segunda-feira, agosto 24, 2009

Terrorismo e hospitalidade

"Vai por aí uma preocupação natural com os dois detidos de Guantánamo que o Governo português se predispôs receber. Menos natural é os alvos da preocupação serem os próprios detidos. O PCP critica a importação dos sujeitos sob o argumento de que estes ficarão submetidos a "condições atentatórias dos seus direitos e dignidade". O Bloco de Esquerda, se bem percebi, quer que Portugal dê guarida a ainda mais moços de fato-macaco laranja e que atribua à parelha entretanto eleita o doce estatuto de refugiados.

Já que não há maneira de convencer PCP e BE a dedicarem cuidados idênticos aos residentes das restantes prisões de Cuba, seria de bom-tom um pouco de atenção aos cidadãos nacionais que terão de conviver, na maior ignorância, com o refugo de Guantánamo. O Governo informa apenas que o refugo em causa consiste em dois sírios. Uma pesquisa ligeira na Internet informa que a comunidade síria na base americana ronda a meia dúzia de indivíduos, qualquer um suspeito de actividades não inteiramente filantropas: treino com a Al-Qaeda, guerrilha com a Al-Qaeda, terrorismo com a Al-Qaeda.

As suspeitas podem ser infundadas? Com certeza, e aí devemos esperar dois infelizes com as vidas desfeitas e um irreprimível desejo de vingança face ao Ocidente. Se as suspeitas tiverem fundamento, é melhor contar com dois maníacos com as vidas desfeitas e um irreprimível desejo de vingança face ao Ocidente.

Num ou noutro caso, não parecem os vizinhos ideais, o que explica a discrição quanto ao seu destino exacto e a ausência de comité de boas-vindas. Mas não explica o seu envio para Portugal, ao invés de uma nação receptiva ao peculiar know-how que eventualmente possuem. A Líbia, por exemplo, acolheu em êxtase colectivo o bombista indígena que matou 270 pessoas em Lockerbie. Na Líbia, e suponho que também na Síria natal dos nossos futuros concidadãos, os direitos e a dignidade de gente assim estão consagrados - nos dois sentidos. Aqui, salvo as boas intenções de alguns, é a barbárie
."

Alberto Gonçalves

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