O amigo de Pinho
"Um personagem quase passava despercebido na última semana. Era um amigo de Manuel Pinho que disse: “A semelhança de preços e condições [em produtos financeiros] poderá indiciar alguma concertação”.
Referia-se à banca, o que noutro momento ou noutra latitude valeria no mínimo um debate. Mas Manuel Pinho fez corninhos na Assembleia e a ‘fiesta' avançou com grande ruído.
O amigo, Manuel Sebastião, presidente da Autoridade da Concorrência, não falou em cartelização na banca. Nem pensar. Apenas num alinhamento de preços remetido para o final dos telejornais. Suavemente e sem deixar rasto que a banca já tem problemas que lhe cheguem. A crise esburacou drasticamente a credibilidade e os cofres. E toda a gente acha que o amigo Sebastião não fala bem a sério: desabafa apenas um pouco a consciência, talvez para que ninguém diga um dia que ele não disse.
Mas o que importa se o ruído vindo do Parlamento através das televisões imperou? E se o amigo não parece querer impor a sua voz? "Em produtos relativamente homogéneos e em que o preço é uma variável decisiva, as empresas tendem a alinhar os preços umas pelas outras", disse a propósito. Mas não há concertação, com certeza. Apenas alinhamento. E agora Manuel Sebastião até deixou de ter razões para preocupar-se com eventuais e alegadas incompatibilidades para o cargo de presidente da Autoridade da Concorrência, porque o amigo se tornou ex-ministro.
Um registo a respeito do facto Manuel Pinho: as notícias da perplexidade nacional com o gesto agressivo e inadequado do ex-ministro são manifestamente exageradas. Formam uma reacção generalizada e cheia de pudores que não entende dois aspectos cruciais da vida social e política: há um excesso agressivo-compulsivo no discurso parlamentar e é exigível, a muito curto prazo, a equidade no tratamento de todos os maus gestos e más palavras desempenhados e proferidos naquele local. Pergunto-me: o que tem acontecido aos deputados e outros agentes que usam vernáculo rasteiro no hemiciclo? E aos que fazem "simples" comentários laterais provocatórios? Ficam incólumes em nome da tranquilidade geral, ou são menos sancionáveis porque têm menor responsabilidade hierárquica e se nota menos o espalhafato?
Quanto ao debate político, pode e deve concluir-se que pouco ou nada mudou ou mudará em breve. A partir de agora, e até às eleições legislativas e autárquicas, a discussão partidária só poderá subir de tom. Irá tornar-se, por certo, cada vez mais intensa e agressiva nos termos. Provavelmente mais deselegante, menos autera e ainda menos consensual. Essa é, lamentavelmente, a realidade. "
Miguel Costa Nunes
Referia-se à banca, o que noutro momento ou noutra latitude valeria no mínimo um debate. Mas Manuel Pinho fez corninhos na Assembleia e a ‘fiesta' avançou com grande ruído.
O amigo, Manuel Sebastião, presidente da Autoridade da Concorrência, não falou em cartelização na banca. Nem pensar. Apenas num alinhamento de preços remetido para o final dos telejornais. Suavemente e sem deixar rasto que a banca já tem problemas que lhe cheguem. A crise esburacou drasticamente a credibilidade e os cofres. E toda a gente acha que o amigo Sebastião não fala bem a sério: desabafa apenas um pouco a consciência, talvez para que ninguém diga um dia que ele não disse.
Mas o que importa se o ruído vindo do Parlamento através das televisões imperou? E se o amigo não parece querer impor a sua voz? "Em produtos relativamente homogéneos e em que o preço é uma variável decisiva, as empresas tendem a alinhar os preços umas pelas outras", disse a propósito. Mas não há concertação, com certeza. Apenas alinhamento. E agora Manuel Sebastião até deixou de ter razões para preocupar-se com eventuais e alegadas incompatibilidades para o cargo de presidente da Autoridade da Concorrência, porque o amigo se tornou ex-ministro.
Um registo a respeito do facto Manuel Pinho: as notícias da perplexidade nacional com o gesto agressivo e inadequado do ex-ministro são manifestamente exageradas. Formam uma reacção generalizada e cheia de pudores que não entende dois aspectos cruciais da vida social e política: há um excesso agressivo-compulsivo no discurso parlamentar e é exigível, a muito curto prazo, a equidade no tratamento de todos os maus gestos e más palavras desempenhados e proferidos naquele local. Pergunto-me: o que tem acontecido aos deputados e outros agentes que usam vernáculo rasteiro no hemiciclo? E aos que fazem "simples" comentários laterais provocatórios? Ficam incólumes em nome da tranquilidade geral, ou são menos sancionáveis porque têm menor responsabilidade hierárquica e se nota menos o espalhafato?
Quanto ao debate político, pode e deve concluir-se que pouco ou nada mudou ou mudará em breve. A partir de agora, e até às eleições legislativas e autárquicas, a discussão partidária só poderá subir de tom. Irá tornar-se, por certo, cada vez mais intensa e agressiva nos termos. Provavelmente mais deselegante, menos autera e ainda menos consensual. Essa é, lamentavelmente, a realidade. "
Miguel Costa Nunes
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