segunda-feira, abril 30, 2012

Holandas...

"Já poucos se recordarão que quando eclodiu a crise do ‘subprime’, o então presidente do Brasil, Lula da Silva, declarou para quem o quis ouvir que se tratava de uma crise causada por “homens de olhos azuis”.

Ao longo destes nefastos anos que estamos a viver, desde que a dívida desabou sobre nós tem-nos persistentemente sido vendida a ideia que a culpa é nossa, que gastámos muito mais do que devíamos e que, no fundo, tínhamos que pagar por luxos passados e que enganámos os nossos credores porque não empregámos bem o dinheiro que nos emprestaram. Como em tudo na vida, a verdade não se desenha a preto e branco. Obviamente houve excessos e, da Madeira ao túnel do Marão, abundam os exemplos. Mas também temos novos e úteis hospitais, escolas renovadas e um parque eólico de fazer inveja a muitos. Temos auto-estradas inúteis, mas também muitas que nos são úteis. Temos, enfim, um país que deu um salto de gigante sobre o inacreditável atraso que patenteava há apenas 40 anos. E não falo do avanço dos indicadores de esperança de vida, da (baixíssima) mortalidade infantil, mobilidade, acesso à banda larga, etc., etc.. É pois completamente errado concluir que toda a gestão do dinheiro, nosso e emprestado, foi pura e simplesmente desperdiçado em pensões e subsídios ou desencaminhado pelos becos da corrupção. Há obra.

Falemos agora da origem da presente crise. Como já mencionei acima, a crise do ‘subprime' desencadeou uma série de eventos em cascata, entre eles ter apanhado os bancos alemães altamente encalacrados com o dinheiro que lá tinham posto, eventos esses que acabaram por também nos vir bater à porta. Vamos então por partes. O nosso problema é a nossa dívida soberana? Mas então, se é assim, porque é que a Espanha que tem uma das dívidas públicas mais baixas da União está hoje à beira do precipício? Então, será que o nosso problema é a insustentabilidade da Segurança Social, muitas pensões, muitos subsídios, muitos rendimentos mínimos garantidos? Mas então não estará pior a França que dá reformas aos 62 anos, ou a Alemanha que tem um problema demográfico ainda pior que o nosso que, ainda por cima, já foi reformado e bem reformado? Bom, talvez seja o défice público... mas, ele não baixou o ano passado? E não baixará este ano? E não será inferior ao francês, inglês e, certamente, ao americano? É que a nossa balança de pagamentos é muito desequilibrada. E a Itália, que tem superavit primário, não está a braços com "os mercados"? É o crescimento! E a Irlanda?

Poderia continuar. Mas quero apenas relembrar aqui dois factos o primeiro dos quais, não sei porquê, anda esquecido: a França e a Alemanha foram os primeiros países a ultrapassar o limites dos 3% de ‘deficit' nas contas públicas. Deram o exemplo para evitar recessões. E, nos últimos dias, a Holanda viu cair o seu governo quando um partido de extrema-direita (!!!) se negou a espartilhar o seu pais para obedecer à regra quase totalmente artificial e arbitrária de um ‘deficit' que lhe querem impor. O ‘deficit' e a disciplina foram mandadas às ortigas porque a crise lhes bateu à porta e há que salvaguardar... o crescimento.

Quaisquer afirmações com tons xenófobos e nacionalistas como a declaração de Lula da Silva são sempre de condenar. Mas, convenhamos, esta crise não é inteiramente nem sequer principalmente causada por nós. Mas somos nós quem sofre as suas consequências. Os pobres que paguem a crise!"

Ricardo Monteiro

domingo, abril 29, 2012

A crise e a demografia na morte de um país...

A crise como lhe chamamos tem muitas incidências, muitas consequências e decerto terá um fim que pode ser interpretado, como o nome indica, mas que, na sua definição mais simples, ser consequência de  um efeito, provocado por uma ou várias causas.  
Uma delas, será a que considero a mais grave, que já o era, pelas políticas criminosas de: "mais vale um aborto do que um nascimento, em nome da liberdade da mulher, vá-se lá saber o que isso quer dizer...", ou seja o Estado gasta mais com um aborto que com uma gravidez, o que leva   à  diminuição brutal da natalidade, por efeitos desta política criminosa e cega pelos princípios de uma ideologia, se é que existe alguma, ao momento, (daí a morte anunciada das utopias).
O que pretendo então dizer?
Se a demografia já era um dos principais problemas, senão o principal, do chamado mundo ocidental, e da "ocidentalização" de muitas das sociedade ditas em crescimento contante, ( uma impossibilidade...), ou seja lá o que isso quer dizer, porque é sempre um termo comparativo, a demografia com a crise artificial que vivemos gerada pelos donos dos "mercados", provoca no nosso Portugal, uma situação que se manifesta através da diminuição da esperança de vida, pelas altas mortalidades nos grupos mais vulneráveis que vão engrossando em número, e não venham os senhores da DGS culpar a gripe e uma diminuição brutal da natalidade que posso sem grande margem de falha e comparando com os números de 2010 em cerca de 60 %.
Sustentabilidade? Aumento da esperança de vida? São peças de um teatro de mentira e de iniquidade, defendida escrita, por gente sem escrúpulos e com dono. 
Cruzem os números e tenham medo, mas sobretudo apontem culpados, porque a sociedade não pode deixar de continuar a ser apontada por gente que nunca soube o que é trabalhar, como culpada dos males, e não pode continuar a ser insultada por gente que vive como erva daninha e que ocupa cargos danosos a partir do momento em que exerce o poder de forma danosa.

sábado, abril 28, 2012

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

"Uma das vertentes de ação do programa de assistência financeira (PAEF) a Portugal prende-se com a competitividade. O enfoque exclusivo em medidas padrão usuais, como os custos unitários de trabalho, desfavorece a perceção sobre Portugal, apesar das reconhecidas insuficiências do indicador.

Na terceira revisão do PAEF, o FMI apresenta um défice de cerca de 13-14% num índice relativo à competitividade-custo de Portugal (taxa de câmbio efetiva real via custos unitários de trabalho). Esta estimativa resulta quer da evolução relativa do índice desde 1995, período onde o défice externo português era relativamente reduzido, quer de um estudo mais amplo em que se simula a desvalorização real necessária para reduzir a metade o stock de dívida em relação ao exterior. Neste quadro, argumenta-se que os progressos na recuperação da competitividade têm sido pouco expressivos. O índice melhorou 2% a 3% desde meados de 2009.

Não se disputa a relevância do indicador, mas naturalmente revela-se exíguo para abarcar uma realidade tão complexa quanto a competitividade de um país. Consoante o discutido pelo Chefe de missão do FMI na conferência de imprensa dedicada a Portugal, apesar da redução pouco expressiva no hiato da competitividade, a realidade é mais positiva, aferida pela firmeza das exportações portuguesas.

Uma robustez que não se cinge ao tempo presente. Tomemos as quotas de mercado das exportações como uma evidência do grau de competitividade externa de um país. Os dados remontam a 1950, e provêm da base de dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

Atente-se nas seguintes estatísticas: (i) a relativa estabilidade da quota de Portugal nas exportações mundiais, que passam de 0,30% em 1950 para 0,32% em 2010; (ii) a partilha das tendências europeias no plano das quotas de exportação, tendo-se atingido um pico em meados da década de 90; (iii) fraca evidência de que Portugal tenha sido relativamente mais afetado após a introdução do euro do que outros estados membros, percecionados como mais competitivos, consoante aferido pela redução em 15% na quota de mercado mundial de Portugal contra reduções de 30% e 40% nos valores respetivos da França e do R.Unido, no período 2000-2010, tanto mais relevante quanto neste período se verificou uma integração progressiva de países da Europa de Leste e da Ásia no comércio mundial, com padrões de especialização mais próximos do português.

Acrescentam-se mais três informações: (i) nas exportações de serviços, Portugal apresenta um crescimento sustentado das quotas de mercado desde 1980, diferenciando-se do definhamento europeu; (ii) Portugal no período 1995-2010 diversifica exportações, o mesmo não acontecendo com a França, com a Alemanha ou o Reino Unido; o grau de abertura ao exterior (exportações em % do PIB) aumentou no período 2000-2010, o mesmo não se verificando para França, Espanha ou Itália.

Este grupo de estatísticas relembra a prudência de avaliação de uma realidade complexa com recurso a métricas úteis, mas de escopo limitado. Sugerem que outros fatores para além do custo atuam favoravelmente sobre as exportações portuguesas, melhorando significativamente a sua competitividade efetiva. E, num mundo onde as perceções são importantes, esta perceção interessa mudar. Também contribuem para explicar a velocidade de correção do desequilíbrio externo português, associado a maior sustentabilidade nos padrões de consumo internos, dada a resiliência do setor exportador. Mas, não asseguram o retorno rápido a padrões de vida exibidos no passado recente, para o qual poderá ajudar um maior afinco na função de arautos da nossa competitividade. São evidência de que somos melhores do que julgamos e nos fazem, mas ainda não tão bons quanto desejamos ser."

Gonçalo Pascoal

sexta-feira, abril 27, 2012

Num país mais ou menos a sério dava cana, porque pode ser informação priveligiada e porque há decerto corrupção no mínimo...

Henrique Gomes, ex-secretário de Estado da Energia, referiu hoje no Parlamento que não sabe como é que o presidente da EDP, António Mexia, “teve conhecimento de um estudo” sobre rendas excessivas, poucas horas depois da sua entrega ao Governo pelo ministro da Economia.

 
Henrique Gomes, que está numa audição na Comissão Parlamentar de Economia para falar sobre o processo relativo às rendas excessivas na produção de electricidade, questionou como é que o presidente da EDP teve acesso a um estudo realizado por uma unidade da Universidade de Cambridge, no âmbito dos compromissos assumidos com a troika no memorando de entendimento.

Henrique Gomes sublinhou que Mexia conhecia o estudo horas depois de o documento ter sido entregue pelo ministro da Economia ao Governo. Em causa estava a identificação de rendas excessivas na produção eléctrica em Portugal.

António Mexia, aliás, chegou a comentar o estudo e a referir a existência de “erros grosseiros” no documento, durante a apresentação dos resultados da eléctrica portuguesa realizada a 8 de Março.

Henrique Gomes referiu-se também aos "sobrecustos elevados" nas renováveis, nomeadamente na produção de origem eólica (94 euros por MW), e considera que Portugal não tem dimensão para investir na energia nuclear. No entanto, admite que haja um acompanhamento dessa forma de energia a nível ibérico e europeu a partir de 2015 ou 2016.

O ex-secretário de Estado lembrou ainda que em Setembro passado o Governo desistiu da aplicação de uma taxa adicional aos produtores de energias eléctrica, que estava a ser desenhada pelo gabinete de Henrique Gomes, devido aos planos para a privatização da companhia liderada por António Mexia.
Recordou também que o compromisso de identificação e redução das rendas excessivas neste sector, que consta do memorando de entendimento, foi anterior à decisão sobre a venda de uma parte das acções da eléctrica portuguesa ao novo accionista chinês China Three Gorges, tomada no final de Dezembro.

Citações a propósito...

The great multinationals are unwilling to face the moral and economic contradictions of their own behavior - producing in low-wage dictatorships and selling to high-wage democracies. Indeed, the striking quality about global enterprises is how easily free-market capitalism puts aside its supposed values in order to do business. The conditions of human freedom do not matter to them so long as the market demand is robust. The absence of freedom, if anything, lends order and efficiency to their operations."

" Everyone's values are defined by what they will tolerate when it is done to others. "

William Greider, journalist and author

quinta-feira, abril 26, 2012

Até amanhã e boa sorte!!!

Positivo, negativo e realista

"O Presidente da República resolveu dedicar o seu discurso deste ano do 25 de Abril ao lado positivo de Portugal e ao apelo à coesão social. Fez bem mas não chega. Esqueceu-se, lamentavelmente, do lado negativo, determinante para a conquista de um futuro melhor e para não perdermos o que de positivo ainda temos.

Vamos esquecer o facto de o Presidente da República ter substituído, de um ano para o outro, a mensagem de não aguentamos mais austeridade por um em que apela à coesão. Esqueceu-se que há hoje pessoas a viverem dificuldades bastante mais graves do que há um ano e, pior ainda, sem qualquer perspectiva. Esqueceu-se ainda que as políticas que foram seguidas durante este último ano pelo Governo de Pedro Passos Coelho foram e continuam a ser muito rápidas a mudar a vida dos grupos mais frágeis, como os empregados no sector privado e público, e muito lentas ou mesmo ausentes a, pelo menos, reduzir o poder de grupos que garantem rendas e não lucros à mesa do Orçamento do Estado e sufocam a iniciativa realmente privada e de mercado.

"Em momentos como este, é essencial assegurar a coesão do País", disse o Presidente da República nas comemorações mais divididas em 38 anos de vida do 25 de Abril de 1974, com a ausência dos capitães da revolução e de Mário Soares. Faltou ao Presidente dizer porque é que essa coesão está a ser fragmentada.

Sim o Presidente tem razão ao destacar a "capacidade notável" dos portugueses para se adaptarem às dificuldades assim como ao igualmente notável espírito de solidariedade. Podia até sublinhar também a extraordinária capacidade de sacrifício dos portugueses e a sua inteligência, capaz de perceber e apoiar o que é preciso fazer para Portugal ser um país melhor.

Portugal é de facto um país extraordinário. Muitas vezes o ouvimos de estrangeiros que cá vivem e de portugueses que emigraram. É um dos melhores países da Europa para viver.

Mas há o outro lado, o lado negativo, porque também ouvimos que Portugal é um dos piores países para trabalhar. Onde os lóbis ganham sempre, onde o mérito não é reconhecido, onde o Estado sufoca os pequenos para garantir rendas a quem tem poder, onde a classe política não consegue na prosperidade como na austeridade romper com os poderes instalados que inviabilizam o desenvolvimento.

Foi este lado negativo de Portugal que, lamentavelmente, o Presidente se esqueceu de revelar. E lamentavelmente porque é este lado negativo que está a ameaçar a coesão social, o sucesso do programa de ajustamento e o futuro desenvolvimento do país.

O Presidente esqueceu-se de alertar que o desenvolvimento económico não chegará se a agenda estrutural se limitar a alterar a legislação laboral nos sectores privado e público. Como já alguns políticos e economistas têm alertado, as leis do trabalho são a única e exclusiva preocupação do Executivo. Porque não disse o Presidente uma palavra sobre a urgente necessidade de reduzir as rendas no sector da energia ou limitar as rendas que os contribuintes pagam às Parcerias Público-Privadas, para dar apenas dois exemplos? Ou porque nada disse o Presidente sobre a necessidade de o Governo ser menos arrogante com a oposição e os sindicatos? Se alguém está a ameaçar o nosso principal activo no exterior, a coesão política e social, esse alguém é Pedro Passos Coelho. A coesão não é um dado adquirido, precisa da atenção contínua de quem tem o poder e de medidas que mantenham o sentimento de justiça na austeridade.

O importante não é ser positivo ou negativo nas mensagens e no que se diz sobre Portugal. O importante é ser realista e observar a realidade. E a realidade mostra-nos cada vez mais que a austeridade está a ser mais para uns do que para outros e, exactamente por isso, está a traçar o caminho para o fracasso e para a desunião entre os portugueses. É pena que o Presidente não tenha contribuído para que o Governo seja mais corajoso ou menos displicente, mais amigo da coesão."

Helena Garrido

quarta-feira, abril 25, 2012

Sobre a austeridade só para alguns e, onde quem manda são os banqueiros

http://dre.pt/pdf1sdip/1980/10/24300/34753477.pdf

Decreto-Lei não revogado e que torna inconstitucional a norma de fazer com que os funcionários públicos sejam tratados de forma diferente dos restantes portugueses, a senhora Ministra da Justiça deveria ter sido demitida, por pressionar o Tribunal Constitucional, provando desta forma que este país e´de facto um sítio muito mal frequentado, e não é portanto um país com um regime legítimo.

terça-feira, abril 24, 2012

Deus não pode ser para aqui chamado!


Coloca antigos funcionários nos lugares de topo que decidem o rumo da economia global, facto que leva muitos a dizerem que domina o mundo e que centra as atenções de manifestantes anti-Wall Street.



Sou um banqueiro a fazer o trabalho de Deus”. É a forma como o presidente do maior banco de investimento do mundo vê a sua missão no comando do Goldman Sachs. Mas na opinião de um número cada vez maior de pessoas, o “trabalho de Deus” do Goldman Sachs é a encarnação do lado negro da força em Wall Street. E há até quem defenda que é este banco que manda no mundo e não os governos.
“Eu concordo com a tese de que os bancos, e especialmente o Goldman Sachs, se tornaram demasiado poderosos na medida em que influenciam a nossa política, a nossa economia e a nossa cultura”, referiu o autor de “Money & Power: How Goldman Sachs Came to Rule theWorld”, William D. Cohan, ao Outlook. E o poder do Goldman Sachs nos centros de decisão política até lhe valeu a alcunha, dada por banqueiros concorrentes , de Government Sachs. O banco liderado porLloyd Blankfein conta com um exército de antigos funcionários em alguns dos cargos políticos e económicos mais sensíveis no mundo (ver rodapé). E o inverso também acontece, o recrutamento de colaboradores que já desempenharam cargos de decisão.

“Não há dúvida queWall Street tem uma força cada vez mais poderosa no governo norte americano.

Não são apenas os milhões que vão para os bolsos de políticos atrás de políticos para ajudá-los a ganhar as eleições, mas os banqueiros deWall Street são frequentemente escolhidos para posições de poder na Casa Branca, no Tesouro, na SEC [regulador dos mercados financeiros] e noutros reguladores”, observa William D.Cohan, que passou 16 anos a trabalhar na banca de investimento antes de se dedicar ao jornalismo de investigação.

O banco reconhece no seu site que os antigos colaboradores contribuíram para a rica história e tradição da empresa e “orgulhamo-nos de muitos continuarem activamente ligados. Isto não ajuda apenas a validar a nossa cultura mas também a fornecer um valor real e tangível que transcende uma geração”. E não é só nos EUA que ex-Goldmans dão o salto para altos cargos políticos e económicos. Um dos exemplos é o do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, que desempenhou o cargo de director-geral do Goldman International entre 2002 e 2005, levando-o mesmo a ser questionado no Parlamento Europeu sobre as ligações do banco de investimento à Grécia.

DUAS CRISES DE PROPORÇÕES ÉPICAS, DUAS EPOPEIAS DE ESCÂNDALOS

O mundo enfrentou duas das maiores crises das últimas décadas em quatro anos. E, tanto na crise financeira de 2008 como na tragédia grega, o Goldman Sachs foi alvo de acusações de actuações menos correctas.

Começando por Atenas, o Goldman Sachs ajudou, a partir de 2002, a Grécia a encobrir os reais números do défice, através de ‘swaps’ cambiais com taxas de câmbio fictícias, o que na prática permitiu a Atenas aumentar a sua dívida sem reportar esses valores a Bruxelas. Segundo o “Der Spiegel”, o banco cobrou uma elevada comissão para fazer esta engenharia financeira e, em 2005, vendeu os ‘swaps’ a um banco grego, protegendo- -se assim de um eventual incumprimento por parte de Atenas. No início de 2010, os analistas do Goldman recomendaram aos seus clientes a apostar em ‘credit--default swaps’ sobre dívida de bancos gregos, portugueses e espanhóis. Os CDS são instrumentos que permitem ganhar dinheiro com o agravamento das condições financeiras de determinado país. “É um escândalo se os mesmos bancos que nos trouxeram para a beira do abismo ajudaram a falsear as estatísticas”, referiu a chanceler alemã Angela Merkel.

As autoridades europeias e a SEC abriram investigações ao logro das contas gregas, mas isso não impediu que Petros Christodoulou, um antigo empregado na divisão de derivados do Goldman, assumisse em Fevereiro de 2010 o cargo de director da entidade que gere a dívida pública grega.

Além disso, o Goldman tem ajudado o Fundo Europeu de Estabilização Financeira a colocar dívida para financiar Portugal, Irlanda ao abrigo do programa de assistência financeira. O FEEF justifica a escolha com o alcance global do banco. Além do Goldman, também o BNP Paribas e o Royal Bank of Scotland costumam ser escolhidos para liderar estas operações.

O escândalo grego levou alguns deputados europeus a questionarem o futuro presidente do BCE sobre a sua independência para assumir o cargo. Queriam saber se teve conhecimento das operações feitas com a Grécia e se o cargo no Goldman não poderia afectar a percepção sobre a sua integridade para substituir Trichet. Draghi negou as ligações aos negócios com Atenas e defendeu o seu registo em alertar para os riscos que o sector financeiro estava a tomar.

MANIFESTAÇÕES À PORTA DO GOLDMAN APESAR DE AMEAÇA DE PREJUÍZOS

Há meses, o movimento dos “Ocupas” de Wall Street manifestou-se à frente do banco.

A fúria contra o banco deve-se à actuação do Goldman durante a crise financeira.

O banco chegou mesmo a ser condenado por fraude pela SEC por estar a apostar contra instrumentos ligados ao mercado imobiliário, ao mesmo tempo que vendia esses mesmos instrumentos aos seus clientes. Além disso, recorreu a fundos públicos e foi acusado de ser beneficiado com o resgate da AIG, coordenado pelo Tesouro dos EUA, liderado na altura por um antigo presidente do Goldman. “Os banqueiros e ‘traders’ de Wall Street foram recompensados por tomarem riscos elevados com o dinheiro de outras pessoas. Como consequência, os bancos foram salvos e os banqueiros receberam os seus bónus de milhões de dólares. É difícil de acreditar que foram recompensados pelo seu falhanço, mas foi o que aconteceu”, defende William D. Cohan.

Uma das respostas aos que acusam o Goldman de dominar o mundo financeiro é que, afinal, o banco também sofre com a crise. Os analistas de mercado esperam que o banco tenha registado o segundo prejuízo trimestral da sua história entre Julho e Setembro. Isto depois de ter lucrado mais de mil milhões de dólares no segundo trimestre.

Em 2010 e 2009, conseguiu receitas de 39,2 mil milhões de dólares e de 45,2 mil milhões de dólares, respectivamente.

Mais de 35% destes valores foram utilizados para pagar bónus aos seus empregados. O salário e bónus do presidente do banco, Lloyd Blankfein, situou-se em 13,2 milhões de dólares há tempos.

O Goldman Sachs é uma entidade global e das mais influentes junto dos mercados. Como consequência,as instituições portuguesas que necessitem de fazer operações financeiras optam frequentemente pela contratação do banco.

A começar pelo próprio Estado.

O banco liderado por Lloyd Blankfein é Operador Especializado em Valores do Tesouro. O mesmo é dizer que é uma das entidades contratadas pelo Estado para colocar dívida nacional no mercado e para aconselhar sobre as estratégias de financiamento que Portugal deve tomar para convencer os investidores a comprarem dívida da República. Apesar disso, e à semelhança de muitos bancos internacionais, desde Setembro de 2010 que o Goldman dizia aos seus clientes que Portugal não iria conseguir financiar-se nos mercados e que teria de recorrer a ajuda externa. A ligação ao Goldman e a outras grandes firmas de Wall Street levou alguns órgãos de comunicação anglo-saxónicos a sugerir que Portugal e estes bancos terão feito negócios similares aos embustes orçamentais na Grécia. Estas afirmações foram refutadas pelas autoridades europeias.

Mas não é apenas com o Estado que o Goldman tem relações. Num dos períodos mais quentes da história da bolsa portuguesa, o banco de investimento teve um papel fulcral. Nas ofertas públicas de aquisição que a Sonae com lançou à Portugal Telecom e que o BCP lançou ao BPI, ambas em 2006, o Goldman foi contratado pelos alvos das ofertas para ajudar a montar as estratégias de defesa às ofertas hostis. Recentemente, foi ainda noticiado que o Goldman Sachs mostrou interesse em analisar os dossiers das privatizações da EDP e da REN que o Governo está a preparar no âmbito do programa de assistência financeira a Portugal. Outro negócio a envolver o Goldman e uma

empresa portuguesa foi a compra, por parte da EDP Renováveis, de uma eólica norte-americana.

A cotada nacional comprou a Horizon Wind Energy por 1,6 mil milhões de euros ao Goldman Sachs.

ANALISTAS DO GOLDMAN ACOMPANHAM ACÇÕES NACIONAIS

Outra das actividades do Goldman Sachs no mercado nacional é o acompanhamento de acções portuguesas. Os analistas do banco de investimento seguem actualmente 13 cotadas portuguesas. E as recomendações nem são negativas. O Goldman recomenda “comprar” Galp, EDP e Jerónimo Martins. Apenas a Semapa é vista pelos analistas do Goldman como um título a “vender”. Os restantes, incluindo os títulos do sector financeiro, têm uma apreciação de “neutral”.

Além de acompanhar o mercado português, o Goldman teve colaboradores portugueses que estão agora sob os holofotes.

É o caso de António Horta Osório, que trabalhou no banco antes de assumir cargos de relevo no Santander e no Lloyds. O actual presidente do banco britânico trabalhou na área de ‘corporate finance’ do Goldman. Também o actual secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, teve uma passagem pelo gigante das finanças. O governante, que tem a cargo o acompanhamento da aplicação do memorando com a ‘troika’, trabalhou no departamento europeu de fusões e aquisições do Goldman. Outro português que se notabilizou no banco foi António Borges, director-geral e vice-presidente do banco entre 2000 e 2008.

O economista foi depois presidente da entidade que delineia a regulação dos ‘hedge funds’ e dirigiu a divisão europeia do Fundo Monetário Internacional.



Um homem que ainda não desiludiu

“Haja frontalidade de referir que, também, a banca não se pode eximir das responsabilidades que lhe cabem no descalabro financeiro a que chegamos. A começar na incompreensível passividade do Banco de Portugal e acabar nos erros de gestão da banca comercial, cujo respeito pelo interesse do país esteve quase sempre, aquém daquele que foi a preocupação com o lucro (...)”, disse Rio.

Ao discursar no salão nobre da Câmara do Porto na cerimónia evocativa do 38º aniversário do 25 de Abril durante a qual foram distinguidas 13 personalidades (todos homens) e uma associação da cidade, Rui Rio afirmou que “as recentes notícias de que alguns bancos se têm dedicado a financiar operações de compra de acções, ou que poderão estará aplicar os seus meios em títulos da dívida pública, comprados abicho do par no mercado secundário, são um preocupante sinal da falta de unidade nacional de combate à crise que tantos nos angustia e tantos nos atormenta”.

Num discurso onde voltou a defender uma reforma na Justiça que, disse, “nos garanta mais transparência e mais controlo democrático”, o autarca questionou o regime, perguntando mesmo se “o regime foi capaz de travar a despesa pública e a dívida externa irresponsável que nos conduziu para a mísera situação em que nos encontramos, e que traiu de forma infame as gerações seguintes, que hoje se vêem obrigadas a e imigrar (...)” E depois aludiu à pesada austeridade que obriga a cortes salariais e potencia o aumento do desemprego, levando “a uma penosa degradação do nível de vida da sua classe média”. Mas não se ficou por aqui. Rio sublinhou que em paralelo com esta situação tem “conhecimento da existência de vencimentos exageradamente absurdos que são profundamente injustos (...)”.
Perante os sacrifícios que estão a ser pedidos, Rui enalteceu “o comportamento exemplar dos trabalhadores portugueses face às pesadas medidas de austeridade que lhes estão a ser exigidas” e criticou “muitos sectores da nossa sociedade que não se têm comportado de forma equivalente, demonstrando um egoísmo que nunca sendo saudável, neste especial momento, é particularmente grave para o futuro do país”.

Para o presidente da Câmara do Porto, “também não é suportável o país suportar a pesada austeridade a que a sua situação obriga com cortes salariais, forte aumento do desemprego e uma penosa degradação do nível de vida da sua classe média e, em paralelo, ter conhecimento da existência de vencimentos exageradamente absurdos que são profundamente injustos (...)”, declarou

Pedindo reformas que devem de começar pela “revitalização e credibilização do poder político”, o autarca lamentou que não sejam os melhores a serem recrutados para os cargos de enorme responsabilidade e criticou “os próprios dirigentes partidários que, muitas vezes, de forma muito pouco séria, abraçam a postura demagógica, e são eles próprios quer, para caírem na graça do populismo mais primário, tomam medidas de punição irracional sobre a dita classe política como quem diz: ‘são todos desonestos, menos eu, porque os castigo’”.

Não há paradoxos, afinal a Holanda é o sítio do barão e da família que controla a finança a nível mundial

O desacordo ficou consumado no sábado com a ruptura das negociações, que prosseguem há sete semanas, entre os dois partidos (conservador e liberal) membros da coligação e a formação de Wilders, e deverá ser formalizado com o pedido de demissão que o primeiro ministro Mark Rutte apresenta nesta tarde à rainha Beatriz.

A ruptura foi provocada pela tentativa do governo de aprovar um plano de austeridade de 16 mil milhões de euros para permitir ao país cumprir o objectivo de redução do défice orçamental para 3% do PIB. Com o abandono das negociações por parte do partido xenófobo e anti-europeu de Wilders, que apoiava o governo no quadro de um acordo político firmado em Outubro de 2010, a coligação perdeu a maioria parlamentar que tem conseguido desde então.

A crise política holandesa contém uma boa dose de ironia por se tratar do país que tem assumido a posição mais crítica e inflexível contra Portugal e Grécia devido ao alegado comportamento irresponsável e laxista de ambos no plano financeiro.

Haia tem sido igualmente uma das capitais mais exigentes nas negociações das novas regras de governação do euro aprovadas nos dois últimos anos pelos seus membros e que consagradas, nomeadamente, no novo Tratado orçamental subscrito em Março por 25 países da União Europeia (UE).

Segundo a imprensa holandesa, a demissão de Rutte deverá ser imediatamente seguida da convocação de eleições provavelmente em Setembro.

Liberais e a extrema direita, no caso, as etiquetas são dispensáveis, (basta ver o caso de Itália, da Grécia, de Portugal e do BCE), todos ao serviço da destruição do Euro e da UE, segundo os ditames de Wall Street, dos "mercados" e da mafia financeira comandada pelos grandes conglomerados de bancos ligados à criação da(?)  bolha(s), imobiliárias, o lixo sub prime e os seguros sobre seguros de seguros, como uma imensa D. Branca a nível da Europa. Nos EUA, nada acontecerá, eles, ligam a rotativa em desuso, afinal é so colocar dinheiro no mercado pelo terminal do computador da reserva federal, sem contrapartidas ou seja sem valor fiduciário, mas esses podem... Afinal são donos de centenas de bases militares em todo o mundo, não há china ou russo que se safe a esta máquina, deixa andar..

segunda-feira, abril 23, 2012

La Cantata Del Diablo

Merkel preocupada...

"O elevado número de votos da extrema-direita é preocupante, mas suponho que isso se resolverá na segunda volta... É fundamental um duelo entre dois candidatos democratas certificados, comprometidos com a Europa e a amizade franco-alemã (mais aqui)”

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Nós e eles...


"O país mais crítico e inflexível contra Portugal e Grécia devido ao alegado comportamento irresponsável e laxista no plano financeiro não conseguiu um acordo político para limitar o seu défice (mais aqui)"
Impressionante como a Europa está cheia dos amigos do Frei Tomás…

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domingo, abril 22, 2012

Maldito Duende

Doi.Do.S à solta

"Embora escreva mal o próprio nome, a Es.Col.A é uma excelente ideia. Imaginem uma escola primária desactivada que volta ao activo graças ao empenho de uma série de autoproclamados anarquistas empenhados em autogerir o espaço a meias com a autodesignada comunidade local. Claro que a "comunidade" exclui os moradores das redondezas que não aceitam a ocupação, claro que a ocupação é ilegal e claro que os "anarquistas" julgam que anarquia significa sobrepor as regras deles às regras gerais, mas mesmo assim a coisa é linda.

A coisa passa-se na Fontinha, no Porto, e na prática consta de sessões de hip-hop, iniciação aos clichés revolucionários, cursos de ioga, mostra de documentários acerca do drama palestiniano, culto do vegetarianismo, desvinculação das normas de higiene burguesas e, aposto, aprendizagem dos benefícios medicinais da marijuana. Uma maravilha, portanto.

Infelizmente, o malvado "sistema" costuma reagir mal às utopias dissidentes e, sem surpresas, a autarquia deu ordem de despejo aos "anarquistas". Felizmente, os "anarquistas" responderam à altura, isto é, através de um vídeo do grupo Anonymous posto a circular esta semana. O Anonymous são aqueles moços que sem querer usam máscaras de um famoso conspirador ao serviço do Vaticano e que, de propósito, decidiram defender o mundo dos que discordam do mundo que eles defendem. O vídeo é um primor.

Com sotaque do Brasil, fluência de um GPS e gramática de um chimpanzé desenvolvido, a voz de uma senhora exalta o "solidário" projecto da Fontinha, que considera contribuir "para um melhor desenvolvimento social e intelectual das crianças", e ataca Rui Rio, que reputa de incapaz, demagogo e desprovido de inteligência - provavelmente porque não frequentou na idade devida os workshops da Es.Col.A. Em seguida, acusam a câmara portuense de "antidemocracia pura". A terminar, com a valentia que caracteriza uma seita de rosto coberto, o Anonymous ameaça explicitamente o dr. Rio: "Não nos obrigue a ser mais específicos."
Aqui chegado, irrompi em aplausos, o que afligiu a minha mulher e a levou a perguntar se estava tudo bem. Estava tudo óptimo: eu é que me entusiasmo com todos os combates em prol da autêntica democracia, um regime nas mãos de seitas clandestinas, milícias de valentes que escondem o rosto, fanáticos que (cito) não admitem que "um pequeno grupo de senhores dê ordens contra a satisfação da população local" e maluquinhos que lançam ultimatos a cidadãos eleitos pela pífia vontade popular. Naturalmente, a única vontade respeitável é a dos maluquinhos, e isso aprende-se na Es.Col.A."

Alberto Gonçalves

sábado, abril 21, 2012

Entre dos Tierras

Pedro e o Mestre

"Durante quase um ano, Pedro Mota Soares facturou algumas proezas políticas. Sempre que pôde, sacudiu os "dossiês" mal afamados para a troika, e quando as costas da troika não tinham espaço, geriu-os com habilidade. Conseguiu evitar ser o rosto do aumento intolerável do desemprego, demarcou-se do desgastante embate com os parceiros sociais, que colocaram Álvaro Santos Pereira na corda bamba, e chamuscou-se pouco com as sucessivas trapalhadas dos serviços da Segurança Social.

Pedro tem-se também esforçado por praticar as obras de misericórdia, destinando mais dinheiro às cantinas sociais, distribuindo medicamentos em fim de prazo pelos mais pobres e tem perseguido intrepidamente os beneficiários do rendimento mínimo. O brinde tem vindo nos barómetros de popularidade, onde aparece no topo da escala – e ombro a ombro com os dois companheiros de partido. Mas a gestão prudente e calculada que o tem mantido à tona pode ter os dias contados, e o detonador é até uma causa à partida improvável: o plafonamento das pensões de reforma. De repente Mota Soares viu-se atacado da esquerda à direita, e nem mesmo o seu Mestre Bagão Félix, que inspirou parte das medidas que vem executando, o acompanha. Se introduzir o plafonamento numa época normal já é uma decisão arriscada, fazê-lo numa altura em que os mercados estão instáveis, a regulação descredibilizada e a Segurança Social a precisar de dinheiro para acudir à degradação das condições de vida, é um aventureirismo imprudente. Bagão Félix, que já no passado teve uma proposta pronta-a-aplicar semelhante à que o Governo parece querer agora voltar a estudar, já deixou o recado:

"Tem de se encontrar um momento mais oportuno". Não é só a Bagão Félix que seria difícil compreender porque é que o mesmo orçamento que não suporta o exercício de um direito financeiramente neutro como o das reformas antecipadas, pode, de repente, ser sujeito a um desvio de receitas para testar um novo enxerto no sistema de pensões. Também não seria só Bagão a perguntar-se como é que se convencem (ou empurram) cidadãos a investir a reforma no mercado, quando há ainda poucos meses o Governo deu um passo para extinguir os fundos de pensões da banca, os maiores e alegadamente sólidos fundos privados. Mas, se ainda assim Mota Soares quiser lançar-se a este projecto, a partir de um debate construtivo, então deverá temperar o discurso sobre as virtudes teóricas do seu modelo. Porque os cidadãos mais crédulos que o têm ouvido podem ficar convencidos de que o plafonamento vai mesmo acabar com as reformas milionárias que o Estado paga, e podem até acreditar que ele resolverá a presumida pré-falência da Segurança Social. E nenhuma das premissas tem aderência à realidade. Se avançasse, o plafonamento só seria aplicado aos trabalhadores mais novos, pessoas que vão reformar-se daqui a 30 ou mais anos e que já terão a pensão calculada com base nos salários de toda a vida.

Não é para quem já está reformado nem prestes a reformar-se, e muito menos seria aplicável à Caixa Geral de Aposentações, de onde vem a esmagadora maioria das "pensões douradas". Portanto, se decidir expulsar da Segurança Social os jovens com bons salários (os tais que daqui a 30 anos seriam pensionistas milionários, porque descontariam tudo o que é preciso para ter direito a essas pensões), estará a prescindir dos seus valiosos contributos para o sistema público. Se se quiser lançar num debate clarificador, Pedro deve explicar que o plafonamento é essencialmente uma discussão sobre modelos de organização e de política social. Não é uma poção milagrosa que resolverá os efeitos do nosso declínio demográfico e de crescimento, nem uma fórmula justiceira que repõe a moralidade no sistema de pensões. É ouvir o que diz o Mestre. "

Elisabete Miranda

sexta-feira, abril 20, 2012

Heroe de Leyenda

Uma sabática do euro

"A esses países em crise que não querem assumir a carga de uma deflação, devia dar-se-lhes a oportunidade de abandonar temporariamente a Zona Euro, para desvalorizar os seus preços e dívidas.

Debaixo de uma forte pressão externa, os países da Zona Euro atingidos pela crise estão, finalmente, a fazer cortes dolorosos nos seus orçamentos. Os salários estão a ser cortados, e os funcionários públicos despedidos para reduzir as necessidades de financiamento a um nível tolerável.

E, no entanto, a competitividade na Grécia e em Portugal, em particular, não está a melhorar. Os últimos dados do Eurostat sobre a evolução do deflator do PIB, nos países atingidos pela crise, não mostram qualquer tendência de desvalorização real. Mas a desvalorização real, obtida mediante a redução de preços face aos competidores da Zona Euro, é a única forma de restabelecer a competitividade nesses mesmos países. A redução dos custos unitários de trabalho também pode contribuir para o aumento da competitividade, mas só na medida em que resulte numa verdadeira redução dos preços.

Afinal, nos países em crise, foi a inflação dos preços, alimentada pelo crédito barato que se seguiu à introdução do euro, que levou à perda de competitividade, aos défices em conta corrente, e à acumulação de uma enorme dívida pública. Agora que os mercados de capitais já não estão dispostos a financiar estes défices, os preços deveriam recuar, mas isso, obviamente, não está a acontecer.

Em 2010, a inflação, em alguns dos países em crise, ficou um pouco abaixo dos seus concorrentes da Zona Euro. No entanto, os últimos dados do Eurostat, relativos ao terceiro trimestre de 2011, já revelam um cenário diferente: o nível de preços em Portugal e na Grécia manteve-se praticamente inalterado durante o ano, e em Itália e Espanha chegou mesmo a subir ligeiramente (0,4% e 0,3%, respectivamente).

Só a Irlanda continuou o caminho da deflação rápida - como vem acontecendo desde que a bolha imobiliária rebentou, em 2006 - com uma diminuição relativa de preços de 2,2%. No total, ao longo dos últimos cinco anos, a Irlanda tornou-se 15% mais barata que os seus concorrentes da Zona Euro.

Esta desvalorização interna tem dado resultado: enquanto a Irlanda ainda tinha um défice em conta corrente de 5,6% do PIB, em 2008, a Comissão Europeia espera que o resultado em 2011 tenha sido um superávit de 0,7% do PIB. É verdade que isto se deve, em grande parte, à simples redução do serviço da dívida, já que a Irlanda foi capaz de pagar as suas obrigações externas através da emissão de moeda, pela qual paga um juro de apenas 1%. Contudo, o grande superávit comercial da Irlanda aumentou ainda mais.

A Irlanda deve grande parte desta reviravolta à eficiência do seu sector exportador, cujos defensores foram capazes de impor uma volta política de 180 graus. A Grécia, por outro lado, está sob a influência de um poderoso lóbi importador. Como disse o ministro da Economia grego, Michalis Chrysochoidis, isso é atribuível aos subsídios da União Europeia, que levaram os empresários a seguir o dinheiro fácil do sector da importação.

Agora, estes importadores formam um poderoso baluarte contra qualquer política deflacionista, apesar de a redução de preços - e, portanto, o redireccionamento da procura grega dos produtos estrangeiros para os domésticos, e o fomento do turismo - ser a única forma de pôr a economia grega de pé. Uma vez que, na Grécia, o défice da conta corrente em percentagem do PIB era três vezes maior do que na Irlanda, os preços na Grécia teriam de cair para metade, para atingir o mesmo sucesso. É inconcebível que a Grécia pudesse fazê-lo dentro da Zona Euro sem provocar uma agitação social generalizada, se não mesmo condições próximas a uma guerra civil.

Mas não são só os importadores que estão a impedir uma desvalorização real. Também os sindicatos estão a resistir às necessárias reduções salariais, e os devedores públicos e privados temem a perspectiva de insolvência, se os seus activos e receitas forem avaliados a um nível inferior, enquanto as suas dívidas permanecem inalteradas. A situação é intratável.

Muitos consideram que o alívio da dívida e a socialização das dívidas são a única saída. Esta ajuda já foi dada. Através do recente acordo, a Grécia obteve um alívio de 237 mil milhões de euros (316 mil milhões de dólares), cerca de 30% mais que a receita líquida da Grécia, de aproximadamente 180 mil milhões de euros. Mas esta ajuda só reafirma os preços errados - e, portanto, a falta de competitividade da economia. As dívidas vão ressurgir como um tumor, crescendo ano após ano, ao mesmo tempo que vão minando a credibilidade dos países estáveis da Zona Euro.

Se isso acontecesse, o euro acabaria por entrar em colapso. Apenas uma redução de preços criaria superávit em conta corrente e permitiria que os países em crise pagassem as suas dívidas externas. Já é hora de a Europa aceitar esta verdade sem remorsos.

A esses países em crise que não querem assumir a carga de uma deflação, devia dar-se-lhes a oportunidade de abandonar temporariamente a Zona Euro, para desvalorizar os seus preços e dívidas. Por outras palavras, deviam tirar uma espécie de licença sabática do euro - uma proposta que também já foi defendida pelo economista norte-americano Kenneth Rogoff.

Depois que a tempestade financeira acalmasse, o sol voltaria a surgir rapidamente. Os países credores contabilizariam grandes perdas por dívidas incobráveis, mas mesmo assim, o resultado final seria melhor do que se os países em crise permanecessem na Zona Euro, porque a nova prosperidade desses países, conquistada pelo abandono do euro, representa a única oportunidade de recuperar alguns activos que sejam."

Hans Werner Sinn

quinta-feira, abril 19, 2012

Adorar o Estado, idolatrar Cristina

"Quando a poderosa indústria da carne de vaca não cedeu, Cristina Kirchner reuniu-se com o lóbi rival e declarou aos jornalistas: a carne de porco aumenta a potência sexual; é melhor que Viagra; e, palavras suas, houve mesmo uma noite "impressionante" com o marido, Néstor, após um jantar porcino. O que aconteceu? A venda de porco disparou. O lóbi da vaca cedeu. E a Presidente ganhou. Ganha sempre. Mesmo quando perde a Argentina. Como agora, com a nacionalização da YPF.
A Argentina está a sair de uma intervenção traumática do FMI, iniciada em 2001, quando um país rico ficou subitamente pobre. À sua frente está uma Presidente adorada pelo povo, ao estilo de Hugo Chávez, de quem é aliás amiga. Uma líder carismática. Populista. Ou, segundo a precisão de Fernando Sobral  uma nacionalista. E agora nacionalizou (confiscou?), sob aplauso generalizado do seu povo, o controlo da petrolífera YPF à espanhola Repsol, empresa em que, aliás, o Estado detinha "acções douradas". É impressionante ver como há países onde a população delira com a musculatura de um Estado que exerce "golden shares"...
A América Latina está em efervescência económica. Rica em recursos naturais, a região beneficia da dimensão e, sobretudo, da pujança da economia da China, para onde exporta as suas matérias-primas. Para alimentar de carne, de soja, de petróleo, de gás um país faminto de crescimento.
Esta conjuntura está a produzir milagres económicos para quem acredita em milagres. Acredita o Brasil, que fomenta entusiasmadamente uma bolha no imobiliário e nos salários que já sabemos como acabará, só não sabemos quando. Mas há também ambição de prosperidade noutros países. Como a Colômbia, o Peru, o México. Mas não tanto na Argentina. Depois disto, pior ainda.
O Brasil é campeão do proteccionismo. Usa as importações como ferramenta de controlo de inflação (importando produtos de preços mais baixos), mas não como indutor de concorrência e, portanto, de melhoria das alternativas dos consumidores, em qualidade e em preço. O Brasil com quem fazemos acordos para vender a Cimpor é o mesmo para onde é impossível exportar um par de sapatos português. E onde agora há tarifas que tornam quase impossível a venda do nosso vinho.
O comércio internacional ainda é a melhor maneira de disseminar especialização numa economia e aumentar a prosperidade da sua população. O proteccionismo é sempre pago pelos consumidores. A favor dos produtores protegidos. Assim é, também agora, na Argentina.
A nacionalização a YPF é, mais do que um acto de hostilidade a Espanha, o encerramento de portas ao investimento estrangeiro. Lamentavelmente, não produz consequências internacionais, como a suspensão do país presidido por Kirchner do G20, represália defendida ontem no "Financial Times". Sem capital a entrar numa economia, não há investimento, nem criação de emprego, nem crescimento económico. Há decadência do aparelho produtivo. E isolacionismo.
Que a triste decisão de Cristina Kirchner sirva de exemplo extremo numa Europa nervótica e com instintos proteccionistas. As heroínas e os heróis andam por aí, como se vê nas eleições francesas, portando discursos nacionalistas. São formas de destruir economia, ameaçar a estrutura de uma sociedade e consagrar populismos políticos que, uma vez no poder, se tornam incontroláveis. Em "A volta ao dia em 80 mundos", o argentino Julio Cortázar explicou a "maneira simplicíssima de destruir uma cidade: aguarda-se escondido no pasto que uma grande nuvem cumuliforme se posicione sobre a detestável cidade. Lança-se então a flecha petrificadora, a nuvem converte-se em mármore, e o resto dispensa qualquer comentário". É isso: o resto dispensa qualquer comentário. É uma tragédia certa."
Pedro Santos Guerreiro

quarta-feira, abril 18, 2012

O easy ryder

"O ministro Mota Soares não é um rebelde sem causa. É um easy ryder com uma causa muito definida. Chegou de mota ao Governo, como se fosse Jack Nicholson em "Easy Ryder", tentando descobrir a liberdade para todos os cidadãos através das estradas municipais da Segurança Social. Mota Soares vê, como Dom Quixote, gigantes onde estão moinhos. E por isso quer mudar para sempre o universo da segurança social. Dinamitando os princípios sagrados do capitalismo: a fé e a confiança.
Ninguém duvida que com o desmoronamento do Estado social criado após a II Guerra Mundial, e que surgiu muito mitigado em Portugal, todo o regime de segurança social necessita de cuidados especiais. Mas, quando se agita o espantalho de que dentro de 30 anos não há dinheiro e que por isso é necessário avançar para o plafonamento, nota-se falta de bom senso. Uma das poucas medidas correctas do governo Sócrates, a reforma do regime de pensões em 2007, foi um passo sensato. Fazer implodir todo o sistema, como pretende Mota Soares, é absurdo.
Porque, neste momento, investimentos em sistemas privados é um tiro no escuro. Como mostraram, nos EUA, as apostas em acções e no imobiliário. Depois, o Estado não pode continuar a ser um saqueador fiscal e ainda pedir aos cidadãos para descontarem para outro sistema. O próprio argumento é uma melancia: por dentro tem uma cor diferente. Porque não se preocupa então o Estado por, daqui a 30 anos, ainda estar a pagar fortunas com as PPP? Não seria melhor utilizar os seus recursos com os cidadãos? É neste momento que Mota Soares um easy ryder. A liberdade de escolha esconde um poço sem fundo. "
Fernando Sobral

terça-feira, abril 17, 2012

Cinco factos antidepressivos

"São factos que não garantem amanhãs que cantam. Mas revelam que nem tudo corre mal na actual conjuntura. Eis cinco casos em que se pode ver o copo meio cheio e não meio vazio:
1. O Estado tem conseguido financiar-se no mercado através de emissões de dívida pública. O financiamento, costuma argumentar-se, tem sido conseguido graças ao BCE: os bancos portugueses compram Bilhetes do Tesouro que depois usam para ir buscar dinheiro a 1% ao BCE. Sim, pode ser uma realidade. Mas porque não faz a Irlanda o mesmo? De acordo com o Memorando de Entendimento irlandês relativo à quinta avaliação, publicado em Março, o governo de Dublin conseguiu ir buscar ao mercado 1,3 mil milhões de euros em 2011, o que é praticamente nada. Em contrapartida, o governo de Lisboa obteve nos mercados 29 mil milhões de euros. Mesmo considerando que o país ainda não tinha pedido o empréstimo externo no primeiro trimestre, o valor é elevado quando se compara com a Irlanda.
2. As privatizações têm, até agora, evoluído melhor do que se esperava. E melhor do que na Irlanda. Olhando para o mesmo quadro divulgado em cada avaliação, pelo FMI, entraram nos cofres do Estado português 600 milhões de euros em 2011 por via da venda de participações do Estado - que correspondem basicamente a parte do pagamento da venda da posição na EDP. A Irlanda não tem qualquer receita registada de privatizações.
3. Os depósitos bancários têm aumentado, contrariando todas as expectativas e não se verificando o mesmo na Irlanda. A própria situação da banca, avaliada pela relação entre crédito e depósitos, revela que a posição do sistema financeiro português é bastante mais confortável. O ano de 2011 terminou com o crédito a representar 140,8% dos depósitos em Portugal e 209% na Irlanda.
4. A banca portuguesa e os seus accionistas estão a revelar-se mais sólidos do que o esperado pela troika. O Banco Espírito Santo vai fazer um aumento de capital sem recurso ao empréstimo internacional, ou seja, sem usar o dinheiro dos contribuintes. É verdade que ainda não sabemos exactamente o que se vai passar com os outros bancos e existem ainda pressões, por via do crédito malparado, que recomendam prudência nas previsões. Mas, até agora, nesta frente financeira, a situação tem ultrapassado as perspectivas pela positiva.
5. O desemprego aumentou muito. Foi a surpresa negativa do processo de reequilibro da economia portuguesa e, a este nível, o problema é tão grave como na Irlanda. Mas até neste domínio há razões que permitem não ver o copo totalmente vazio: a redução dos salários em alguns sectores impediu subidas ainda mais significativas do desemprego."
Helena Garrido

segunda-feira, abril 16, 2012

A lição dos trabalhadores à economia

"A gente da troika anda parva com Portugal. Não percebe as nossas idiossincrasias. As negativas. Mas também as positivas. Incluindo esta: a flexibilidade que os trabalhadores das pequenas e médias empresas estão a revelar. E a capacidade destas para exportar. Salve! Assim se mereçam uns aos outros.
Quando a troika aterrou, trouxe os seus modelos. Falhou logo uma previsão: a de que o ano de 2011 seria pior que o de 2012. Não foi. Nos modelos da troika, o simples agendamento da austeridade levaria os portugueses a arrepiar o consumo. Mas só quando o dinheiro deixou mesmo de entrar, em Janeiro (quando convergiram as piores medidas, sobre salários, pensões e impostos) é que os agentes económicos congelaram. Mas há mais. Há a tolerância aos lóbis, que os espanta. Quando é posta em cima da mesa a recomendação de que aqueles que promoveram as parcerias público-privadas devem ser expostos à vergonha, não é nada de pessoal contra José Sócrates, Mário Lino ou Paulo Campos. É porque já não sabe o que mais se há-de fazer. É porque os contratos estão a ser revistos… poucochinho.
Mas vamos às idiossincrasias positivas. Começando pela capacidade para exportar, que podia simplesmente não existir. Existe. E existe apesar dos Governos. Esse crescimento está a acontecer por mérito empresarial, das grandes e também das pequenas empresas. De uma Autoeuropa, cujas condições de competitividade elevam agora as vendas de Sharans e de Sciroccos para a China. E de muitas empresas de que nunca ninguém ouviu falar.
Na sexta-feira, Augusto Mateus explicava numa conferência na Gulbenkian que a exportação de calçado deixa em Portugal cinco vezes mais valor do que a exportação da alta tecnologia. Lembra-se da Qimonda? Era a maior exportadora portuguesa. Mas importava tanto que o valor acrescentado para a economia era quase zero. Como disse Mateus, se por absurdo as nossas exportações fossem todas de alta tecnologia, o volume seria fantástico, mas o PIB (que é uma medida de valor acrescentado, não de volume de negócios) estaria na ruína. Dias antes, noutra conferência, no Porto, Alberto de Castro propunha essa nova leitura das exportações: medindo a incorporação nacional. E onde se gera mais valor? Nos chamados sectores tradicionais. No topo das maiores exportadoras, por exemplo, está uma empresa que gera valor negativo: a Galp. Importa ainda mais do que exporta. Quem gera mais valor acrescentado? A Portucel. A fileira florestal é portuguesa. Faz-se cá tudo.
A outra idiossincrasia que está a funcionar bem é aquilo a que o governador do Banco de Portugal chamou na sexta-feira no Parlamento de flexibilidade tácita do mercado de trabalho. Muitas empresas exportadoras estão a ser mais competitivas por causa daquilo de que os trabalhadores abdicam. Ao contrário do que acontece nas grandes empresas e no Estado, há muitas PME que cuja competitividade está a ser financiada pelos trabalhadores, que interiorizam as dificuldades de sobrevivências das próprias empresas – e nivelam as suas condições à conjuntura. O caso mais radical são os salários em atraso: os trabalhadores preferem tentar preservar o seu posto de trabalho a recorrer a um tribunal e fazer valer os seus direitos. Este é o caso máximo de partilha de risco. E muitas empresas estão a safar-se à custa disso. Um exemplo claro: os trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo acabam de fechar um acordo em que trocam as férias de Agosto para poderem terminar a construção de asfalteiros para a Venezuela.
Esta lição de sabedoria que os trabalhadores portugueses estão a dar não pode ser gratuita. Só se justifica em determinadas condições. Se for temporária. Se for em empresas economicamente viáveis que só estão em risco por razões de conjuntura. Se for em empresas em que depois não há distribuição de lucros – e se houver, que se comece pelos próprios trabalhadores. Se for com empresários que os mereçam, não que os esvaiam em falências fraudulentas.
O desempenho das empresas exportadoras é notável e é notório. Merecem mais atenção, mais crédito, mais reconhecimento – e mais conhecimento. Os seus gestores serão magníficos, mas quem está a vencer nos mercados não é o capital, é mesmo o trabalho. Adelino Silva Matos disse-o minutos depois de Alberto de Castro: sem os trabalhadores de há anos e a formação que lhes foi sendo dada, a A. Silva Matos não estaria hoje a abrir fábricas no Magrebe. E pensar que há pouco tempo, por vergonha do termo original, a Gestão até passou a chamar-lhes “colaboradores”…"
Pedro Santos Guerreiro

domingo, abril 15, 2012

E que mais lhe disse o sacristão lá da sua agremiação? De boas intenções está o Inferno cheio...

O ministro da Solidariedade negou hoje que esteja a ser estudado o aumento da idade da reforma mas admitiu que o futuro da Segurança Social pode passar por um sistema misto público/privado.
Luís Pedro Mota Soares frisou que os estudos que estão a ser feitos "não passam pelo aumento da idade da reforma" mas que seguem um caminho diferente.
A edição de hoje do jornal Expresso referia que, em cima da mesa, está a possibilidade de no setor privado aumentarem as idades mínimas e máximas da reforma para os 57 e 67 anos.
O ministro adiantou que o Governo quer introduzir um limite máximo nas pensões pagas pelo Estado e mudanças que garantam uma base pública do sistema de Segurança Social mas também dê liberdade de escolha às novas gerações, anunciou hoje o ministro da Solidariedade.
Pedro Mota Soares, que falava após a inauguração do Centro Social de Penude, em Lamego, referiu que o Governo está a proceder a um conjunto de estudos para lançar, ainda este ano, uma discussão sobre a sustentabilidade e a reforma da Segurança Social.
"É importante podermos introduzir mudanças que garantam uma base pública do sistema de Segurança Social, que a base essencial seja pública, mas que ao mesmo tempo seja dada liberdade de escolha, nomeadamente às novas gerações", salientou.
Liberdade de, disse o ministro, poder descontar-se para o sistema público ou para outros sistemas como mutualistas ou privados.
E isso, para Pedro Mota Soares, quer dizer "introduzir limites nas contribuições mas, acima de tudo, introduzir limites nas pensões que são pagas pelo Estado".
"É essencial que a base do sistema seja pública, mas quando falamos de pensões muito elevadas, aí verdadeiramente já não estamos a falar de equidade social, já estamos a falar de gestão de poupanças e essa porventura não deve ser feita pelo Estado", salientou.
O ministro lembrou as medidas as medidas já lançadas pelo Governo, que vão no caminho de moralizar as prestações sociais, como o exemplo do Rendimento Social de Inserção (RSI).
Segundo Mota Soares, tem havido um aumento significativo do tempo médio de permanência no RSI, que, em 2005, era de 15 meses e aumentou para os 32 meses em 2011.
"Este é um sinal de que algo está a falhar, nomeadamente na inserção social desses mesmos beneficiários", frisou.
Por isso, acrescentou, foram tomadas medidas que não permitem a renovação automática desta prestação, que exige a assinatura de um contrato que prevê um conjunto de direitos mas também deveres, como a prestação de trabalhos socialmente útil ou a procura de ativa de emprego ou formação profissional.
"Com uma medida como esta o Governo estima poupar cerca de 70 milhões de euros, que permite fazer um aumento ao nível da inflação as pensões mínimas, sociais e rurais, que o Governo já fez", sublinhou.
Pedro Mota Soares inaugurou hoje o Centro Social de Penude, uma obra de 1,6 milhões de euros comparticipados em 595 mil euros por fundos comunitários, que junta um lar de idosos e uma creche.

Depois de saber que a cretinice da mais austeridade, que o não é, (trata-se aumento de impostos), este senhor na senda de Bagão, o mago, vem falar em mútuas, só se forem apostas dos totos, o certo é que destruiram a classe média e decerto a esperança de vida não vai aumentar, vai diminuir,  com a diminuição da natalidade acentuada este ano e o aumento da mortalidade acentuadíssima este ano, fruto do terrorismo deste Estado, na saúde e na segurança social. Há doentes que nem já vão a consultas de especialidade porque a tal não podem, por corte nos transportes de forma cega pelos indivíduos que de forma cega para manter o tacho, obedecem a um ministro que não sabe o que deve ou se  sabe o torna o pior entre os piores.
Das medidas sobre a economia e sobre os privilégios das PPPs e Fundações nada foi feito, a austeridade são apenas aumento de impostos e cortes em salários, nem o regime chinês faria melhor, mas a meio do ano se saberá melhor o que de mal esta gente fez, pela banca, contra as populações.

sábado, abril 14, 2012

A sabujice do bloco central e o novo tratado aprovado na casa da podridão do sítio...

O “New York Times” dedica hoje o seu editorial à situação económica espanhola.
“Espanha pode ser a próxima economia derrubada pela má gestão da crise europeia, liderada pela Alemanha”, pode ler-se no início do texto.
"Não precisa de ser assim. Mas é certo que vai acontecer, a não ser que a chanceler Angela Merkel e os seus aliados políticos, dentro e fora da Alemanha, se apercebam que nenhum país consegue pagar as dívidas com um crescimento económico sufocado”, salienta o jornal económico.
O jornal critica especialmente “a austeridade receitada pela senhora Merkel” que “não está a funcionar em lado nenhum”.
“Os cortes prejudiciais poderiam ter sido menos severos se a União Europeia tivesse aceitado o apelo de Rajoy para flexibilização das metas orçamentais", pode ainda ler-se.

quinta-feira, abril 12, 2012

Crises do Capitalismo

Espanha, que medo

"A política é a arte do possível. Mas é também a arte de fazer o que é melhor para a sociedade, mesmo que a sociedade o não consiga compreender. E é aqui que a governação do euro está a falhar.

Espanha tem hoje um governo que, nos estereótipos, é amigo dos investidores financeiros. Está a fazer tudo o que se interiorizou que querem os investidores. Liberaliza a economia, reduz o rendimento para, como se diz agora, colocar o país a viver de acordo com as suas possibilidades e ganhar competitividade com a única ferramenta que a Europa parece conhecer agora: o corte de salários.

Que retribuição está Espanha a ter pelo seu rigor de sedução aos caprichosos mercados? A cotação dos seus títulos de dívida pública afunda com o consequente aumento dos juros no mercado secundário. A taxa de juro implícita dos 'bonos' a dez anos regressou aos 6%, valor que não se via desde o Verão passado, um tempo em que o BCE não actuava no mercado nem tinha ainda iniciado os seus empréstimos a três anos cobrando a ridícula taxa de 1%.

Vamos imaginar que somos uma instituição com influência e que pode jogar milhões para ganhar com os títulos de dívida pública, em geral transaccionados em pequenas quantidades, abrindo assim espaço para grandes mudanças de cotação - elevada volatilidade. Primeiro passo: atirar as cotações abaixo criando o pânico entre quem está menos informado e assim gerando o habitual movimento de rebanho dos mercados financeiros. Segundo passo: começar a comprar quando as cotações estiverem bem lá no fundo. Terceiro passo: aproveitar uma qualquer afirmação política para gerar confiança no país que emite esses títulos de dívida pública e gerar uma nova onda de rebanho, agora compradora. Quarto passo: vender sem ninguém notar. E se tudo isto se fizer com dinheiro do BCE que custa 1% por entrega, como colateral, de títulos de dívida que também se está a reproduzir a grande velocidade, mais milhões se ganham.

Parece impossível? Não é. No final do mês de Março, revelava o "Financial Times" que as obrigações portuguesas do Tesouro garantiram o melhor retorno no conjunto dos países do mundo desenvolvido. Os títulos com maturidades entre sete e 10 anos, deram uma remuneração de 21,1% desde o início do ano, superando a rendibilidade da dívida soberana de 25 outros mercados no índice Bloomberg/Effas. Que o diga também quem está a investir em dívida pública portuguesa, uma moda que o Negócios também já revelou.

A Espanha entrou de novo nesse círculo que garante ganhos de milhões pela simples manipulação das cotações.

Um país pode estar eternamente no círculo infernal que garante ganhos de milhões e é alimentado por meia dúzia de instituições financeiras com influência global. Ao mesmo tempo, os seus cidadãos submetem-se a terapias de desemprego, incerteza e empobrecimento, apresentadas como de remissão dos seus pecados consumistas.

Tem de ser assim? Claro que não. Os políticos europeus do Norte da Europa transformaram esta crise numa espécie de luta do bem espartano contra o mal hedonista. E esqueceram-se de ver qual é de facto o problema, de o explicar aos seus cidadãos e de o resolver de vez. Bastava que o BCE, sem medo nem preconceito, atacasse o problema directamente com a força da sua criação monetária. Bastava dizer que comprava os títulos que fossem necessários para reequilibrar os mercados e ninguém mais se atreveria a colocar alguns países do euro, e a própria moeda única, à beira do precipício. E, não, isto não impede que as economias corrijam os seus desequilíbrios. Podem é fazê-lo com tempo e bom senso, em vez de destruírem o que se construiu para que alguns ganhem milhões.

O que está a acontecer em Espanha mete medo. Mas é a oportunidade para se resolver de vez uma crise que não é mais que a escravização dos Estados aos caprichos dos milhões que alguns ganham."

Helena Garrido

quarta-feira, abril 11, 2012

Mulher Gorda

Precipitado é quem acredita que isto é uma democracia...

Numa entrevista à RTP, a partir de Maputo, Pedro Passos Coelho reiterou que o Governo pretende “começar a repor esses subsídios” em 2015, no caso de Portugal atingir “com pleno sucesso” os objectivos do seu Programa de Assistência Económica e Financeira, que termina “no final do primeiro semestre de 2014”.

Questionado sobre o que impede o Governo de repor esses subsídios no final de 2014, altura em que o programa de assistência já não estará em vigência, o primeiro-ministro referiu que isso teria de ser orçamentado no ano anterior e que, segundo as novas regras da União Europeia, a preparação do Orçamento do Estado para 2014 terá início “em Março, Abril” de 2013.

“Começar em Março desse ano a dizer que íamos repor os subsídios, sem termos a certeza de que o poderíamos fazer com sucesso, isso poderia ser uma imagem precipitada que Portugal correria o risco de oferecer aos seus parceiros internacionais e ao Fundo Monetário Internacional”, argumentou.

Nessa altura, Portugal estará ainda “em pleno processo de ajustamento” e precisará de “mostrar à comunidade internacional que está a fazer tudo o que é necessário para cumprir as suas metas” e para “voltar aos mercados” em Setembro de 2013, acentuou.

Nesta entrevista dada a partir de Maputo, onde chegou na segunda-feira para uma visita de dois dias, Passos Coelho falou sobretudo sobre a reposição dos subsídios de férias e de Natal, que se encontram suspensos para os trabalhadores do sector público e para os pensionistas, dizendo esperar “pôr um ponto final” no que considerou ser “uma falsa polémica”.


  O Sr Cavaco acha que se tem de manter as aparências perante quem sabe o que se passa.
Os mercados, são uma invenção dos grandes bancos com sede nos USA e as suas agências de rating.
O barão Roth e a família controlam a economia mundial.
No governo estão homens do Goldman e logo no orçamento.
O sr Coelho é um criado de muitos patrões, como foi Sócrates e todos os outros que o antecederam e continuam a dever vassalagem.
O sr Silva tão rápido na verificação da constitucionalidade do enriquecimento ilícito de que sabia a resposta, por ser parte interessada sabemos todos porquê, não separou os poderes que devia, promulgou diploma em segredo e em conluio com o governo do Goldman.
Precipitada foi...

segunda-feira, abril 09, 2012

Troika "esclarecida"

1/ "Medidas da troika explicam a subida recente do desemprego português (mais aqui)"
2/ "Desemprego apanha troika de surpresa (mais aqui)".
3/ "Segundo Peter Weiss esta situação pode ter acontecido "mesmo a pedido dos trabalhadores, porque têm interesse em ter uma duração maior dos benefícios de desemprego. Pode ser um comportamento "do tipo 'em vez de me despedir em Abril, despeça-me em Março'". Peter Weiss compara mesmo esta situação à do aumento dos impostos sobre o tabaco, que levam as pessoas a antecipar as compras de cigarros (mais aqui)"
Qual será o prémio para quem consegue ser duplamente mau (incompetente)?

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1/ "Programa da troika faz salários reais recuarem quase 20 anos (mais aqui)

2/ " Cristas: Preços da água terão que subir em breve (mais aqui)"

3/ "Factura da luz vai aumentar entre 1,5% e 2% (mais aqui)"


4/ "Preço da gasolina bate novo recorde na próxima semana. Gasóleo também aumenta (mais aqui)"
Os salários diminuem mas o custo de vida mantém actualizado… Melhor… Actualizado com 20 anos de antecedência…

 

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Preço justo

1/ "Galp distribui 6,4 milhões a gestores (mais aqui)"

2/ "Gasolina chega a 1,80 euros nas auto-estradas (mais aqui)"

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domingo, abril 08, 2012

"Há dois anos, escrevi aqui sobre o racismo, a misoginia e a violência frequentes nas letras de hip-hop e no modo de vida dos intérpretes de hip-hop. Em consequência, fui agraciado com centenas de comentários online e e-mails que simpaticamente pediam à direcção do DN o meu despedimento ou ameaçavam exterminar-me por via directa. Diversos jornais e personalidades do ramo comentaram indignados o meu reaccionarismo. Um sujeito compôs uma cantiga (digamos) repleta de insultos à minha pessoa e à pessoa da minha mãezinha. Uma associação de rappers angolanos acusou-me de colonialismo ou coisa parecida. Em suma, apenas porque me limitei a constatar um facto, vi-me cercado pelos defensores de uma liberdade de expressão que nunca me passou pela cabeça condicionar. Esta semana, curiosamente, as forças ao serviço da liberdade de expressão moveram céus e terra para cancelar o concerto lisboeta de um cantor de reggae cujas letras, dizem, revelam homofobia. É verdade que inúmeras letras desse subgénero tratam a homossexualidade com escassa delicadeza, de resto uma apetência inscrita em letra de lei na Jamaica, o lugar de origem do subgénero.

Mas o barulho em volta do sr. Sizzla, o cantor em questão, beneficiou de precedentes noutros países europeus onde os seus concertos acabaram de facto cancelados. Em Lisboa, houve concerto (para 300 almas, consta). O verdadeiro espectáculo, porém, esteve a cargo das associações LGBT que protestaram o evento, dos sujeitos reunidos em protesto à porta do Coliseu e, sobretudo, dos esforços da Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) para silenciar o sr. Sizzla. Segundo o Jornal de Notícias, a sub-inspectora do IGAC Paula Hipólito começou por averiguar a existência de uma entidade pública que impedisse a discriminação sexual. Nada feito: "Percebemos que para a discriminação de género existe uma entidade, mas para a discriminação sexual não há nenhuma." Em seguida, a dona Paula recorreu às entidades judiciais, no caso a procuradora de turno do DIAP, que a informou de que, "de acordo com a lei que temos, obviar ou criar algum obstáculo à realização do espetáculo seria impossível".

Compreensivelmente desalentada, a dona Paula contactou o Comando Metropolitano da PSP de Lisboa para enviar uma brigada ao concerto, a fim de obstar a que o sr. Sizzla incitasse "a plateia à violência ou ao ódio homofóbico". Pelo meio, tentou ainda o recurso desesperado à Comissão para a Igualdade de Género, a qual a informou de que a respectiva "área de intervenção era da discriminação de género e não sexual", e ao Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, que lamentou não poder dialogar "no caso concreto". Na opinião da dona Paula, o sucedido mostra a necessidade de criar um "mecanismo" para lidar com situações idênticas. Na opinião do contribuinte, o sucedido mostra a quantidade de "mecanismos" parasitas que o apregoado neoliberalismo do Governo mantém vivos. Em qualquer das hipóteses, nada esclarece as dúvidas que me consomem.

Será que o hip-hop goza de um regime de protecção especial? Será que os gays gozam de um regime de protecção especial? Será que a repulsa por um estilo vagamente musical é gravíssimo indício de intolerância enquanto o apelo à censura sumária de vagos músicos constitui um acto de cidadania? Será que a circunstância de me ter pronunciado a título individual me retira a credibilidade que a pertença a grupelhos proibicionistas confere? Será que a susceptibilidade de certas criaturas à ofensa não deveria, em nome da coerência, justificar a eliminação de uns 99,72% dos produtos relativamente artísticos (assim de repente, sobrariam O Principezinho e o Sobe, Sobe, Balão Sobe)? Será que tentar descobrir vestígios de racionalidade num mundo decididamente amalucado não é, em si, sintoma de perturbação? À cautela, já marquei consulta."

Alberto Gonçalves

sábado, abril 07, 2012

"Here is a translation of the note left by Dimitris Christoulas, the 77-year-old retired pharmacist who committed suicide in the middle of Syntagma Square on 4 April:
The occupying Tsolakoglou government has annulled even the last means of my survival, a dignified pension funded by me alone (without any support from State) for 35 years of my life.
Given that my age does not grant me the individual possibility of a forceful reaction (although if a fellow Greek were to grab a Kalashnikov, I would be right behind him) I see no other solution than a dignified end, before I start picking up the garbage to find something to eat.
I believe that our youth with no future, will one day pick up their arms and hang the traitors of this Nation upside down at Syntagma square, just like the Italians did to Mussolini in 1945 (Piazza Loreto, Milan).
Notes: Georgios Tsolakoglou was appointed Prime Minister of a collaborationist government by the Axis Occupation authorities on 30 April 1941. He served until 2 December 1942, when he was replaced by Konstantinos Logothetopoulos. After Greece was liberated, Tsolakoglou was arrested, tried by a Special Collaborators Court in 1945, and sentenced to death. His death penalty was ultimately commuted to life imprisonment, and he died in prison in 1948. Syntagma (Constitution) Square is located in central Athens and is named after the Constitution that King Otto was forced to grant to the people, after a popular and military uprising on 3 September 3 1843. Benito Mussolini and his mistress Clara Petacci, along with most of the members of their entourage, were executed by partisans on 28 April 1945 in the small village of Giulino di Mezzegra. The next day, their corpses were trucked to Milan and then hung upside down on meathooks from the roof of an Esso gas station on Piazza Loreto."

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