Portugal e Espanha
"Se corrermos os principais diários espanhóis como o “El País” e o “ABC” percebemos como, dia-a-dia, acompanham o que se passa em Portugal.
É curioso repararmos no interesse que a comunicação social de Espanha, aqui e ali, dedica ao nosso país. De férias, não muito longe da fronteira, cruzo-me com o noticiário da TVE no horário nobre do primeiro sábado de Agosto. À minha curiosidade sobre as últimas do país vizinho respondem as imagens com uma reportagem de fundo sobre Portugal e o seu actual momento económico e social.
O exemplo não é único e ao contrário do que amiúde se diz não é assim tão invulgar. Para além de outras reportagens televisivas, se corrermos os principais diários espanhóis como o ‘El País’ e o ‘ABC’ percebemos como, dia-a-dia, acompanham o que se passa em Portugal. Claro que não é nova esta atenção entre vizinhos nem tão pouco fruto da globalização ou da evolução tecnológica de onde agora parece tudo surgir. A curiosidade, a afinidade e, igualmente, a conflitualidade são inerentes a esta condição.
No lado de cá da fronteira, recria-se por estes dias em Aljubarrota uma feira medieval, baseada num dos mais famosos factos da nossa História – a batalha de Aljubarrota. Este episódio, elevado à condição de mito nacional, não deixa de configurar muito do sentimento e do pensamento nacional português. Para Pedro Soares Martínez a Batalha de Aljubarrota é a “base da política externa portuguesa” ( 1992, “História Diplomática de Portugal”, Verbo, 2ª edição). Mas passados mais de seiscentos desta batalha continuará a ser assim? Como se entreolham hoje os dois países da Península Ibérica?
A “Espanha una, grande, e livre” de Franco deu lugar a um país onde as autonomias se afirmam num conjunto de pólos económicos e sociais, e muitos hoje preferem falar da “Espanha das nacionalidades”. O Portugal ‘orgulhosamente só’ de Salazar, apesar das crises conjunturais, integrou-se com sucesso na União Europeia e o desenvolvimento dos últimos trinta anos não passa despercebido aos que nos visitam.
Contudo, poderão as tradicionais desconfianças dar lugar a um clima de confiança e de cooperação, de genuíno interesse recíproco, onde o livre comércio, a iniciativa privada, a cultura, trespassam fronteiras, sem que com isso se tenha que estar a discutir recorrentemente a soberania nacional? Existem muitos sinais que vão nesse sentido, não só no mundo dos negócios, como numa realidade que é porventura menos notada – as regiões transfronteiriças. E, já agora, alguma conflitualidade, sem necessidade de chegarmos às míticas padeiradas, mas no sentido de uma saudável competição e concorrência mútua só nos poderá ajudar no quadro global."
Nuno Sampaio
É curioso repararmos no interesse que a comunicação social de Espanha, aqui e ali, dedica ao nosso país. De férias, não muito longe da fronteira, cruzo-me com o noticiário da TVE no horário nobre do primeiro sábado de Agosto. À minha curiosidade sobre as últimas do país vizinho respondem as imagens com uma reportagem de fundo sobre Portugal e o seu actual momento económico e social.
O exemplo não é único e ao contrário do que amiúde se diz não é assim tão invulgar. Para além de outras reportagens televisivas, se corrermos os principais diários espanhóis como o ‘El País’ e o ‘ABC’ percebemos como, dia-a-dia, acompanham o que se passa em Portugal. Claro que não é nova esta atenção entre vizinhos nem tão pouco fruto da globalização ou da evolução tecnológica de onde agora parece tudo surgir. A curiosidade, a afinidade e, igualmente, a conflitualidade são inerentes a esta condição.
No lado de cá da fronteira, recria-se por estes dias em Aljubarrota uma feira medieval, baseada num dos mais famosos factos da nossa História – a batalha de Aljubarrota. Este episódio, elevado à condição de mito nacional, não deixa de configurar muito do sentimento e do pensamento nacional português. Para Pedro Soares Martínez a Batalha de Aljubarrota é a “base da política externa portuguesa” ( 1992, “História Diplomática de Portugal”, Verbo, 2ª edição). Mas passados mais de seiscentos desta batalha continuará a ser assim? Como se entreolham hoje os dois países da Península Ibérica?
A “Espanha una, grande, e livre” de Franco deu lugar a um país onde as autonomias se afirmam num conjunto de pólos económicos e sociais, e muitos hoje preferem falar da “Espanha das nacionalidades”. O Portugal ‘orgulhosamente só’ de Salazar, apesar das crises conjunturais, integrou-se com sucesso na União Europeia e o desenvolvimento dos últimos trinta anos não passa despercebido aos que nos visitam.
Contudo, poderão as tradicionais desconfianças dar lugar a um clima de confiança e de cooperação, de genuíno interesse recíproco, onde o livre comércio, a iniciativa privada, a cultura, trespassam fronteiras, sem que com isso se tenha que estar a discutir recorrentemente a soberania nacional? Existem muitos sinais que vão nesse sentido, não só no mundo dos negócios, como numa realidade que é porventura menos notada – as regiões transfronteiriças. E, já agora, alguma conflitualidade, sem necessidade de chegarmos às míticas padeiradas, mas no sentido de uma saudável competição e concorrência mútua só nos poderá ajudar no quadro global."
Nuno Sampaio

2 Comments:
E coisa fica melhor, com o baixo custo da gasolina e a boa assistencia médica no "lado de lá".Caiu-se na real..(com excepçãp dos "amigos de Olivença",que não dos oliventinos..)
Só sei é o o El Pais ao domingo custa 2.45€ e o Expresso 2.80€. Agora resumir a História de Portugal à batalha de Aljubarrota é...típico das notícias de Verão ! E as notícias sobre Portugal...resumem-se à novela da Praia da Luz e a um ou outro "qui pro quo" dos lusos futebolistas emigrados. Safa-se o marido da Pilar ...
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