O “bom 2,1%” e o mau “2,1%”
"Embora seja desejável um crescimento da economia portuguesa, há que ter a devida perspectiva na interpretação do valor agora anunciado.
O INE publicou a 15 de Maio as suas novas “estimativas rápidas” para o PIB, apresentando uma taxa de crescimento real no primeiro trimestre de 2007 face a igual trimestre de 2006 de 2,1%. Rapidamente se fizeram ouvir comentários de agrado, como seria de esperar.
Embora seja certamente desejável um maior crescimento da economia portuguesa, há que ter a devida perspectiva na interpretação do valor agora anunciado. Por um lado, este valor para o crescimento real da economia vem inserido numa sequência ascendente, e nesse sentido reforça a percepção de uma recuperação em curso da actividade económica em Portugal.
Por outro lado, há que ter em atenção que este tipo de reacção, embora fácil e imediato, não permite ainda perceber a resposta à pergunta que é verdadeiramente importante e fundamental: conseguirá a economia portuguesa retomar uma taxa de crescimento média de longo prazo relativamente elevada?
O valor histórico de taxa de crescimento médio real da economia nacional, desde meados da década de 70 do século XX, andou ligeiramente acima dos 2,5% ao ano.
O grande receio, em termos económicos, dos últimos cinco anos é o de que tenha ocorrido uma alteração estrutural na economia portuguesa, com um abrandamento, senão mesmo estagnação, do crescimento da capacidade potencial da economia.
É, por isso, importante perceber a que corresponde este valor de 2,1%. Flutuações económicas, com períodos de maior e de menor crescimento, sempre têm existido. Essas flutuações, ou ciclos económicos, ocorrem em ternos de valores de potencial de crescimento de longo prazo da economia.
Tendo sido 2003 um ano de recessão, tal como sucedera dez e vinte anos antes em 1993 e 1983, a expectativa era a de uma recuperação da economia a partir desse momento. Os primeiros meses de 2004 ainda sugeriram que pudesse ser esse o caso. Porém, a partir de meados de 2004 e até ao último trimestre de 2005, houve um claro abrandamento da actividade económica. A tendência de maior crescimento desde então tem sido lenta, mas aparentemente sustentada.
Contudo, os valores deste último ano podem ter duas interpretações diferentes. A principal dúvida está em saber se o período 2004/2005 for particularmente fraco em termos de crescimento económico por causa das políticas económicas seguidas previamente, retomando-se agora um ritmo histórico de crescimento do PIB, ou se ocorreu uma mudança de potencial económico de longo prazo. Neste último caso, os valores actualmente observados seriam apenas as flutuações da parte “alta” do ciclo económico em torno de uma tendência de crescimento mais baixa. As informações actualmente disponíveis não permitem fazer uma escolha por uma das duas interpretações: crescimento conjuntural ou crescimento estrutural?
O facto de aparentemente este crescimento se encontrar alicerçado num maior volume de exportações não é, em si mesmo, esclarecedor sobre este aspecto, tanto mais que o crescimento económico dos nossos principais parceiros comerciais continua a ser mais forte e “reboca” as exportações nacionais. Se este movimento de maior exportação for apenas conjuntural, também ele, então quando a actividade abrandar no resto da UE então a economia portuguesa também reduzirá o seu ritmo de crescimento. Numa interpretação alternativa, embora o crescimento das outras economias esteja a subir, o principal motivo do crescimento das exportações nacionais é a capacidade de penetrar em novos mercados, e vendendo produtos com maior valor. Ora, esta informação está provavelmente disponível, e parece poder distinguir qual a parcela de crescimento do PIB, gerado por maiores exportações, devida a mudanças estruturais no perfil exportador.
Caso se esteja num contexto como o descrito pela segunda possibilidade, o eventual optimismo que o valor de 2,1% gere será em breve substituído por desilusão. Importa, por isso, que haja mais informação sobre a forma adequada de “ler” o valor apresentado para a taxa de crescimento homologo do PIB. Não é certamente um exercício fácil de realizar, mas fazê-lo será certamente mais útil do que mera propaganda mediática. Estejamos atentos a saber se temos o “bom 2,1%” ou o mau “2,1%”."
Pedro Pita Barros
O INE publicou a 15 de Maio as suas novas “estimativas rápidas” para o PIB, apresentando uma taxa de crescimento real no primeiro trimestre de 2007 face a igual trimestre de 2006 de 2,1%. Rapidamente se fizeram ouvir comentários de agrado, como seria de esperar.
Embora seja certamente desejável um maior crescimento da economia portuguesa, há que ter a devida perspectiva na interpretação do valor agora anunciado. Por um lado, este valor para o crescimento real da economia vem inserido numa sequência ascendente, e nesse sentido reforça a percepção de uma recuperação em curso da actividade económica em Portugal.
Por outro lado, há que ter em atenção que este tipo de reacção, embora fácil e imediato, não permite ainda perceber a resposta à pergunta que é verdadeiramente importante e fundamental: conseguirá a economia portuguesa retomar uma taxa de crescimento média de longo prazo relativamente elevada?
O valor histórico de taxa de crescimento médio real da economia nacional, desde meados da década de 70 do século XX, andou ligeiramente acima dos 2,5% ao ano.
O grande receio, em termos económicos, dos últimos cinco anos é o de que tenha ocorrido uma alteração estrutural na economia portuguesa, com um abrandamento, senão mesmo estagnação, do crescimento da capacidade potencial da economia.
É, por isso, importante perceber a que corresponde este valor de 2,1%. Flutuações económicas, com períodos de maior e de menor crescimento, sempre têm existido. Essas flutuações, ou ciclos económicos, ocorrem em ternos de valores de potencial de crescimento de longo prazo da economia.
Tendo sido 2003 um ano de recessão, tal como sucedera dez e vinte anos antes em 1993 e 1983, a expectativa era a de uma recuperação da economia a partir desse momento. Os primeiros meses de 2004 ainda sugeriram que pudesse ser esse o caso. Porém, a partir de meados de 2004 e até ao último trimestre de 2005, houve um claro abrandamento da actividade económica. A tendência de maior crescimento desde então tem sido lenta, mas aparentemente sustentada.
Contudo, os valores deste último ano podem ter duas interpretações diferentes. A principal dúvida está em saber se o período 2004/2005 for particularmente fraco em termos de crescimento económico por causa das políticas económicas seguidas previamente, retomando-se agora um ritmo histórico de crescimento do PIB, ou se ocorreu uma mudança de potencial económico de longo prazo. Neste último caso, os valores actualmente observados seriam apenas as flutuações da parte “alta” do ciclo económico em torno de uma tendência de crescimento mais baixa. As informações actualmente disponíveis não permitem fazer uma escolha por uma das duas interpretações: crescimento conjuntural ou crescimento estrutural?
O facto de aparentemente este crescimento se encontrar alicerçado num maior volume de exportações não é, em si mesmo, esclarecedor sobre este aspecto, tanto mais que o crescimento económico dos nossos principais parceiros comerciais continua a ser mais forte e “reboca” as exportações nacionais. Se este movimento de maior exportação for apenas conjuntural, também ele, então quando a actividade abrandar no resto da UE então a economia portuguesa também reduzirá o seu ritmo de crescimento. Numa interpretação alternativa, embora o crescimento das outras economias esteja a subir, o principal motivo do crescimento das exportações nacionais é a capacidade de penetrar em novos mercados, e vendendo produtos com maior valor. Ora, esta informação está provavelmente disponível, e parece poder distinguir qual a parcela de crescimento do PIB, gerado por maiores exportações, devida a mudanças estruturais no perfil exportador.
Caso se esteja num contexto como o descrito pela segunda possibilidade, o eventual optimismo que o valor de 2,1% gere será em breve substituído por desilusão. Importa, por isso, que haja mais informação sobre a forma adequada de “ler” o valor apresentado para a taxa de crescimento homologo do PIB. Não é certamente um exercício fácil de realizar, mas fazê-lo será certamente mais útil do que mera propaganda mediática. Estejamos atentos a saber se temos o “bom 2,1%” ou o mau “2,1%”."
Pedro Pita Barros
2 Comments:
E pronto! Com uma dúzia de frases se desmonta o espectáculo governamental e se inculca algumam seriedade nas coisas. Obrigado e volte sempre!
Estou de acordo com o final.Falar de numeros agregados não explica o que se passa.Mas, a preguiça nacional é assim.Põe-se todos ao nivel do Telejornal:bocas e palpites.Têm a certeza que não é consumo e o crédito a puxar pelo PIB? Quais exportações?Auto-Europa?YDreams?Gasolinas?Cada coisa tem o seu significado..
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