A soberba dos políticos
"Na literatura económica há páginas e páginas sobre a capacidade dos políticos arrasarem com a economia.
Com as suas decisões são parte do problema e não da solução. O exemplo académico clássico assenta na miopia. Como querem ganhar eleições, preferem adoptar medidas de curto prazo mais populista, prejudicando muitas vezes o desenvolvimento estrutural do país.
Os últimos acontecimentos da grave crise parecem dar razão aos defensores da tese. Com o sistema financeiro mundial à beira do precipício, os políticos norte-americanos preferiram ter um debate filosófico e moral em torno do plano Paulson. Para os democratas, sabia a pouco. Eram precisas mais medidas para proteger os mais desfavorecidos. Para os republicanos, passava das marcas. O dinheiro dos contribuintes não serve para salvar os gestores que adoptam más decisões. Todos têm razão – o plano é imperfeito e tem muito para ser melhorado. Mas no momento errado. Quando a casa está a arder, apaga-se o incêndio, não se deixa arder enquanto se discute quem tem a culpa.
Por isto, os mercados mostraram-se surpreendidos pela decisão do Congresso de segunda-feira e demonstraram bem o seu desespero. E pânico. Enquanto isto, os políticos continuam a conversar.
Mas a irresponsabilidade não é uma característica exclusiva dos políticos do outro lado do Atlântico. Por cá, não faltam exemplos de soberba. Esta crise financeira rebentou em Agosto de 2007 e rapidamente se percebeu que era global. O sistema financeiro há muito que deixou de ter fronteiras. É um problema de todos. Os políticos europeus achavam que não. Quando o secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, apresentou o seu polémico plano, sugeriu que os europeus também preparassem a sua estratégia de ataque. A resposta foi: não, obrigado. O porta-voz da Comissão Europeia, um ministro inglês e Angela Merkel afirmaram que a Europa não tinha problemas tão grandes. Pois bem, nos últimos três dias, as autoridades europeias tiveram de salvar cinco bancos da falência. E a Comissão Europeia está agora a estudar o seu plano contra a crise.
Esta classe política não vai ficar bem na fotografia perante tantas hesitações, erros de avaliação e falhanços no ataque à crise. Face a tanta indecisão, é um milagre que o sistema financeiro ainda não tenha colapsado e a economia mundial não tenha caído em recessão. Esta crise é diferente das outras. Portanto, é preciso ter cuidado nas comparações históricas. Mas há algo que não muda: sem grandes líderes não se resolvem os grandes problemas. Alguém viu algum por aí ultimamente? "
Bruno Proença
Com as suas decisões são parte do problema e não da solução. O exemplo académico clássico assenta na miopia. Como querem ganhar eleições, preferem adoptar medidas de curto prazo mais populista, prejudicando muitas vezes o desenvolvimento estrutural do país.
Os últimos acontecimentos da grave crise parecem dar razão aos defensores da tese. Com o sistema financeiro mundial à beira do precipício, os políticos norte-americanos preferiram ter um debate filosófico e moral em torno do plano Paulson. Para os democratas, sabia a pouco. Eram precisas mais medidas para proteger os mais desfavorecidos. Para os republicanos, passava das marcas. O dinheiro dos contribuintes não serve para salvar os gestores que adoptam más decisões. Todos têm razão – o plano é imperfeito e tem muito para ser melhorado. Mas no momento errado. Quando a casa está a arder, apaga-se o incêndio, não se deixa arder enquanto se discute quem tem a culpa.
Por isto, os mercados mostraram-se surpreendidos pela decisão do Congresso de segunda-feira e demonstraram bem o seu desespero. E pânico. Enquanto isto, os políticos continuam a conversar.
Mas a irresponsabilidade não é uma característica exclusiva dos políticos do outro lado do Atlântico. Por cá, não faltam exemplos de soberba. Esta crise financeira rebentou em Agosto de 2007 e rapidamente se percebeu que era global. O sistema financeiro há muito que deixou de ter fronteiras. É um problema de todos. Os políticos europeus achavam que não. Quando o secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, apresentou o seu polémico plano, sugeriu que os europeus também preparassem a sua estratégia de ataque. A resposta foi: não, obrigado. O porta-voz da Comissão Europeia, um ministro inglês e Angela Merkel afirmaram que a Europa não tinha problemas tão grandes. Pois bem, nos últimos três dias, as autoridades europeias tiveram de salvar cinco bancos da falência. E a Comissão Europeia está agora a estudar o seu plano contra a crise.
Esta classe política não vai ficar bem na fotografia perante tantas hesitações, erros de avaliação e falhanços no ataque à crise. Face a tanta indecisão, é um milagre que o sistema financeiro ainda não tenha colapsado e a economia mundial não tenha caído em recessão. Esta crise é diferente das outras. Portanto, é preciso ter cuidado nas comparações históricas. Mas há algo que não muda: sem grandes líderes não se resolvem os grandes problemas. Alguém viu algum por aí ultimamente? "
Bruno Proença
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