quinta-feira, novembro 29, 2012

Help!

O nº 2...

"Passos: Gaspar é o nº 2 do Governo, Portas só é o 3º (mais aqui)"
O chauffeur do táxi deve ter ficado chateado. Mas como há que evitar “uma crise política que agravaria, ainda mais, a situação económica e social extremamente sensível”…

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Definição de inteligência.

"Paul De Grauwe: "Diria ao meu amigo [Vítor] Gaspar para não exagerar" na austeridade ... Há uma definição de inteligência que é: quando se vê que uma coisa não funciona, não se insiste nela (mais aqui)" ,

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A falência do Estado...

"Em pouco mais de duas semanas o número de crianças com fome sinalizadas pelas escolas por irem para as aulas, de forma continuada, sem terem tomado o pequeno-almoço, subiu de 10.385 para cerca de 13 mil . O secretário de Estado da Educação Casanova de Almeida frisou que o Ministério da Educação e Ciência (MEC) se encontrava “a gerir um projecto que nasce da vontade da sociedade civil (mais aqui)"

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O falhanço continua..

"Pedro Passos Coelho reconheceu ontem, na entrevista à TVI, que haverá mais cortes nas prestações sociais, na Educação e na Saúde, bem como nos salários da Função Pública (mais aqui)".
O “chefe” continua a delegar no seu “cobrador de impostos” a resolução dos problemas. Este sofre do síndroma «jogo patológico» agarrado à sua eterna folha de Excel com os resultados estupidamente previsíveis. E a tal folha de Excel (dos modelos econométricos perfeitos que resultam em clamorosos falhanços orçamentais) é um papagaio, Gaspar o mestre e nós a ração da ave rara. Como será que o primeiro embate com a realidade?

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quarta-feira, novembro 28, 2012

Ticket To Ride

Branca de Neve procura emprego

"É provável que uma hipotética saída da União Europeia agravasse ainda mais a nossa situação económica. Mas talvez melhorasse a nossa saúde mental. No meio de uma crise que coloca a sua própria existência em risco, o Parlamento Europeu dedica-se a demonstrar que não se perderia muito: não satisfeito por possuir uma absurda Comissão dos Direitos da Mulher e Igualdade dos Géneros, o PE permite que a dita comissão se alivie de palpites acerca de matérias que sempre os dispensaram.

Até agora, essa destravada fraternidade tentava interferir no mundo real e entretinha-se a propor quotas em empresas e delírios assim. Agora, soube por Helena Matos (blasfemias.net), a referida Comissão avança para o mundo da ficção e quer abolir das escolas ou no mínimo temperar a influência das obras literárias infanto-juvenis que atribuem papéis "tradicionais" aos elementos masculinos e femininos da família. Livrinho em que o pai saia para o trabalho e a mãe fique a cuidar da prole irá, se a coisa vingar, directamente rumo ao index dos eurodeputados.

O index será vasto. Não estou a ver nenhum clássico da literatura do género em que a personagem do marido passe os dias a mudar fraldas e a da esposa assuma um lugar de relevo na sociedade. Mesmo na "Branca de Neve", que está longe de representar um agregado familiar retrógrado (conheço pouquíssimas senhoras que coabitem em simultâneo com sete cavalheiros, para cúmulo de estatura alternativa), a verdade é que a heroína trata das arrumações caseiras enquanto os seus sete parceiros labutam nas minas. E quanto a Huckleberry Finn, criado na ausência da mãe e na presença de um pai alcoólico, erradica-se ou não? E os órfãos de Dickens? E, uns degraus abaixo, os pobres sobrinhos sem tia da Disney? Além disso, a Comissão dos Direitos da Mulher e Etc. é omissa no que toca às fábulas. Se, por exemplo, é indesmentível que, ao invés da cigarra, a formiga trabalha como uma desgraçada, nem Esopo nem La Fontaine sugerem que a dita seja fêmea e unida pelo matrimónio a um formigo que colabora nas tarefas do lar e respeita o "espaço" da companheira. Que obras, em suma, corresponderão aos requisitos de igualdade? Há uma imensidão de dúvidas.

Por sorte, há um PE recheado de certezas, que reivindica à Comissão Europeia legislação capaz de regulamentar (um verbo predilecto) o equilíbrio conjugal nas histórias para petizes - no papel e também no cinema, na televisão, na publicidade e onde calhar. O argumento (digamos) é o de que os "estereótipos negativos de género" minam a "confiança" e a "auto-estima" das jovens, limitando as suas "aspirações, escolhas e possibilidades para futuras possibilidades [a repetição não é gralha] de carreira". Quem fala assim não é gago: é semianalfabeto na medida em que escreve com os pés, arrogante na medida em que submete a liberdade criativa à engenharia social e um bocadinho maluco na medida em que confunde a fantasia com o quotidiano.

Não tenho opinião sobre os modelos imaginários que devem orientar as criancinhas. Em compensação, parecem-me evidentes os modelos palpáveis de que as criancinhas devem ser protegidas a todo o custo - a menos, claro, que os pais lhes desejem um emprego em Bruxelas, a incomodar o próximo para entreter o ócio e realizar uma vocação. "

Alberto Gonçalves

terça-feira, novembro 27, 2012

O desemprego

Desemprego

Desperdiçar este activo, que poderia gerar riqueza e reestabilizar os fundos de Segurança Social, é criminoso.
Os números do desemprego atingiram o valor dramático de 16%, que chega a uns nunca vistos 39% no caso dos jovens. Insensível, contudo, o governo continua a tomar medidas que levarão ao aumento deste flagelo. O orçamento de Estado de 2013 incorpora mesmo políticas activas... de desemprego. Ainda por cima, o governo estimula o desemprego numa época em que dispomos de recursos activos como nunca houve na vida democrática portuguesa.
 
A carga fiscal prevista no orçamento de 2013 levará à generalização da pobreza e ao aniquilamento da classe média. O aumento do IRS e do IMI arruína os orçamentos familiares, depois de a subida do IVA ter provocado já a diminuição da procura. Este efeito conjugado de agravamento de preços e redução de salários acarretará falências em massa. O corolário lógico será o aumento galopante do desemprego, como o próprio primeiro-ministro já reconheceu.
 
Por absurdo, este agravamento de desemprego ocorre num momento em que temos a população activa mais capaz, quer em quantidade, quer em qualidade. Jamais a população activa foi tão numerosa como na última década, com 67% da população na faixa etária que vai dos 15 aos 65 anos. Nem nunca a população foi tão qualificada, resultado da democratização do ensino básico e secundário verificada no pós-25 de Abril, mas também do esforço generalizado das famílias em financiarem cursos superiores aos filhos. Desperdiçar este activo, que poderia gerar riqueza, pagar impostos e reestabilizar os fundos de Segurança Social, é verdadeiramente criminoso.
 
Com um milhão e quatrocentos mil portugueses em situação de desemprego ou subemprego, a situação é calamitosa. Os cidadãos revoltam-se, com razão, pois verificam que as políticas desenvolvidas são exactamente as contrárias ao que é necessário. Os desempregados, já sem esperança e sentindo-se injustiçados, procuram hoje emprego, mas buscam sobretudo vingança.
 
Foi uma sociedade com milhões de desempregados e marcada pelo medo, de que também hoje padecemos, que favoreceu a ascensão do nazismo e do fascismo na Europa. Quando os cidadãos desistem de querer justiça e clamam por vingança, estão à mercê de todo o totalitarismo.
Paulo Morais, Professor Universitário

segunda-feira, novembro 26, 2012

"Ai aguenta, aguenta!"

1 /"Os bancos continuam a aumentar a exposição à dívida pública nacional, ao mesmo tempo que se reduz o crédito à economia (mais aqui)"

2/ "Ulrich: "O país aguenta mais austeridade?...ai aguenta, aguenta! (mais aqui)"


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Gasóleo premium ou low cost é todo igual

"O gasóleo vendido em Portugal é todo igual. Não há diferença entre as gamas premium e as mais baratas. A conclusão é da Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, que anunciou que vai denunciar o caso às autoridades e enviar um abaixo-assinado ao Ministério da Economia. Perante a diferença de preço entre o gasóleo Gforce e Hi-Energy, a Deco considera que há uma “acção enganosa” e “prática comercial desleal”. “As promessas de menor consumo, menores emissões poluentes e maior protecção do motor com poupanças futuras não passam de marketing para cobrar mais uma dezena de cêntimos ao litro”, acusa... A Deco sublinha que é “urgente” criar um regulador para o sector “que defenda os consumidores e fixe coimas realmente eficazes (mais aqui)”.


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domingo, novembro 25, 2012

sábado, novembro 24, 2012

Uma banca acima das nossas possibilidades

"Uma das dimensões mais negligenciadas da actual crise europeia esteve, até há pouco tempo, na força centrífuga que varreu o sistema financeiro europeu. Se é certo que um mercado bancário homogéneo na Zona Euro nunca foi uma realidade, a actual crise empurrou os bancos para os braços dos seus Estados: primeiro com as garantias públicas ao seu financiamento externo num momento de desconfiança generalizada, depois na dependência dos bancos centrais nacionais no acesso à liquidez - onde as condições de colateral são mais flexíveis do que junto do BCE - e, finalmente, com os processos de recapitalização encetados por cada Estado. Em resumo, as instituições públicas nacionais ocuparam-se diligentemente dos constrangimentos à sua actividade - a liquidez e o capital - sem qualquer contrapartida nas suas políticas de concessão de crédito.
Não satisfeitos, os bancos portugueses encetaram um processo de recomposição dos seus balanços à custa do contribuinte. Os recentes relatórios publicados pela banca portuguesa mostram esta realidade. Bancos como o BCP e o BPI, onde a informação foi publicamente disponibilizada, expandiram fortemente a quantidade de dívida pública, sobretudo de curto prazo (2 mil milhões de euros no caso do BCP, 2,7 mil milhões no do BPI).
Estas compras, feitas sobretudo no mercado secundário a preço de desconto, permitiram um enorme aumento da margem financeira bancária, sem risco – uma possível reestruturação da dívida pública liderada pelos nossos credores deixará de fora os Bilhetes de Tesouro, como já aconteceu na Grécia - e sem grandes constrangimentos à sua actividade "tradicional" de concessão de crédito - estes títulos podem ser usados como colateral no acesso à liquidez do Eurosistema (embora com descontos, é certo) e não têm impacto nos rácios de capital. A banca consegue assim, com custos marginais, aumentar a sua rendibilidade à custa dos nossos impostos.
Dada a escala destas operações, a banca gere facilmente os juros supostamente elevados cobrados pelo Estado nos seus processos de recapitalização - já reduzidos pelas amortizações fiscais associadas e que serão alvo de uma nova redução a acreditar nas palavras de Vítor Gaspar na sua última conferência de imprensa. O Estado empresta à banca, que por sua vez paga a dívida com os lucros de empréstimos ao Estado. A banca portuguesa tem benefícios que qualquer outro negócio não ousa imaginar. Imagine o leitor um negócio onde o Estado financia o capital, garante os empréstimos e o acesso à liquidez e, finalmente, assegure um modelo de negócio rentável. Há outro motivo que não o poder dos seus proprietários e o preconceito ideológico para este negócio ser privado?
Num contexto em que as empresas portuguesas identificam o acesso crédito como um dos seus maiores constrangimentos, ainda que abaixo da queda da procura causada pela austeridade, é tempo para começarmos uma discussão mais profunda sobre as responsabilidades do sistema de crédito na actual crise, o seu papel na economia e, finalmente, a sua propriedade e modelo de gestão."

sexta-feira, novembro 23, 2012

A falhada união bancária da Europa

"A União Europeia é agora a orgulhosa detentora do Prémio Nobel da Paz. Quando a escolha recaiu sobre Barack Obama, há três anos, o comité Nobel norueguês foi criticado por eleger alguém cujas conquistas ainda estavam para acontecer. O comité levou a sério essa crítica e, desta vez, condecorou uma instituição com um passado honroso mas com um futuro com algumas nuvens.

Claro que a Zona Euro é diferente da União Europeia mas é, até hoje, o seu mais ambicioso empreendimento, e está ainda a ter dificuldades em equipar-se com as estruturas necessárias para dinamizar uma união cambial. Uma política orçamental comum continua um sonho distante, tal como continua longe uma genuína união política.

Mas os políticos da Europa defendem que estão a fazer progressos no caminho para a chamada “união bancária”, que significa uma supervisão bancária colectiva, mais do que uma fusão de bancos. Em Setembro, a Comissão Europeia anunciou um plano para fazer do Banco Central Europeu o supervisor de 6.000 bancos europeus.

A reacção entre os políticos nacionais, os bancos centrais e os próprios bancos não foi totalmente favorável. Os alemães querem que o BCE se centre apenas nos grandes bancos com risco sistémico e deixe os pequenos bancos de poupanças (tais como aqueles que investiram em força nas hipotecas imobiliárias) para os supervisores nacionais. O Reino Unido e a Suécia declararam que não podiam obedecer a um banco central de que, na melhor das hipóteses, não faziam parte como membros integrais.

A hipótese de se avançar com um supervisor pan-europeu é bastante aceite, especialmente devido ao facto de a Autoridade Bancária Europeia (o regulador da banca da União Europeia) se ter mostrado débil na realização de testes de stress financeiro: os primeiros testes foram tão fracos que até os bancos de poupanças de Espanha agora falidos foram aprovados com distinção. A Europa precisa de quebrar o círculo vicioso que liga os devedores soberanos em dificuldades aos bancos que são obrigados, ou pelo menos encorajados, a comprar as suas obrigações, que, por sua vez, fornecem o financiamento para os resgates bancários.

Mas o método escolhido pela Comissão para implementar uma união bancária é fatalmente imperfeita. Além do mais, de acordo com uma fuga de informação da opinião do responsável dos assessores judiciais do Conselho Europeu, a reforma proposta é ilegal. Segundo o "Financial Times" (que recebeu a fuga) , esta "vai para além dos poderes permitidos pela lei para alterar as regras de governação do Banco Central Europeu".

Ao longo da crise, os líderes europeus têm tentado responder às falhas na união monetária sem proporem um novo tratado, já que temem que qualquer novo tratado que proponha uma maior centralização da autoridade em Bruxelas seja rejeitado, ou pelos parlamentos nacionais ou pelos eleitores num referendo. Por isso, têm tentado actuar através de acordos intergovernamentais ou através das actuais disposições dos tratados.

No caso da união bancária, planeiam usar o ponto 6 do artigo 127º do Tratado de Lisboa, que permite ao Conselho Europeu conceder autoridade ao BCE para exercer tarefas específicas a respeito das “políticas relacionadas com a supervisão prudencial” de certas instituições financeiras na União. Esta é uma tímida base legal para estabelecer um supervisor pan-europeu com responsabilidade directa sobre instituições individuais e não foi, claramente, criado para esse propósito. De facto, a Alemanha concordou com o texto apenas sob o entendimento de que o BCE não pudesse ser um supervisor directo.

As consequências de escolher esta via inadequada, embora conveniente, são graves. Para começar, o actual tratado não pode ser usado para criar uma única autoridade europeia com capacidade de resolução de crises, ficando uma estranha interface entre o BCE e as autoridades nacionais. Também não pode ser usado para estabelecer um esquema europeu de protecção de depósitos, que é sem dúvida o requisito mais urgente para travar a fuga de depósitos dos bancos do sul da Europa.

O BCE também sofrerá consequências potencialmente perigosas. O uso da cláusula do Tratado de Lisboa significa que é necessário dar estas responsabilidades adicionais ao BCE. Mas é impossível criar um supervisor bancário separado dentro do BCE, como é feito em França, por exemplo, com a autoridade de controlo prudencial, ou no Reino Unido, com a nova autoridade de regulação prudencial, que tem a sua própria administração e os seus próprios mecanismos de prestação de contas no seio do Banco de Inglaterra.

A importância destas estruturas passa pelo facto de protegerem a independência da política monetária do banco central contra a corrupção através das mais apertadas exigências de prestação de contas que, inevitavelmente, aparecem com a supervisão bancária. Dado que as decisões dos supervisores afectam os direitos de propriedade individuais – e as suas acções ou omissões podem colocar os contribuintes na corda bamba para resgatar os bancos –, os governos, os parlamentos e os tribunais estão obrigados a exercer uma vigilância extrema.

É por isso que o Bundesbank da Alemanha, que sempre foi zeloso da independência da sua política monetária de modo tão assíduo, está novamente no campo da rejeição, ao expressar severas dúvidas face ao percurso que a Comissão planeia assumir. Desta vez, eles estão certos.

Há também outras graves questões. De acordo com o modelo da Comissão, a Autoridade Bancária Europeia vai continuar a funcionar e será responsável pela produção de um manual de regras para todos os 27 Estados-membros da União Europeia. Mas, se o trabalho é concretizado através de um sistema de votação com maioria qualificada, os 17 países da Zona Euro vão contar com um único supervisor, que terá um voto em bloco. A Comissão está a tentar encontrar formas de proteger os direitos dos países que não pertencem à Zona Euro. Mas a enorme complexidade daquilo que é proposto mostra quão inadequado é este esquema.

Os não europeus, em particular, podem considerar todo este tópico como impenetravelmente obscuro. Mas isso aponta apenas para um único ponto: a Europa está a tentar alcançar um modelo federal mais forte que responda às fraquezas reveladas pela crise da Zona Euro. Está a fazê-lo sem responder à necessidade crucial de os cidadãos acompanharem o processo. Na realidade, os equipamentos que a União Europeia está a adoptar são desenhados especificamente para evitar ter de consultar os cidadãos.

A proposta de construção de uma união bancária revela este erro fundamental no coração do projecto europeu de hoje. É difícil ser optimista relativamente ao sucesso de uma iniciativa construída sobre tão frágeis bases legais e a que falta legitimidade democrática. Os bancos europeus e os seus clientes merecem melhor. "

Howard Davies

quinta-feira, novembro 22, 2012

Breaking The Law

"Ai aguenta, aguenta..."

1/ O juro implícito da dívida nacional a 10 anos caiu abaixo de 8% no dia em que Portugal realizou a última emissão de 2012. A taxa associada à dívida a 5 anos cedeu hoje para 6,656%, depois de ontem se situar acima dos 7%. No prazo a 2 anos, os juros deslizavam para 4,81% (mais aqui)".

2/ "O Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter inalterada, pela terceira vez, a sua taxa de juro de referência num mínimo histórico de 0,75% (mais aqui)".

3/ "Os principais detentores de dívida pública portuguesa são bancos, companhias de seguros e fundos de pensões portugueses, com os investidores internacionais a não se atreverem a participar (mais aqui)

4/ "Fernando Ulrich: “O país aguenta mais austeridade?... Ai aguenta, aguenta (mais aqui)”
O BCE, em vez de emprestar dinheiro directamente aos estados, empresta aos  grupos financeiros a 0,75% de juro para que estes depois venham cobrar 10 e 15 vezes mais, tornando-se assim o principal fomentador" da especulação financeira na Europa. Imagine-se os milhões de euros em juros que Portugal não pouparia...

Há que aguentar para os bancos ganharem mais uns "tostões" (mais aqui)...

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O menino que Gaspar não conhece...

"Supermercado do centro comercial das Amoreiras, fim da tarde de terça-feira. Uma jovem mãe, acompanhada do filho com seis anos, está a pagar algumas compras que fez: leite, manteiga, fiambre, detergentes e mais alguns produtos.

Quando chega ao fim, a empregada da caixa revela: são 84 euros. A mãe tem um sobressalto, olha para o dinheiro que traz na mão e diz: vou ter de deixar algumas coisas. Só tenho 70 euros.

Começa a pôr de lado vários produtos e vai perguntando à empregada da caixa se já chega. Não, ainda não. Ainda falta. Mais uma coisa. Outra. Ainda é preciso mais? É. Então este pacote de bolachas também fica.

Aí o menino agarra na manga do casaco da mãe e fala: Mamã, as bolachas não, as bolachas não. São as que eu levo para a escola. A mãe, meio envergonhada até porque a fila por trás dela começava a engrossar, responde: tem de ser, meu filho. E o menino de lágrima no canto do olho a insistir: mamã, as bolachas não. As bolachas não.

O momento embaraçoso é quebrado pela senhora atrás da jovem mãe. Quanto são as bolachas, pergunta à empregada da caixa. Ponha na minha conta. O menino sorriu. Mas foi um sorriso muito envergonhado. A mãe agradeceu ainda mais envergonhada. A pobreza de quem nunca pensou que um dia ia ser pobre enche de vergonha e pudor os que a sofrem.

Tenho a certeza que o ministro Vítor Gaspar não conhece este menino, o que seria obviamente muito improvável. Mas desconfio que o ministro Vítor Gaspar não conhece nenhuns meninos que estejam a passar pela mesma situação. Ou se conhece considera que esse é o preço a pagar pela famoso ajustamento. É isso que é muito preocupante. "

Nicolau Santos (retirado daqui)

quarta-feira, novembro 21, 2012

Desculpe, diga lá outra vez Sr PR? A vida começou agora para si?

Cavaco: portugueses esqueceram o mar, a agricultura e a indústria  

   O Presidente da República afirmou hoje que o país precisa de “ultrapassar estigmas” e voltar a olhar para os sectores que esqueceu nas últimas décadas: o mar, a agricultura e a indústria.
Cavaco Silva falava, esta quarta-feira, na sessão de abertura do Congresso das Comunicações, subordinado ao tema "Um Mar de Oportunidades" – uma inspiração nos recentes apelos do chefe de Estado, admitira, pouco antes, o presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), Pedro Norton.
 
Será que o título é exagero?
 
Não lembra nem ao Diabo, as palavras proferidas exactamente por quem foi responsável pelos governos que destruiram esses sectores e depois de onde sairam figuras que entretanto se instalaram nas vidinhas e provocaram grande parte da dívida interna deste país, como diz o Prof. Paulo Morais na sua crónica semanal acima publicada.

A memória não começou agora e a vergonha na cara também, porque é uma vergonha este regime...
                      

terça-feira, novembro 20, 2012

Crença, loucura ou crime a avaliar posteriormente?

Governo prevê recuperação mais fraca em 2014

O executivo e a troika não alteraram as previsões para 2013, mas reviram em baixa o crescimento para 2014, o ano da retoma.

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, revelou nesta segunda-feira em conferência de imprensa um novo cenário macroeconómico para o médio prazo, que mantém inalterada a previsão de recessão para o próximo ano (-1%) e revê em baixa o crescimento em 2014.

Na sequência da última avaliação do programa de assistência, o Governo e a troika prevêem agora que a economia cresça apenas 0,8% em 2014, e não 1,2% como previa na última revisão.

"Para 2014, as estimativas apontam para uma recuperação da procura interna e um crescimento das exportações, devido à melhoria das perspectivas económicas da área euro", afirmou Vítor Gaspar, salientando que a taxa de desemprego começará também a descer, caindo para 15,9%.

Para os anos seguintes, as previsões mantêm-se, com o Governo e a troika a apontarem para um crescimento de 1,8% em 2015 e 2016. A taxa de desemprego irá descer para 15,3% em 2015 e 14,8% em 2016.

Segundo Vítor Gaspar, o ajustamento externo continuará a progredir dentro do previsto, no curto e no médio prazo e, já em 2013, Portugal apresentará um superavit na balança corrente e de capital.

O ministro das Finanças manteve a previsão de recessão de 1% para 2013, mas admite que não se podem minimizar “ os riscos e as incertezas”, destacando, nomeadamente, os desafios que se colocam ao projecto europeu e as dificuldades do nosso principal parceiro comercial, a Espanha.

O Governo reiterou ainda o compromisso com as metas do défice: 5% este ano (com a concessão da ANA) e 4,5% em 2013.
 
Só quem não viu o que se passou este ano pode acreditar nas previsões desta gente.
Nos riscos e incertezas só apontadas ao ambiente exterior, fazem deste senhor, mais um Pilatos, como o PR, mas com este regime já não há esperança de justiça ou de ordem, nem esperança haverá tão pouco.
 
O défice é manipulado e nem será aquele que é previsto para este ano, portanto não pode ser crença.
As estimativas para 2014 são lunáticas, nem a Alemanha tem essas previsões.
Para o ano que vem, só os agiotas que emprestam, que fazem parte da Nova Liga de Estados Hansiáticos, o "status quo" da UE dos burocratas e da sovietização da UE, através do Comité Central que é a Comissão Europeia, podem apoiar este tipo de demência, ou então, pior, se o não for, porque aos doentes sempre podem ser feitas acusações de inimputabilidade.
 
"É tão fácil enganarmo-nos a nós mesmos sem o perceber como é difícil enganarmos os outros sem que eles percebam" LA ROCHEFOUCAULD
" A distinção entre a ilusão e a verdade está na diferença das suas funções vitais. A ilusão vive da verdade - a verdade tem vida própria." NOVALIS
Duas citações para nós, os outros... os que não contam...

Crime sem castigo

Crime sem castigo


O Banco Português de Negócios constitui a maior fraude da história deste regime. O desfalque, que custou aos contribuintes cerca de cinco mil milhões de euros, está bem documentado. Estando o produto dos roubos ao acesso do Estado português, o Governo tem obrigação de tentar recuperar uma parte significativa do prejuízo.
 
A história do BPN resume-se em três fases. No tempo de Cavaco Silva, um bando de empresários ligados ao PSD, que nada percebiam de Banca, criou o BPN com o apoio institucional do Governo, em troca de apoios ao partido do poder. Ao longo de anos, a Sociedade Lusa de Negócios, grupo detentor do banco, realizou todo o tipo de negócios, com financiamento do BPN. Acumulou as vantagens patrimoniais nas empresas da SLN, enquanto os prejuízos engrossavam o passivo do banco.
 
Em 2008, a pretexto da crise financeira, José Sócrates e Teixeira dos Santos nacionalizaram o banco, assumindo os seus colossais prejuízos. Inexplicável e criminosamente não nacionalizaram também a SLN, detentora dos melhores activos. De seguida, e com a vinda da troika, o Estado saneou as finanças do banco e vendeu-o aos angolanos, pelo preço de saldo de quarenta milhões. O Governo ainda assumiu todo o lixo do BPN, todas as dívidas resultantes de vigarices inimagináveis, desde créditos imobiliários sem garantias, até duplos financiamentos a um mesmo bem. Para armazenar o lixo do BPN, foi criado o ‘bad bank’ Parvalorem.
 
Exige-se agora ao Governo e à Justiça portuguesa que, em defesa do erário público, analisem toda a documentação que herdaram, investiguem e recuperem os activos mais valiosos.
Castiguem-se pois todos os responsáveis e não apenas o bode expiatório Oliveira e Costa. Aproprie--se a Justiça dos bens relativos aos financiamentos fraudulentos, cative-se o património da SLN (hoje rebaptizada de Galilei) e confisquem as fortunas dos seus accionistas e ex-administradores, nomeadamente os depósitos em bancos estrangeiros. É o que têm vindo a fazer, em casos de enormes fraudes, a Alemanha ou até Itália.
Os prejuízos contabilizados no BPN equivalem a cerca de dez subsídios retirados aos funcionários públicos. Seria criminoso não recuperar, para o povo, uma parte substancial desse valor.
Paulo Morais, professor universitário

segunda-feira, novembro 19, 2012

O segundo mandato de Barack Obama

"A corrida foi dura, mas o presidente norte-americano Barack Obama ganhou a reeleição. A questão agora, para os Estados Unidos da América (EUA) e para o mundo, é o que vai ele fazer com um novo mandato de quatro anos?

Vencer a reeleição com uma economia ainda frágil e com o desemprego perto dos 8% não foi fácil. Muitos líderes – como Nicolas Sarkozy, Gordon Brown e José Luís Rodríguez Zapatero – foram afastados pelo descontentamento em relação ao desempenho económico dos últimos anos. Ainda que o desastre financeiro tenha eclodido durante o mandato de George W. Bush, depois de oito anos de presidência Republicana, Obama teve de carregar o fardo de uma recuperação anémica.

Obama venceu não apenas por causa da sua extraordinária resiliência, mas também porque um número suficiente de eleitores de classe média, embora não contentes com o caminho do progresso económico, sentiram que a presidência Obama poderia ajuda-los mais do que as políticas defendidas pelo seu adversário republicano, Mitt Romney, que eram entendidas como favoráveis aos mais ricos. Além disso, a transformação demográfica que está em curso nos EUA faz com que seja mais difícil para os candidatos que não são capazes de aproximarem-se dos latinos e de outras minorias – algo que Romney não fez – assumirem a liderança do país.

Alguns aspectos da campanha, particularmente o dinheiro que foi gasto e o seu tom negativo, foram criticados por muitos observadores. Mas a competição da democracia americana – o facto de que existe sempre uma alternativa e os que estão no poder têm de lutar para se manterem lá – foi demonstrado de uma forma admirável para que todo o mundo pudesse ver.

Obama vai embarcar no seu segundo mandato com a economia mundial numa encruzilhada. Nos Estados Unidos, a recuperação fraca e irregular tem vindo a ser sustentada pelas políticas monetárias extremamente caras e pelo défice orçamental elevado e persistente. Enquanto os cofres das grandes empresas estão cheios de dinheiro, o investimento privado está estagnado. No Japão, o desempenho económico sólido continua a ser ilusório enquanto os primeiros-ministros se sucedem a um ritmo vertiginoso.

Da mesma forma, a Europa está em suporte de vida, graças a uma manobra astuta do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, e às promessas de intervenção ilimitada nos mercados de dívida soberana. Mas o desemprego está no nível mais elevado de décadas e o crescimento está, essencialmente, paralisado mesmo na Alemanha, enquanto as economias problemáticas do sul estão atoladas na recessão. A situação da Grécia, além disso, tornou-se socialmente instável; a Grécia é pequena, mas um colapso total poderia ter efeitos negativos, em termos financeiros e psicológicos, em outros lugares.

As economias emergentes estão melhores; mas, ainda que a tendência de crescimento do seu produto potencial seja muito maior do que das economias desenvolvidas, não há uma dissociação cíclica. A economia mundial está interligada: problemas em qualquer parte importante são transmitidos mundialmente. Esta é a verdade na base dos problemas macroeconómicos: por exemplo, a necessidade de abordar as alterações climáticas não pode continuar a ser ignorada.

Os Estados Unidos não podem definir sozinhos o futuro da economia mundial mas o caminho seguido pela América, todavia, tem uma grande importância mundial, dado que continua a ser a maior economia do mundo e tem uma influência considerável em sítios como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o G-20. As ideias norte-americanas continuam a afectar o debate político a nível mundial.

Por isso, quais devem ser as prioridades de política económica de Obama neste segundo mandato? Apesar das dificuldades que a economia mundial enfrenta, há enormes recursos disponíveis nos Estados Unidos, na China, na Alemanha e em outros locais que podem ser investidos. Ainda que haja limitações ao nível do clima e de recursos, estamos no começo da revolução tecnológica que tem um grande potencial para aumentar a produtividade e conduzir a uma maior prosperidade, acompanhado com desafios e implicações para o trabalho e o emprego.

Mas um crescimento económico sustentável exige que aqueles que têm recursos disponíveis para investir o façam. E isso não vai acontecer a menos e até que haja uma recuperação ampla dos grupos com rendimentos baixos e médios das economias desenvolvidas, incluindo os Estados Unidos.

Há muito lucro que pode ser gerado – os impostos sobre o capital não são tão altos e financiamento a baixo custo estão disponíveis para o sector empresarial. Mas a concentração de rendimentos restringe uma recuperação mais ampla e coloca um dilema para a recuperação macroeconómica: a necessidade de continuar a dar “estímulos” e os perigos do crescimento da dívida pública e a criação de uma bolha nos activos inflacionada pelas taxas de juro baixas.

Por outras palavras, uma distribuição mais equilibrada dos rendimentos não é apenas uma questão social ou ética; é crucial para a macroeconomia e, de facto, para o sucesso empresarial a longo prazo. Isto é vital para muitos países, em especial os Estados Unidos e a China.

E depois há uma necessidade urgente – nos Estados Unidos e a nível mundial – para a educação e para que haja uma formação das competências adequada. Sem as qualidades exigidas pelas novas e incipientes tecnologias, muitos trabalhadores vão simplesmente ficar desempregados. Um dos benefícios chave de dar prioridade a uma educação de qualidade ampla é que isso ajudaria a resolver o problema da distribuição de rendimentos.

Finalmente, há uma necessidade de cooperação internacional efectiva. O excedente da conta corrente da China diminuiu. Mas agora o norte da Europa tem um excedente de 500 mil milhões de dólares enquanto o sul da Europa está a colapsar e os Estados Unidos têm um défice próximo dos 500 mil milhões de dólares. O desafio a longo prazo das alterações climáticas exige cooperação mundial e uma alteração pós-eleitoral na direcção de um compromisso mais forte por parte dos EUA, o que poderia desencadear uma revolução das energias limpas multifacetada, impulsionando investimento que crie muitos postos de trabalho e um novo ciclo de crescimento.

Depois de uma campanha eleitoral longa e dura é tempo para reformas políticas abrangentes. Esperemos que o Congresso norte-americano venha também a reconhecer isto, apoiando as medidas que podem ajuda centenas de milhões de pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo. "

Kemal Derviş

domingo, novembro 18, 2012

Vítor Gaspar tem razão em pressionar Costa e Draghi

"Com a troika em Lisboa para a sexta-avaliação, o ministro das Finanças foi ao Parlamento defender que a principal dificuldade no ajustamento nacional é a incapacidade de reduzir os custos de financiamento bancário das empresas, e garantir que tem exposto repetidamente o problema à troika. Vítor Gaspar fez bem em dizê-lo publicamente: até mais do que do FMI ou da Comissão, Portugal precisa do BCE e os últimos sinais de Mario Draghi e Carlos Costa são preocupantes.

Apesar do BCE ter a sua taxa central nos 0,75% esse efeito não se sente em Portugal, onde a taxa de juro média para um empréstimo bancário de um milhão de euros a cinco anos está perto dos 8%, o valor mais elevado da região (contra menos de 4% na Alemanha). Espanha, Irlanda Grécia sofrem do mesmo mal.

A desconfiança nos bancos, nos soberanos em dificuldades e na interligação entre eles é tal que, na prática, o sistema financeiro e a transmissão da política monetária não funcionam nestes países. Muitas boas empresas e ideias estão a ser penalizadas pela simples razão de estarem, juntamente com os seus bancos, localizadas em Portugal, em Espanha, na Grécia - como se não lhes bastasse a política de terra queimada a que são sujeitas na frente orçamental.

Perante a gravidade do problema a Zona Euro avançará para uma "união bancária" e o BCE tem montada uma nova bazuca: um programa de compra de dívida pública para os países em dificuldades. São desenvolvimentos notáveis na arquitectura europeia, mas vistos de Lisboa padecem de problemas graves.

O programa de compra de dívida pública, que visa baixar os custos de financiamento de Estados e indirectamente dos bancos e das empresas nos países em dificuldades poderá, afinal, não se aplicar a Portugal.

O Presidente do BCE argumentou recentemente que Portugal perdeu o acesso ao mercado de dívida pública e que o banco central não se pode substituir a esse mercado. Contudo, o Tesouro português tem-se financiado por bilhetes do Tesouro em maturidades que vão até 18 meses, cumpre todas as outras condições definidas pelo BCE para aceder ao programa e as empresas e os bancos portugueses merecem o mesmo tratamento que as espanholas e italianos.

Na união bancária o problema é outro. O objectivo passa por mutualizar as responsabilidades dos Estados relativamente aos respectivos sistemas financeiros, de forma a que se os bancos tiverem problemas, os soberanos não sucumbam, e vice-versa. A criação de um sistema comum de resolução de bancos e de seguro de depósitos ao nível da Zona Euro são essenciais e exigem em troca um sistema de supervisão centralizado em Frankfurt.

Mas também aqui as últimas evoluções não são animadoras. Na sexta-feira Carlos Costa confirmou o que Mario Draghi já vinha sinalizando: reféns da Alemanha, o BCE aponta para um sistema de seguro de depósitos comum mas, pelo menos numa fase inicial, caso ele seja accionado num país será o respectivo Estado a pagar a conta sozinho. Os depositantes poderão ficar um pouco mais seguros, mas a relação potencialmente venenosa entre Estado e banco mantém-se.

A confirmarem-se estes dois desenvolvimentos, o papel do BCE ficará muito aquém do que os países do Sul precisam. Vítor Gaspar, que tem sido acusado de complacência com a troika, faz bem em pressionar Draghi e Costa."

Rui  Peres Jorge

sábado, novembro 17, 2012

O deserto

"Parece que a PSP pretende retirar as pedras das calçadas que rodeiam o Parlamento. Para evitar novas cenas de violência.

Acho bem: todos sabemos que, sem pedras, as próximas manifestações serão feitas com o arremesso de tartes. Mas talvez esta ambição da polícia esteja em sintonia com o delírio da política.

Quando a crise rebentou, houve por aí alguns alienados, entre os quais me incluo, para quem só havia duas saídas possíveis para o sarilho em curso: recuar na integração europeia (e no euro); ou avançar com ela (e rezar). A Europa preferiu ficar no meio da ponte, infligindo doses de austeridade sobre economias endividadas e moribundas. Resultado? A zona euro está oficialmente em recessão, com o lento naufrágio de Espanha, Itália, Holanda – e, a prazo, da França e da Alemanha.

Sim, podemos remover calçadas, sinais de trânsito, automóveis, edifícios e até cidades inteiras. Mas, no meio do deserto, ficaremos sempre nós. Pobres e sós. "

João Pereira Coutinho

sexta-feira, novembro 16, 2012

Uma lição brasileira

"Há apenas dois anos, quando o país pensava que era rico, havia na cabeça dos nativos um certo sentimento antibrasileiro. Não vale a pena elaborar sobre a saloiice: os portugueses, montados no crédito fácil, olhavam para os emigrantes brasileiros de soslaio. O ‘primeiro mundo’ não convivia bem com o ‘terceiro’.

Pois bem: parece que o ‘terceiro’ resolveu investigar e punir um dos maiores escândalos de corrupção da sua história – o famoso ‘mensalão’, um esquema que usava recursos públicos para comprar votos de parlamentares que fossem favoráveis ao governo de Sua Santidade Lula da Silva. José Dirceu, antigo ministro e braço-direito de Lula, foi condenado a 10 anos e 10 meses de cadeia.

No Brasil, a imprensa fez o seu papel, investigando; e o judiciário tratou do resto, punindo. E nós? Nós, no ‘primeiro mundo’, nem investigamos, nem punimos. Corrupção é coisa de pobre. No ‘primeiro mundo’, desconfio até que a corrupção não existe. "

João Pereira Coutinho



quinta-feira, novembro 15, 2012

Casa de pais, escola de filhos

"De acordo com as notícias de imprensa, este ano poderá registar-se um dos menores níveis de natalidade de sempre em Portugal. O total de nascimentos poderá ser inferior a 90 mil bebés, o que poderia significar uma redução na ordem de 20% na taxa de fecundidade

O suporte à natalidade deverá fazer parte da reflexão sobre as funções do Estado, mas não só.

No Boletim Económico mais recente do Banco de Portugal, refere-se no sumário executivo, " o continuado agravamento da posição cíclica da economia pode ter um impacto negativo no crescimento potencial. Este risco consubstancia-se, por exemplo, numa continuada redução do nível do stock de capital, na depreciação do capital humano dos trabalhadores desempregados e na emigração de jovens qualificados". São efeitos adversos de longo prazo pós-recessivos e que se materializam sob a forma de erosão da capacidade produtiva dos fatores clássicos - o trabalho, o capital, a produtividade. Nesta breve nota, destaca-se mais outro efeito, de prazo muito longo e discreto, mas igualmente importante para a capacidade produtiva potencial: a evolução da natalidade.

De acordo com as notícias de imprensa, este ano poderá registar-se um dos menores níveis de natalidade de sempre em Portugal. O total de nascimentos poderá ser inferior a 90 mil bebés, o que poderia significar uma redução na ordem de 20% na taxa de fecundidade. Concretizando-se esta avaliação, em 2012, Portugal fará parte do grupo de países do Mundo com a menor taxa de fecundidade, muito próximo dos valores divulgados pelas Nações Unidas para a China (1 filho por mulher), num total de cerca de duas centenas de países, e afastar-se-á ainda mais do limiar identificado como o necessário para assegurar a regeneração plena da população (2,1 filhos por mulher).

Este comportamento da taxa de natalidade não constitui uma novidade, nem para Portugal nem para as ciências sociais, enquadrando-se na teoria da transição demográfica, mas não deixa de suscitar apreensão.

Em Portugal, a redução da taxa de natalidade foi particularmente intensa no período 1960-90, e, desde então, mantendo-se em diminuendo o ritmo abrandou significativamente1. À escala mundial este padrão evolutivo suscitou interesse na análise do aparente paradoxo entre a fecundidade e o nível de desenvolvimento económico - países com maiores níveis de desenvolvimento económico apresentam índices de fecundidade inferiores, numa tendência convergente para o intervalo 1 a 2 filhos por mulher a partir de um determinado nível de desenvolvimento económico (aprox. 20 mil dólares de PIB per capita) e com ligeira recuperação das taxas de fecundidade para próximo do limiar de regeneração quando se atingem níveis de riqueza superiores2.

Fatores socioeconómicos, como a urbanidade e densidade populacional, as relações e mobilidade laboral, a evolução do núcleo familiar, o nível de educação, os progressos nas ciências médicas, e as atitudes e quadro cultural dominantes justificam ou estão associados a este comportamento. Nesse quadro identifica-se um conjunto de 3 a 4 fases no processo de transição demográfica com uma configuração da pirâmide etária típica (passa de "ponta-de-flecha" a "balão"), evolução até há bem pouco tempo em destaque no sítio do INE para o caso português, com uma infografia particularmente elucidativa da sorte que nos espera, e que poderá ser ainda mais desfavorável em caso de persistência da situação atual.

Os valores de nascimentos em Portugal estimados para 2012 revelam um efeito conjuntural de magnitude significativa sobre uma tendência já de si perturbadora. Num período em que somos solicitados a rever os padrões de comportamento e as políticas públicas, e sendo tão multifacetado o conjunto e a intensidade de fatores socioeconómicos por detrás de uma decisão tão decisiva quanto a de ter e criar filhos, aportam-se responsabilidades às decisões de política, para que levem em conta a necessidade de reduzir os obstáculos económicos mais influentes (dificuldade do emprego jovem, custos de educação, saúde), mas também ao quadro normativo social e cultural dominante. Conforme a conclusão de um estudo, já com alguns anos, sob o patrocínio da OCDE, " [no fundo] pretende-se suportar os núcleos familiares que aceitem a responsabilidade de ter e criar filhos devido aos benefícios coletivos que resultam dessa decisão".3

1 - Ver, por exemplo, o site Pordata para uma representação gráfica da evolução do índice sintético de fecundidade em Portugal;

2 - Consultar Wikipedia, sobre "demographic-economic paradox", para uma ilustração de vários países no binómio riqueza económica/taxa de fecundidade;

3 - leebos, Joelle; "Low fertility rates in OECD countries: facts and policy responses"; OCDE 2003

Gonçalo Pascoal

quarta-feira, novembro 14, 2012

O país dos Cavacos e dos Arménios...

Somos o país dos Cavacos e dos Arménios.
Um, disse, de forma cínica como é seu timbre de há muito, que estava a trabalhar(?),  perguntado sobre a greve, o outro falou até perder a voz, repetindo coisas que muitos sabemos ser verdades, mas que não necessitamos que nos repitam, muito menos por ele, sem fio de discurso e discurso de cassete gasta, sem futuro.
 Afinal cumpriu-se a liturgia deste regime, o Cavaco lavou as mão como Pilatos e Arménio lavou a garganta seca, também como Pilatos, com palavras ocas e especialmente sabendo que aquele tipo de greve, num país com economia destruída nada resolve, como nada resolveu a manifestação à maneira comunista e com os dois hinos finais da prache.
Cavaco é um cínico que serve e se serviu do poder dado pelo voto dos tolos e Arménio ainda não percebeu que a missa acabou.
Quem ganhou com tudo isto no fim das contas foi a finança que roubou este país, através das quadrilhas organizadas da partidocracia instalada e criminosa que saqueou e tomou de assalto o Estado.
Com este regime morto, com este pais com um Estado moribundo, nas mãos de jogadores de casino, de ladrões de delito comum, numa Europa agonizante, não é preciso bradar que o Estado Social está morto, porque o país se está esvaindo do sangue que ninguém se atreve a estancar, ficando apenas um deserto de poucas crianças, algumas já famintas, de velhos que não chegarão às idades que nos querem impingir, para justificar os crimes de lesa Pátria, (como jogar na bolsa dinheiro que estava à guarda deste estado...), e por um grupo cada vez maior de indivíduos de meia idade que não chegarão a velhos, por não poderem sair como nos idos de 60, por força da não qualificação e da destruição da economia levada a cabo pelo Pilatos acima falado, este país é de facto um deserto, nesta enorme península que para o deserto caminha, no extremo do grande continente chamado de Eurasia. 

Até amanhã e boa sorte!!!

Novos jobs.

Segundo o Expresso "Relvas cria jobs para ex-autarcas com o salário de um presidente de Câmara de um concelho médio (cerca de 4000 Euro ilíquidos mais aqui)."
Depois venham dizer que é preciso cortar no estado social…

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Alemanha ganha 1,9 milhões/dia

"Berlim lucrou 1,4 mil milhões de euros com Portugal em 2011 (mais aqui)"

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Para meditar...

"Estados Unidos serão o maior produtor de petróleo em 2020 segundo a mais recente avaliação da Agência Internacional de Energia. O relatório prevê que já em meados dos anos 2020, os Estados Unidos ultrapassarão a Arábia Saudita e a Rússia, tornando-se no maior produtor mundial de petróleo (mais aqui)"

terça-feira, novembro 13, 2012

Bode expiatório

Bode expiatório


A fúria que muitos sentem relativamente à chanceler alemã Angela Merkel é compreensível. Mas não foi Angela Merkel a responsável pelo estado a que chegámos, pela crise em que nos mergulharam, pelo enorme endividamento das famílias ou pelos esquemas de corrupção que exauriram as contas públicas.
Foi Cavaco Silva, e não Merkel, que enquanto primeiro-ministro permitiu o desbaratar de fundos europeus em obras faraónicas e inúteis, desde piscinas e pavilhões desportivos sem utentes, ao desnecessário Centro Cultural de Belém. Foi o seu ministro Ferreira do Amaral que hipotecou o estado no negócio da Ponte Vasco da Gama.
 
Foi António Guterres, e não Merkel, que decidiu esbanjar centenas de milhões de euros na construção de dez estádios de futebol. Foi também no seu tempo que se construiu o Parque das Nações, o negócio imobiliário mais ruinoso para o estado em toda a história de Portugal. Foi mais tarde, já com Durão Barroso e o seu ministro da defesa Paulo Portas, que ocorreu o caso de corrupção na compra de submarinos a uma empresa alemã. E enquanto no país de Merkel os corruptores estão presos, por cá nada acontece.
 
Mas o descalabro maior ainda estava para chegar. Os mandatos de José Sócrates ficarão para a história como aqueles em que os socialistas entregaram os principais negócios de estado ao grande capital. Concederam-se privilégios sem fim à EDP e aos seus parceiros das energias renováveis; celebraram-se os mais ruinosos contratos de parceria público--privada, com todos os lucros garantidos aos concessionários, correndo o estado todos os riscos. O seu ministro Teixeira dos Santos nacionalizou e assumiu todos os prejuízos do BPN.
 
Finalmente, chegou Passos Coelho, que prometeu não aumentar impostos nem tocar nos subsídios, mas quando assumiu o poder, fez exactamente o contrário. Também não é Merkel a culpada dessa incoerência, nem tão pouco é responsável pelos disparates de Vítor Gaspar, que não pára de subir taxas de imposto. A colecta diminui, a dívida pública cresce, a economia soçobra.
A raiva face aos dirigentes políticos deve ser dirigida a outros que não à chanceler alemã. Aliás, os que fazem de Angela Merkel o bode expiatório dos nossos problemas estão implicitamente a amnistiar os verdadeiros culpados.
Paulo Morais, Professor universitário

A dificuldade em flexibilizar

"Apesar do impressionante compromisso da Fed de conduzir uma flexibilização monetária agressiva, os seus efeitos sobre a economia real e sobre as acções norte-americanas poderão muito bem ser mais limitados e mais efémeros do que os efeitos das anteriores rondas de "quantitative easing".

A decisão da Reserva Federal dos Estados Unidos de levar a cabo uma terceira ronda de "quantitative easing" [QE3 – flexibilização quantitiva, ou seja, de estímulos à economia através de uma política monetária expansionista com medidas não convencionais], suscitou três questões importantes. Será que o QE3 conseguirá relançar o crescimento económico na América? Conduzirá a um aumento persistente dos activos de risco, especialmente nos EUA e noutros mercados accionistas mundiais? E, por último, os seus efeitos sobre o crescimento do PIB e sobre os mercados bolsistas serão semelhantes ou diferentes?

Muitos dizem agora que o efeito do QE3 sobre os activos de risco deveria ser tão poderoso, se não mais, como o efeito do QE1, do QE2 e da "Operação Twist" [em que se substituem as maturidades mais curtas das obrigações por prazos mais longos para aliviar a pressão sobre os juros dessas mesmas obrigações], que é o mais recente programa de compra de obrigações levado a cabo pela Fed. Afinal de contas, se bem que as rondas anteriores de flexibilização monetária nos EUA tenham estado associadas a um aumento persistente do preço das acções, a dimensão e a duração do QE3 é mais substancial. No entanto, apesar do impressionante compromisso da Fed de conduzir uma flexibilização monetária agressiva, os seus efeitos sobre a economia real e sobre as acções norte-americanas poderão muito bem ser mais limitados e mais efémeros do que os efeitos das anteriores rondas de "quantitative easing".

Antes de mais, sublinhe-se que as anteriores rondas de QE ocorreram em períodos em que a valorização e os lucros das acções eram muito menores do que actualmente. Em Março de 2009, o índice S&P 500 tinha caído para 660 pontos, os lucros por acção das empresas norte-americanas e dos bancos tinham afundado para o nível mais baixo da crise financeira e os rácios preço/lucro eram de apenas um dígito. Actualmente, o S&P 500 é mais de 100% superior (rondando os 1.430 pontos), a média do lucro por acção está próxima dos 100 dólares e os rácios preço-lucro estão acima de 14.

Mesmo durante o QE2, no Verão de 2010, o S&P500, os rácios preço-lucro e os lucros por acção estavam em níveis muito mais baixos do que actualmente. Se, como é provável, o crescimento económico nos EUA se mantiver anémico, apesar da implementação do QE3, as receitas e os lucros cairão a pique, com efeitos negativos sobre a valorização das acções.

Além disso, de momento não há suporte orçamental: o QE1 e o QE2 ajudaram a evitar uma recessão mais profunda e impediram uma recessão em forma de W (o chamado ‘double dip’), respectivamente, porque cada um destes programas estava associado a estímulos orçamentais significativos. Em contraste, o QE3 estará associado a uma contracção a nível orçamental, possivelmente mesmo a um forte ‘abismo orçamental’ [imagem usada para descrever os ajustamentos que estão programados e que passam por aumentos automáticos de impostos e cortes de despesas no final deste ano nos EUA].

Mesmo que os Estados Unidos evitem o pleno abismo orçamental de 4,5% do PIB que se prevê para o final do ano, é altamente provável que uma derrapagem orçamental de 1,5% do PIB atinja a economia em 2013. Com a economia norte-americana a crescer actualmente a um ritmo anual de 1,6%, uma derrapagem orçamental – mesmo de 1% - implica uma quase estagnação em 2013, se bem que uma modesta retoma nos sectores da habitação e da actividade industrial, de par com o QE3, possam talvez manter o crescimento dos EUA próximo do seu nível actual em 2013.

Contudo, não há uma retoma adicional no horizonte. Tanto em 2010 como em 2011, os indicadores económicos avançados revelaram que o abrandamento tocara no fundo durante o primeiro semestre e que o crescimento estava já em fase de aceleração antes dos anúncios de flexibilização monetária. Assim, o QE1 e o QE2 deram impulso a uma economia que estava já a recuperar, o que prolongou a retoma dos activos.

Em contrapartida, os mais recentes dados mostram que a economia norte-americana está tão estagnada agora como na primeira metade do ano. Com efeito, mais não seja, a debilidade do mercado de trabalho nos EUA, o baixo nível de gastos de capital e o lento crescimento dos lucros contrariaram os sinais de inícios do Verão de que o crescimento do terceiro trimestre poderia ser mais robusto.

Entretanto, os principais canais de transmissão dos estímulos monetários para a economia real – os mercados obrigacionista, cambial, bolsista e de crédito – continuam débeis, senão mesmo obstruídos. De facto, não é provável que o canal do mercado das obrigações impulsione o crescimento. As "yields" dos títulos do Tesouro de longo prazo estão já bastante baixas, e uma maior redução não irá modificar substancialmente os custos de obtenção de financiamento por parte de agentes privados.

O canal do crédito também não está a funcionar adequadamente, uma vez que os bancos acumularam a maioria da liquidez suplementar proveniente da flexibilização quantitativa, constituindo reservas excedentárias em vez de aumentarem a concessão de empréstimos. Os agentes que conseguem obter crédito têm bastante liquidez e são cautelosos com os seus gastos, ao passo que aqueles que precisam de empréstimos – famílias e empresas altamente endividadas (especialmente pequenas e médias empresas) – enfrentam uma situação de aperto do crédito.

O canal cambial também é problemático. Com o crescimento mundial a enfraquecer, é improvável que as exportações líquidas aumentem de forma sólida, mesmo com um dólar mais fraco. Além disso, muitos dos principais bancos centrais estão a implementar variantes da flexibilização quantitativa, de par com a Fed, neutralizando em parte o efeito – sobre o valor do dólar - das acções da Reserva Federal.

Mas o principal problema é talvez o facto de o efeito da depreciação do dólar sobre a balança comercial, e consequentemente sobre o crescimento, ser limitado por dois factores. Em primeiro lugar, um dólar fraco é associado a um preço mais elevado (em dólares) das matérias-primas, o que implica uma penalização na balança comercial, uma vez que os EUA são um país importador líquido de "commodities". Em segundo lugar, qualquer melhoria do PIB decorrente do aumento das exportações conduz a um aumento das importações. Estudos empíricos estimam que o impacto global de um dólar mais fraco sobre a balança comercial está perto de zero.

O único outro canal importante de transmissão das operações de flexibilização quantitativa para a economia real é o efeito de riqueza gerado por um movimento de subida do mercado bolsista. No entanto, existe alguma circularidade no argumento de que o QE3 conduzirá a um aumento persistente dos preços das acções. Uma vez que uma retoma persistente dos activos requer uma significativa retoma do crescimento do PIB, é tautológico dizer que se os preços das acções subirem o suficiente, no decurso do QE, a consequente expansão da economia graças a um efeito de riqueza justifica o aumento no preço das acções. Se os canais de transmissão da política monetária para a economia real já não funcionam, não se pode partir do princípio de que o QE terá um efeito substancial sobre o crescimento económico.

O presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, enfatizou recentemente a importância de um canal adicional: o canal da confiança, através do qual o compromisso da Fed de manter condições monetárias generosas durante mais tempo poderá fazer aumentar o consumo privado. A questão prende-se com o carácter substancial e duradouro que esses efeitos terão. A confiança é frágil num ambiente caracterizado por um desendividamento em curso, pelas incertezas macroeconómicas, pelo fraco crescimento do mercado laboral e pela derrapagem orçamental.

Em suma, o QE3 reduz o risco extremo de uma contracção económica pura e simples, mas é pouco provável que conduza a uma retoma sustentada da economia, que está ainda a viver um penoso processo de desendividamento. No curto prazo, o QE3 levará os investidores a assumirem riscos e estimulará uma modesta retoma dos activos. Mas o aumento do preço das acções deverá acabar por atenuar com o decorrer do tempo se o crescimento económico for decepcionante, como será provavelmente o caso, o que reduz as expectativas em torno das receitas e dos lucros das empresas."

Nouriel Roubini

segunda-feira, novembro 12, 2012

Cuidado...

Três pedidos para Merkel

"A chanceler alemã estará hoje em Lisboa cinco horas. Cercada por segurança máxima, estará com Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho e numa conferência com empresários. Embora curta, a visita tem o seu significado. Não por aquilo que Merkel tem para dizer, mas pela oportunidade de lhe fazer um conjunto de pedidos cara-a-cara. O primeiro é mais sociológico. É necessário explicar a Merkel que nós não somos um povo desgovernado e irresponsável que tem de ser castigado pelos protestantes do Norte da Europa, depois de uma década a viver do crédito. Os números do endividamento externo do país são a melhor prova de que ocorreram exageros. Porém, foram em grande parte motivados pelos incentivos vindos de uma União Europeia comandada pela ortodoxia alemã.

Durante anos, os juros fixados pelo BCE foram demasiado baixos para a situação da economia nacional, empurrando as famílias e as empresas para uma situação financeira insustentável. Mas os juros foram sempre fixados tendo em conta os interesses dos grandes Estados europeus. O segundo pedido é político. Desde a sua origem, o projecto de uma Europa unida tinha dois objectivos complementares: evitar novas guerras promovendo o crescimento económico e o desenvolvimento social. A Europa vive o maior período de paz de sempre e, apesar de alguns recuos, estamos todos mais ricos do que na altura. Perante a actual crise, é necessário recuperar os dois objectivos fundadores e esquecer a teoria de que o empobrecimento é bom e virtuoso.

A integração europeia - o euro - só faz sentido se permitir o desenvolvimento dos Estados-membro. Caso contrário, ninguém quer esse caminho. Portanto, é necessário voltar às políticas que promovam o crescimento económico. O terceiro pedido é económico. Os portugueses não recusam fazer o seu ajustamento financeiro e económico. Prova disso é que já estão a suportar o maior agravamento fiscal e os cortes nas prestações sociais mais drásticos da história recente. Mas esperam solidariedade do resto na Europa. Nomeadamente, com juros e prazos para pagar os empréstimos externos mais favoráveis, o que permitirá libertar dinheiro para medidas para estimularem o PIB potencial da economia. E depois mais investimento estrangeiro dos países do Norte da Europa que estão a ganhar muito com a crise dos periféricos, conseguindo condições de financiamento nunca vistas.

A conversa com a chanceler alemã pode ser muito rica desde que os políticos nacionais tenham a coragem de levar uma agenda bem preparada e que defenda os interesses de Portugal. Que se saiba, até agora tem sido mais Merkel a falar e Passos Coelho a tomar notas. Os resultados não aparecem. É altura de mudar de estratégia. Até porque, como disse Merkel, a crise está longe do fim. E o FMI já avisou: a tempestade vai chegar a Berlim. Alguém explica Quando os políticos têm que vir explicar as suas próprias palavras, não é muito bom sinal. Este fim-de-semana, António José Seguro sentiu a necessidade de sublinhar novamente que o PS não é contra a reforma do Estado Social, mas opõe-se ao corte dos quatro mil milhões de euros na despesa. Seguro não necessita de repetir porque todos já perceberam. A questão é outra: para que serve a reforma do Estado se não permitir reduzir os gastos públicos? Isto é que o secretário-geral dos socialistas devia explicar ao pormenor."

 Bruno Proença

domingo, novembro 11, 2012

Ich Bin Ein Berliner

Alemanha recusa exibir filme sobre Portugal proposto por Marcelo

Alemanha recusa exibir filme sobre Portugal proposto por Marcelo - Política - PUBLICO.PT

Nada me move contra a Alemanha, mas a arrogância e a reserva são um direito deles. Quem os conhece sabe que muitos são reservados de início e bons amigos depois de ganharem confiança.
Uma coisa são povo outra os políticos.
 
Mas aguardemos para ver o filme.
Sabemos que temos menos feriados que eles, pagamos mais impostos que eles e trabalhamos mais que eles, e "eles" aqui, quero dizer que quem mais trabalha na Alemanha são já filhos de emigrantes de 2 ª geração e 3ª geração, o antigo povo alemão está envelhecido, mesmo juntando os do leste.
 
A Alemanha vai ser arrastada para armadilha montada pela finança mundial, infelizmente...
Que venha ao meu país a sua Chancelerina e que venha em paz, somos um povo de paz, devemos é revoltarmo-nos contra a partidocracia que nos arruinou, não se esqueçam os que votaram...

sábado, novembro 10, 2012

Os Vampiros

Cortar na despesa pública é tributar os pobres

"O País rebelou-se quando o primeiro-ministro anunciou um aumento radical das contribuições sociais dos portugueses. A ignomínia de pôr os trabalhadores a financiarem a redução da taxa social única das empresas foi a gota de água, mas o que fez encher o copo de forma tão acelerada foi o simples corte salarial que, curiosamente, de todas as medidas de austeridade anunciadas, foi a mais transversal (excepto o IVA).

Passos Coelho cedeu, e bem, aos protestos, deixando cair a transferência de rendimentos do empregado para o empregador, mas manteve firme a intenção de reduzir os salários por via fiscal. É uma questão aritmética e o plano de ajustamento orçamental negociado com a troika assim o exige.

Começou então a discussão em torno da equidade dos cortes salariais e da necessidade de garantir que os ordenados mais baixos não são afectados. É de saudar esta preocupação, que Passos Coelho e os seus ministros tanto enfatizam nos seus discursos, mas é pena que só se coloque do lado da receita. Quando a austeridade se aplica por via da despesa raramente se fala na distribuição dos sacrifícios.

E por despesa entenda-se a que conta na hora de fazer as contas do Estado: os gastos com serviços públicos prestados na área da saúde, educação, transportes e protecção social. É desta despesa que Passos Coelhos nos falará quando divulgar os seus planos para 2013 e 2014.

Será que os cortes na despesa são justamente repartidos pela população portuguesa? Claro que não. O aumento das tarifas dos transportes públicos, o agravamento das taxas moderadoras, a diminuição de recursos no ensino público não afecta do mesmo modo ricos e remediados porque estes utilizam (e dependem) muito mais os serviços sociais do Estado do que aqueles.

Ora, quando chega a altura de comentar o que é equitativo ou não, o que é justo ou injusto, a avaliação depende sempre, ainda que de forma inadvertida, de quem a faz: além dos valores e ideologia, são determinantes o seu modo de vida e a sua estrutura e dimensão de rendimentos.

Uma coisa é defender, por princípio, o Serviço Nacional de Saúde. Outra coisa é precisar dele para tratar da saúde dos seus filhos; uma coisa é achar-se bem que o Estado disponha de escolas para ensinar os pobres. Outra coisa é ter os filhos a estudar na escola pública; uma coisa é defender a importância dos transportes públicos. Outra é precisar deles para ir trabalhar diariamente.

A despesa (que financia os serviços públicos) é o rendimento dos pobres. Nessa medida, os cortes na despesa pública são impostos sobre os pobres. São, por isso, altamente regressivos porque afectam mais quem menos tem, o que, em Portugal, corresponde também à maioria da população. "

Manuel Esteves

sexta-feira, novembro 09, 2012

Grande ilusão

"Não se concorda. Afundaria o projeto europeu. Aprofundaria as recessões, pelos cortes na despesa pública e pelos aumentos de impostos.

Não resolveria os problemas orçamentais existentes. Não permitiria saldar as dívidas, públicas e privadas. Poria o desemprego em níveis assustadores. Destruiria o aparelho produtivo, dificultando a recuperação. Criaria instabilidade social, pondo em risco as Democracias. Implodiria, provavelmente, alguns Estados europeus. Não resolveria os principais problemas económicos da maioria dos países afetados. Seria copiar as respostas iniciais dada à crise de 1929, em quase uma década, com medidas deflacionárias. Também aqui não foi uma solução, antes abriu caminhos aos totalitarismos e às guerras. A solução, derivada dos ensinamentos da Economia e da História, passa por inflação, decorrente duma política monetária mais expansionista do BCE, conjugada com austeridade orçamental realista e monitorizada.

Porque não se aplica então esta solução? Porque a narrativa, das lideranças europeias, falseou a realidade e agora não encontra espaço. Centraram-se as culpas no suposto laxismo orçamental. Porém, até a crise ter rebentado, nos EUA, as dívidas públicas, no PIB, nos países mais afetados, tinham-se reduzido ou em níveis controlados. Em Portugal, em 2006, atingia 63,7%. No ano seguinte, o défice orçamental foi de 3,1%, menos 2,8 pp face 2005.

Já as dividas privadas tinham vindo a subir, muito mais que as públicas, e, consequentemente, o endividamento bancário. Em Portugal, em 2006, chegavam a 209,4% do PIB, quase 3,5 vezes acima da pública. Em virtude dos processos de alavancagem financeira e, sobretudo, por servirem de escoamento aos superávites externos alemães. Paul de Grauwe estimou estes fluxos acumulados, da Alemanha para as periferias do Euro, em 634 mil milhões, até 2011. É esta realidade que tem contrariado a tentação de descartar alguns países do Euro. É, provavelmente, ela, que tornará viável a solução futura."

Francisco Madelino

quinta-feira, novembro 08, 2012

Esperar resultados diferentes fazendo sempre igual

"Se Portugal não crescer 4%/ano, as taxas de juro não estabilizarem em 4.5% e o saldo primário não rondar 3.2% do PIB, a dívida pública não regressará a 85% do PIB em 2030 como o FMI vaticina. Perante este cenário, emerge a discussão da renegociação de dívida, seguida de uma multiplicidade de exemplos

A dinâmica da dívida pública depende, fundamentalmente, de três factores: a taxa de juro, o crescimento económico e o saldo público primário (receitas – despesas excluindo juros). Em 2012, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida pública atingirá 119.1% do Produto Interno Bruto (PIB), observando um máximo histórico de 123.7% do PIB em 2013. O posterior declínio da dívida baseia-se num cenário de longo prazo com taxas de juros superiores a 4.5%. Em 2010, atingiu-se a taxa mínima histórica de 3.6% para um prazo médio de 5.8 anos; mas, em 2011, subiram para 4.3%. Este ano, a taxa de juro voltou a reduzir-se para 4.1% e a maturidade média a aumentar (7 anos) devido ao apoio financeiro internacional. A taxa média dos empréstimos oficiais até Outubro último encontrava-se em 3.6% para uma maturidade média de 11 anos.

Em termos de crescimento económico, o FMI apresenta uma projecção de crescimento médio nominal de longo prazo de 4% (real: 2%, que compara com cerca de 0.4% entre 2002 e 2011). O nível de taxas de juro superior a 4.5% obriga, então, à obtenção de um saldo primário de 3.2% do PIB. A sustentabilidade da dívida pública exige receitas públicas em excesso das despesas (sem juros) de 3.2 p.p. do PIB. Este facto é inédito, pelo menos desde 1974.

Em 2007 (antes da crise financeira), a despesa primária portuguesa situava-se em 41.4% do PIB, em linha com a média da área do euro (43.1%). Contudo, desde 1995, havia registado um incremento de 5.1 p.p. do PIB que compara com uma queda de 4.6 p.p. do PIB na UEM. O acréscimo das prestações sociais em Portugal nesse período correspondeu a 4 p.p. do PIB. As receitas públicas, também em 2007, em Portugal, atingiam 41% do PIB que compara com 45.4% na UEM. Novamente, entre 1995 e 2007, a variação das receitas totais em Portugal ascendeu a 4.6 p.p. do PIB face à estabilidade na área do euro. Na comparação europeia, destaca-se sobretudo a evolução contracorrente das contas públicas portuguesas, em parte pelo fortalecimento do Estado Social e pelo envelhecimento da população. Mais recentemente, se, no que concerne à despesa, relevam os avanços com a reforma da Segurança Social de 2007, importa não esquecer que a população portuguesa com mais de 60 anos passou de 14% do total em 1971 para 25% em 2011. Pelo lado da receita, saliente-se que, de acordo com dados da Autoridade Tributária (2010), constata-se que, cerca de 5% dos agregados que prestam declarações de rendimento (18% do rendimento bruto declarado) assumem 35% do valor liquidado de IRS. Para estes agregados, estima-se um rendimento bruto médio mensal de 5500 euros.

Se Portugal não crescer 4%/ano, as taxas de juro não estabilizarem em 4.5% e o saldo primário não rondar 3.2% do PIB, a dívida pública não regressará a 85% do PIB em 2030 como o FMI vaticina. Perante este cenário, emerge a discussão da renegociação de dívida, seguida de uma multiplicidade de exemplos. Da América Latina, surgem bons exemplos, como o Uruguai ou o Brasil, e maus exemplos, como a Argentina. O que os distingue? A existência de pré-condições para o sucesso: um nível de crescimento económico sustentavelmente superior à taxa de juro paga e um saldo primário estruturalmente positivo. Na Grécia ou Islândia, a preponderância destes factores para o sucesso é evidente. Sem os países alterarem o seu funcionamento, evoluindo da matriz do passado, rompendo atavismos, com ou sem renegociação de dívida, não conseguirão avançar. Uma lição das recentes crises de dívida foi a vontade própria inequívoca de superar a crise, ganhando flexibilidade e abertura à concorrência, fazendo as coisas de uma forma diferente."

Cristina Casalinho

quarta-feira, novembro 07, 2012

How do you Sleep

Economia e Bancos.

1/ "Presidente do BPI defende que as pessoas estão focadas nos bancos quando deviam "estudar os problemas da economia" portuguesa (mais aqui)"

2/ "Os principais banqueiros portugueses mostraram-se hoje contra a possível criação de um banco de Fomento porque as actuais instituições já fazem esse papel (mais aqui)"

3/ "Os bancos não estão a cumprir os planos de recapitalização assinados com o governo há dois meses no que respeita ao financiamento da economia, uma situação que está a ter efeitos devastadores na vida das PME (mais aqui)"
É por demais evidente que os Bancos nada têm a ver com a economia...

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Será?

1/ "A meta de 5% de défice orçamental para este ano está em risco, avisou hoje a Comissão Europeia (mais aqui)"

2/ "Taxa de desemprego na Zona Euro deverá manter-se acima dos 11,5% até 2014 (mais aqui)"

3/ "Draghi: Crise da Zona Euro "está agora a começar afectar a economia alemã (mais aqui)"

4/ " Facturas em atraso de clientes da EDP atingem recorde (mais aqui)"
 
5/ "Portugal "vai demorar muitos anos" a equilibrar as contas do Estado" disse Vitor Gaspar (mais aqui)"
A dúvida aqui não é saber o tempo que demora mas sim se, a continuar com esta política, se alguma vez se chega a equilibrar…

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Crise "geral".

"A criminalidade participada à PSP, GNR e Polícia Judiciária no primeiro semestre deste ano desceu (mais aqui)"
Quem diria que a crise era geral... Até a criminalidade… Se calhar optaram por seguir o conselho do governo e emigraram…

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terça-feira, novembro 06, 2012

O Estado é um casino onde só alguns jogam, mas onde os que pagam impostos sempre perdem...

Juras e Juros

Os aumentos de impostos que nos martirizam e destroem a economia têm como maiores beneficiários os agiotas que contrataram empréstimos com o estado português. Todos os anos, quase dez por cento do orçamento, mais de sete mil milhões de euros, destina-se a pagar juros de dívida pública.


Ainda no tempo de Sócrates, e para alimentar as suas megalomanias, o estado financiava-se a taxas usurárias de seis e sete por cento. A banca nacional e internacional beneficiava desse mecanismo perverso que consistia em os bancos se financiarem junto do Banco Central Europeu (BCE) a um ou dois por cento para depois emprestarem ao estado português a seis.

Foi este sistema que levou as finanças à bancarrota e obrigou à intervenção externa, com assinatura do acordo com a troika, composta pelo BCE, FMI e União Europeia. Mas este pacto foi, ele também, desastroso. Esperava-se um verdadeiro resgate que transformasse os múltiplos contratos de dívida num único, com juros favoráveis e prazos de pagamento dilatados. Assim, isolar-se-ia o problema da dívida e permitir-se-ia o normal funcionamento da economia. Mas o que o estado então assinou foi um verdadeiro contrato de vassalagem que apenas garantia austeridade. Assim, assegurou-se a continuidade dos negócios agiotas com a dívida, à custa de cortes na saúde, na educação e nos apoios sociais.
Para cúmulo, o empréstimo da troika foi celebrado com juros elevados e condições inaceitáveis. Na componente do empréstimo contratada com o FMI, este impôs até que o mesmo fosse indexado às cotações do euro, mas também do dólar, iene e libra, cuja valorização face ao euro era previsível. Como consequência, por via da flutuação cambial, Portugal terá de pagar mais dois mil milhões de euros de capital.
A chegada de Passos Coelho ao poder não rompeu com esse paradigma. Nem por sombras. O governo optou por nem sequer renegociar os empréstimos agiotas anteriormente contratados; e continua a negociar nova dívida a juros incomportáveis.
Os políticos fizeram juras de amor aos bancos, mas os juros pagámo-los nós bem caro, pela via dum orçamento de estado que está, primordialmente, ao serviço dos verdadeiros senhores feudais da actualidade, os banqueiros.
Paulo Morais, Professor Universitário

segunda-feira, novembro 05, 2012

Ninguém aguenta mais cinco anos desta austeridade

"Num discurso de pré-campanha interna, a chanceler alemã falou em mais cinco anos de austeridade e esforços na Europa.

Merkel sublinhou que a crise financeira e económica ainda não está ultrapassada e prescreveu a única receita que conhece e gosta: apertar o cinto. Os alemães apreciam esta conversa. No seu imaginário, eles são os trabalhadores honrados e poupados e os povos do sul da Europa só gostam de esbanjar o dinheiro que não têm em festas e jantaradas.

O pensamento de Merkel tem duas falhas. Primeiro, a União Europeia não aguenta mais cinco anos desta austeridade. Segundo, se o projecto europeu cair, a Alemanha não escapará ao ‘tsunami' económico e político. Pelo contrário, será a primeira a ser culpada. Todos vão apontar o dedo ao egoísmo alemão. Por isto, a chanceler deve abandonar os discursos caseirinhos e comportar-se como uma líder europeia.

A análise de Merkel está correcta. Uma crise financeira com esta profundidade demora anos a resolver. Quando a dívida dos Estados supera os 120% do PIB, como é o caso nacional ou o grego, não se pode esperar que os empréstimos sejam reduzidos para metade em três ou quatro anos. Foram décadas a cometer asneiras financeiras que agora necessitam de tempo para serem corrigidas. Para isto, como também diz Merkel, é necessário mais rigor na gestão das contas públicas. Aldrabices e manigâncias orçamentais devem ser apagadas definitivamente das práticas orçamentais dos Estados europeus, nomeadamente de Portugal. No entanto, a chanceler alemã falha nas soluções. Além de financeiro, o problema europeu é sobretudo económico. Não consegue criar riqueza suficiente para pagar as dívidas. Portanto, a solução passa por equilibrar políticas financeiras mais rigorosas com a promoção do crescimento económico. Mais recessão, nomeadamente nos países sob o reinado da ‘troika', só agravam os problemas. Um dos caminhos para promover o crescimento e o PIB potencial é a aposta no investimento produtivo.

E há duas maneiras para o fazer. Desde logo, diminuir os juros e aumentar o prazo para os Estados pagarem os empréstimos. Desta forma, Portugal teria alguma margem investir. Depois, os países do Norte da Europa, com um balanço mais folgado e que estão a beneficiar da crise dos outros conseguindo financiamento de borla - a Alemanha está a obter taxas de juro negativas -, deviam aumentar o investimento nos países que recorreram à ajuda internacional.

Merkel vem dia 12 de Novembro a Lisboa, numa visita relâmpago de seis horas. Tem uma oportunidade para corrigir o discurso e mostrar, com medidas concretas, que a Alemanha pode liderar a Europa com políticas mais solidárias. Caso contrário, será a coveira do euro e da União Europeia"

Bruno Proença

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