domingo, julho 24, 2005

A aliada do terrorismo.

"11 de Setembro de 2001 (Nova Iorque e Washinton, EUA), 12 de Outubro de 2002 (Bali, Indonésia), 16 de Maio de 2003 (Casablanca, Marrocos), 11 de Março de 2004 (Madrid, Espanha), 7 de Julho de 2005 (Londres, Inglaterra). Desde 2001 que o Mundo se depara com, pelo menos, um grande atentado terrorista por ano em que os alvos são meros cidadãos a trabalhar, a caminho de mais um dia de trabalho ou até em plenas férias. Desde há quatro anos que eles (terroristas) se riem de nós, pelo menos uma vez por ano, e tendo uma grande aliada: a indiferença.

As autoridades britânicas têm gerido a informação dos atentados de forma inteligente. Nada de muitos pormenores; imagens, só as suficientes para mostrar ao Mundo como existem mentes tão sujas a ponto de planearem a morte de inocentes que têm mãe, pai, irmãos, filhos, vidas.

Houve pessoas que desceram as escadas do metro com o intuito de matar. Houve alguém que subiu para um autocarro e que até deixou transparecer o nervosismo (segundo relato de uma testemunha). Depois, foi o que se sabe e tudo isto deixa-me a pensar.

Alguém comprou explosivos (a polícia diz que não eram de fabrico artesanal), se calhar alguém alugou uma casa nos arredores de Londres, há pouco tempo, e por pouco tempo. Se calhar alguém deixou escapar alguma palavra em algum momento.

E se tivesse existido alguém mais atento e sem receio de dar um alerta? E se alguém sem medo de poder estar enganado, sem medo de comentar com os vizinhos e parecer ridículo, sem medo de ouvir um qualquer piropo do estilo "tens estado a ver muitos filmes" tivesse alertado as autoridades? Se esse alguém existiu em qualquer uma das fases de planeamento de mais um macabro atentado, será que tudo isto não podia ter sido evitado?

É que os terroristas conhecem as nossas fraquezas. Sabem que a segurança no metro, nos comboios ou nos autocarros deixa muito a desejar. Sabem, como disse o presidente da Comissão Europeia, que não é possível ter um polícia em cada carruagem, em cada autocarro.

Mas sabem também que vivemos com indiferença em relação aos outros. Não falamos com os vizinhos, não queremos saber quem são ou o que fazem. Muitas vezes não reclamamos. Não denunciamos. Não agimos. Não gritamos. Não queremos saber.

Se a pequena Tilly Smith, com a inocência de uma criança, não tivesse dado o alerta de tsunami naquela manhã de 26 de Dezembro, não teria salvo a família e outras cem pessoas que estavam na praia de Maikhao, em Phuket, na Tailândia.

De nada lhe tinha servido a aula de geografia que tinha tido duas semanas antes da tragédia se não tivesse a coragem de avisar. Não teve medo da reacção das pessoas. Não teve receio que se rissem dela. Não foi indiferente. E salvou vidas.

O mesmo não se pode dizer, por exemplo, das imagens que a SIC passou há tempos, de assaltos a utentes dos comboios da linha de Sintra (e é apenas um entre tantos outros exemplos). Perante algumas das situações, as pessoas viravam a cara. Não queriam saber. Pois se, por sorte, não lhes tinha calhado o assalto, então o melhor era pensar que era uma brincadeira, fingir que nada se passava ou até mudar de carruagem. Mas, se calhar, um berro de alguém teria sido o suficiente para desencorajar o assaltante. Só que a vítima era outra pessoa, que até nem se conhecia. Para quê arriscar?

Os assaltantes sabem disso e até se devem rir por estarem "tão à-vontade". Os terroristas sabem disso e, nem que seja uma vez por ano, riem-se de nós (pelo menos os que cá ficam).

Se todos pensássemos sobre isto, se uma reflexão servisse para "mover consciências", se todos fizéssemos um esforço para estarmos mais vigilantes, será que adiantava alguma coisa? Não sei. Mas algo tem de ser feito para que, um dia, a notícia de abertura dos "telejornais" não seja um 11 de Setembro, um 12 de Outubro, um 16 de Maio, um 11 de Março, um 7 de Julho."

Marisa Caetano Antunes
Jornalista

Divulgue o seu blog!