sexta-feira, junho 23, 2006

Azambuja e Zaragoza

"O futuro da fábrica da Opel na Azambuja tem interpelado o país já que é sinal da nossa fraca competitividade e da insustentabilidade do nosso desenvolvimento industrial e da ameaça do desemprego para mais um significativo grupo de trabalhadores portugueses.

O que surpreende é a generalidade dos comentários ter apontado os salários laborais dos nossos trabalhadores como a causa do problema.

É evidente que no custo global de qualquer produto existe uma componente de mão-de-obra mas, designadamente na indústria automóvel, o apetrechamento tecnológico e, muito especialmente, as condições logísticas, têm influência prevalecente.

Esta explicação mostra, pois, que se desconhece o essencial que está a acontecer na indústria automóvel, tal como em outras (como a aeronáutica) onde o ‘out-sourcing’ é cada vez mais generalizado pelo que o valor dos componentes adquiridos e montados ultrapassa em muito os níveis habituais de 30 ou 40%.

Aos interessados em compreender esta realidade longe dos simplismos referidos, sugiro a consulta da tese de doutoramento em engenharia de sistemas com o título ”A importância da logística na indústria de fornecedores portugueses do sector automóvel”, defendida pelo colega Amílcar Arantes no IST.

Ora, este é que é o problema nacional já que muitos dos portos continuam a apresentar níveis de eficiência inferiores aos dos espanhóis, a inter-modalidade é mais fictícia do que real e os sistemas de transporte também são mais caros e ineficientes.

Será fácil viabilizar indústrias face à concorrência espanhola quando certos produtos sofrem aí um IVA de 7% e em Portugal de mais de 20% e quando o diferencial do preço dos combustíveis ou dos meios de transporte se tende a gravar?

Creio que este caso mostra bem a urgência de priorizar os investimentos públicos nas infra-estruturas logísticas o que, aliás, foi assumido corajosamente no Plano de Investimentos em Infra-Estruturas Prioritárias (PIIP) aprovado em Junho de 2006.

Mas não é menos urgente mudar o modelo de gestão das entidades que são responsáveis pelo funcionamento de tais infra-estruturas a fim de passarmos a poder viabilizar unidades industriais como a fábrica Opel.

Convém aqui recordar que Zaragoza é sede duma das principais plataformas logísticas europeias, bem localizada face ao centro da Europa e aos portos de Barcelona, Bilbao e Valência, incluindo 1200 ha (a área prevista no contrato de investimento assumido pela Administração do Porto de Sines no final de 2005 para a plataforma logística de Sines é de 12,3 ha). A plataforma de Zaragoza já congrega muitas dezenas de empresas, úteis ao cluster automóvel, criou mais de 10 mil empregos, inclui o MIT (Center for Transportation and Logistics) como parceiro universitário dos EUA e exigiu mais de 60% de investimento público, Serão as decisões da GM insensíveis a esta vantagem comparativa?

Em suma, este caso mostra bem que não tem qualquer fundamento o objectivo de defender o desenvolvimento da produção de bens transaccionáveis em Portugal sem defender o investimento público nas necessárias infra-estruturas logísticas e de comunicações, tal como ouvimos infelizmente a tantos críticos do PIIP
. "

Luís Valadares Tavares

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Coro de vergonha.
A questão dos impostos foi vendida a Espanha, não porque os espanhóis pedissem, mas porque os que governam o sítio o venderam e com estas e outras decisões destriem o tecido empresarial. Aqui entram os Opusianos e a maçonaria.
Cavaco Sliva, Manuela Ferreira Leite, Mário Soares e nepotes e depois os Ferristas, Guterristas e agora o cavalheiro de nariz de pinóquio foram responsáveis por enterrar este país. O PC mantém nas câmaras que detem um esquema de corrupção e tráfico de influências vergonhoso. Os do Bloco são cúmplices e estão integrados.

sexta-feira, junho 23, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Como é óbvio muito mais pesa na decisão dos investidores estrangeiros. Não é apenas o referido pelo articulista, que continua a não entender o problema no seu contexto global. A questão é tão só que o país não funciona. A Justiça, a Administração, etc. Veja-se a título de exemplo o que se passa actualmente com o famigerado regime do arrendamento urbano. Quando se apregoa a simplicidade de procedimentose mais não sei quantas atoardas, que na prática não funcionam, promove-se agora um regime complicadíssimo, que ninguém entende e, mais grave, traduz o mais violento ataque ao direito de propriedade jamis visto desde os tempos, de má memória, dos sovietes. è assim que o governo pretende estimular o investimento, mormente o estrangeiro? É assim que se vai revitalizar o mercado de arrendamento? É assim que se vai permitir a restauração do parque imoliário nacional, que está a cair aos bocados? Senor VAladares Tavares, desça ao mundo real e deixe-se de lamber as botas dos inquilinos da Gomes Teixeira. Então onde para a sua coluna vertebral?

sexta-feira, junho 23, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Claro q não são os baixos salários dos portugueses q inviabilizam a Opel! Mas a facilidade com q se entra em greve neste país, o número exagerado de feriados, a facilidade com que se entra de baixa, a dificuldade de as empresas se verem livres dos maus trabalhadores, ( tambem há disso embora ninguem queira admitir), o péssimo funcionamento da administração pública, da justiça, e do mais q " Manuel " refere, e dos imposos e taxas exagerados ( O IVA é escandaloso ), tudo isso fará fugir os investidores. Sem apelo!

sexta-feira, junho 23, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Não é nada fácil entender o contexto global, trata-se de um contexto sem regras, apenas acessível a especuladores sem escrúpulos. Um pouco mais difícil ainda, é compreender os investidores no mercado do arrendamento nacional por estes pensarem que esse tipo de negócio possa ser rentável num país onde o trabalho é pago miseravelmente, de reformados de desempregados onde muitas das reformas se tornaram irrisórias por vivermos nesse Estado sem Justiça. Conheço senhorios que investiram as suas economias em habitações para as arrendarem a fim de garantirem a sua reforma e estão exactamente na mesma situação daqueles que descontaram uma durante toda a sua vida de trabalho para a auferirem. Se o Senhor Manuel tivesse acesso à máquina do tempo talvez pudesse alterar as condições que geraram todas estas injustiças, e com um pouco de curiosidade histórica poderia ainda investigar porque tantas vezes foram congeladas as rendas. Haveria muito mais a dizer deste tipo de empresários e é pena que esta questão não tivesse sido mais discutida. Bata palmas à deslocação da Opel com a sua compreensão do contexto global e lamente-se do mercado do arrendamento não se revitalizar!

sexta-feira, junho 23, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Da parte do artigo que mais gostei, foi do 2º parágrafo,porque as causas não são os altos salários dos trabalhadores portugueses,dado que os portugueses, estão espalhados pelos 4 cantos do planeta e a informação via internet e outra encarrega-se de informar todo mundo,da miséria dos nossos trabalhadores, face á classe politica e dos seus amigos. Lá fora estão bem informados,dizer isso á cerca dos trabalhadores nacionais é pura manobra de diversão é só para encher o texto,como trabalho em relatórios de auditoria,eu diria, neste caso, tratar-se de uma colocação de algum nevoeiro no artigo

sexta-feira, junho 23, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Complemento: Portugal tem poucas greves (a Dinamarca, por exemplo, tem muito mais), Portugal tem um número de feriados mais ou menos normal no contexto europeu(o país com mais feriados é a Finlândia), Portugal tem um IVA longe de ser o maior da União Europeia, etc., etc. Ese tipo de discurso que até fugiu ao tema em discussão é cada vez mais habitual pois tenta convercer-nos de que somos umas bestas e tudo o que corre mal é por sermos umas bestas esquecendo que há razões estratégicas, internacionais (adesão à União Europeia e ao Euro) e outras que explicam os problemas (reais ou fictícios) com que nos debatemos.

sexta-feira, junho 23, 2006  

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