida?
Será este o valor de que falam?
Onde está uma comissão de auditoria indepente para saber quanto é, a quem e se temos que pagar? Não, não é uma comissão da Assembleia, dessas já estamos fartos de saber que são dependentes, trabalham para os credores.
Em vez de dívida soberana vamos chamar-lhe de dívida odiosa.
Porque não quer Coelho falar no passado?
Se não quer saber do passado, então não temos dívida alguma, foi perdoada e se a houver não deve ser paga, não é ele o PM deste país?
Não pagamos então.
Porque sofremos de amnésia em relação à dívida soberana e o PM não quer saber do passado, porque não quer que saibamos que os seus amigos também para ela contribuiram. Dói?
Pois é a verdade.
Coelho é sério eu também sou.
Perdi a memória.
Dos estádios do Euro, das auto estradas feitas com o erário público e dadas aos amigos,aos submarinos mal construídos, aos F16 que não voam, às missões da NATO, contra gente indefesa,aos outsourcings vergonhosos dos ministérios, aos jobs for the boys, mas pagos pelos que pagam impostos e agora ainda impostos extraordinários, sem apontar um único dedo aos causadores da dívida. Uma montruosa dívida odiosa e uma monstruosa lesão do lobo frontal com perda de memória vastíssima. Não se fala no passado, apaga-se e fica o quadro negro da minha saudosa escola do tempo do Dr Oliveira Salazar, que Deus o tenha em descanso.
Dr Coelho, pergunte à UE, ao camarada Durão, líder da classe operária e aos tipos da troika se temos ou não dívida, porque no fim do ano saberá, não é necessário ser economista para sabe,r que é imossível pagar, mas os custos depois de se saber que não é possível pagar, serão imensos.
O maior e mais criminoso:
Diminuição da esperança de vida dos portugueses. Pergunte os Prof, Cavaco, ele sabe porque fez a política do escudo forte, a dívida vem desde aí também.
Fico por aqui.
Querem postar?
Façam, favor. O meu partido não existe, ou antes é Portugal.
Temos liberdade?
Vamos tendo, mas perdemos há muito a independência graças aos crápulas que nos têm governado desde o fatídico Abril de 1974.
Os crápulas dos quadrantes todos, sem excepções, sim, esses também!

Vai Seguro e não formoso

"Desenganem-se os que viam em Fernando Nobre e Manuel Alegre os expoentes máximos e definitivos da retórica oca: António José Seguro, que devido à cronologia partiu atrás, já pulveriza recordes.

Quando o dr. Seguro, candidato favorito à liderança do PS, diz querer " é preciso derrubar muros e criar espaços de confiança e de convergência", percebemos que o homem é mais do que uma mera esperança. Quando o dr. Seguro diz acreditar que "a política não se faz apenas com racionalidade, mas também com os afectos", percebemos que o homem é um concorrente fortíssimo. Quando o dr. Seguro diz desejar "introduzir esses afectos com os militantes socialistas e com os portugueses", percebemos que, além de bastante imaginativo no uso do português, o homem é praticamente imbatível.

Mas a invencibilidade do dr. Seguro ficou garantida com o seguinte desabafo: "Este movimento não é o projecto do António, este é um movimento também de um sonho, que vai um bocadinho a cada um e a cada uma de vós, porque cada um que sonha é apenas um sonho, mas quando pomos os sonhos em comum isso é um projecto e uma ambição para Portugal".

A afirmação é desprovida de nexo? A afirmação é involuntariamente cómica? A afirmação traduz o nevoeiro que vai na cabeça de que finge engendrar uma ideia sem dispor de matéria-prima? Claro que sim, sim e sim. Aliás, estes são justamente os critérios que consagram a absoluta vacuidade de um discurso, talento ao alcance de raros predestinados. Quem diz que o eng. Socrates "esvaziou" o PS não imagina o quanto
."

Alberto Gonçalves

terça-feira, julho 19, 2011

Dividocracia (Debtocracy) - Parte 3

Obama rende-se ao sucesso português

"A diplomacia americana retoma a velha táctica: um murro nos dentes, um beijo na boca. Um dia, o murro é das agências de rating, e somos lixo. No dia seguinte é o homem mais poderoso do mundo que nos elogia: "Não somos Portugal!" Luís Filipe Vieira quando se quer pôr em bicos de pés não diz: "Não somos o Olhanense." Compara-se, isso sim, com os da sua igualha: "Não somos o FCP!" Também Obama, quando teve de se afirmar, olhou para a cena internacional e escolheu-nos: "Não somos Portugal!" A última vez que a América nos defrontou com igual terror acabou com eles a abraçarem-se, o que, se significou que nos tinham ganho (eliminaram-nos, 3-2, no Mundial de 2002), também mostrou a surpresa que foi para eles terem-nos ganho. O desprezo que alguns vêem nesse "não somos Portugal!" não pode esconder a admiração implícita do todo-poderoso ao escolher-nos para comparação.




É como a frase fingida de Estaline, no auge do seu poderio: "Quantos tanques tem o Vaticano?" - evidentemente que o russo sabia que o campeonato da Santa Sé era outro (e viu-se com João Paulo II, que desbaratou o império soviético) mas desconversava para abafar os próprios receios. Mas, então, o que é nosso que faz tremer Obama? Notícia, de ontem: a produção da Autoeuropa cresceu 921%. E, entretanto, Detroit continua de pantanas... Claro que vão aparecer economistas a rir-se dessa minha comparação. Mas eu pergunto--vos: ainda ouvem os economistas? "

FERREIRA FERNANDES

Levantar âncora!

"Mesmo que já se tenham passado uns tempos sobre a respectiva divulgação, confesso ainda não ter opinião sobre as medidas incluídas no programa do Governo. Por enquanto, continuo abismado com o idioma em que as medidas foram escritas. É verdade que houve ligeiros progressos face ao programa do Governo anterior. É também verdade que, dado o analfabetismo terminal de que esse documento padecia, isso não significa muito.

Assim por alto, temos o vocabulário encaracolado, inventado ou apenas ridículo. "Âmbito", se quisermos citar um exemplo clássico de parolice, aparece 30 vezes. "Ao nível" aparece 17 vezes. "Em termos de", 5 vezes. "Nomeadamente", 22 vezes. "De excelência", 5 vezes. "Optimizar" ou "optimização", 12 vezes. "Sustentabilidade", 34 vezes. "Implementar" ou "implementação" 34 vezes. "Contratualização", 7 vezes. "Agilizar", 9 vezes. "Reafectar", uma vez.

A seguir, temos os indispensáveis estrangeirismos: "cluster" (10 menções), "outsourcing" (2), "start-ups" (1) e I&D (10).

Nas frases, há as campeãs da redundância ("O valor incomensurável da dignidade da pessoa humana"), há conceitos herméticos ("atlas desportivo interactivo e actualizado"), há aspirações patetas ("Construir cadeias de valor de suporte ao tecido empresarial do cluster (a montante e a jusante)"), há trechos mancos ("E o Governo assume igualmente que esta dimensão de articulação entre áreas cujo inter-relacionamento é determinante o incremento da segurança estará sempre no centro das suas preocupações") e há sonhos hiperbólicos ("Eleger o ensino do português como âncora da política da diáspora").

A âncora é dispensável: a julgar pelas citações acima, já seria óptimo que, em lugar de o lançar ao fundo, alguém aprendesse português suficiente para passar nos pífios exames do liceu e, de caminho, redigir cento e tal páginas em língua de gente. Não é por nada, mas custa acreditar que sujeitos incapazes de alinhavar umas ideias conseguirão passar as ideias à prática e, como se impõe, reformar o país. Resta que a turbulência externa talvez torne o programa do Governo inconsequente e que a falta de vontade interna talvez mate o programa à nascença. Dos males, o menor.

Que saudade dos tempos em que Portugal não era a Grécia. Agora, entrámos na época em que os EUA não são a Grécia nem Portugal. Quem o diz é o próprio Obama, que terá acabado de partir muitos corações entre os seus admiradores indígenas. Mas inúmeras figuras e países menores repetem por aí o refrão: "Não somos Portugal". Num ápice, o exemplo de modernidade que doou ao mundo o Simplex e o Magalhães assumiu o estatuto de que gozavam os leprosos no passado. A culpa, claro, cabe às agências de "rating", na medida em que é menos consolador assumir a doença do que acusar os que a diagnosticam. A doença agradece
."

Alberto Gonçalves

segunda-feira, julho 18, 2011

Dividocracia (Debtocracy) - Parte 2

À espera de um milagre

"A solução da crise europeia é menos simples do que alguns sugerem e menos complicada do que outros juram. Dado que emendar asneiras próprias e atestar o óbito do Estado "social" parecem fora de questão, os especialistas defendem a criação de uma agência de "rating" continental, que permita dispensar os serviços encomendados às malvadas agências americanas e, assim, garantir uma avaliação sempre risonha da capacidade de cumprimento dos países do euro.

Enquanto princípio, a ideia está repleta de potencial, como um jogo da bola em que o árbitro fosse adepto fervoroso do meu clube ou um julgamento em que o juiz fosse a querida mãe do réu. Infelizmente, a aplicação prática da ideia não promete. Embora compinchas na UE e, em parte, na moeda, nada garante que os europeus possuam uma visão comum acerca da causa e do remédio do caos em curso. Por exemplo dois terços dos alemães, incluindo o responsável máximo do IFO, talvez o principal instituto local de análise económica, acham que resgatar os parceiros pelintras não resolve coisa nenhuma e que, cito, "os portugueses e os gregos vivem à custa" dos conterrâneos da sra. Merkel. Se a hipotética agência de "rating" europeia ficasse nas mãos de sujeitos com tamanha rudeza e má vontade, o drama do "lixo" pátrio permaneceria intacto, sem ninguém que o recolhesse à noitinha.

A alternativa aparente passa pela criação de agências exclusivamente nacionais. Irlanda, Espanha, Itália e Grécia teriam as suas. E nós teríamos a nossa, que poderia (deveria) chamar-se Money & Tuga's e introduzir uma escala de notação a começar em CVCR ("Cá Vamos Cantando e Rindo", o nível mais baixo) e a terminar em CTMM ("Corre Tudo às Mil Maravilhas", o nível mais elevado).

Sucede que nem isso resolveria o problema, conforme demonstra o debate entre duas teses opostas que abrilhantou a semana. A primeira tese defende a necessidade de expor a penúria em que nos encontramos (e imputá-la ao Governo anterior). A segunda tese pretende ocultar a penúria (e ilibar da dita o Governo anterior). A bem da isenção, não tomo partido por qualquer das correntes teóricas. Apenas constato que a respectiva existência indicia que mesmo uma agência caseira não assegura a simpatia do "rating".

A perfeição, pois, é que cada força política, companhia estatal ou instituição financeira arranje uma agência particular para lhe desculpar a bancarrota, não importa se contratada a amigos, familiares ou até a analistas chineses, de resto o método inventado por Paulo Futre e agora negociado pelos administradores do Espírito Santo. Logo que o Pai e o Filho ajudem, milagres acontecem
. "

Alberto Gonçalves

domingo, julho 17, 2011

Dividocracia (Debtocracy) - Parte 1

sábado, julho 16, 2011

Chamem Harry Potter!

"A Europa precisa desesperadamente de contratar Harry Potter. Pode ser que a magia resolva o que a política é incapaz. Pode ser que um mágico que acredita na força dos poderes interiores faça melhor do que os políticos que só recitam poesia cómica.
A Europa está cercada por lordes Voldemorts e nem sequer sabe fazer mezinhas. O drama é que o fim do euro é uma peça teatral menor quando comparada com a possibilidade do fim do sistema europeu tal como o conhecemos. Não é uma ideia impossível. Há um fosso cada vez maior entre o que os cidadãos esperam dos seus Governos e aquilo que eles lhe podem dar. Com ou sem falência do euro a Europa será um local bem diferente daqui a uns anos.


O sistema que financiou a democracia política e a estabilidade económica implodiu. Na Itália os dados chamuscam: daqui a 30 anos haverá um trabalhador para cada pensionista. Se o crédito fácil alimentou uma economia baseada no consumo, agora o drama é outro: o dinheiro que há é caro.

O Estado, omnipresente e omnipotente, vai deixar de o ser. E isso vai ser devastador em países mais permeáveis e frágeis. Tudo isso se vê sem ajuda de uma bola de cristal. Mas a Europa que se acantonou nos salões de ar condicionado de Bruxelas pensa que a melhor forma de nada mudar é mudar apenas qualquer coisa. Debaixo da sua torre burocrática o mundo move-se mesmo que o senhor Olli Rehn, ou o senhor Juncker, ou o senhor Durão Barroso acreditem que o sol se move à volta de Bruxelas. Harry Potter já desmentiu esse facto. E os Voldemorts deste planeta também não lêem as redacções do senhor Van Rompuy
."

Fernando Sobral

sexta-feira, julho 08, 2011

Violent Revolution

O murro no estômago

"Onde o autor alinha no coro verdiano contra a "Moody "s", seus lacaios e quem a apoiar, exibindo a perplexidade que outros quase tão sábios ostentam, desde o Presidente da República até ao da União Europeia, faz uma chamada às armas à nação valente, propondo um desembarque em Nova Iorque, mas sugere também uma explicação para a ignara nota com que fomos brindados).


Este corte da notação do risco da dívida nacional, em quatro níveis, para Ba2, não é brincadeira nenhuma e estou a usar esta linguagem matizada para não romper aos soluços. Nem é bem a quantidade de degraus que é chocante, mas a de entrar no nível de "lixo", isto é, aquele em que os investidores são advertidos que comprar dívida portuguesa já não é um investimento mas uma mera especulação, e aceitá-la como garantia de qualquer empréstimo revela idêntica imprudência. O financiamento da economia torna-se ainda mais problemático e caro e a riqueza dos portugueses diminui fortemente, pois tudo no país é aferido em função da valia financeira do Estado. A queda das bolsas surge imediatamente, mas é o valor de toda a propriedade, mobiliária ou imobiliária, que sai corroída. A hierarquia da dívida portuguesa tem vindo a cair nos últimos tempos de maneira retumbante, mas, fora os estertores de quem dizia e pensava que não tínhamos uma crise interna, recusando a imputação como os condenados nas prisões que se dizem sempre inocentes, a verdade é que as análises eram obviamente correctas, mais coisa menos coisa, e a atitude avisada era obviamente mudar de vida e não entrar no protesto militante a que ninguém no mundo liga pevide. Mas agora, mesmo aceitando os pontos de análise mais desfavorável, fica por explicar a amplitude e oportunidade para este diagnóstico da "Moody's".

As agências de notação nunca mais vão largar o labéu de andar a classificar com AAA entidades realmente falidas, durante a crise de 2008, mas, curiosamente, esse povo apenas vivia no engano ledo e cego em que toda a gente, principalmente os peritos, andavam mergulhados, não percebendo nada dos produtos altamente alavancados em que o risco parecia desaparecer com engenharia financeira desenhada por génios da matemática e da física. Sabia o leitor que o investidor individual que mais perdeu com a falência do Lehman's foi o próprio CEO do banco, que afinal estava tão a leste de tudo como o Secretário do Tesouro dos EU? Pensar que a gente do "rating" ia mais além na amplitude da sabedoria era completamente despropositado e nem seria necessário estar lá o Constâncio. Dizia um jornalista do "Wall Street Journal" que não resulta por gente que ganha salários de 5 algarismos a avaliar gente que ganha 7 algarismos.

O certo é que as agências não foram esquecidas mas ficaram quase perdoadas porque a tarefa que realizam é completamente imprescindível na vida financeira e nem é a dos tubarões da especulação mas de todos, desde os Estados às donas de casa japonesas e aos fundos de pensões que gerem as reformas dos trabalhadores. O que se percebe mal é como se mantém tudo em oligopólio quando o mercado é tão vasto e retributivo. Este funcionamento deficiente provoca inevitavelmente distorções quando existe tal distanciamento para o que é um mercado perfeito, mas é assim que estamos e nem é por isso que o infeliz Ba2 nos é tão prejudicial.

Basta pensar como certas avaliações de acções por casas de investimento influenciam as cotações das ditas e aqui até se sabe por evidência empírica que o desacerto geral é a regra . A questão é ter ou não credibilidade e importância, e o que se vê é que, no meio dos erros, a "Moody's" não as perdeu, doutro modo o clamor europeu não era tão intenso, nem dava para o tempo. À parte as teorias da conspiração, as razões da "Moody'" estão todas lá e nem sequer se dá ênfase adequado ao facto de a despesa pública ter aumentado fenomenalmente ao ponto de o limite máximo fixado para o final do ano já ter sido ultrapassado . Realmente, a possibilidade de um 2º pacote é mais que sabida; a hipótese de perdas para os investidores, sendo estes constrangidos a participar na operação de salvamento como se desenhou para a Grécia, está contida na hipótese (1); a eventualidade de as metas do défice não serem atingidas permanece. Mas…"What' s new, pussycat"?

Depois ocorreu-me uma razão, ao lembrar-me de um título da Reuters de 15 de Março passado: "Moody's reduz o rating de Portugal, depois de Sócrates falar" (sic). Então se calhar é isso, os tipos pensam que o homem ainda é primeiro-ministro
."

Fernando Braga de Matos

"Rating" de choque

"A Moody"s procedeu a um forte corte de notação de "rating" do Estado português, tendo em consideração o potencial de contágio da crise grega e a forma de resolução europeia encontrada para a partilha de perdas com investidores privados.


Enfatizou, sobretudo, aspectos extrínsecos à vontade e capacidade exclusiva de actuação de Portugal. Acresce que, como as agências de "rating" tendem a apresentar decisões alinhadas e as avaliações dos bancos acompanham a dos estados onde se inserem, o anúncio desta semana pode ter sido o primeiro de uma série.

Os analistas da Moody's referem que os bancos portugueses podem ter de recorrer à facilidade de garantia do Estado e/ou ao fundo de capitalização, consignados no Memorando de Entendimento. O valor das garantias que os bancos portugueses submetem ao Banco Central Europeu para obtenção de crédito, por descida da notação de crédito do estado, vai reduzir-se. Para o mesmo montante de financiamento obtido junto do BCE, as instituições portuguesas têm de reforçar os títulos apresentados como colateral. No caso do valor dos colaterais aceites pelo BCE se aproximar do crédito obtido e os bancos não disporem de títulos adicionais, terão de recorrer à emissão de obrigações com garantia do Estado para submeter ao BCE de modo a assegurar a manutenção ou aumento do crédito junto da (quase) única fonte de financiamento externo. (Alternativamente, poderão acelerar o ritmo de redução do rácio crédito-depósitos.) Por outro lado, os bancos portugueses têm de cumprir metas de requisitos mínimos de capital mais exigentes até final de 2011 e 2012. Na medida em que os activos do balanço, para cálculo do rácio de capital, são ponderados segundo regras que recorrem ao "rating" do Estado, alguns activos vão agora exigir mais capital que no passado, endurecendo as metas estabelecidas. Pela sua actuação, a Moody's torna os acontecimentos que antecipa mais prováveis.

É verdade que as autoridades europeias podiam reduzir a sua dependência das agências de "rating". Contudo, esta diminuição da dependência restringe-se às regras exigidas pelo BCE para valorização dos activos aceites como garantia dos empréstimos aos bancos. No que respeita à regulação do sistema bancário europeu, designadamente no respeitante aos requisitos mínimos de capital, esta rege-se por normas internacionais decididas no âmbito do Comité de Basileia, que são aplicáveis a todas as instituições mundialmente, com diferenças regionais menores.

Os países europeus podem criar uma agência europeia. Efectivamente, na França existe uma com dimensão relevante. Contudo, esta nova agência, na medida em que seria gerada por vontade política, despertaria receios de falta de independência ou manipulação, de que as agências norte-americanas são frequentemente acusadas. Segundo: as agências de "rating" existentes dispõem de informação estatística suficiente para produzir análises de risco robustas.
Por exemplo, a Moody's possui informação sobre empresas que lhe possibilita calcular frequências de incumprimento com dados desde 1920. Uma jovem agência de "rating" europeia muito dificilmente conseguia construir bases de dados tão completas para sustentar as suas análises num curto prazo de tempo.

As agências de "rating" só têm a importância que se lhes conferir; mas, muitos modelos e lógicas de negócio estão alicerçados sobre as suas decisões. Uma das soluções mais plausíveis e satisfatórias para a crise da dívida soberana europeia consiste na emissão de eurobonds. Cada país poderia emitir eurobonds (através de um emitente colectivo) até um máximo de dívida de 60% do PIB ou, alternativamente, igual à média europeia num determinado momento (cerca de 80% do PIB em 2010), emitindo o remanescente como dívida subordinada (33% do PIB actualmente em Portugal. A dívida pública atinge 93% do PIB). Esta solução asseguraria taxas de juro aceitáveis para a globalidade dos estados da área do euro, removendo receios de insolvência de algum estado, porque seria atribuído um "rating" AAA para os eurobonds (Novamente, o "rating"!) iguais para todos os países.

A dívida subordinada obteria um "rating" inferior, pagando um prémio face à primeira. Estes títulos de pior qualidade poderiam enfrentar risco de incumprimento ou restruturação sem fazer perigar o edifício da moeda única (à semelhança da dívida municipal nos EUA). Este modelo desejável, para onde se parece caminhar, carece de mecanismos muito exigentes de cumprimento de regras de consolidação orçamental por parte dos estados-membros: os quais ainda não foram adoptados e sem os quais esta alternativa não se concretizará - compreensivelmente
."

Cristina Casalinho

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