quinta-feira, setembro 06, 2007

Cara pálida

"Recém-chegado ao Governo, Rui Pereira foi a cara do Governo nestas férias. Uma cara pálida. Com tão pouco tempo de Executivo, aquele que é o mais rápido ex-juiz do Tribunal Constitucional teve esta semana três intervenções no mínimo infelizes. Como se já não lhe bastasse o ar.

Primeiro, chamado à Assembleia da República para explicar o porquê de significativa parte dos meios aéreos de combate aos incêndios comprados por este Governo não estarem em condições de levantar voo por questões burocráticas, o ministro replicou que (pasme-se!...) nem é preciso, porque Portugal tem meios aéreos «em excesso». Em excesso? António Costa deve ter ficado de orelhas a arder e a cuspir fogo. Então sempre houve falta de meios aéreos, o Governo até encomendou um estudo sério para avaliação das necessidades do país e o Estado endividou-se a comprar Berieves e helicópteros e vem agora o seu sucessor (que nem chamuscado ficou com as poucas chamas deste Verão e já se deve ter esquecido daquele ano fatídico que ia estragando as férias de José Sócrates no Quénia) dizer que há meios a mais???

Vá lá que Rui Pereira o desculpou com os atrasos na certificação da empresa que ficou com os helicópteros a cargo, dizendo que dois anos nem sequer é muito para tratar de semelhante processo.

Segundo, as noites sicilianas no Porto. Estão as polícias preocupadas com o crescendo de violência nocturna na capital do Norte e o que diz o ministro? Que não há que recear pela segurança, porque Portugal tem das melhores rácios de agentes por habitantes «da Europa e do mundo». Valeu de muito ao empresário portuense que levou um tiro na cabeça!...

O problema da violência nocturna não se resolve com o mero reforço da vigilância nalguns espaços do Porto e de Lisboa (já agora, por que ficou de fora o Algarve? Este ano, as noites algarvias foram cenário de inúmeros problemas em casas ou espaços classificados como sendo de diversão – a título de exemplo, a acrescentar a outros tantos já aqui citados há duas semanas e muitos mais citáveis, ainda numa das madrugadas do fim-de-semana passado a GNR interveio na Oura com chocante violência).

Não chega a Polícia andar por aí. O Governo tem de fazer muito mais do que aumentar as rondas e refugiar-se em estatísticas ocas ou na clássica história dos brandos costumes. É preciso legislação adequada e acção eficaz. Desde logo, encurtar os horários e as condições de funcionamento da maior parte dos locais abertos de madrugada e apertar a vigilância aos seguranças privados (muitos sem a mínima qualificação) e às empresas do sector que proliferam como cogumelos. Neste particular, uma nota: vem de há tempos a discussão sobre a possibilidade de os seguranças privados terem licença para andarem armados – dêem-lhes as armas e a noite (e o dia) ainda passa das guerras sicilianas a coboiadas do faroeste.

Terceiro, a lei dos imigrantes. Como a lei da nacionalidade (que atafulhou os Registos Centrais), também a nova lei da imigração deixou os funcionários do SEF sem mãos a medir. Desta feita, Rui Pereira não perdeu tempo e avançou com a regulamentação da lei em poucas semanas para apagar os fogos e impedir males maiores. Os buracos da lei eram evidentes, mas o Governo só agora atalhou.

Introduziu uma ‘entrevista pessoal’ como forma de evitar regularizações abusivas ou até mesmo, disse o ministro, criminosas. Às críticas da Oposição, Rui Pereira, desta vez, retorquiu que este Governo não se fica pela «conversa» e antes vai directamente à «prática». Não se fica pela conversa? Então o que é uma entrevista pessoal? Na prática, conversa.

Apesar de bafejado pela sorte do tempo, que o livrou dos incêndios, e ainda que conte com a confiança de Luís Filipe Menezes (ver CM de ontem), o ministro da Administração Interna não teve um Verão fácil. O milho de Silves fez bem as vezes dos touros de Barrancos e a inexperiência ou inabilidade política tratou do resto.

Rui Pereira não está há tempo suficiente no Governo para precisar de férias, nem tempo esteve no Palácio Ratton que justifique descanso. Mas que devia aparecer menos, lá isso devia. Vale-lhe que a rentrée está aí
."

MRamires

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