A Queda - Hitler e o Fim do Terceiro Reich.
Quando o escritor e produtor Bernd Eichinger leu as revisões do livro "Der Untergang" ("A Queda"), do historiador Joachim Fest, sabia que tinha encontrado o elemento dramático necessário para fazer o filme com que sonhava há décadas e que lhe tinha sido possível devido à sua dimensão. O livro de Fest centra-se nos últimos dias do Reich, e Eichinger deu-se conta de que a horrível epopeia de Hitler e do seu povo nos últimos 12 anos no poder se reflectia naqueles últimos 12 dias no bunker. "Os últimos dias monstram-nos claramente como o fanatismo das massas funcionou nos primeiros anos do regime e como continuou reinando até ao seu triste final", explica Eichinger. Pela mesma altura em que leu o de Fest, Eichinger leu também um outro livro muito importante, as memórias de Traudl Junge, a secretária pessoal de Hitler, intitulado "Bis zur letzten Stunde. Hitlers Sekretärin erzählt ihr Leben" ("Até ao último momento: a secretária de Hitler conta a sua vida"). "Fest contribuiu com o marco temporal, e Traudl Junge a personagem que aglutinava tudo", explica. «A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich» é a primeira película alemã que lida abertamente com o tema de Hitler desde «Der Letzte Akt» (1956, inédito em Portugal, significa "O Último Acto"), de G. W. Pabst, que era narrada do ponto de vista de um simples soldado alemão interpretado por Oskar Werner.
O realizador de «A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich», Oliver Hirschbiegel, refere: "No que diz respeito à história do cinema alemão, estamos a ser a ruptura, já que não existe nenhum marco de referência cinematográfica. Depois de ler o livro sabia que, se me comprometesse a fazê-lo, teria de ser um compromisso total, pois iria viver dois anos da minha vida no Terceiro Reich, com todas essas personagens e essa ideologia primitiva… ficava com os cabelos em pé. A minha esposa aconselhou-me a não o fazer. Contudo, sabia que não ficaria tranquilo, e no meu coração, antes de aceitar o projecto, sabia que já me tinha aberto a ele". A ESCOLHA DOS ACTORES O actor Bruno Ganz foi a primeira opção do realizador para interpretar a personagem de Hitler. Hirschbiegel enviou-lhe o argumento com um exemplar do livro de Joachim Fest. Ganz viu o filme de Pabst, no qual o actor de teatro Albin Skoda interpreta Hitler. Essa película convenceu-o que era possível interpretar o ditador. "Normalmente, procura-se diferenças com o original, mas esta interpretação tinha vida própria, via aquele Hitler e pensava: «Esta não é uma imitação, é uma representação». Uma pessoa pode aproximar-se deste ser monstruoso através da imaginação e da leitura. Para mim, foi decisivo dar-me conta de que era possível". Eichinger recorda que, durante os testes à frente da câmara em Munique, "Bruno estava um pouco preocupado, e sugeri-lhe que fizesse as provas caracterizado.
E funcionou imediatamente. Quando a sessão de maquilhagem terminou, Bruno saiu com o guarda-roupa (tinha-se preparado muito bem para o teste de imagem) e o efeito foi tão grande que toda a equipa mergulhou no silêncio. Quando mais tarde lhe mostrámos a gravação, ele disse, com aquele ar um pouco dúbio típico dos suíços: «Sim, penso que deveria fazê-lo»". Ganz concorda: "Eu próprio fiquei bastante perplexo ao ver o quanto me havia aproximado de Hitler, pelo menos na aparência. E depressa apoderou-se de mim essa ambição pura que todos nós actores temos: quero aquele papel". Ganz, apesar de ser de origem suíça, lidou de seguida com a voz de Hitler, não repetindo uma e outra os seus discursos, mas sim estudando uma fita magnética única de sete minutos em que Hitler conversava em tom normal depois de uma refeição e que fora gravada secretamente com um diplomata finlandês e retirada clandestinamente da Alemanha durante a guerra. O sotaque foi a parte fácil. O actor conta: "Recordo-me perfeitamente uma cena em que tinha um filho ao colo que estava cantando a canção «Kein schöner Land in dieser Zeit». Sabes que essa criança e os seus irmãos serão assassinados pouco depois pelos seus próprios pais, os Goebbels. Era horrível. Este é um daqueles momentos em que realmente gostarias de fugir dali a correr. Houve outros momentos difíceis, rodando algumas cenas e com alguns diálogos, com afirmações terrivelmente anti-semitas. Mas quando decidi aceitar o papel, sabia no que me estava a meter".
O resto do elenco é uma espécie de "Quem é quem” do cinema alemão contemporâneo. Todos abordaram as suas personagens com um enorme cuidado. Para Alexandra Maria Lara, que interpreta Traudl Junge, a secretária pessoal de Hitler, é uma questão de compreensão. "Tentei imaginar o que aquela jovem, que na verdade gostaria de ser sido bailarina, teria sentido durante aqueles escuros dias da guerra", explica. "E como devia sentir-se ao dar-se gradualmente conta do espantoso pesadelo de que fazia parte, ela que admirava o seu chefe e o venerava quase como a um pai". "Como podia compreender Traudl? Tinha de entendê-la para a interpretar. Perante um tema tão complexo, era uma pergunta difícil. Pareceu-me fascinante enfrentar esta mulher e o papel que devia interpretar, e também poder oferecer uma visão distinta desse trágico episódio da história alemã, mas desta vez com as minhas próprias perguntas e ideias. Uma abordagem deste tipo faz-nos questionar coisas e isso é bom. No seu livro, Traudl Junge deixou claro que a juventude não era uma desculpa e se naquele momento não sabia nada sobre a exterminação dos judeus foi porque não quis. Não tentou iludir a culpa e, depois da guerra, nunca se sentiu inocente. Respeito-a porque soube confrontar-se consigo mesma e mudar através da reflexão". Para Thomas Kretschmann, que interpreta Fegelein, um oficial da SS, o projecto pareceu-lhe demasiado interessante para rejeitá-lo. Há pouco tempo havia interpretado um oficial nazi em «O Pianista», de Roman Polanski, e afirmou: "Queria deixar para trás este tipo de papéis, pois já tinha feito os suficientes.
Mas quando li o argumento pareceu-me tão bom, tão preciso, que foi encurralado por ele. Contrastava a loucura do bunker com a realidade do povo a sofrer. Sento-me contente por ter participado". Kretschmann estudou a fundo para o seu papel. "Como cunhado de Hitler (Fegelein tinha-se casado com a irmã de Eva Braun), aproveitou para subir na vida. Era um sacana. Claro que havia muitos como ele, mas Fegelein era um sacana especial. De tudo o que pude ler sobre ele deduz-se que sempre actuou em seu próprio benefício. Também era um tipo de pessoa que as mulheres adoravam e os homens odiavam". "Faço parte da geração cujas famílias foram directamente afectadas pela guerra" — afirma Christian Berkel, que interpreta o doctor Schenck —. "O meu pai era um médico militar e foi capturado pelos russos, tal como Schenck. A família da minha mãe era judia e todos, excepto a minha avó e dois primos, foram assassinados durante o Holocausto. Para mim, foi muito importante participar neste filme". O papel do ministro da Propaganda de Hitler, Josef Goebbels, foi um trabalho muito difícil para o actor Ulrich Matthes. "Como actor, tens de caracterizar as personagens (incluindo as que imaginas como monstros, como malvados demónios) como pessoas. Não podes «interpretar» o mal. Goebbels não se considerava mau e essa para mim foi a maior dificuldade, deixar de lado os meus preconceitos como pessoa esclarecida e encarnar a personagem como actor". Corinna Harfouch explica a atracção que teve pelo também difícil papel de Magda Goebbels. "O que me interessava de verdade era a ideia de como o amor de mãe, o instinto mais básico que existe, de proteger os seus filhos, pode retorcer-se, perverter-se tanto, dentro deste paradigma de fanatismo. Claro que a cena mais difícil foi a que dava o sonorífero às crianças. Como actriz, podia distanciar-me para examinar essa cena. Não quis ir por aí, tinha os nervos à flor da pele antes de filmá-la. Foi muito intenso".
RECRIAR O FIM DE UMA ÉPOCA
Foi construída uma réplica completa do próprio bunker de Hitler num estúdio localizado nos Bavaria Studios, perto de Munique. Aquele mesmo estúdio acolhera a rodagem de outro filme pioneiro sobre a Segunda Guerra Mundial, «Das Boot», de Wolfgang Petersen. Da mesma forma que o submarino, o bunker de «A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich» era um cenário de quatro paredes. Os actores e a equipa de filmagens passaram semanas no interior deste claustrofóbico bunker, decorado com assombrosa fidelidade. De acordo com Bernd Lepel, o director artístico, "não havia margem para a fantasia, para a interpretação livre. A nossa aposta foi pela autenticidade e conseguimos o efeito desejado. O cenário do bunker era realmente claustrofóbico. Construiu-se de forma a que a câmara não tivesse por onde mover-se, estava sempre a meio. Normalmente levada em mão. Apenas usámos luz natural, já que tínhamos um tecto fixo, sem grandes instalações eléctricas por cima. Queríamos que os espectadores percebessem a fétida claustrofobia do bunker". Nas filmagens no exterior, aplicaram-se os mesmos princípios na iluminação. Nas palavras do realizador: "De noite tinha de ser noite de verdade e aí estava o maior problema. Na Berlim de 1045 não havia nenhuma iluminação que funcionasse. Não havia mais nada que a luz do fogo, os flashes dos bombardeamentos e a luz da lua. Como fonte de luz usámos um globo que nos servia de luz natural. Por sorte, o novo material de alta velocidade da Kodak de alta é extremamente sensível".
Para as cenas do exterior, os cineastas também tiveram de encontrar lugares que recordassem a Berlim de Abril de 1945. "Fomos a vários sítios, como a Bulgária, a República Checa e a Roménia"<7i>, refere Eichinger, "mas em São Petersburgo [Rússia] encontrámos as ruas perfeitas. É incrível como se parece com a Berlim na Guerra. Ali trabalharam muitos arquitectos alemães e isso nota-se imediatamente". Nos finais de 1941, o exército alemão isolou São Petersburgo, então chamada Leninegrado, de Moscovo. Durante o Inverno de 1941-42, a cidade esteve totalmente cercada e ali ocorreu um dos episódios mais trágicos da História. Mais de um milhão de pessoas morreu de fome. Leninegrado sucumbiu de uma morte lenta e atroz. No início da guerra, a cidade tinha uma povoação de 3,5 milhões de habitantes. Sobreviveram 600 mil. Eichinger recorda como foi filmar na Rússia: <>"Filmar em São Petersbrugo foi uma aventura. Trabalhar em localizações é sempre uma aventura. Mas desta vez a dinâmica foi mais emocionante, por causa da terrível destruição que esta cidade sofreu às mãos dos nazis". O realizador descreve assim ao ver-se perante 700 extras russos vestidos com uniformes nazis nas ruas da cidade para recriar a queda de Berlim: "Apenas nos acompanhava a equipa de filmagem alemã básica e colocámo-nos a trabalhar com uma numerosa equipa russa. Portam-se muito bem. As pessoas eram óptimas. Pessoalmente, creio que ser possível fazer juntos um filme agora, nesta cidade, sobre este tema, diz muito do ponto distante a que chegámos". "Queríamos rodar este filme em alemão, com actores alemães e um realizador alemão.
O regime nazi e a Segunda Guerra Mundial são, sem dúvida, os acontecimentos mais tenebrosos, mais traumáticos, da história da Alemanha. A minha geração nasceu depois da guerra, mas, claro, trata-se também da nossa história e temos de viver com ela. Creio que já é altura dos cineastas alemães se atreverem a levar este material ao cinema. Deve ficar no pensamento de todas as gerações que a intolerância, o racismo e o fanatismo conduzem inexoravelmente à perdição". A ALEMANHA DE HOJE Estreado em Setembro de 2004 na Alemanha, as mais de 400 cópias de «A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich» fizeram com que fosse longo visto por mais de 750 mil espectadores. Até ao fim do ano seria visto por quase cinco milhões, mas o filme suscitou também várias controvérsias. A maior de todas foi o retrato de Hitler como um ser humano e não como um monstro. Com a cidade de Berlim a cair, num cenário digno do apocalipse, o ditador é visto a jantar, a distribuir charme junto da sua secretária ou a acarinhar o seu cão. O crítico literário Marcel Reich-Ranicki elogiou o filme na televisão, sugerindo que devia ser mostrado em todas as escolas alemães, mas, por outro lado, o realizador Wim Wenders condenou o filme num artigo para o jornal Die Zeit, considerando-o uma trivialização da História, encorajando a simpatia pelo ditador e não tomando uma posição sobre ele ou o fascismo. Wenders queixava-se do elegante pudor com que a câmara, depois de ensaiar o horror da guerra, não mostrava o suícidio de Hitler.
Ou o de Goebbels, cuja família parecia a versão nacional-socialista dos filhos cantores dos Von Trapp. «A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich» inclui todas as maiores figuras que circundavam Hitler: Eva Braun, Joseph Goebbels, Albert Speer, Heinrich Himmler, Martin Bormann e o general Alfred Jodl. É difícil dizer se algum deles é mostrado de alguma forma positiva (a nós parecem-nos maioritariamente grotescos), mas é notório o esforço para os humanizar para lá do seu retrato histórico. No fundo, parecem todos fazer parte de um culto da morte, do sacrifício, num bunker povoado de pessoas que vivem num mundo aparte e que, até ao fim, parecem não compreender que Hitler e os seus subordinados eram os maiores assassínios da história da Humanidade. Uma outra polémica foi o retrato que o filme apresentou de Ernst-Gunther Schenk, um médico nazi. No filme, ele parece ir contra a natureza dos seus superiores, que, desejosos de lutar até ao fim, o fariam à custa da morte, se necessário, de toda a população civil de Berlim. Ele, por seu lado, recusa-se a abandonar a população civil. Mas essa humanidade é contrariada pelos que o acusam de ter feitos xperiências com centenas de prisioneiros em Dachau. O World Socialist Web Site refere: "No filme, o Schenk, através de cujos olhos vemos o sofrimento dos feridos, exulta o humanidade humilde de um médico da Cruz Vermelha.
Na realidade, Schenk era um membro das Nazi SA desde 1933 e mais tarde ocupou postos importantes nas SS e Wehrmacht [exército alemão]. Fez projectos no campo de concentração de Dachau e centenas de internados morreram no seu decurso. Prisioneiros de outros campos firam usados como cobaias em experiências nas quais muitos perderam as suas vidas. O retrato de humanismo apresentado pelo filme tem mais em comum com as memórias do próprio Schenk’s do que a realidade". Em Outubro de 2004, nova polémica, quando Karl Richter, líder de um grupo de extrema-direita alemão, revelou que ele e mais de 20 outros neo-nazis submeteram-se às selecções de casting da agência e conseguiram ser escolhidos como actores, tendo aparecido como agentes das SS, soldados da Wehrmacht [exército] e até membros do círculo íntimo do bunker do ditador. Uma pessoa da agência de casting ainda perguntou se os seus cortes de cabelo eram sempre tão curtos, mas as desconfianças foram completamente afastadas quando recebeu como resposta que era uma "práticas de defesa", já que era uso corrente nas Forças Armadas federais onde eram reservistas. Editor-chefe de uma publicação mensal de extrema-direita, Richter conseguiu inclusivé o papel do ajudante de campo do General Keitel, tendo expressado o prazer que teve quando lhe perdiram para experimentar o uniforme, levantar a sua mão direita e dizer a saudação "Heil Hitler".
A produtora, a Constantin film CORP, confirmou que entre as três mil pessoas que participaram no filme poderá ter havido a cooperação de alguns extremistas, o que não alterava nenhuma das suas premissas. Mesmo a secretária Traudl Junge divide opiniões. Hitler é retratado a tratá-la como a uma filha e ela adora-o, ainda que não numa base ideológica. No fim do filme, surgem imagens da verdadeira Junge a mostrar arrependimento por aqueles anos, algo retirado de um fascinante documentário, disponível em DVD, intitulado «Blind Spot: Hitler`s Secretary». Ela tinha 81 anos quando ele foi feito (morreu um ano depois)e, embora referindo várias vezes a natureza cruel de Hitler, ela não esconde a sedução que a figura exerceu nela, o seu carisma e o carinho que ele lhe devotava. Vários espectadores não conseguiram evitar um efeito de repulsa ao ver esse documento e o próprio filme, que acusam Joaquim Fest, em cujo livro «A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich» se baseia, de revisionionismo, na sequeência de uma corrente neo-consevadora surgida entre historiados alemães nos anos 80 que diziam que o nazismo era odiosa, mas não excepcionalmente odiosa. Uns até consideravam-no uma ideologia defensiva que foi extremada por causa da Revolução Russa que instalou o Comunismo. Em 1977, baseado numa biografia do ditador feita por Fest no ano anterior, surgiu o documentário «Hitler - A Career». Foi criticado por se ficar em Hitler, mas não retratar devidamente as circunstâncias da sua ascensão ao poder, os seus conselheitos próximos ou apresentar um olhar superficial sobre as suas terríveis acções ou sequer mostrar em profundidade os campos de concentração.
As referências ao terror das SS eram vagas e não foram mostradas quaiquer provas visuais das acções que eram feitas para submeter toda a oposição interna. São várias as pessoas que referem que um filme desses nunca foi feito sobre Hitler e o nazismo. Sobre as empresas alemãs que se submeteram ao Nazismo para conseguirem fazer negócios e obter lucros astronómicos. Sobre como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos foram durante vários anos tolerantes em relação ao nazismo enquanto este fosse uma frente contra o comunismo. Oua os negócios feitos por empresas desses países com Hitler, mesmo depois do início da II Guerra Mundial. A REFLEXÃO Apesar de todas as reservas, parece evidente que o retrato humano dos últimos dias de Hitler, tal como mostrado no filme de Oliver Hirschbiegel, dificilmente poderá ser apelidade de revisionismo: ele culpa os judeus de todos os males, não se importava de sacrificar todos os habitantes de Berlim por terem sido fracos ou ordenava acções impossíveis a unidades militares deliceradas ou inexistentes. O sucesso alemão de «A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich» representa o início do fim de um tabú.
Os seus elementos menos óbvios e mais inquietantes, ao não ir de encontro à tradicional resposta cinematográfica de ridicularizar Hitler ou, por exemplo, ao mostrar aqueles que foram oficiais SS até ao fim a preferir matar-se a render-se, o que pode ser entendido como um acto honroso, podem corresponder aos desejos da actual extrema-direira alemã, que vê o filme como o início de uma mudança na percepção do führer (isso mesmo foi referido por Karl Richter, director de uma revista de extrema-direita ao jornal Fankfurter Allgemeine Zeitung). Mas o filme verdadeiramente evita tomar uma posição, deixando ao espectador a missão de retirar as suas conclusões. Que pode ser, por exemplo, esta: esses oficiais não eram simples soldados, mas sim pessoas com uma conduta criminosa; a sua honra é a última coisa que pode ocorrer a uma pessoa equilibrada. O filme provoca nos espectadores vários sentimentos e, efectivamente, a repulsa pode ser um deles. Ninguém no seu estado normal sairá da sala de cinema com a intenção de se alistar num grupo neonazi.
Copyright das notas de produção: © 2004 Constantin Films, Degeto Film, ORF, EOS Producion e Rai Cinema.
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