Rir do mal
"Dani Levy justifica o seu filme como uma tentativa de explicar a si próprio a razão que levou milhões de alemães a seguirem Hitler. Estreou na semana passada na Alemanha o filme ‘Mein Fuehrer: ‘The truly truest truth about Adolf Hitler’, realizado por Dani Levy, um suíço judeu. Segundo a imprensa, Levy justifica o filme com a tentativa de explicar a si próprio a razão que levou milhões de alemães a seguirem Hitler enquanto este mergulhava o país na guerra e perpetrava o Holocausto. Como? Realizando uma comédia em que o ‘Fuehrer’ é ridicularizado, ora brincando na banheira com um barquinho ora vestindo o seu cão com o uniforme nazi. Nada que Charlie Chaplin não tivesse já feito (O Grande Ditador, 1940), mas ainda assim capaz de levantar polémicas e reavivar fantasmas num país, e num mundo, que viveu a barbárie do Holocausto.
Em 1951, Hannah Arendt foi a primeira a tentar narrar e compreender o que havia acontecido, na sua obra “As origens do totalitarismo”. Como escreve a própria no prefácio datado de 1966: “Era, pelo menos, o primeiro momento em que se podia elaborar e articular as perguntas com as quais a minha geração havia sido obrigada a viver a maior parte da sua vida adulta: Que havia acontecido? Por que havia acontecido? Como pôde ter acontecido?” (Op. Cit., Dom Quixote, 2.º edição, p.xxx).
Para Arendt, o “totalitarismo”, o de Hitler e o de Estaline, é um “movimento” fundado na ideologia e no terror que leva a que em nome de uma suposta lei da História (marxismo) ou da Natureza (racismo) se cometam os maiores arbítrios, quebrando a distinção entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Assim, “ Os habitantes de um país totalitário são arremessados e mergulhados num processo da Natureza ou da História para que se acelere o seu movimento; como tal, só podem ser carrascos ou vítimas da sua lei inseparável.” ( Op. Cit, p.620).
Passados mais de sessenta anos sobre o Holocausto nazi, a Alemanha ainda procura a melhor forma de lidar com a sua memória de vítima e de carrasco. Alguns, como Dani Levy, preferem a terapia do riso e, pelos vistos, não está sozinho. Há um mês, realizou-se em Teerão, sob os hospícios do governo local, uma conferência sobre o Holocausto. Segundo Manouchehr Mottaki, por acaso Ministro dos Negócios Estrangeiros, tratou-se de um simpósio “científico, sem propósitos políticos”. A conferência contou com a presença de 67 “peritos” que na sua grande maioria negam o Holocausto. Só mesmo para rir."
Nuno Sampaio
Em 1951, Hannah Arendt foi a primeira a tentar narrar e compreender o que havia acontecido, na sua obra “As origens do totalitarismo”. Como escreve a própria no prefácio datado de 1966: “Era, pelo menos, o primeiro momento em que se podia elaborar e articular as perguntas com as quais a minha geração havia sido obrigada a viver a maior parte da sua vida adulta: Que havia acontecido? Por que havia acontecido? Como pôde ter acontecido?” (Op. Cit., Dom Quixote, 2.º edição, p.xxx).
Para Arendt, o “totalitarismo”, o de Hitler e o de Estaline, é um “movimento” fundado na ideologia e no terror que leva a que em nome de uma suposta lei da História (marxismo) ou da Natureza (racismo) se cometam os maiores arbítrios, quebrando a distinção entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Assim, “ Os habitantes de um país totalitário são arremessados e mergulhados num processo da Natureza ou da História para que se acelere o seu movimento; como tal, só podem ser carrascos ou vítimas da sua lei inseparável.” ( Op. Cit, p.620).
Passados mais de sessenta anos sobre o Holocausto nazi, a Alemanha ainda procura a melhor forma de lidar com a sua memória de vítima e de carrasco. Alguns, como Dani Levy, preferem a terapia do riso e, pelos vistos, não está sozinho. Há um mês, realizou-se em Teerão, sob os hospícios do governo local, uma conferência sobre o Holocausto. Segundo Manouchehr Mottaki, por acaso Ministro dos Negócios Estrangeiros, tratou-se de um simpósio “científico, sem propósitos políticos”. A conferência contou com a presença de 67 “peritos” que na sua grande maioria negam o Holocausto. Só mesmo para rir."
Nuno Sampaio
3 Comments:
Os alemães foram na maioria nazis,assim como os russos comunistas e os portugueses salazaristas(foram? quando o vejo o "não" acho que muitos ainda são..).Os povos são arrastados pelo fenómeno colectivo e o Zé Ninguem é manipulado.Faltou citar no artigo o papel das policias politicas e dos censores.Lá que eles "ajudam,ajudam..."
Vasco P Valente tambem abordou este tema (com lucidez) no Público do último domingo. A Historia não se explica fàcilmente. Nada que se pareça com o programa televisivo da escolha do melhor português. Gozar com Hitler não me parece bem. Tentar analisar e explicar (mais uma vez) o que se passou parecia-me melhor. Por exemplo um dado (muitas vezes negligenciado) que ajuda a explicar o apoio dos alemaes a Hitler foi o aparecimento da radio, que Hitler soube manejar muito bem.
A RFA e RDA, até 1989, cada uma, tutelada, de sua forma, estiveram (também pelas leis de desnazificação)impedidas de escreverem a sua história da Segunda Metade do Séc. XX, o que agora começam a fazer, apesar das leis de desnazificação continuarem na sua forma travestida de "leis contra o negacionismo..." O riso, mais, o só agora, acesso à documentação nazi ( a França ainda não autoriza o acesso aos documentos da deportação...! porque será?)e aos documentos do periodo sóvietico permitem uma Nova História da Alemanha alternativa à ideologia de Ialta e Nuremberg ( reedição deste ,agora no Iraque)Quanto a Hannah Arendt, justamente, proibida de entrar no Estado de Israel, por cuasa de não contar a história do nazismo na versão heroica( antes miserável, de miséria humana , a que chega também o judeu em condições extremas)do judeu...Os Estados Intervencionistas(totalitários, autoritários,a gosto dos ideologemas - comunista ou liberal)na sua versão Fascismo, Nazismo,Estado Novo, Estalinismo, foram (nos três primeiros) a resposta do Capital à falência do todo poderoso liberalismo em 1929... convém que as vestais do liberalismo não o esquecem ...e percebam "os Portugueses Ilustres..."
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