quarta-feira, maio 14, 2008

CAUSAS DELA

"O ciclone que devastou a Birmânia levou Al Gore a culpar o "aquecimento global" e Ana Gomes a exigir intervenção abrupta no país. No primeiro caso, nenhuma surpresa. Tudo, desde o fecho da General Motors da Azambuja a Josef Fritzl, pode, com jeitinho, ser atribuído ao "aquecimento global". E uns largos milhares de mortos vêm a calhar para subir o cachet das palestras do sr. Gore.

O segundo caso é mais complicado. No blogue Causa Nossa, Ana Gomes invectiva a ONU, as "ONG humanitárias" e os "media internacionais" a entrarem "de roldão" na Birmânia, a fim de ajudar as vítimas e, depois, "escorraçar a junta opressora" e implantar a "democracia" e o "desenvolvimento". Para evitar atrasos e mariquices diplomáticas, a dra. Ana Gomes avisa que a invasão tem de se realizar "por todas as portas e janelas" e, cito, "com ou sem resolução do Conselho de Segurança da ONU".

Por mim, acho óptimo que meio mundo penetre a Birmânia pelas portas, janelas, varandas e chaminés disponíveis. Limito-me a recordar que a junta de Rangum talvez não aprecie a generosa ingerência. Sobretudo, talvez não aprecie ser escorraçada, coisa que alguns tiranos estão longe de aceitar com desportivismo. Em última instância, portanto, as urgentes recomendações da dra. Gomes implicam, assaz simplesmente, uma guerra. Para cúmulo, uma guerra eventualmente iniciada sem o aval das Nações Unidas, sem garantias de que o povo birmanês receba os estrangeiros com flores e sem certezas de que, no epílogo da história, a democracia e o desenvolvimento brilhem como o sol nascente (sem conexões com Timor).

Se calhar estou a fazer confusão, mas sou capaz de jurar que a dra. Ana Gomes se opunha com furioso vigor a aventuras unilaterais do género. E que há uns cinco anos marchou em público contra os "criminosos" (continuo a citar a senhora) que entraram de roldão no Iraque. O que mudou entretanto? Ou, dito de outra maneira, o que tem a Birmânia que o Iraque não tinha? Um governo totalitário? Um povo oprimido? Minorias esmagadas? Discriminação religiosa? Práticas regulares de tortura? Não, não, não, não e não. A única diferença que me ocorre é a tal influência do "aquecimento global", argumento que, para sua impopularidade, a Cimeira dos Açores não se lembrou de invocar e que, ao invés do que sucede com as armas de destruição maciça, não necessita de prova. Também há a hipótese de ter sido a dra. Gomes a mudar, mas nessas ciências esotéricas não me meto. O tarot e as "alterações climáticas" chegam-me
."

Alberto Gonçalves

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