quarta-feira, novembro 30, 2011

Está a acontecer...

Dívida alemã a um ano transaccionada com juros negativos

Só por volta das 15h é que as taxas de juro implícitas às transacções de Bilhetes do Tesouro com maturidade de um ano voltaram para terreno positivo.

Durante a manhã, os valores das taxas – que reflectem os preços de mercado, mas não correspondem sempre a transacções efectivamente realizadas, podendo tratar-se de apenas intenções comunicadas ao mercado – chegaram a estar em -0,116%, segundo informações da agência Reuters.

Quem esteve comprador de dívida Bilhetes do Tesouro alemães das 7h às 15h perdeu dinheiro para o Tesouro alemão, uma situação que é inédita no caso da dívida germânica nesta maturidade, mas que já se verificou nos últimos meses com títulos suíços, considerados um refúgio mais seguro face à crise da dívida na zona euro.

Depois de oito horas com juros negativos, as taxas nesta maturidade estão agora positivas, mas ainda muito próximas dos 0% (0,01%), recuando em relação à taxa média de ontem. As Obrigações do Tesouro a dez anos, a maturidade de referência nos mercados financeiros, estão também a cair, para 2,278%.

Portugal segue com as taxas de juro da dívida de médio e longo prazo em níveis recorde, ao contrário dos títulos italianos e espanhóis, que estão a recuar.

Esta tendência contraditória entre as taxas de países sob maior pressão dos mercados (Itália e Espanha com os juros em queda, Portugal – e Grécia – com taxas recorde) acontece no dia em que os bancos centrais dos principais países desenvolvidos acordaram medidas temporárias para fornecer liquidez à banca e um dia depois da reunião de Bruxelas onde os ministros das Finanças da zona euro foram forçados a admitir que o fundo de socorro do euro (FEEF) não conseguirá ser aumentado para os níveis estimados com as fórmulas acordadas na última cimeira.

Os títulos portugueses a dez anos subiram para os 14,169%, a cinco anos para 18,149%, praticamente o mesmo valor das taxas a dois anos, que estão em 18,148%.

As taxas italianas nestas três maturidades estão a cair, mas mantêm-se acima dos 7%, o patamar considerado por alguns analistas como perigoso a prazo para um razoável sustentabilidade do custo financiamento do Estado. A dez anos, os títulos estão nos 7,07%, a cinco nos 7,58% e a dois nos 7,06%.

Espanha regista também hoje uma descida das taxas de juro: na maturidade de dez anos seguem nos 6,28%; a cinco recuaram do patamar dos 6%, estando agora nos 5,92%; a dois anos baixaram para 5,43%.

Vejam o link abaixo e cliquem por país!!!

Vão ficar de boca aberta, tipo o hipopótamo acerca do crocodilo...

Acerca do link anterior e para melhor perceber...


http://www.bbc.co.uk/news/business-15748696

O ridículo da situação financeira do capitalismo global - clicando em cada país vê-se a dívida a cada um dos outros, mas vê-se sobretudo que nunca podem ser a Grécia, Portugal ou a Irlanda a representar uma ameaça efectiva dada a pequeníssima escala comparativa das suas dívidas. Os PIIGs são de facto BODEs (expiatórios) de uma gigantesca trapalhada especulativa feita com dinheiro electrónico que, de facto, não existe. O medo deles é que alguém comece por fazer o que tem que ser feito - NÃO PAGAR, porque a dívida é irreal/electrónica/ilegítima e fabricada pelas Goldman Sachs e criminosos afins - por isso ameaçam os pequenos países e acusam-nos de fazer cair o mundo apesar das dívidas que eles têm não terem qualquer significado. E este quadro não mostra as dívidas à China, sobretudo a dos EUA - não há ecrã de computador que comporte... 

18 November 2011 Last updated at 09:20 GMT
Eurozone debt web: Who owes what to who?
The circle below shows the gross external, or foreign, debt of some of the main players in the eurozone as well as other big world economies. The arrows show how much money is owed by each country to banks in other nations. The arrows point from the debtor to the creditor and are proportional to the money owed as of the end of June 2011. The colours attributed to countries are a rough guide to how much trouble each economy is in.
Click on a country name to see who they owe
Europe is struggling to find a way out of the eurozone crisis amid mounting debts, stalling growth and widespread market jitters. After Greece, Ireland, and Portugal were forced to seek bail-outs, Italy - approaching an unaffordable cost of borrowing - has been the latest focus of concern.
But, with global financial systems so interconnected, this is not just a eurozone problem and the repercussions extend beyond its borders.
While lending between nations presents little problem during boom years, when a country can no longer handle its debts, those overseas banks and financial institutions that lent it money are exposed to losses. This could not only unsettle the home country of those banks, but could, in turn, spread the troubles across the world.
So, in the tangled web of inter-country lending, who owes what to whom? Click on a country in the circle to find out what they owe to banks in other countries, as well to find out their total foreign debt, including that owed by governments, monetary authorities, banks and companies.

Source: Bank for International Settlements, IMF, World Bank, UN Population Division

Notes on the data: The Bank for International Settlements data, represented by the proportional arrows, shows what banks in one country are owed by debtors - both government and private - in another country. It does not include non-bank debts. Only key eurozone debtors and their top creditors are shown. Although China is known to hold European debt, no comprehensive figures are available.
GDP figures are the latest complete 2010 figures from the IMF. The percentage of gross government debt to GDP is also the latest IMF calculation.
Overall gross external (or foreign) debt is taken from the latest 2011 World Bank/IMF figures and includes all debt owed overseas, including that owed by governments, monetary authorities, banks and companies. Gross external debt per head of population is calculated using the latest medium variant population figures from the UN Population Division.

Quem deve de facto a quem!!!!

terça-feira, novembro 29, 2011

A moribunda Eurolândia

A desintegração da eurozona foi de facto provocada pelos regimes a que chamam de democracias, Pavlov demonstrou que um cão salivava primeiro com a ração associada ao toque de uma campainha e por fim apenas salivava sem ração, apenas com a campainha.
Assim é o imenso rebanho dos povos da Eurolândia, sem guerras, (por enquanto...), porque já temos a democracia, regimes onde é mais fácil corromper e colocar gente corrupta na poder mas em quantidades industriais, ao contrário de outras ditaduras.
A prova é  a qualidade dos dirigentes nos últimos, digamos 30, 40 anos.
 Degradação e perda de valores e morte dos Estados Nação.
Já aconteceu um golpe de estado na Grécia e na Itália e agora será também na Alemanha, escusado será dizer que na Espanha e em Portugal as coisas aconteceram pela história natural da doença, podemos falar em mais países ou em todos da Eurolândia e depois da própria UE.
A invenção foi um plano delineado há muito, construída para ser destruída e o inimigo são os corruptos democratas da Europa vendidos ao poder financeiro e dos mercados de Wall Street e da City.
Quem não percebe isto não entendeu ainda nada e claro, o que se seguirá, se ainda tiverem dúvidas, esperem como o moribundo espera pela morte, porque há moribundos que não sabem que o são, e de facto são muitos.

O poder das 400 famílias


A banca no poder, ou o poder da banca.
As substituições de Georges Papandreou por Lucas Papademos e de Berlusconi por Mario Monti foram na realidade dois golpes de estado de um novo género, sem tiros, sem sangue, orquestrados pelos mercados financeiros.
O método é simples: criar uma enorme pressão sobre as taxas de juros das dívidas dos países visados, o que desencadeia uma enorme instabilidade política e,  por fim,  apresentar um tecnocrata para tomar conta dos destinos do país.

Estes golpes de estado não são perpetrados por um grupo político ou pelas forças armadas. As mudanças de chefias políticas são apresentadas como uma necessidade em consequência da engrenagem da desconfiança dos mercados sobre a capacidade de certos países em pagar  dívidas.
Ultrapassando as instâncias democráticas dos respectivos países, são então instalados no poder pessoas ligadas aos grandes grupos financeiros mundiais. Mario Monti está ligado ao Goldman Sachs, assim como Mario Draghi recentemente eleito presidente do Banco Central Europeu. Lucas Papademos foi governador do Banco da Grécia durante a falsificação da dívida grega pelo Goldman Sachs. Todos são membros da Comissão Trilateral ou do clube de Bilderberg.

Actualmente, os lugares-chave do poder na Europa estão nas mãos do Goldman Sachs. Como chegaram a esses cargos? Com que meios e com que fim?
- Salvar os Estados Unidos à custa dos europeus!
E Portugal?

Em Portugal, daqui por umas semanas ou meses, pode muito bem vir a acontecer o mesmo. Perante a fraca liderança de Passos Coelho e a fraca alternativa política de António José Seguro, e com o crescente agravamento da crise financeira portuguesa, pode vir a ser imposto a Portugal um homem de confiança da banca.
Esse homem poderá ser António Borges. Tem todos os requisitos: para além de ter sido vice-governador do Banco de Portugal, é actualmente director do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional e sobretudo foi vice-presidente do Conselho de Administração do Banco Goldman Sachs International em Londres, entre 2000 e 2008.
António Borges é membro do clube de Bilderberg, tendo participado nas reuniões de 1997 e de 2002. Também é membro da Comissão Trilateral.
Curiosamente, ou não, decorre neste momento, de 11 a 13 de novembro, a reunião anual da Trilateral para Zona Europeia, em Haia na Holanda.

Reparem que o artigo é de 15 de Novembro.
Bem esperemos para ver, se ainda houver algo para ver...
Exagero?
Há um mês eram os PIGSs, agora são todos PIGS, na Eurolândia do Euro.
 Os USA são nossos aliados? Nunca foram...

O poder repete-se e a corrupção é o poder, pelo menos parece ser...

As datas fazem lembrar que o poder se pode repetir e a impunidade também...



Remonta a 1983 o início da história que agora conduziu Duarte Lima, o seu filho Pedro e o sócio de ambos, Vítor Raposo, aos corredores da Justiça, para responderem por fraude e branqueamento de capitais.
Foi nesse ano que morreram os donos dos terrenos de Leceia, Oeiras, onde os três suspeitos pretendiam ver edificado o futuro Instituto Português de Oncologia. Obra faraónica, equivalente a 45 campos de futebol, financiada com dinheiro (43 milhões de euros) de um fundo financeiro do Banco Português de Negócios (BPN), onde dois dos suspeitos tinham participação. A obra não se fez, mas o dinheiro, obtido de forma fraudulenta, foi entregue.
João Franco e Silvina Neta, donos de 45 hectares agrícolas junto a Leceia, morreram em 1983. Deixaram cinco herdeiros, que nunca se entenderam entre si, arrastando a questão até 1997, altura em que lhes bateram à porta três advogados em representação de uma empresa denominada Moinho Vermelho. Prometeram-lhes 1,5 milhões de euros pelos terrenos, verba que acabaria por lhes ser entregue em 2007. Cada um dos cinco filhos recebeu então 270 mil euros e, durante dois anos, viveram felizes e contentes, pensando ter embolsado uma maquia justa. O pior foi quando o fisco lhes bateu à porta.
Em 2009, os herdeiros viram-se confrontados com notificações que lhes exigiam o pagamento, a cada um, de 700 mil euros. É que os terrenos que haviam vendido por 1,5 milhões valeriam muito mais: qualquer coisa como 22 milhões de euros.
Um fundo aos 22 anos

Com os terrenos já fora da posse da família Neta Franco, realizaram-se então duas escrituras (2007?), tantas quantas as parcelas em que os 45 hectares foram transformados. Uma delas, pertencente à Moinho Vermelho, foi avaliada em 2,5 milhões de euros. A segunda, de quase 20 milhões, foi inscrita em nome da Homeland, um fundo financeiro do BPN (que dele detinha 15%) e que era dominado maioritariamente (85%) pelo ex-deputado do PSD e amigo de Duarte Lima Vítor Raposo, de 45 anos, e Pedro Lima, filho do advogado e também ex-deputado social-democrata, na altura com apenas 22 anos. Tempos depois, a própria Moinho Vermelho vende os terrenos que possuía à Homeland, que fica assim na posse total da herança da família Neta Franco.

Donos dos terrenos, os dois homens depressa se aprestam a rentabilizá-los. Entram em contacto com a Câmara de Oeiras e recebem o aval para ali construírem. Na altura, Isaltino Morais, presidente do município, negou sempre ter negociado directamente com qualquer um dos agora suspeitos, referindo, no entanto, que o município estava disponível para receber, desde 2006, a nova sede do Instituto Português de Oncologia, à data condenado a abandonar as instalações onde ainda hoje se mantém, em Palhavã, Lisboa.

É preciso dinheiro para a obra. Chega-se a uma estimativa de 43,3 milhões de euros. É o BPN, também dono do Homeland, que avança com o dinheiro. É um processo estranho, uma vez que os seus representantes, Pedro Lima e Vítor Raposo, têm um histórico bancário pouco recomendável para que lhes seja concedido, por empréstimo, tal montante. Pedro Lima, conforme refere a revista Sábado em Janeiro de 2010, apresenta às Finanças uma declaração de impostos relativa ao ano de 2006 como trabalhador por conta de outrem. Nela declara um rendimento de 19 mil euros, o que pressupõe que auferisse mensalmente pouco mais de 1300 euros.

O crédito bancário acaba por ser concedido para "aquisição de terrenos no concelho de Oeiras", diz ainda a Sábado, lembrando que a responsabilidade directa do empréstimo pertence ao banqueiro José de Oliveira e Costa, o gestor que ainda hoje se encontra em prisão domiciliária na sequência do processo BPN.
Imenso flop

Pedro Lima e Vítor Raposo, legítimos representantes do Homeland, não comparecem na assinatura das escrituras de compra dos terrenos, mas antes tinham assinado o penhor das suas unidades de participação. São, por isso, substituídos no acto por representantes do BPN Imofundos.
Quando, mais tarde, o novo presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, vem dizer que afinal o Instituto Português de Oncologia já não vai para Oeiras, o sumptuoso negócio dá os primeiros sinais de que, afinal, não é mais do que um imenso flop.O banco, agora transformado num caso de justiça, acaba por ser nacionalizado. Duarte Lima é, entretanto, apanhado nas teias de um intrincado caso onde surge como principal suspeito da morte de uma mulher a quem terá subtraído mais de cinco milhões de euros depositados numa conta sua na Suíça. E o seu filho, Pedro Lima, salta agora para a ribalta como o rosto de um empréstimo exorbitante que não terá condições de pagar e que só foi possível de concretizar, acreditam os investigadores, recorrendo à fraude bancária e ao branqueamento de capitais.
Retirado do Público, digo eu. Não há perguntas.
Há alarme.
Fica aqui para a argúcia e a memória, da repetição em versão nova, com velhos actores...

Tristes e pobres...

Divirtam-se ou alegrem-se um pouco mas não esqueçam quem os tornou tristes e pobres...

segunda-feira, novembro 28, 2011

Apocalypse Now - Introduction

Fitcha boca!

"Quando o doutor Watson expressou surpresa por Sherlock Holmes não saber que a Terra e a Lua giravam à volta do Sol, o conhecido detective ripostou que só guardava na memória o que necessitava para o seu trabalho. A Fitch é uma pulga amestrada: só guarda na memória o que lhe interessa para as suas científicas conclusões.

Dali já não se pode esperar nada, porque a Fitch vive num mundo que ainda não descobriu Nicolau Copérnico. A Fitch colocou Portugal no lixo porque vem aí uma recessão. Ela virá devido à austeridade brutal que vamos viver por sugestão da Fitch. Que pede agora mais um apertão do cinto para depois ter mais uma confirmação de que estamos em recessão.

A Fitch é o Júlio de Matos global. Enquanto vai atirando como um pistoleiro contratado, esquece que a crise já não está confinada aos pecadores do sul. Desapareceu o mapa astral da crise onde a Alemanha seria o Céu, os países do sul o Purgatório e a Grécia o Inferno. Pelos vistos os investidores já não querem investimentos em euros, como se estivessem a tocar finados pela moeda única.

Mas enquanto nada se decide a Fitch continua à solta, fazendo com prazer de torcionária, a exercer sevícias sobre quem está amarrado de pés e mãos. É por isso que a sociedade precisa de erupções cutâneas como a greve geral que decorreu, mesmo que ela seja irrelevante. A questão, como a Fitch mostra apesar de alguns eruditos ainda estarem confundidos, não é a "imagem externa" de Portugal. Não é por sermos bem comportados que a Fitch nos ama. Como canta o duo Tjizzão & Zécas: "Sai daqui, fitcha boca, não te damos uma djoka, tu não és da nossa tropa
..."

Fernando Sobral

A queda da Zona Euro

"A crise na Zona Euro parece estar a atingir o seu auge: a Grécia à beira do incumprimento e uma inglória saída da união monetária, ao passo que Itália está prestes a perder o acesso ao mercado de financiamento. Mas os problemas da Zona Euro são muito mais profundos. São estruturais e penalizam severamente pelo menos quatro outras economias: Irlanda, Portugal, Chipre e Espanha.

Na última década, os PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) eram os consumidores de primeiro e último recurso da Zona Euro, gastando mais do que obtinham de rendimentos e registando um défice de contas correntes cada vez maior. Ao mesmo tempo, os países do núcleo da Zona Euro (Alemanha, Holanda, Áustria e França) eram os produtores de primeiro e último recurso, gastando menos do que ganhavam e apresentando contas correntes crescentemente excedentárias.

Estes desequilíbrios externos foram também sustentados pela solidez do euro desde 2002 e pela divergência entre as taxas de câmbio reais e a competitividade dentro da Zona Euro. Os custos unitários do trabalho diminuíram na Alemanha e noutras regiões do núcleo da Zona Euro (porque os salários cresceram menos do que a produtividade), levando a uma depreciação em termos reais e a um aumento do superavit das contas correntes, ao mesmo tempo que se registava precisamente o contrário nos PIIGS e no Chipre, levando a uma apreciação em termos reais e a um aumento do défice das contas correntes. Na Irlanda e em Espanha, o nível das poupanças dos particulares caiu fortemente e a bolha no mercado imobiliário alimentou um consumo excessivo, ao passo que na Grécia, em Portugal, no Chipre e em Itália foram os excessivos défices orçamentais que exacerbaram os desequilíbrios externos.

A consequente acumulação de dívida privada e pública nos países deficitários deixou de ser controlável quando as bolhas imobiliárias estoiraram (Irlanda e Espanha) e quando os défices das contas correntes e os buracos orçamentais, ou ambos, se tornaram insustentáveis na periferia da Zona Euro. Além disso, os enormes défices das contas correntes dos países periféricos, impulsionados pelo consumo excessivo, fizeram-se acompanhar pela estagnação económica e pela perda de competitividade.

Então, o que nos resta agora?

A reflação [estimular a economia através do aumento do suprimento de moeda ou reduzindo taxas, é o oposto de deflação] simétrica é a melhor opção para restaurar a competitividade e o crescimento na periferia da Zona Euro, ao mesmo tempo que se levam a cabo as necessárias medidas de austeridade e reformas estruturais. Isto implica uma significativa flexibilização da política monetária por parte do BCE; provisão de apoio ilimitado de credor de último recurso a economias ilíquidas mas potencialmente solventes; uma forte depreciação do euro, o que poderá transformar os défices das contas correntes em excedentes; e estímulos orçamentais nos países do núcleo se a periferia for obrigada à austeridade.

Lamentavelmente, a Alemanha e o BCE opõem-se a esta opção, devido à perspectiva de uma dose temporária de inflação modestamente mais elevada nos países do núcleo da Zona Euro face à periferia.

O amargo medicamento que a Alemanha e o BCE querem impor à periferia – a segunda opção – é a deflação recessiva: austeridade orçamental; reformas estruturais visando impulsionar o crescimento da produtividade e reduzir os custos unitários do trabalho; e uma depreciação real, através do ajuste de preços, por oposição ao ajuste da taxa de câmbio nominal.

Os problemas com esta opção são imensos. A austeridade orçamental, se bem que necessária, significa uma recessão mais profunda no curto prazo. Mesmo as reformas estruturais reduzem a produção no curto prazo, porque é algo que exige que se despeçam trabalhadores, que se encerrem empresas que estão a dar prejuízos e que seja feita uma realocação gradual da mão-de-obra e do capital em novas indústrias emergentes. Assim, para evitar uma espiral de recessão ainda mais profunda, a periferia precisa de uma depreciação real para melhorar o seu défice externo. Mas mesmo que os preços e salários caiam 30% nos próximos anos, o valor real da dívida aumentará fortemente, agravando a insolvência dos governos e dos devedores privados.

Em suma, a periferia da Zona Euro está agora perante um paradoxo: aumentar excessivamente as poupanças ou demasiadamente depressa leva a uma nova recessão e torna as dívidas ainda mais insustentáveis. E esse paradoxo está agora a afectar também o "core" da Zona Euro.

Se os países periféricos continuarem enredados numa armadilha deflacionista de elevado endividamento, queda da produção, fraca competitividade e défices externos estruturais, acabarão por se sentir tentados por uma terceira opção: o "default" e a saída da Zona Euro. Isso permitir-lhes-ia revitalizar o crescimento económico e a competitividade, através da depreciação das novas moedas nacionais.

Evidentemente, um tal desmoronamento desordenado da Zona Euro constituiria um choque tão severo como o do colapso do Lehman Brothers em 2008, se não mesmo pior. Para o evitar, as economias do núcleo da Zona Euro terão de escolher a quarta e última opção: subornar a periferia para que se mantenham num estado de fraco crescimento, sem qualquer competitividade. Isso exigirá que aceitem sofrer perdas com uma significativa proporção da dívida pública e privada, bem como uma avultada transferência de dinheiro que impulsione os rendimentos da periferia, numa altura em que a sua produção estará estagnada.

De certa forma, é isso que Itália tem vindo a fazer há décadas: usar a ajuda das suas regiões do Norte para subsidiar as regiões mais pobres do Mezzogiorno. Mas essas transferências orçamentais permanentes são politicamente impossíveis na Zona Euro, onde os alemães são alemães e os gregos são gregos.

Isso significa também que a Alemanha e o BCE têm menos poder do que aquilo que pensam. Se não abandonarem o ajustamento assimétrico (deflação recessiva), que concentra todas as dores na periferia, e se não optarem por uma abordagem mais simétrica (austeridade e reformas estruturais na periferia, conjugadas com uma reflação em toda a Zona Euro), o incipiente derrube da união monetária irá acelerar à medida que os países da periferia forem entrando em incumprimento e abandonando a Zona Euro.

O recente caos na Grécia e em Itália pode ser o primeiro passo deste processo. Claramente, a Zona Euro não pode continuar a agir como tem feito até agora. Se a Zona Euro não caminhar no sentido de uma maior integração política, económica e orçamental (num caminho consistente com o restabelecimento do crescimento, competitividade e sustentabilidade da dívida no curto prazo, necessário para solucionar o problema da insustentabilidade da dívida e para reduzir os crónicos défices orçamentais e externos), a deflação recessiva irá certamente conduzir a um desmoronamento desordenado.

Sendo Itália demasiado grande para falir, demasiado grande para salvar e agora no ponto de não retorno, já começou o fim do jogo na Zona Euro. Primeiro virão as reestruturações sequenciais e coercivas da dívida e em seguida virão as saídas da união monetária, o que acabará por levar à desintegração da Zona Euro.
"

Nouriel Roubini

domingo, novembro 27, 2011

Não confesso não...

http://www.youtube.com/watch?v=jMKQFXn9WiM&feature=related

O fado, a saudade, o destino, o renascer das cinzas, são coisas nossas, deste nosso Portugal e isto não nos podem roubar, nunca...

sábado, novembro 26, 2011

PR contra Passos, dia sim, dia sim

"Palavras equilibradas como um discurso pedindo uma "repartição equitativa dos sacrifícios", palavras piedosas como um discurso pedindo "apoio aos mais desfavorecidos", palavras consensuais como um discurso pedindo mais "diálogo com o maior partido da oposição e com os parceiros sociais"... Bonitas palavras, pois, como um discurso de bonitas palavras. E, no entanto, não me convencem. Preconceito meu? Sem dúvida. E ad hominem. O meu argumento contra aquelas palavras é o homem que as proferiu em discurso. Porque o problema daquelas palavras é virem daquele homem, Cavaco Silva. Aquelas palavras, vindas de quem vêm, só me dizem que a boa vontade e o diálogo necessários estão hoje mais difíceis de alcançar porque há uma nova frente de divisão: o Presidente da República está desejoso de mostrar publicamente que aperta os calos ao Governo. Fosse eu de partido de oposição e estaria talvez contente pela cumplicidade insuspeita e inesperada vinda de Belém.

Mas sou só cidadão, simples e sem agenda, excepto a de querer que a boa vontade verdadeira e o diálogo sincero se conjuguem para resolver os problemas do meu País. Queria ter um Presidente discreto e activo, e não um ex-chefe de partido disposto a retomar as rédeas. As frases dele contra São Bento já são demasiadas para que, mesmo que me acariciem no sentido do pêlo (sim, também sou por mais diálogo), me iludam. É que eu já ando cá há muito. E ele também
.

Ferreira Fernandes

sexta-feira, novembro 25, 2011

Não há maneira de meter isto no PIB?

"Deslumbro-me com o álbum 'Portugal', de Cyril Pedrosa, que ganhou um dos maiores prémios da banda desenhada francesa. Neto de emigrantes dos anos 30, ainda a França era destino raro para portugueses, Pedrosa fez um romance autobiográfico com desenhos. Nas suas digressões (está agora no Brasil - onde é apresentado como um grande da banda desenhada mundial), Pedrosa diz que 'Portugal' nasceu do descobrir-se português. Esse facto foi uma mancha difusa na sua vida, mas tão funda que nunca deixou de o acompanhar (ele tem 39 anos). A 2.ª geração dos Pedrosa (o pai e os tios do artista) já têm os nomes próprios franceses (no álbum: Jean, Jacques e Yvette), e a 3.ª, como Cyril, não fala português. É uma constante dos emigrantes portugueses - em França, mas também nos Estados Unidos, no Brasil, na África do Sul... -, a reacção comum é desaparecerem na paisagem: os seus filhos serão, antes do mais, filhos da terra (como o eram também nas colónias africanas).

De tantas qualidades que se emprestam aos nossos emigrantes raramente se fala desta: eles dão cidadãos aos países para onde vão, atentos à nova cultura, não formam bolsas enquistadas de eternos estrangeiros. E, apesar disso, com uma saudade que nem sabe pronunciar a palavra - eis o que vem desenhado no álbum 'Portugal'. Andarmos nisto há séculos deu-nos uma noção de globalização "avant la lettre", diria Pedrosa. Não haverá maneira de tirarmos partido disto? De meter no nosso PIB?
"

Ferreira Fernandes

quinta-feira, novembro 24, 2011

O nosso fado é sermos imateriais

"Temos, então, que o fado pode tornar-se este fim-de-semana Património Imaterial da Humanidade. Imaterial quer dizer impalpável, intangível. Que não se pode tocar. Não tocado, não sei se é exactamente o que se pode dizer do fado, com as suas violas e guitarras. E não me parece oportuno propor o fado, logo agora, quando não nos faltam assuntos etéreos e incorpóreos - imateriais, enfim - para concorrer... O emprego, por exemplo, já começa a ser um património imaterial para muitos (aliás, para os portugueses juntar património e imaterial já começa a ser uma redundância). Outro exemplo de imaterialidade é metade do subsídio de Natal. Olha, esse prémio estaria no papo, a UNESCO não podia deixar de votar na candidatura do Subsídio do 14.º Mês, Património Semi-Imaterial da Humanidade Portuguesa.

A senhora Irina Bokova, directora-geral da UNESCO, que alertou para o excesso de candidaturas, nem sabe do que se livrou por os portugueses se terem limitado ao fado. Esta semana, não fosse o assomo bolsista com os zunzuns da compra pelos angolanos, até poderíamos concorrer a património imaterial com as acções do BCP. Nesse sector, o financeiro, podíamos apresentar candidaturas até que a voz nos doesse: sendo o líquido um estado da matéria, a nossa proverbial falta de liquidez faria de nós candidatos ideais para estes prémios da UNESCO
."

Ferreira Fernandes

quarta-feira, novembro 23, 2011

Estado Social

Alemanha provou o seu próprio remédio no mercado

"A Alemanha provou o seu próprio remédio no mercado de obrigações" referiu, no Twitter oficial da PIMCO, o gestor Bill Gross, responsável pelo maior fundo de obrigações do mundo. Hoje Berlim conseguiu apenas colocar 3,64 mil milhões de euros de dívida a dez anos quando pretendia emitir seis mil milhões de euros. Foi o leilão com menor procura desde 1999 (mais aqui)."

A páginas tantas, Portugal

"Lendo o começo da semana. Na cozinha, um casal dá conta que a sua casa está a ser assaltada. A velhota reagiu: "Comecei a gritar e ainda fui buscar a vassoura." Naturalmente, não lhe serviu de nada. Dos bandidos, um tinha faca que pôs no pescoço da mulher e outro tinha uma pistola: "Dá um tiro no velho para ele se calar", ouviu-se, sem consequências. Os assaltantes levaram ouro e um relógio. Noutras páginas, um casal chega a casa às três da manhã.

Quatro encapuzados, "todos com caçadeiras em punho", batem no homem, enfiam-no num carro mas abandonam a mulher que ficou à porta de casa. Às cinco da manhã, ela recebe uma chamada do telemóvel do marido. Os raptores pedem um resgate, enquanto se ouvem, ao fundo, gritos do raptado. Onde está uma mulher apavorada, duas horas depois de o marido ter sido raptado? Claro, na esquadra. Os polícias tomam boa nota de tudo, até do telefonema, e o gang raptor é preso no mesmo dia.

Duas histórias dos dias de hoje e de duas desadaptações. A mulher do primeiro casal assaltado ainda pensa que a coisa vai lá com vassouradas. O gang do segundo caso já aprendeu a violência moderna (que atravessa os dois crimes), mas ainda não a ciência que os raptos exigem ("não previna a polícia!", diz-se sempre ou faz-se com que os familiares entendam). Dos dois enganos, o da velhota é enternecedor e o da brutalidade burra assusta. Ambos são bons subsídios para um País perplexo
."

FERREIRA FERNANDES

BCP? Pennies from heaven

"Já é possível publicar livros inteiros de piadas com a decimal cotação do BCP. É um pagode, nos bancos e nas tabernas. Mas o nanismo envergonhado das acções tem sido mais do que uma métrica da decadência da banca: o BCP tem sido carne para o canhão dos especuladores. Ganham-se fortunas numa manhã que se perdem à tarde. O que se passou esta semana na Bolsa é escandaloso.

No sábado, o "Expresso" noticiou que a Sonangol vai participar num aumento de capital do BCP. A informação foi publicada com base em fontes não identificadas, tendo outros jornais, incluindo o Negócios, confirmado depois a sua veracidade. No domingo, Marcelo Rebelo de Sousa "anunciou", sem mais informação, que as acções do BCP estavam baratas e que iriam ser vendidas como pãezinhos quentes. Na segunda-feira, o circo saiu à rua: foram transaccionadas 320 milhões de acções, que chegaram a subir 36,5% e fecharam a valorizar-se 10,57%. Está tudo doido?!

O Professor Marcelo ficou "lélé da cuca", como o próprio costuma dizer. Tendo a influência que tem, não pode dar recomendações bolsistas, sobretudo sem informação e para acções tão delicadas. Mas a sua foi a menor das irresponsabilidades. Até hoje, nem a Sonangol nem o BCP foram chamados a explicar, confirmar, desmentir ou completar a informação: vai haver aumento de capital? De quanto? Com que objectivo? A Sonangol vai assumir que percentagem do BCP? Que plano estratégico tem?

Houve uma falha grave da CMVM, o que surpreende, tendo em conta a normal hiperactividade do regulador, que costuma ser acusado pelas empresas cotadas de excesso de zelo, não de inacção. Como se não bastasse, a Bolsa portuguesa cobriu-se de ridículo quando se percebeu que a Euronext e a CMVM (ou seja, Bolsa e regulador da Bolsa) não se entendem quanto à suspensão que devia ter sido feita da negociação.

Claro que devia. A Euronext diz que as acções abaixo de 50 cêntimos, as chamadas "penny stocks", só podem ser suspensas se valorizarem mais de cinco cêntimos. É uma regra estúpida, porque não é a mesma coisa ser um BCP ou uma ParaRede subir 36,5%. A ParaRede, que durante anos era a galhofa da Bolsa, não tinha dispersão nem liquidez. Mas o BCP é das acções mais líquidas em Portugal. Ninguém acha que 320 milhões de acções transaccionadas num dia é a mesma coisa que duas mil acções. Ninguém, excepto a Euronext.

Neste espectáculo de horrores, toda a gente sai mal. Incluindo a tristeza de ver dois governos negociar o futuro de um banco privado como se fosse dote entre dois reinos. Incluindo a Sonangol, que sendo o maior accionista do maior banco privado em Portugal, age sem reporte, sem comunicação e sem transparência. O investidor angolano tem de aprender que os demais investidores merecem consideração e que a bolsa é um mercado de informação, não de omissão.

Pouca gente se queixa porque o surto especulativo foi benéfico para muitos, incluindo (a curto prazo...) o BCP. Entre a subida matinal e o fecho vespertino de segunda-feira, desapareceu mais de 20% do dinheiro. Alguém ganhou. Alguém perdeu. E esta casinada é um desrespeito para o mercado de capitais e para aqueles que investem o seu dinheiro em companhias em que acreditam, com base em informação clara e de conhecimento geral.

O BCP é uma Maria-vai-com-as-outras. As acções já foram esticadas por "short sellers", pisadas por "day traders" e manipuladas por oportunistas. Já nem é uma "penny stock", é uma "pena stock": dá dó ver tanta especulação. Quando Billie Holiday cantava "Pennies From Heaven", não era nisto que estava a pensar. Mas apetece citar a música: "Chovem 'pennies' do céu. Assegure-se de que o seu chapéu de chuva está ao contrário e troque-os por raios solares e flores".

Nunca a Bolsa foi tão regulamentada e, ao mesmo tempo, abandalhada. Isto não é investimento, é palhaçada. Adivinhe quem é o palhaço
..."

Pedro Santos Guerreiro

terça-feira, novembro 22, 2011

As datas fazem lembrar que o poder se pode repetir e a impunidade também...


Remonta a 1983 o início da história que agora conduziu Duarte Lima, o seu filho Pedro e o sócio de ambos, Vítor Raposo, aos corredores da Justiça, para responderem por fraude e branqueamento de capitais.
Foi nesse ano que morreram os donos dos terrenos de Leceia, Oeiras, onde os três suspeitos pretendiam ver edificado o futuro Instituto Português de Oncologia. Obra faraónica, equivalente a 45 campos de futebol, financiada com dinheiro (43 milhões de euros) de um fundo financeiro do Banco Português de Negócios (BPN), onde dois dos suspeitos tinham participação. A obra não se fez, mas o dinheiro, obtido de forma fraudulenta, foi entregue.
João Franco e Silvina Neta, donos de 45 hectares agrícolas junto a Leceia, morreram em 1983. Deixaram cinco herdeiros, que nunca se entenderam entre si, arrastando a questão até 1997, altura em que lhes bateram à porta três advogados em representação de uma empresa denominada Moinho Vermelho. Prometeram-lhes 1,5 milhões de euros pelos terrenos, verba que acabaria por lhes ser entregue em 2007. Cada um dos cinco filhos recebeu então 270 mil euros e, durante dois anos, viveram felizes e contentes, pensando ter embolsado uma maquia justa. O pior foi quando o fisco lhes bateu à porta.
Em 2009, os herdeiros viram-se confrontados com notificações que lhes exigiam o pagamento, a cada um, de 700 mil euros. É que os terrenos que haviam vendido por 1,5 milhões valeriam muito mais: qualquer coisa como 22 milhões de euros.
Um fundo aos 22 anos

Com os terrenos já fora da posse da família Neta Franco, realizaram-se então duas escrituras (2007?), tantas quantas as parcelas em que os 45 hectares foram transformados. Uma delas, pertencente à Moinho Vermelho, foi avaliada em 2,5 milhões de euros. A segunda, de quase 20 milhões, foi inscrita em nome da Homeland, um fundo financeiro do BPN (que dele detinha 15%) e que era dominado maioritariamente (85%) pelo ex-deputado do PSD e amigo de Duarte Lima Vítor Raposo, de 45 anos, e Pedro Lima, filho do advogado e também ex-deputado social-democrata, na altura com apenas 22 anos. Tempos depois, a própria Moinho Vermelho vende os terrenos que possuía à Homeland, que fica assim na posse total da herança da família Neta Franco.

Donos dos terrenos, os dois homens depressa se aprestam a rentabilizá-los. Entram em contacto com a Câmara de Oeiras e recebem o aval para ali construírem. Na altura, Isaltino Morais, presidente do município, negou sempre ter negociado directamente com qualquer um dos agora suspeitos, referindo, no entanto, que o município estava disponível para receber, desde 2006, a nova sede do Instituto Português de Oncologia, à data condenado a abandonar as instalações onde ainda hoje se mantém, em Palhavã, Lisboa.

É preciso dinheiro para a obra. Chega-se a uma estimativa de 43,3 milhões de euros. É o BPN, também dono do Homeland, que avança com o dinheiro. É um processo estranho, uma vez que os seus representantes, Pedro Lima e Vítor Raposo, têm um histórico bancário pouco recomendável para que lhes seja concedido, por empréstimo, tal montante. Pedro Lima, conforme refere a revista Sábado em Janeiro de 2010, apresenta às Finanças uma declaração de impostos relativa ao ano de 2006 como trabalhador por conta de outrem. Nela declara um rendimento de 19 mil euros, o que pressupõe que auferisse mensalmente pouco mais de 1300 euros.

O crédito bancário acaba por ser concedido para "aquisição de terrenos no concelho de Oeiras", diz ainda a Sábado, lembrando que a responsabilidade directa do empréstimo pertence ao banqueiro José de Oliveira e Costa, o gestor que ainda hoje se encontra em prisão domiciliária na sequência do processo BPN.
Imenso flop

Pedro Lima e Vítor Raposo, legítimos representantes do Homeland, não comparecem na assinatura das escrituras de compra dos terrenos, mas antes tinham assinado o penhor das suas unidades de participação. São, por isso, substituídos no acto por representantes do BPN Imofundos.
Quando, mais tarde, o novo presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, vem dizer que afinal o Instituto Português de Oncologia já não vai para Oeiras, o sumptuoso negócio dá os primeiros sinais de que, afinal, não é mais do que um imenso flop.O banco, agora transformado num caso de justiça, acaba por ser nacionalizado. Duarte Lima é, entretanto, apanhado nas teias de um intrincado caso onde surge como principal suspeito da morte de uma mulher a quem terá subtraído mais de cinco milhões de euros depositados numa conta sua na Suíça. E o seu filho, Pedro Lima, salta agora para a ribalta como o rosto de um empréstimo exorbitante que não terá condições de pagar e que só foi possível de concretizar, acreditam os investigadores, recorrendo à fraude bancária e ao branqueamento de capitais.
Retirado do Público, digo eu. Não há perguntas.
Há alarme.
Fica aqui para a argúcia e a memória, da  repetição em versão nova, com velhos actores...

Até amanhã e boa sorte!

Cortar salários

"A ideia da troika de cortar salários nas empresas privadas parece já ter caído por terra. Mas, na prática, já levantara voo: os salários no sector privado estão em redução.

Não é por causa da lei que o Estado não vai deixar que as empresas reduzam salários aos trabalhadores – a lei muda-se. E talvez não seja sequer pelos custos políticos e sociais. Há outra razão inultrapassável: com a redução de salários, reduzir-se-ia a receita de IRS.

Os salários líquidos estão em queda há vários anos, através dos aumentos de impostos. A redução real prossegue com a inflação, que já não é baixa (mais de 3% este ano e mais de 4% no próximo). Finalmente, o aumento do horário de trabalho e a redução de feriados, a confirmarem--se, resultarão numa descida dos salários por hora. E isto sem contar com o fenómeno que já ocorre em milhares de pequenas empresas, em que há cortes de salários e de subsídios à margem da lei e em acordo com o trabalhador.

É por isso, que embora poucos saibam responder à pergunta "greve geral para quê?", todos sabem responder a "greve geral porquê?" É óbvio, não é
?"

Pedro Guerreiro

Cuidado com os pobres

"Há dias, um "telejornal" anunciava com alarme que a "crise pode aumentar agressões a profissionais de saúde". Por acaso, a notícia fundamentava-se num relatório que estima a diminuição das agressões a médicos e enfermeiros em 2010 para menos de metade das registadas em 2009 (79 para 174). Os factos, porém, não devem tolher um exercício bastante em voga: prever, com mais impaciência do que preocupação, que a degradação económica conduzirá as respectivas vítimas à violência, ao delito e à perdição sumária.

No caso em questão, seria curioso perceber porque é que um sujeito com dificuldades financeiras tem maior propensão para correr ao tabefe o pessoal clínico que lhe surge pela frente. O responsável pelo relatório sugere uma explicação: os "cortes" orçamentais multiplicarão o número de vezes em que os técnicos do SNS recusarão as exigências dos pacientes, logo a possibilidade de conflito subirá proporcionalmente.

É uma tese interessante. Se fosse plausível, poderíamos esperar o crescimento da pancadaria nas repartições das Finanças, a disseminação da bordoada nas delegações da Segurança Social e, em última instância, o fomento das tareias nos postos de venda da Mercedes, que teimam em negar automóveis a cidadãos de baixos rendimentos.

Absurdo? Não tanto quanto a inclinação para considerar os necessitados, de longa ou curta data, potenciais malfeitores. Mas é essa a ideia que atravessa a sociedade e que os "media", obedientes, reproduzem: a pobreza inspira o crime. Não falo apenas de agressão. Falo (correcção: fala-se) de assaltos à mão armada, roubo por esticão, fogo posto, homicídio e, quem sabe, exposição indecente. Uma espreitadela às manchetes dos últimos meses resume o tom apocalíptico vigente: "Crise faz crescer violência financeira sobre os mais velhos"; "Violência vai generalizar-se devido à pobreza e precariedade"; "Crise pode aumentar pequena criminalidade"; "Criminalidade pode aumentar com a crise"; "Aumento da criminalidade é reflexo da crise"; "Crimes violentos alastram pelo país à medida da crise financeira"; "Ministro admite agravamento da criminalidade violenta"; etc.

As citações acima dizem respeito a ocasiões distintas e provêm de diferentes origens, da PSP ao PS, da APAV àqueles "observatórios" que observam por aí. São, sem dúvida, profecias assustadoras. São, em idêntica medida, desprovidas de fundamento. Consulte-se os dados americanos e europeus disponíveis: se há tendência evidente no Ocidente das últimas cinco ou seis décadas é a subida estatística dos crimes em simultâneo à melhoria das condições de vida. Não pretendo insinuar que o crime é resultado da prosperidade. Talvez resulte da degradação do ensino, das contradições da Justiça, da dependência fomentada pelo estado assistencial, da famosa dissolução dos "valores", de tiques nervosos ou de uma mistura de diversos fenómenos. Certo é que a desonestidade e a carência material não andam forçosamente de mãos dadas. Donde espanta um bocadinho que muita gente presuma o contrário. E espanta imenso que alguns pareçam desejá-lo.

A única vantagem destes delírios prende-se com a igualdade social: só nos faltava acrescentar ao cliché de que os ricos são sempre bandidos o de que os pobres também o são. Ao que consta, todos roubam. E roubam quem
?"

Alberto Gonçalves

segunda-feira, novembro 21, 2011

Os salários da função pública

"Claro que é preciso analisar os salários da administração pública de uma ponta à outra, do Estado às empresas públicas, passando pelas autarquias e regiões.

É uma política necessária para recuperarmos uma Administração Pública profissional, qualificada e com orgulho no serviço público. É fundamental para termos um Estado forte que não se deixe capturar. E é urgente porque é uma das mais importantes políticas de crescimento.

Os congelamentos e os cortes salariais a que assistimos durante quase uma década - com interrupções em anos de eleições - agravou as distorções que já se registavam na administração pública e que foram identificadas em estudos do Banco de Portugal. Sintetizando, os menos qualificados ganham mais do que em média no sector privado, e os quadros técnicos recebem relativamente menos. Um fosso que se alargou com as políticas salariais recentes. E que é ainda agravado pela discricionariedade com que se foram tomando algumas decisões em entidades ou empresas públicas fora do universo da administração pública.

Não sabemos, ainda, que compromissos foram assumidos com os credores internacionais neste domínio. Mas sabemos que, pela imposição de não usar os fundos de pensões dos bancos no próximo ano, a troika não quer mais medidas extraordinárias em 2012, para se atingir o objectivo do défice público. O próprio ministro das Finanças disse que não há medidas extraordinárias no Orçamento do Estado para 2012. Mas reafirmou que os cortes dos subsídios na função pública só vão durar dois anos.

Em que ficamos, então? Estamos perante um buraco em todo este raciocínio. Se os subsídios de férias e de Natal estão suspensos por dois anos, então são uma medida extraordinária. O que contraria o que disse o ministro das Finanças. Se não há medidas extraordinárias em 2012, então a suspensão dos subsídios é uma regra e não uma excepção, o que volta a contrariar o que disse o ministro das Finanças. Esta falta de lógica só pode ser preenchida por uma nova política salarial na administração pública que o Governo deveria revelar, nas suas orientações gerais, o mais depressa possível. Já chega de massacrar a administração pública. O país precisa dela, como aliás todos os governantes o sentiram e sentem nas dificuldades em concretizar as medidas definidas, com calendários, no Programa de Ajustamento Económico e Financeiro.

Quem vai conhecendo as profundas injustiças que existem na política salarial da administração pública e das empresas do Estado sabe que é urgente redesenhar toda a grelha salarial com princípios de justiça - salário igual para trabalho igual. Mas nesta igualdade é preciso ponderar a responsabilidade - o presidente de um instituto ou um director-geral têm de ganhar mais do que um quadro técnico. Assim como é necessário separar o que são centros nevrálgicos do Estado do que é acessório - não se pode ter a mesma política salarial para quadros que estão nas autarquias e para os que estão em áreas como os impostos ou a gestão da dívida pública ou até na segurança, como a polícia.

Além disso é urgente acabar coma vantagem salarial que os menos qualificados têm no sector público. E alinhar os salários dos quadros técnicos do sector público aos do sector privado.

Recuperar uma administração pública qualificada, profissional e forte tem de ser um dos objectivos da dita "agenda estrutural". Só um Estado forte garante o bom funcionamento do capitalismo. Os estados fracos geram negócios privados que vivem com dinheiro dos contribuintes e são terreno fértil para a corrupção. Uma história que, infelizmente, conhecemos demasiado bem. E que (também) nos trouxe aos problemas que temos hoje.
"

Helena Garrido

domingo, novembro 20, 2011

Menina

O fim do plástico?

"Crédito fácil e juros baixos, a combinação letal do euro, não produziu apenas a montanha de dívida que nos enterrou.

Também trouxe políticos de plástico que transformaram os respectivos governos em circos populistas. Em Portugal, tivemos Guterres e Sócrates (Durão e Santana foram apenas interlúdios para a malta ir às pipocas). Mas ‘nuestros hermanos' não se ficaram a rir. Saiu-lhes Zapatero. Que o mesmo é dizer: enquanto a economia afocinhava com uma bolha imobiliária que toda a gente via crescer e rebentar, Zapatero entretinha-se a ser ‘moderno'. Casava homossexuais; ressuscitava os fantasmas do franquismo; alimentava a fogueira autonómica dos nacionalismos; e etc. etc.

Hoje, quando os espanhóis se livrarem da criatura, ficarão com um país economicamente destroçado, onde metade da população jovem não tem emprego. Mas ficarão sem Zapatero. É um começo. Aliás, se a crise servir para afastar estes comediantes da arena, nem tudo terá sido em vão
."

João Pereira Coutinho

Portugal e a função fotossíntese

"Está a criar-se a ideia de que, como os políticos são incapazes de resolver os problemas, os tecnocratas são a solução, porque entendem os mercados. Sendo assim, para que é que serve a democracia? A questão é que a crise não é só económica: é também social e cultural. E política.
Como na célebre teoria do dominó, as peças vão caindo umas atrás das outras. O governo grego caiu, o italiano também, o espanhol deve perder as eleições. Da Bélgica já não se fala: vive há muito sem governo. A classe política, depois de dar tiros nos pés, sucumbe agora a tiros no coração. É desesperante como em cerca de duas dezenas de anos a classe política europeia conseguiu delapidar a sua herança de referente das sociedades modernas e do Estado-nação. A substituição de governos eleitos democraticamente por executivos tecnocratas é sintomática da fase de descrença com que os cidadãos olham para os que são os seus representantes. Há um outro lado da moeda temível: está a criar-se a ideia de que, como os políticos são incapazes de resolver os problemas, os tecnocratas são a solução, porque entendem os mercados. Sendo assim, para que é que serve a democracia?

Até agora o grande consenso é a de que a crise é só económica e financeira. Tudo se resolverá com austeridade e com uma dimensão de dívida pública sustentável no quadro de um Estado menor. O problema é que não é: esta crise é social e cultural. E, claro, política. Vivemos o culminar de uma época em que a economia passou a fazer parte do discurso dominante. Quando Bill Clinton, em 1992, disse: "É a economia, estúpido", uma nova era começava. O próprio interesse dos cidadãos dos países ocidentais sobre a política deixou de se centrar nos vícios privados e nas públicas virtudes dos líderes e a centrar-se no que lhes confortava ou não economicamente. Os anos de crescimento económico sem limites terminaram. Reagan e Thatcher ensaiaram a grande mudança, mas só agora se sente, a sério, essa mudança de paradigma. Hoje tudo ciranda à volta da economia: o movimento dos 99% é o quê, senão a confirmação de que a economia passou a ser mais importante no imediato do que a luta por grandes causas ou valores? Veja-se o apagão que sofreu, lamentavelmente, a questão ecológica. Algo que as futuras gerações irão pagar bem caro. Tome-se apenas um exemplo: Berlusconi caiu não por causa do "Bunga-bunga", mas porque as taxas de juro das obrigações públicas estavam a atingir valores insuportáveis. Mário Monti, formado no clube da Goldman Sachs, constituiu um governo de tecnocratas. Segundo ele, tem o apoio político maioritário. Para Monti, a ausência de políticos no Governo "ajudará mais do que estorvará o governo a ter uma sólida base de apoio para o executivo no Parlamento e nos partidos políticos porque removerá terreno para a discórdia". A tecnocracia resolverá, ou não, tudo a curto prazo. Mas a política continua a ser a mais perfeita arquitectura para por toda a sociedade a comunicar entre si. Sem ela, a democracia entrará numa nova Idade Média.

Vivemos o culminar de uma época. E em Portugal também. Terminada a temporada de anúncio das grandes medidas de austeridade para 2012, o Governo precisa agora de apontar opções. Como o tutor do sítio, Poul Thomsen disse: "ou cortamos salários e ficamos pobres ou ficamos mais produtivos para poder pagar esses salários". Restou um pormenor: de corte em corte pode-se aumentar a pressão da panela social até ela explodir. Por isso, para o Governo, só há uma opção política: criar uma verdadeira estratégia para a economia portuguesa, limitando as ervas daninhas que a têm impedido de viver. Terminou a fase das lágrimas de crocodilo. Vamos poder usá-las todas em 2012. Mas em 2013 este discurso já não poderá continuar a valer. O País, como as plantas, tem de se preparar para a fase da função fotossíntese: é preciso sintetizar para criar energia. E esse vai ser o momento determinante deste Governo
."

Fernando Sobral

O Duque de Caracas

"No número 224 da Zon está a VTV. A VTV é a emissora, ou uma das emissoras, a serviço de Hugo Chávez. Por perversão, às vezes espreito aquilo. O resultado é insusceptível de descrição adequada: normalmente, há um caipira com pretensões "revolucionárias" a explicar ao povo porque é que o Grande Líder é tão sábio, magnânimo e popular. Às vezes, os caipiras são dois ou três, numa espécie de debate em que o único tema discutível é apurar qual dos participantes elogia mais o Grande Líder. Frequentemente, o assunto desvia-se para a oposição ao Grande Líder e aqui os comentários dos caipiras dividem-se: ou se riem às gargalhadas da impotência da oposição ou, com ar sinistro, aconselham a oposição a limitar-se à impotência. "Eles" mandam; os "outros", se tiverem juizinho, obedecem. No seu site, a Zon descreve o VTV como "O canal de todos os venezuelanos. Este canal pertence ao governo Venezuelano (com maiúscula) e emite conteúdos de interesse nacional."

Esse exacto tipo de "interesse nacional" é igualmente invocado por João Duque, o economista que coordena o grupo de trabalho encarregado de estudar a reestruturação da RTP, de modo a legitimar a subjugação da RTP Internacional (e, ao que percebi, da RTP África) ao Governo e, em particular, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros. O canal dos sonhos do dr. Duque seria a "janela" (sic) do país para "os portugueses da diáspora e os estrangeiros". À superfície, a sua função consistiria em divulgar a noção de que Portugal tem "produtos bons" e um "turismo de qualidade", além da indispensável promoção da "cultura" e da "língua".

Descrita enquanto o típico "televendas" de fancaria, a coisa já é bonita. Mas a coisa, de que Paulo Portas se apressou a afastar, ainda melhora. No fundo, o evangelho televisivo segundo o dr. Duque pressupõe um serviço de pura propaganda: os governos devem tratar a comunicação, leia-se a informação, "à luz daquilo que é a sua política de relações externas". Desde que "sufragado em votos", o poder político, sempre de acordo com o dr. Duque, é livre de "manipular, opinar, modificar". É, conclui o dr. Duque, "assim mesmo, à dura". Sobretudo, concluo eu, para o contribuinte.

Perante isto, apetece perguntar ao dr. Duque onde é que ele desencantaria um Governo capaz de distinguir entre o abstracto "bem da nação" (palavras dele) e os interesses dos partidos e das pessoas que o integram. Porém, é muito mais urgente perguntar ao Governo onde desencantou o dr. Duque. Eu aposto em Caracas
."

Alberto Gonçalves

sábado, novembro 19, 2011

A Pátria não é um estribo...


Quanto vale a liberdade?

Vale o mesmo que a justiça?

O que vale este país na mão de maçons, gente sem escrúpulos?  Bem podem se queixar que vão investigar as fugas de informação, afinal são todos “irmãos”, aí reside a ignomínia do regime republicano.

Pedro IV era maçon, Relvas é maçon, Coelho é maçon, a lista é enorme, a maçonaria, é o partido único que nos governa, só com Salazar as coisas, não seriam assim tão fáceis embora fossem tolerados, mas tinham de obedecer a regras, não ofender a autoridade do Estado, depois dos crimes da I República, desde o início da guerra civil, até ao 28 de Maio e a instauração da ditadura .

Aqui há dias, alguém dizia que achava estranho que numa sociedade secreta se soubessem quem eram os seus elementos, defendendo a bondade da organização, este tipo de argumento muito politicamente correcto é no entanto no mínimo falacioso, porque se pode saber quem são, mas não se sabe o que fazem e como traficam as influências e como muitos dos que os deveriam julgar e investigar em crimes de diversa índole, também o são, daí bem pode o PGR deixar de nos chamar de estúpidos e há muito, há demasiado tempo que nos chama de estúpidos, deveria ser afastado e muitos outros, porque a mulher de César tem de ser séria e parecer, portanto em caso de dúvidas e já são tantas, que se perde a conta.

Hoje depois de toda a destruição da economia, com efeitos a partir dos chamados acordos da troika e das medidas que Coelho não conseguiu, nem conseguirá impor de facto, porque ele é um PM mais uma vez rodeado por uma teia de interesses, retrato fiel do senhor Silva, trata uns como trabalhadores de 1ª e outros como de 2ª, levando mais uma vez à segunda vaga de destruição dos serviços públicos que ainda poderiam funcionar.

Na justiça está à vista de todos, no ensino nada haverá a recuperar, na saúde com o desmembramento, há muito feito das equipas de vários níveis de cuidados, com mais gente a sair do Estado por exaustão e porque já ninguém tem capacidade para ensinar e formar os mais novos, levando ao desastre a que já assistimos.

O crime é este e mais criminoso porque feito com dolo, não é preciso ser economista para perceber, basta ter bom senso e saber ouvir e sentir o arrepio, ainda por cima com um povo muito mais atrasado que no tempo de Salazar, mais mesquinho e ainda por cima a julgar que a tudo tem direito sem ter contribuído na grande maioria dos casos e esses são os piores, esqueceram a humildade, não a subserviência, que é coisa diferente, a humildade, hoje são os filhos e netos dos que por motivos mesquinhos denunciavam à PIDE, ao fiscal das obras, à polícia, crimes não realizados, por questões de inveja,  ganância e outras misérias, mas decerto os custos irão ser os piores, porque pertencem a uma sociedade envelhecida e com uma juventude corrompida pela droga e pelo álcool e pela falta de valores transmitidos pelos pais das piores maneiras, juventude morta por falta de continuidade por motivos da impossibilidade  matemática da demografia das leis de Malthus.

Esta crise de valores, para além da crise económica provocada pelos governos de Abril, da maçonaria e da Opus, são a morte de um dos países mais antigos do mundo, causados pelos novíssimos princípes que se estribaram na Pátria e ela não é um estribo.
P.S. Decerto notam, os mais atentos, que apago alguns escritos, porque acho que é impossível combater a teia de corrupção e interesses instalados pelas palavras e duvido que se consiga no momento actual de forma diversa.

sexta-feira, novembro 18, 2011

A bem da nação!

"Durante a II Guerra Mundial, a BBC era conhecida por dizer sempre a verdade. Assim, quando dizia uma mentira todos acreditavam que era verdade. Em Portugal há quem considere que a RTP só deve dizer a verdade a que temos direito, segundo a interpretação do Estado.
Cada um merece as suas verdades, mas o que espanta é que o liberal líder do grupo que elaborou o projecto de serviço público seja tão estatal na informação. Portugal é assim: pequenino. Liberal como vício público, estatal como devaneio privado.

A ideologia reinante desde há séculos não muda. No futebol interessa quem gere a arbitragem. Na política só importa quem tem o poder da informação. Portugal é um país sempre à espera de que o Estado pastoreie as almas. Ou controlando a informação, ou tornando-a inofensiva.

O pretenso liberalismo de alguns é um estalinismo doce e crocante. As declarações de João Duque, regente de um documento que é elaborado repositório de frases feitas, são típicas de quem acha que o liberalismo é bom enquanto não se comanda o Estado. Quando se tem o poder, tudo deve ser ministrado a conta-gotas aos cidadãos.

O problema é que tudo isso é o contrário do genuíno ideal liberal, que se opõe a tutelas e mascotes. A democratização da RTP está em deixá-la livre, e não tatuada por quem julga ser o detentor da verdade e quer ser o árbitro do gosto.

O que se defende a bem da nação é o fim da pluralidade informativa que deve ser garantida pelo Estado. O que João Duque propõe não é que o Estado seja só árbitro do gosto. É que tenha o poder de garantir o arbítrio do gosto. Sempre a bem da nação, é justo salientar
."

Fernando Sobral

BCE, lender of last resort?

"Crescem as vozes que advogam um papel mais interventivo do BCE na crise da dívida soberana. A ideia é, basicamente, por o BCE a comprar dívida dos países mais afectados, no mercado secundário, para segurar os juros.

A ideia tem pernas para andar? Vejamos. A intervenção de um banco central no mercado de dívida tem três implicações: arrisca acabar com a fronteira entre política monetária e orçamental (monetarizando défices orçamentais); potencia a subida da inflação; cria um problema constitucional.

A primeira e segunda questões preocupam sobretudo os alemães: depois do trauma das duas Guerras Mundias (em que os preços pularam milhões de por cento) os alemães construíram uma parede sólida entre o Bundesbank e o Ministério das Finanças, que proporcionou 50 anos de sólida estabilidade monetária. E chegamos à terceira: o Tratado de Lisboa herdou o modelo do Bundesbank, que veda uma presença regular, institucional, do BCE no mercado de dívida.

É possível mudar isto? É. Por cima do cadáver da Alemanha… E mesmo que se conseguisse convencer os alemães a serem excepcionalmente "liberais", deixando que o BCE fizesse "quantitative easing" (à la Fed e Bank of England), subsistiria outro problema: nos EUA e em Inglaterra há suporte político (parlamento) para as duas políticas: orçamental e monetária. Ou seja, existe um Poder… político, legitimado pelos eleitores, para concertar política monetária (banco central) com política orçamental (ministério das Finanças). E é esse Poder político (legitimação) que a zona Euro não tem. Por isso, se se quiser mudar a natureza do BCE, tem de se começar por reforçar a união política (federalismo). Até lá… nada feito
."

Camilo Lourenco

O grande conselho fiscal

"(Onde o autor continua a propor que se desconfie dos políticos que atacam os veredictos dos mercados sobre as suas políticas, pois o que se passa, normalmente, é serem estes a ter razão e os agentes políticos aí encontrarem oportuno bode expiatório para os seus erros - os quais, no final, são pagos pelos contribuintes e não pelos mesmos, enquanto que, com os investidores e especuladores, são eles próprios a perder pelos seus erros).

Nada como uma boa história para ilustrar um ponto de vista, mesmo se muito resumida e melhor contada por outros (vg, Krugman), e a que vai adiante dava seguramente para tema de um "thriller":

De 1979 aos princípios dos anos 90 do século passado, 11 dos 15 membros da EU/CEE estabeleceram o Sistema Monetário Europeu, precursor da União Monetária Europeia e do euro, destinado a evitar a instabilidade cambial nas relações comerciais mútuas. Realmente, após o óbito de Brenton Woods e o último suspiro do ouro como padrão indirecto para as divisas, via dólar, a instabilidade cambial tornou-se regra, com o consequente prejuízo para as relações comerciais, perturbadas pela instabilidade do valor dos pagamentos. Aqueles Estados europeus decidiram, pois, criar um oásis no meio da balbúrdia mundial, um sistema que produzisse imunidade quanto às variações cambiais no seu já definido espaço económico.

Basicamente, tratava-se de deixar oscilar as moedas aderentes dentro de estreitas bandas (2,25%, a curta; 6%, a larga), o que, na prática, equivaleu a fazê-lo à volta do marco alemão, a moeda mais sólida, dados os estatutos e performance de estabilidade do Bundesbank, ao mesmo tempo que se criava uma unidade monetária meramente escritural, o ECU, a olear as transacções entre países. Transpostos os limites da banda, os bancos centrais interviriam no mercado, vendendo ou comprando divisas conforme as situações, e toda a gente viveria feliz.

Ora, por 1992, o Reino Unido, acabado de aderir ao esquema, encontrava-se com uma economia recessiva e tomada pela inflação, logo dessincronizada com a dos principais aderentes do clube, nomeadamente a Alemanha, a digerir a RDA comunista sem Alka Seltzer. Com taxas de juro bem mais baixas que as alemãs e francesas, nomeadamente, a libra encontrava-se sobrevalorizada, mas John Major, primeiro-ministro conservador, decidiu defendê-la, com declarações públicas de bravado para os resmungos alemães. Seguindo os fundamentais macro-económicos, como têm que fazer os especuladores ganhantes, apareceram nos "Forex" massivas ordens de venda de esterlino, cobertas e descobertas, aqui sobressaindo o famoso George Soros.

Enquanto Major e o seu ministro das Finanças vociferavam contra os "ataques" especulativos dos mercados, como fazem os políticos incompetentes que persistem nos erros (que saudades de Sócrates que, nesse assunto, era um campeão, ao ponto de meter o patriotismo pelo meio, e a quem desejo uma longuíssima estadia em França, ou qualquer outro país estrangeiro, de preferência mais longínquo). Esta história é mais conhecida que os dinossauros, mas é bom lembrar que, no final, Soros ganhou 1 bilião, os restantes especuladores em conjunto vários biliões, Major "ficou em casa", mas os contribuintes britânicos lá tiveram que arrostar com uma conta desmesurada. Ah! No final do processo, que ainda durou um ano, todo o sistema foi para as urtigas, e isso porque os mercados é que tinham razão.

As pessoas mais distraídas, induzidas pelos títulos dos média, tendem a julgar que os mercados são entidades maléficas enxameadas de vilãos, imbuídos dos mais condenáveis propósitos para destruir a riqueza das nações e o bom nome da gente que nos governa. Ora, por lá andam fundos soberanos, fundos de pensões, fundos de investimento, para além dos especuladores que exercem a função fundamental de lhes dar liquidez, a qualidade fundamental de um mercado perfeito.

Esta gente ou investe bem, isto é, de acordo com os fundamentais da economia, ou vai perdendo até mudar de profissão. No fundo, o grande escrutínio que os mercados exercem em sintonia com a verdade económica, torna-os os fiscalizadores das políticas macro - económicas dos países (desde que dotados de liquidez e informação que os imunize contra manipulações). Não têm partidos, nem ideologias, nem favoritos. E a instabilidade de que muitas vezes padecem, na sua complexidade, advém, também, dos humores e frustrações de políticos incapazes e desbocados. Como o sr. John Major, o nosso herói do dia
. "

Fernando Braga de Matos

quinta-feira, novembro 17, 2011

" I love the smell of napalm in the morning..."

Síndrome da avestruz...

1/ "A Europa está perante um enorme turbilhão. Com dívidas públicas acumuladas, fruto de políticas seguidas durante muitos anos por alguns países, a situação tornar-se-ia insustentável no mais puro sentido da palavra em virtude do fardo adicional provocado pela crise financeira e bancária - Guido Westerwelle, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha (mais aqui)"

2/ "A Alemanha tem dívidas mais elevados do que Espanha. Mas aqui ninguém quer saber disso", comentou Juncker, que se mostrou compreensivo quanto aos receios daquele país perante a actual crise financeira (mais aqui)"

3/ "Moody's rebaixa ratings de 10 bancos alemães (mais aqui)"

Etiquetas:

Técnicos???

1/ "Se o sector privado procedesse a um corte salarial médio de 15%, as receitas fiscais sobre o trabalho encolheriam cerca de 1,7% do PIB. Mais um buraco. Só por via da perda de receita com IRS e Segurança Social, o buraco nas contas públicas seria de tal ordem que nem dois impostos extraordinários sobre o subsídio de Natal o conseguiriam tapar (mais aqui)"

2/ "Acabem com as conferências de imprensa da troika. São funcionários de 5ª linha, que foram eleitos de forma não democrática, que vêm para aqui dar conselhos (mais aqui)"

3/ "Um governante da zona euro ficou particularmente aborrecido com as críticas que fiz às políticas europeias no passado e recordou-me que os programas em questão foram pensados por alguns dos peritos mais qualificados dos estados membros, Comissão, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI). Seriam, em minha opinião, atrasados mentais? Não usaria tal termo, mas das duas, uma: ou são mal informados ou estão a mentir. Custa-me a crer que pessoas com uma experiência sólida em macroeconomia e o mínimo sentido de honestidade defendam a ideia de uma contracção orçamental expansionista ou - menos grave, apesar de tudo - considerem que programas de austeridade coordenados não vão afectar o crescimento no curto prazo (mais aqui)"

Etiquetas:

Emigrar...

"O ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, considerou hoje, no Parlamento, que a emigração de jovens portugueses qualificados sem oferta de emprego em Portugal pode ser algo "extremamente positivo. Nós temos hoje uma geração extraordinariamente bem preparada, na qual Portugal investiu muito. A nossa economia e a situação em que estamos não permitem a esses activos fantásticos terem em Portugal hoje solução para a sua vida activa. Procurar e desafiar a ambição é sempre extraordinariamente importante (mais aqui)".

Etiquetas:

Financiar a partidocracia das autarquias e nepotes de cartão...

Do IMI ao descalabro. Em vez de justiça tributária, asfixia fiscal

Vamos todos parar à rua, a banca e o Estado passam a ser os grandes senhorios. Não, não é um cenário do novo filme dos irmãos Wachowski – é a realidade que o sistema de avaliação do IMI nos promete. Isto porque o fisco é cego em relação aos valores de mercado e, independentemente do rendimento que o proprietário retira do imóvel, ou mesmo dos rendimentos que tem de outras fontes, faz uma avaliação que dá como resultado um valor tributário muito superior ao valor de mercado, situação que se agudizou muito mais desde que o mercado dos bens imobiliários desvalorizou de forma brutal. Disto resulta que, com a reavaliação de determinado imóvel, uma família se vê obrigada a pagar um IMI que esmaga o orçamento familiar, sem possibilidades sequer de o vender num mercado praticamente estagnado.
Para uma casa comprada por 200 mil euros reavaliada com a aplicação da taxa máxima, de 0,5%, o proprietário vai pagar um IMI de mil euros por ano.
Segundo o economista António Lourenço, representante da Plataforma Justiça Fiscal (ver caixa), a reforma que entrou em vigor em Dezembro de 2003, que pretendia repartir de forma mais justa a tributação da propriedade imobiliária, principalmente no plano intergeracional, acabou por conduzir a um sistema ainda mais injusto, onde existem três tipos de cidadãos-contribuintes: os que possuem imóveis avaliados muito antes de 2003 e pagam valores de IMI anuais quase irrisórios, mesmo que esses imóveis tenham um valor de mercado elevado e pudessem ser tributados em sede de IMI com valores muito superiores; os proprietários de prédios avaliados alguns anos antes de 2003 e cujos prédios possuem valores de avaliação patrimonial mais próximos do seu valor de mercado, mas mesmo assim aquém desse valor; e finalmente os proprietários de imóveis avaliados após a reforma de 2003, que pagam avultados montantes de IMI, por força de valores de avaliação patrimonial muito próximos do seu valor de mercado, não obstante pagarem uma taxa mais reduzida (0,4% em vez de 0,7%) em relação aos imóveis avaliados antes de 2003.
“Para que houvesse justiça na aplicação deste imposto, não havendo perda de receitas para os municípios, o Ministério das Finanças deveria actualizar o valor patrimonial de todos os prédios (ao invés do que sucedeu até agora, em que somente um número irrisório de prédios foi reavaliado, na maior parte dos casos os que estavam localizados em prédios onde houve transacções recentemente) e, em consequência do alargamento da base tributária, o governo poderia aplicar uma taxa muito mais reduzida (0,2 % no máximo)”, advoga o economista.
O Estado comprometeu-se a aplicar um regime de salvaguarda que garantisse uma actualização progressiva de todos os prédios avaliados antes de Dezembro de 2003, contudo nada avançou neste sentido. Era previsto também um regime de salvaguarda que implicava correcções anuais sucessivas, de forma a aproximar o valor patrimonial dos prédios antigos do seu valor de mercado. Neste capítulo também nada foi concretizado. Mantém-se uma grande desactualização do valor patrimonial dos imóveis constantes das matrizes prediais. Só as avaliações feitas após 2003 e as transacções entretanto efectuadas registam valores patrimoniais muito próximos do valor comercial ou de mercado dos imóveis.
“Além disto, os municípios têm sido incapazes de levar a cabo a lista dos prédios degradados e abandonados e remetê-la às Finanças para o correspondente agravamento da taxa, conforme previa a reforma, com o fim de levar os proprietários a reabilitar esses prédios”, frisa António Lourenço. E adianta “outro aspecto perverso da reforma”: o facto de o contribuinte se achar impotente para reclamar quanto ao valor da avaliação, “perante a arbitrariedade e a prepotência do Estado, devido ao poder desigual dos peritos designados pelo Estado e pelo município, obrigando o contribuinte a aceitar o valor de avaliação sob pena de incorrer nos custos elevados de nova avaliação e sem garantias de obter uma avaliação rigorosa e objectiva”.

quarta-feira, novembro 16, 2011

A podridão da UE e o novo clube do Euro, como em Portugal, o grego podia ser português...


"Há algum tempo, foi publicada , na revista, uma “carta aberta” de um cidadão alemão, Walter Wuelleenweber, dirigida a “caros gregos”, com um título e sub-título:
Depois da Alemanha ter tido de salvar os bancos, agora tem de salvar também a Grécia
Os gregos, que primeiros fizeram alquimias com o euro, agora, em vez de fazerem economias, fazem greves.
Caros gregos,
Desde 1981 pertencemos à mesma família. Nós, os alemães, contribuímos como ninguém mais para um Fundo comum, com mais de 200 mil milhões de euros, enquanto a Grécia recebeu cerca de 100 mil milhões dessa verba, ou seja a maior parcela per capita de qualquer outro povo da U.E.
Nunca nenhum povo até agora ajudou tanto outro povo e durante tanto tempo.
Vocês são, sinceramente, os amigos mais caros que nós temos. O caso é que não só se enganam a vocês mesmos, como nos enganam a nós.
No essencial, vocês nunca mostraram ser merecedores do nosso Euro. Desde a sua incorporação como moeda da Grécia, nunca conseguiram, até agora, cumprir os critérios de estabilidade. Dentro da U.E., são o povo que mais gasta em bens de consumo.
Vocês descobriram a democracia, por isso devem saber que se governa através da vontade do povo, que é, no fundo, quem tem a responsabilidade. Não digam, por isso, que só os políticos têm a responsabilidade do desastre. Ninguém vos obrigou a durante anos fugir aos impostos, a opor-se a qualquer política coerente para reduzir os gastos públicos e ninguém vos obrigou a eleger os governantes que têm tido e têm.
Os gregos são quem nos mostrou o caminho da Democracia, da Filosofia e dos primeiros conhecimentos da Economia Nacional.
Mas, agora, mostram-nos um caminho errado. E chegaram onde chegaram, não vão mais adiante!!!
Na semana seguinte, o Stern publicou uma carta aberta de um grego, dirigida a Wuelleenweber:
Caro Walter, Chamo-me Georgios Psomás.  Sou funcionário público e não “empregado público” como, depreciativamente, como insulto, se referem a nós os meus compatriotas e os teus compatriotas.
O meu salário é de 1.000 euros. Por mês, hem!... não vás pensar que por dia, como te querem fazer crer no teu País. Repara que ganho um número que nem sequer é inferior em 1.000 euros ao teu, que é de vários milhares.
Desde 1981, tens razão, estamos na mesma família. Só que nós vos concedemos, em exclusividade, um montão de privilégios, como serem os principais fornecedores do povo grego de tecnologia, armas, infraestruturas (duas autoestradas e dois aeroportos internacionais), telecomunicações, produtos de consumo, automóveis, etc.. Se me esqueço de alguma coisa, desculpa. Chamo-te a atenção para o facto de sermos, dentro da U.E., os maiores importadores de produtos de consumo que são fabricados nas fábricas alemãs.
A verdade é que não responsabilizamos apenas os nossos políticos pelo desastre da Grécia. Para ele contribuíram muito algumas grandes empresas alemãs, as que pagaram enormes “comissões” aos nossos políticos para terem contratos, para nos venderem de tudo, e uns quantos submarinos fora de uso, que postos no mar, continuam tombados de costas para o ar.
Sei que ainda não dás crédito ao que te escrevo. Tem paciência, espera, lê toda a carta, e se não conseguir convencer-te, autorizo-te a que me expulses da  Eurozona, esse lugar de VERDADE, de PROSPERIDADE, da JUSTIÇA e do CORRECTO.
Estimado Walter,
Passou mais de meio século desde que a 2ª Guerra Mundial terminou. QUER DIZER MAIS DE 50 ANOS desde a época em que a Alemanha deveria ter saldado as suas obrigações para com a Grécia.
Estas dívidas, QUE SÓ A ALEMANHA até agora resiste a saldar com a Grécia (Bulgária e Roménia cumpriram, ao pagar as indemnizações estipuladas), e que consistem em:
1. Uma dívida de 80 milhões de marcos alemães por indemnizações, que ficou por pagar da 1ª Guerra Mundial;
2. Dívidas por diferenças de clearing, no período entre-guerras, que ascendem hoje a 593.873.000 dólares EUA.
3. Os empréstimos em obrigações que contraíu o III Reich em nome da Grécia, na ocupação alemã, que ascendem a 3,5 mil milhões de dólares durante todo o período de ocupação.
4. As reparações que deve a Alemanha à Grécia, pelas confiscações, perseguições, execuções e destruições de povoados inteiros, estradas, pontes, linhas férreas, portos, produto do III Reich, e que, segundo o determinado pelos tribunais aliados, ascende a 7,1 mil milhões de dólares, dos quais a Grécia não viu sequer uma nota.
5. As imensuráveis reparações da Alemanha pela morte de 1.125.960 gregos (38,960 executados, 12 mil mortos como dano colateral, 70 mil mortos em combate, 105 mil mortos em campos de concentração na Alemanha, 600 mil mortos de fome, etc., et.).
6. A tremenda e imensurável ofensa moral provocada ao povo grego e aos ideais humanísticos da cultura grega.
Amigo Walter, sei que não te deve agradar nada o que escrevo. Lamento-o.
Mas mais me magoa o que a Alemanha quer fazer comigo e com os meus compatriotas.
Amigo Walter: na Grécia laboram 130 empresas alemãs, entre as quais se incluem todos os colossos da indústria do teu País, as que têm lucros anuais de 6,5 mil milhões de euros. Muito em breve, se as coisas continuarem assim, não poderei comprar mais produtos alemães porque cada vez tenho menos dinheiro. Eu e os meus compatriotas crescemos sempre com privações, vamos aguentar, não tenhas problema. Podemos viver sem BMW, sem Mercedes, sem Opel, sem Skoda. Deixaremos de comprar produtos do Lidl, do Praktiker, da IKEA.
Mas vocês, Walter, como se vão arranjar com os desempregados que esta situação criará, que por ai os vai obrigar a baixar o seu nível de vida, Perder os seus carros de luxo, as suas férias no estrangeiro, as suas excursões sexuais à Tailândia? Vocês (alemães, suecos, holandeses, e restantes “compatriotas” da Eurozona) pretendem que saíamos da Europa, da Eurozona e não sei mais de onde.
Creio firmemente que devemos fazê-lo, para nos salvarmos de uma União que é um bando de especuladores financeiros, uma equipa em que jogamos se consumirmos os produtos que vocês oferecem: empréstimos, bens industriais, bens de consumo, obras faraónicas, etc.
E, finalmente, Walter, devemos “acertar” um outro ponto importante, já que vocês também disso são devedores da Grécia:
EXIGIMOS QUE NOS DEVOLVAM A CIVILIZAÇÃO QUE NOS ROUBARAM!!!
Queremos de volta à Grécia as imortais obras dos nosos antepassados, que estão guardadas nos museus de Berlim, de Munique, de Paris, de Roma e de Londres.
E EXIJO QUE SEJA AGORA!! Já que posso morrer de fome, quero morrer ao lado das obras dos meus antepassados.
Cordialmente,
Georgios Psomás

Divulgue o seu blog!