Falar verdade (4)
"O nível de vida sustentado de uma sociedade depende basicamente do nível de produtividade da sua economia e da sua capacidade de atrair investimento para utilizar os recursos laborais disponíveis. Nos últimos 10 anos, Portugal tornou-se um pouco mais rico, em termos absolutos: 10%, se medido pelo PIB ou 7%, se medido pelo PNB (variável tornada mais relevante).
Somewhere over the rainbow / Bluebirds fly / Birds fly over the rainbow / Why then, oh why can’t I?
Over the Rainbow Judy Garland
O nível de vida sustentado de uma sociedade depende basicamente do nível de produtividade da sua economia e da sua capacidade de atrair investimento para utilizar os recursos laborais disponíveis.
Nos últimos 10 anos, Portugal tornou-se um pouco mais rico, em termos absolutos: 10%, se medido pelo PIB ou 7%, se medido pelo PNB (variável tornada mais relevante). No entanto, os nossos parceiros europeus, em média, enriqueceram mais depressa, pelo que, em termos relativos, nos tornámos mais pobres do que eles uns 7%. Isto pode divergir da nossa percepção da realidade porque entretanto nos habituámos, como sociedade, a viver uns 8%, em média, acima das nossas possibilidades, endividando-nos continuamente. E o nosso desemprego também cresceu mais que a média europeia.
O aumento sustentado da produtividade (que não é apenas quantidade, mas qualidade, e não abrange só o factor trabalho) e as condições para atrair investimento têm, portanto, que constituir o centro da política económica (e da política tout court), a médio-longo prazo, se quisermos garantir o actual nível de vida, melhorá-lo de forma sustentada e aproximar-nos dos melhores níveis europeus.
Não há receitas fáceis nem precisas para o efeito, tanto mais que esses objectivos não dependem apenas do âmbito estritamente económico. Além disso, os resultados podem ser demorados e a sua ligação às acções que os originam pode não ser muito linear, pelo que, por vezes, é fácil perder o rumo do objectivo. É necessária persistência.
A eficiência da economia como um todo, não depende apenas da organização do trabalho nas empresas. Depende também, muito, da envolvente em que aquelas funcionam. É através desta que as empresas interagem com a sociedade – que disponibiliza o capital humano (pessoas e qualificações) e reflecte a sua cultura e valores (através das atitudes, do nível de confiança e das perversões, como a corrupção, por exemplo). E interagem com o Estado – que proporciona o quadro legal e regulamentar e assegura a sua aplicação, que garante a justiça e a segurança, define a fiscalidade e assegura as infra-estruturas fundamentais. São estas interacções que produzem aquilo que se convencionou chamar de "custos de contexto" e que podem ser um facilitador ou "dificultador" na transformação da eficiência das empresas em valor social.
No nosso caso e como se sabe, os "custos de contexto" têm sido um importante "dificultador", pelo que é sobre o seu alívio, criando instituições mais eficientes, que tem que incidir a acção governativa. Se só fizer isso, mas o fizer de forma decidida, qualquer governo já terá justificado historicamente a sua existência.
Há, pois, que actuar persistentemente em três frentes fundamentais: a) cultura (crenças, valores, atitudes, normas e práticas sociais); b) qualificações dos recursos humanos; e c) instituições (onde se incluem as organizações, os incentivos, as regras e os procedimentos instituídos).
As componentes culturais – idiossincrasias próprias de um povo – não são facilmente modificáveis num curto horizonte temporal. Mas as mais adversas podem e devem de ser combatidas através de incentivos e penalidades apropriados: incumprimento de horários e prazos, fuga ao cumprimento das regras e obrigações, falta de organização e planeamento (tendência para o "desenrascanço"), complacência com a mediocridade e a má qualidade, etc.
Na qualificação dos recursos humanos, há algumas acções imediatas que podem ajudar, como por exemplo: i) formação profissional; ii) formação técnica, dirigida e certificada, prestada em colaboração com empresas, para quem tenha acabado o ensino obrigatório; iii) aperfeiçoamento do sistema de "novas oportunidades", tornando mais exigente as condições de certificação e alargando o seu âmbito à formação superior, permitindo que a experiência profissional seja valorizada e certificada para o acesso a pós-graduações certificadas. Mas o que de mais fundamental há a fazer só produzirá resultados a prazo mais longo e requer uma mudança radical na filosofia do sistema de educação.
Todavia, é na administração pública e no que se convencionou chamar de "instituições" que se podem, e devem, conseguir mudanças num horizonte mais curto."
Vítor Bento
Somewhere over the rainbow / Bluebirds fly / Birds fly over the rainbow / Why then, oh why can’t I?
Over the Rainbow Judy Garland
O nível de vida sustentado de uma sociedade depende basicamente do nível de produtividade da sua economia e da sua capacidade de atrair investimento para utilizar os recursos laborais disponíveis.
Nos últimos 10 anos, Portugal tornou-se um pouco mais rico, em termos absolutos: 10%, se medido pelo PIB ou 7%, se medido pelo PNB (variável tornada mais relevante). No entanto, os nossos parceiros europeus, em média, enriqueceram mais depressa, pelo que, em termos relativos, nos tornámos mais pobres do que eles uns 7%. Isto pode divergir da nossa percepção da realidade porque entretanto nos habituámos, como sociedade, a viver uns 8%, em média, acima das nossas possibilidades, endividando-nos continuamente. E o nosso desemprego também cresceu mais que a média europeia.
O aumento sustentado da produtividade (que não é apenas quantidade, mas qualidade, e não abrange só o factor trabalho) e as condições para atrair investimento têm, portanto, que constituir o centro da política económica (e da política tout court), a médio-longo prazo, se quisermos garantir o actual nível de vida, melhorá-lo de forma sustentada e aproximar-nos dos melhores níveis europeus.
Não há receitas fáceis nem precisas para o efeito, tanto mais que esses objectivos não dependem apenas do âmbito estritamente económico. Além disso, os resultados podem ser demorados e a sua ligação às acções que os originam pode não ser muito linear, pelo que, por vezes, é fácil perder o rumo do objectivo. É necessária persistência.
A eficiência da economia como um todo, não depende apenas da organização do trabalho nas empresas. Depende também, muito, da envolvente em que aquelas funcionam. É através desta que as empresas interagem com a sociedade – que disponibiliza o capital humano (pessoas e qualificações) e reflecte a sua cultura e valores (através das atitudes, do nível de confiança e das perversões, como a corrupção, por exemplo). E interagem com o Estado – que proporciona o quadro legal e regulamentar e assegura a sua aplicação, que garante a justiça e a segurança, define a fiscalidade e assegura as infra-estruturas fundamentais. São estas interacções que produzem aquilo que se convencionou chamar de "custos de contexto" e que podem ser um facilitador ou "dificultador" na transformação da eficiência das empresas em valor social.
No nosso caso e como se sabe, os "custos de contexto" têm sido um importante "dificultador", pelo que é sobre o seu alívio, criando instituições mais eficientes, que tem que incidir a acção governativa. Se só fizer isso, mas o fizer de forma decidida, qualquer governo já terá justificado historicamente a sua existência.
Há, pois, que actuar persistentemente em três frentes fundamentais: a) cultura (crenças, valores, atitudes, normas e práticas sociais); b) qualificações dos recursos humanos; e c) instituições (onde se incluem as organizações, os incentivos, as regras e os procedimentos instituídos).
As componentes culturais – idiossincrasias próprias de um povo – não são facilmente modificáveis num curto horizonte temporal. Mas as mais adversas podem e devem de ser combatidas através de incentivos e penalidades apropriados: incumprimento de horários e prazos, fuga ao cumprimento das regras e obrigações, falta de organização e planeamento (tendência para o "desenrascanço"), complacência com a mediocridade e a má qualidade, etc.
Na qualificação dos recursos humanos, há algumas acções imediatas que podem ajudar, como por exemplo: i) formação profissional; ii) formação técnica, dirigida e certificada, prestada em colaboração com empresas, para quem tenha acabado o ensino obrigatório; iii) aperfeiçoamento do sistema de "novas oportunidades", tornando mais exigente as condições de certificação e alargando o seu âmbito à formação superior, permitindo que a experiência profissional seja valorizada e certificada para o acesso a pós-graduações certificadas. Mas o que de mais fundamental há a fazer só produzirá resultados a prazo mais longo e requer uma mudança radical na filosofia do sistema de educação.
Todavia, é na administração pública e no que se convencionou chamar de "instituições" que se podem, e devem, conseguir mudanças num horizonte mais curto."
Vítor Bento
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