segunda-feira, dezembro 22, 2008

Dois tiros na água

“As palavras de Pinto Monteiro foram levadas pelo vento, Constâncio continua no lugar e os corruptos podem dormir em paz”
A poucos dias do Natal é natural que os indígenas andem preocupados com a quadra, a noite familiar, os presentinhos, os cartões de crédito, as notícias da crise, os fechos de empresas, as quedas das Bolsas, os golpes financeiro, e façam as contas ao que aí vem em 2009, com muitos Cabos Bojadores cheios de perigos e tempestades em que muitos irão naufragar.
É verdade que os tempos presentes são do salve-se quem puder e o futuro é cada vez mais uma lotaria.
Mas é verdade também que esta conjuntura violenta poderia ser aproveitada para se fazerem rupturas, procurar dizer umas tantas verdades, acabar com certos tabus e pôr o dedo em muitas das feridas que têm andado escondidas nestes anos de democracia. Mas não. A vidinha neste sítio manhoso, pobre, deprimido, hipócrita e cada vez mais mal frequentado continua pior do que nunca, com as mesmas misérias e os mesmos miseráveis.
A vidinha continua a ser dominada por gente medíocre que tem medo da sombra e passa a vida a varrer das agendas os temas que podem ser verdadeiramente perigosos para os seus interesses e privilégios, a maior parte das vezes ilegítimos.
As grandes discussões destes últimos dias centraram-se na eventualidade de uma Esquerda marxista, leninista, estalinista e trotskista entrar no arco governamental e no voto vergonhoso dos senhores deputados que aprovaram o Estatuto dos Açores.
As palavras de Pinto Monteiro, procurador-geral da República, no Parlamento, foram rapidamente esquecidas, com toda a gente a fingir que o responsável máximo do Ministério Público não disse nada de relevante, merecedor de um amplo debate e, mais do que isso, de um verdadeiro levantamento nacional contra o estado a que as coisas chegaram no sítio.
No seu estilo directo, Pinto Monteiro apenas afirmou que o governador do Banco de Portugal foi alertado em 2004 para uma grande fraude internacional envolvendo o BPN e o famoso Banco Insular de Cabo Verde e nada fez para colaborar com as autoridades na descoberta dos autores desse crime económico.
E disse aos senhores deputados, que aprovam as leis e são os primeiros responsáveis pela Justiça, que o Ministério Público não tem capacidade para combater a corrupção e os crimes de colarinho branco.
Nada de importante, nada de relevante.
As palavras de Pinto Monteiro foram levadas pelo vento, Constâncio continua no lugar e os corruptos podem dormir em paz. Bom Natal para todos.

António Ribeiro Ferreira, Jornalista

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Claro que o governador do Banco de Portugal tem de ter um carro de serviço. Podia ser mais barato? Podia ! Mas não é por aí.
As obrigações legais de regulador atento, preventivo e actuante, é que contam para o julgamento da opinião pública. E aí que ele lesa o país, e em muito mais de 66.000 euros.
E não descarreguem tudo sobre ele, por ele estar agora na mira dos media, e por atravessarmos uma crise.
ISTO SEMPRE FOI ASSIM, COM TODOS OS PARTIDOS QUE SE SENTARAM EM CARGOS POLÍTICOS, QUER NO GOVERNO, NAS EMPRESAS PÚBLICAS, ETC. ETC., e quem vem a seguir já não se quer sentar no carro do anterior, troca logo independentemente se há leasing ou não. Podia referir inúmeros casos.
NINGUÉM ESTÁ INOCENTE !!
Mas estávamos nos tempos das "vacas gordas". Portanto estas críticas vem muito atrasadas.
Já agora aconselho os comentaristas a pesquisarem na NET as diferença entre:
LEASING, ALD e RENTING.
Grande confusão que vai nessas cabeças !

segunda-feira, dezembro 22, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Não está certo e deveria haver medidas restritivas para tudo o que é Estado. Por exemplo, o parque de viaturas da autarquia onde vivo (ligeiros, passageiros e mercadorias, pesados, etc.), além de ostensivamente numeroso, parece ser renovado mais vezes que o do Constâncio. Este desperdício multiplicado pelas 303 autarquias quantas dezenas de milhar de BMWs 525TD comprariam? (A empresa que construiu o meu pequeno jardim, pertencia a um funcionário camarário que usava os empregados e viaturas municipais durante as horas de serviço, além de, supostamente, ferramentas, plantas e produtos da mesma origem).
Mas há muito mais para assunto de notícia, quase sempre ignorado. Consideremos o nº normal de juízes (em relação à média Europeia) - 4 vezes menos que o nosso - paguemos o vencimento médio Europeu indexado ao PIB - O que pouparíamos compraria dezenas de milhar de BMWs. Consideremos o nº normal de professores - metade dos nossos - paguemos o vencimento médio Europeu indexado ao PIB. A poupança pagaria dezenas de milhar de BMWs. Paguemos aos médicos dos hospitais a média Europeia indexada ao PIB, segundo a produtividade (nº de operações, nº de consultas, etc.). A economia conseguida pagaria dezenas de milhar de BMWs. Nas forças armadas e polícias, as poupanças seriam ao mesmo nível (Há 5 anos, contratei um detective privado. Apercebi-me depois tratar-se do chefe da esquadra da PSP da sede do município contíguo. Os seus dois colaboradores também trabalhavam naquela esquadra). Pagamos estas dezenas e dezenas de milhar de BMWs; nós e OS NOSSOS FILHOS, já que o desperdício é de tal forma descontrolado que penalizará fortemente a qualidade de vida das próximas gerações de Portugueses. Este desperdício é, na realidade, o factor mais importante na falta de competitividade das pequenas e médias empresas em Portugal. Muitas delas não conseguem suportar o peso fiscal, segurança social, etc. e fecham. Algumas, apesar de pequenas, acabam por investir na produção fora de portas. Quanto às grandes ou multinacionais, já se sabe que não aceitam pagar mas têm a capacidade de negociarem regimes especiais. Se não o conseguem, deslocalizam.
Só há uma solução para este lastimavel lamentavel estado de coisas a que chegámos! Não pagarmos as largas dezenas de milhar de BMWs que continuam a endividar-nos a nós e aos nossos filhos, sem nos darem qualquer retorno. Mais uma vez e sobretudo neste caso, comparemo-nos com a Espanha. O Estado Espanhol gasta 20 % menos que o Português. Isto é enorme! E os Espanhóis sabem bem que têm de contrair ainda e bastante mais.
Apesar disto, há gente que, por ignorância ou por má fé, diz à boca cheia que Portugal não gasta o suficiente na Saúde e na Educação. Consciençializemo-nos duma coisa. Os problemas graves que temos na Saúde ou na Educação não são devidos à falta de dinheiro, mas sim à falta de trabalho e competência. Se falta dinheiro para a manutenção das escolas, é porque pagamos demais em ordenados. Este é um exemplo real. Nós, Portugueses pagamos, pagamos muito, pagamos mais que os outros países! Nós, Portugueses temos o direito de exigir muito mais, pelo menos tanto como o que os outros têm dos seus Estados e que nós estamos tão longe de conseguir.
Enquanto isto, preocupamo-nos com o carro do Constâncio.

segunda-feira, dezembro 22, 2008  
Anonymous Anónimo said...

O Sr. Governador já disse que agora é preciso é gastar. Até foi de opinião, e muito bem, que o Governo não devia baixar os impostos porque os portugueses ainda se punham a poupar em vez de gastar. Estes portugueses não percebem nada de macro economia, agora com a crise é preciso é gastar e como a industria automóvel está em crise devíamos todos comprar carro novo, e como os Senhores Governantes sabem que alguns dos portugueses não o vão fazer por ignorância sobre economia, foi resolvido comprar um que valesse por quatro. Assim há pelo menos três portugueses que já podem ficar despreocupados com esse investimento. Cabecinhas pensadoras não há por aí aos pontapés.

segunda-feira, dezembro 22, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Reconheço a minha ignorância relativamente às reais competências e responsabilidades do Banco de Portugal e do seu Governador. Se de facto não tem uma função fiscalizadora, não pode ser responsabilizado pelas anomalias do sistema financeiro.
No entanto, não sei muito bem como interpretar a seguinte citação:
..."Compete especialmente ao Banco "velar pela estabilidade do sistema financeiro nacional, assegurando, com essa finalidade, designadamente, a função de refinanciador de última instância". A prossecução deste objectivo é efectuada através da supervisão das instituições de crédito e das sociedades financeiras"...
A parte relativa a "...velar pela estabilidade do sistema financeiro nacional(...) com essa finalidade (...)a função de refinanciador de última instância..." entendo, é o que está a ser feito...
O problema mesmo é a palavra "supervisão"... a interpretação que eu faço, mais prosaica, "terra-a-terra", à "povo", em face do que me é dado a observar (sim, porque como simples e vulgar contribuinte não tenho, nem faz sentido que tenha, acesso a informação priveligiada) é a seguinte: compete ao BP estar quieto e calado, enquanto se tira o couro ao contribuinte (alguém que não o BP nem o Estado, entenda-se) e agir apenas quando os detentores do capital meterem a pata na poça e for necessário salvar-lhes a pele...
Sim, porque isso é o que está acontecer!
Senão reparem...
Empresas lucrativas, que constituiam uma fonte de riqueza para o Estado, e como tal capazes de possibilitar ao Estado os recursos para exercer uma função de regulação social no auxílio aos mais débeis (do ponto de vista económico) foram privatizadas recentemente (últimos 10 a 15 anos). Agora, empresas que demonstraram não serem viáveis (provavelmente por incúria ou má gestão ou pura incompetência) são privatizadas, de modo a garantir o cumprimento das suas mais básicas responsabilidades sociais...

segunda-feira, dezembro 22, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Já Bagão Félix dizia, à volta do défice, que "este assunto tem sido, por alguns, objecto de manipulação grosseira ou de oportunismo sem memória" e concretiza com "os factos" "Não podem ser olhados do mesmo modo uma estimativa de um défice orçamental e um défice já concretizado numa Conta do Estado. Deixar passar alguma falta de clareza nesta distinção é politicamente desonesto."

Lembram-se?

segunda-feira, dezembro 22, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Chamem outra vez o doutor Constâncio. Porque a sobrestimação, sobretudo do lado das receitas fiscais, é tão elevada e a desorçamentação nalgumas despesas e são também tão flagrantes que talvez o actual Governo pudesse usar o mesmo método e chamar novamente o doutor Constâncio e talvez tivesse surpresas.

segunda-feira, dezembro 22, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Como disse Bagão Félix, o "relatório Constâncio" falhou estrondosamente, a não ser que se ache que só com este Governo se seria capaz de tão escorreita execução e que todos os outros seriam de uma inaptidão certificada", comenta o ex-governante. "Mas o passe de mágica parece ter mais uma vez resultado: pintar de muito negro o cenário e depois glorificar o branqueamento do mesmo", acrescenta.
Bagão Félix acusa o documento do governador do Banco de Portugal de "pessimismo programado" por ter agravado, apenas nas contas da Segurança Social, o défice orçamental em 805 milhões de euros, quase 0,6 por cento do PIB.
"Com o dito relatório e o consequente orçamento rectificativo, conseguiram-se dois efeitos em um: por um lado, destruir falsamente a credibilidade do Orçamento inicial e por outro festejar exuberantemente a dita grande performance de execução", afirma, para concluir: "Esqueceram-se, porém, que se não houvesse o Orçamento rectificativo e o "Relatório Constâncio", afinal a execução teria sido idêntica à previsão inicial pela qual fui responsável".

segunda-feira, dezembro 22, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Constâncio está também a pagar politicamente o facto de ter feito o papel de notário das contas do défice herdado por José Sócrates, os tais 6,83%. Não é por acaso que Paulo Portas e Bagão Félix foram os primeiros a pedir a cabeça do governador. O relatório deu a caução a Sócrates para todas as medidas impopulares. Se hoje fosse feito um relatório com a mesma metodologia os números talvez não fossem muito diferentes, apesar do trabalho meritório do actual ministro das Finanças.

segunda-feira, dezembro 22, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Como é que passou o discurso da mentira durante estes anos todos. A despesa passa de 46,3 por cento do PIB em 2004 para 47,8 do PIB em 2009. Ou seja aumentou em 1,5 por cento do PIB. Qual consolidação?"

segunda-feira, dezembro 22, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Reconheço a minha ignorância relativamente às reais competências e responsabilidades do Banco de Portugal e do seu Governador. Se de facto não tem uma função fiscalizadora, não pode ser responsabilizado pelas anomalias do sistema financeiro.
No entanto, não sei muito bem como interpretar a seguinte citação:
..."Compete especialmente ao Banco "velar pela estabilidade do sistema financeiro nacional, assegurando, com essa finalidade, designadamente, a função de refinanciador de última instância". A prossecução deste objectivo é efectuada através da supervisão das instituições de crédito e das sociedades financeiras"...
A parte relativa a "...velar pela estabilidade do sistema financeiro nacional(...) com essa finalidade (...)a função de refinanciador de última instância..." entendo, é o que está a ser feito...
O problema mesmo é a palavra "supervisão"... a interpretação que eu faço, mais prosaica, "terra-a-terra", à "povo", em face do que me é dado a observar (sim, porque como simples e vulgar contribuinte não tenho, nem faz sentido que tenha, acesso a informação priveligiada) é a seguinte: compete ao BP estar quieto e calado, enquanto se tira o couro ao contribuinte (alguém que não o BP nem o Estado, entenda-se) e agir apenas quando os detentores do capital meterem a pata na poça e for necessário salvar-lhes a pele...
Sim, porque isso é o que está acontecer!
Senão reparem...
Empresas lucrativas, que constituiam uma fonte de riqueza para o Estado, e como tal capazes de possibilitar ao Estado os recursos para exercer uma função de regulação social no auxílio aos mais débeis (do ponto de vista económico) foram privatizadas recentemente (últimos 10 a 15 anos). Agora, empresas que demonstraram não serem viáveis (provavelmente por incúria ou má gestão ou pura incompetência) são privatizadas, de modo a garantir o cumprimento das suas mais básicas responsabilidades sociais...

segunda-feira, dezembro 22, 2008  

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