segunda-feira, julho 27, 2009

Gripe A, plano B

"A comissária europeia da Saúde, Androulla Vassiliou, passeou-se por cá a fim de conhecer os métodos nacionais para enfrentar a gripe A. Confessou-se encantada. Além de achar os nossos serviços médicos "muito bem organizados", a senhora louvou "o grupo de peritos que avaliam regularmente o panorama" e "ajudam a delinear a estratégia do Governo". À partida, a sra. Vassiliou proclamou que se fosse portuguesa "estaria completamente descansada".

Mesquinhos como sempre, os portugueses não descansam. Não tanto por causa da gripe A, cuja taxa de mortalidade se revela idêntica à da gripe comum, mas aparentemente por causa da "estratégia do Governo", dos "peritos" e da "organização" dos serviços. Ainda há dias, um emigrante em França, de férias em Vila Real, experimentou semelhantes prodígios. Hoje, mostra-se menos radiante que a sra. Vassiliou.

Se apelarmos à perspicácia, percebemos porquê. Após o homem levar a filha febril ao centro de saúde local, onde encarceraram ambos, transferiram-nos, sem novo contacto com a restante família, para um dos hospitais de "referência" do combate à gripe, o S. João do Porto. Aí, pelas oito da noite, foram isolados numa sala monástica. Quiseram ir à casa de banho, gritaram, bateram nos vidros e nada. Quiseram água, gritaram, bateram nos vidros e nada. Às dez, uma médica consultou a criança e providenciou-lhe água, comida, um recipiente para as necessidades e a necessidade de exames. Às duas da madrugada, realizaram-se os exames. Às duas e tal, a criança voltou a sentir desejos. O homem saiu da sala e viu-se impedido por um funcionário: "Que defeque no chão". Às três, soltaram-nos. Não era gripe A: era o Sistema Nacional de Saúde em todo o seu esplendor.

Escusado acrescentar que o caso não é único. A "estratégia" já me atingiu a família (remota) quando um primo residente em Miami foi sequestrado no aeroporto e fechado durante horas num carro do INEM enquanto os paramédicos vestiam, despiam e tornavam a vestir os fatos de protecção em obediência a ordens aleatórias. Desde o início da epidemia que o "plano" de combate à gripe A fervilha de episódios assim, menos destinados a afugentar o H1N1 que os eventuais portadores. O que permanece inexplicável é o deslumbramento da comissária Vassiliou perante o "plano". Dado que a senhora é cipriota, cheguei a pensar que no Chipre os pacientes suspeitos fossem sumariamente abatidos a tiro. Mas depois fui ler umas coisas e parece que não
."

Alberto Gonçalves

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