terça-feira, abril 21, 2009

"O Bloco de Esquerda diz mata, o PCP esfola e o PS vai atrás dos dois na caça aos corruptos e aos malandros que têm fortunas e não pagam ao Fisco. Nesta batida furiosa a tudo o que mexe com dinheiro não escapam os ordenados e prémios de gestores, públicos ou privados.

De repente, por milagre, os indígenas assistem perplexos a uma catadupa de promessas, propostas de leis e resoluções sobre uma matéria que a classe política sempre quis meter na gaveta em nome das liberdades, direitos e garantias consagrados na santa Constituição.

O chamado pacote Cravinho, que mereceu um chumbo indignado do PS, já foi completamente ultrapassado por esta febre de transparência e honestidade que arde nas cabeças dos membros do Governo do senhor presidente do Conselho e de muitos parlamentares da Casa da Democracia. A discussão bizantina sobre o enriquecimento ilícito e sobre se o ónus da prova devia caber ao cidadão ou à Justiça foi estilhaçada em dois tempos.

Agora, um amanuense fiscal desconfiado com a riqueza de um indígena já pode ir vasculhar as suas contas bancárias e aplicar-lhe uma taxa de 60%. O ónus da prova de que o dinheiro foi ganho de forma legítima e que os impostos devidos estão em ordem compete ao desgraçado que cair na mira do bufo fiscal. Os protestos, esses, não têm efeito suspensivo. E a razão, se a tiver, pode vir quando o homem já estiver a fazer tijolo. E os gestores, banqueiros ou não, públicos ou privados, que ganham prémios fabulosos e reformas de milhões, vão levar com uma taxa de 75% por causa das coisas, mas principalmente por causa desta onda demagógica e populista de atacar tudo o que mexe e tem dinheiro.

Mas a perplexidade dos indígenas tem toda a razão de ser. Em primeiro lugar nunca foram contra a corrupção e muito menos contra quem dá o golpe num Estado ladrão que gasta metade da riqueza criada no sítio. Em segundo lugar, neste sítio manhoso, hipócrita e cada vez mais mal frequentado, os corruptos nunca foram nem serão castigados pelos eleitores. Bem pelo contrário. Ganham as eleições, são aclamados e perdoados pelos indígenas, que só têm pena de não poderem fazer o mesmo. É por isso que este foguetório legislativo não faz qualquer sentido. A corrupção devia ser pura e simplesmente legalizada e os corruptos obrigados a divulgar o que roubam e a quem roubam. Preto no branco, sem vírgulas ou pontos finais. Tudo transparente, tudo democrático.
"

António Ribeiro Ferreira

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

«A corrupção devia ser pura e simplesmente legalizada e os corruptos obrigados a divulgar o que roubam e a quem roubam. Preto no branco, sem vírgulas ou pontos finais. Tudo transparente, tudo democrático.»

Eu diria mais: todas as espingardas e manteiga também!
http://economico.sapo.pt/noticias/droga-e-prostituicao-vao-ser-contabilizadas-no-pib_8475.html

quarta-feira, abril 22, 2009  

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