segunda-feira, outubro 10, 2005

A vaga de fundo

Uma vaga de fundo implica uma fractura algures, e um movimento a partir dessa fractura que vai ganhando força à medida que se aproxima da costa, provocando estragos conforme a força e a energia que tem.

Trata-se de uma imagem, de uma figura, por vezes é necessário, para que males maiores não aconteçam.

Estão criadas as condições objectivas na sociedade portuguesa para que isso aconteça?

Se tivermos em linha de conta, o descontentamento da grande maioria dos portugueses, em relação aos poderes instituídos, à sensação de impunidade com que a grande maioria dos elementos da chamada classe política, associada em partidos políticos, em todo o seu espectro, se relacionam com os sectores que deveriam ser os pilares de um estado forte, impoluto e garante dos direitos constitucionais e de todos os outros que fazem parte da chamada sociedade civil, diríamos que uma parte dessas condições estão criadas. Mas, não bastam as condições, porque estas se arrastam ao longo de muitos anos e o que acontece é que sistematicamente a grande maioria da população ofendida e cada vez mais desprezada, o continua a ser, e continua a acreditar nos falsos profetas e nos salvadores, ainda por cima, sendo actores que umas vezes vestem a pele de cordeiros, para logo a seguir vestirem a pele de lobo, sem ofensa para os pobres animais, que esses sim, lutam ou defendem-se conforme a natureza e o instinto lhes ensinou.

Estes filmes de 5ª categoria, já foram muitas vezes vistos e muitas vezes, os portugueses crentes na retórica enganadora e falsa, nela cairam, nas mesmas vezes se sentiram enganados, logo que o sistema de alternância voltou a funcionar, pedindo sempre mais sacrifícios, sempre aos mesmos e engordando um número cada vez maior de políticos incapazes e de todos os que se refastelam na grande mesa do chamado estado.
As eleições para a Presidência da República aproximam-se e perfilam-se candidatos, todos eles já conhecidos, todos eles com retaguardas mais ou menos poderosas, um com aspecto de senador sem senado, chegando a dizer, como se tivesse falado com Deus, entidade em que diz não acreditar, que se limitará a cumprir apenas um mandato, outro que abandonou o poder depois de um longo tabu, criando novamente outro, decerto aguardando ou observando os augures, os outros fazendo parte de um folclore, que dança conforme a música que os referidos anteriormente, forem tocando.

Então o que falta realmente aos portugueses depois das descrenças?

Falta-lhes a esperança!

Falta-lhes a voz e a energia que só pode ser dada por alguém que esteja fora de tudo o que faz parte de um sistema falido, sem capacidade de regeneração, porque as actores que existem, não são capazes de a fazer, nunca a fizeram, nunca a quiseram, porque a mentira, a ambição cega, e o nepotismo, são aquilo que os guia e sempre os guiou, sendo de facto uns causadores da desgraça a que chegou a nossa sociedade, alimentando a teia de interesses particulares, desprezando a Nação que juraram defender, olhando para o lado quando o deveriam fazer de frente, sendo os restantes sombras dos mesmos, mas acabando por viver das sobras do grande repasto em que se transformou o Estado e o País, nos vários poderes.

Cada vez mais, ainda em surdina, mas que se deverá transformar em clamor, as vozes dos que não têm voz, terá, deverá ser ouvida! Falo dos Portugueses, de todos os Portugueses e principalmente daqueles que têm o seu futuro e o futuro dos seus, hipotecados por uma geração de políticos que governa este país há cerca de 30 anos. O regime actual, por culpa de todos aqueles que se têm revezado no poder, como se de uma dança de cadeiras se tratasse, desprezaram a nação, como capatazes ao serviço de interesses que se misturaram de forma insidiosa e lenta, como um tumor de crescimento lento, que estendeu raízes em todos os sectores dos poderes, que deveriam e foram legalmente instituídos, mas de uma maneira apenas formal, com um conteúdo que tem destruído consciências e com elas o tecido social forte que deve ser uma nação, com orgulho próprio e não apenas uma figura de retórica, hoje utilizada apenas, ou melhor, não utilizada, porque não faz parte do vocabulário do politicamente correcto.

Os Portugueses, a sua consciência e o regime democrático, não são propriedade de ninguém em especial, não tem pais nem mães, como nos querem fazer crer, mas a verdade é que ao longo de todos estes dolorosos anos, foram subvertidos e corrompidos, sempre pelos mesmos, os pilares onde deve assentar uma sociedade ética e moralmente justa.

A responsabilidade é de todos, os que deveriam fazer respeitar o Estado, mas ao invés criaram uma teia de interesses, de cumplicidades e tráfico de influências, em que o termo corrupção é pouco para o definir, mas que de facto se instalou nos Orgãos de Soberania, através dos partidos políticos a nível nacional e local, arrastando consigo toda a sociedade, destruindo os sectores da chamada sociedade civil, sem excepção.

A responsabilidade é também de todos nós, que na labuta do dia a dia, fomos acreditando sempre no que nos diziam:

-Que estes eram melhores que os outros, e que os outros eram melhores que estes, não percebendo que afinal, eram sempre os mesmos e para o mesmo, ou seja o enriquecimento fácil através e por baixo da mesa do imenso Estado.
Pouco resta aos Portugueses, porque tudo lhes foi roubado;... até a esperança!
A oligarquia instalada nos poderes, reveza-se e autoproclamou, a alternância como o caminho a seguir, chamando-lhe alternância democrática, fazendo e desfazendo governos que apenas navegam à vista, sem planos e sem estratégias para o país, dependentes dos interesses que corrompem, tornando cada vez mais difícil as soluções, que podem, e devem levar a uma mudança de facto, que regenere toda a sociedade.

A justiça não pode fechar os olhos e não pode deixar de pagar as suas dívidas, não pode ser privilégio dos mais poderosos e estes não podem estar para além dela. O Estado e o sentido de Estado foi denegrido e paulatinamente dominado pela teia de interesses, que o foi enfraquecendo, resultando dele apenas uma ténue imagem, motivo de chacota lá fora, provocada pelos que hoje, se reclamam seus salvadores, esquecendo que as verdades e a podridão aparecem, logo que tomam as rédeas do poder, aparecendo no dia seguinte como actores de uma peça, com outro texto, não parando de incomodar o pobre, que faz de ponto.

Os que pouco têm, resta-lhes a coragem e a esperança e voltam a emigrar, graças a uma classe de empresários que apenas sabem gerir se não cumprirem os seus deveres, sendo poucos os que conseguem singrar e ter sucesso, sendo ainda, aqueles que mais perseguidos são, pelos que olham para o lado, quando o não deveriam fazer, que deixam andar, até que os prazos se cumpram, bastando para tal que lhes dêem algo em troca.

No ensino, as experiências pedagógicas mal sucedidas tornaram as escolas públicas, na sua grande maioria, fábricas de analfabetos funcionais, e os média acabaram por fazer o resto, criando um imenso exército de mão de obra não qualificada e sem aptidões, levando por arrastamento à criação de famílias cada vez mais disfuncionais, onde os mais fracos se tornam vítimas do sistema montado por gente sem escrúpulos, que apenas defendem um lugar ao sol, dado sem justificação, apenas porque pertencem a este, ou àquele grupo, ou nó da teia, para o efeito montada, pelos que se tornaram donos e senhores daquilo a que chamam de (sua) democracia.

O interior foi sendo cada vez mais abandonado, os campos e as florestas criminosamente destruídas com a complacência das chamadas autoridades, a agricultura destruída para benefício dos nossos vizinhos, que assim ganharam mais mercado e mais consumidores, situação idêntica à que se fez na indústria através de rios de subsídios não utilizados e não fiscalizados. Nas pescas, foram oferecidos os recursos às frotas espanholas, abatendo os nossos meios, pelos bons alunos de Bruxelas, e que pelos vistos querem voltar, decerto para novas aventuras e tabus, ou então para dar uma volta de tartaruga, mas cujas custas e costas, são de todos nós.

Perante todo este calvário que fazer?

Portugal tem solução?

Os Portugueses querem mudar, ou querem continuar a ser escravos desta gente que tomou de assalto o poder e que corrompeu tudo, até as consciências?

Os Portugueses não podem demitir-se de usar o que é seu por direito, a democracia!
Não podem demitir-se do direito a ser cidadãos inteiros, sem que para isso seja necessário estarem apoiados neste ou naquele partido político.

O regime democrático deve ter a capacidade de fazer nascer novos actores que apareçam livres dos tiques e dos vícios, de forma serena e sem sobressaltos, mas sempre com determinação.
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