Bolas-de-berlim
"A Pátria não está morta. Há gente com cérebro a ferver que prevê com sabedoria o futuro desta terra de Viriatos.
O País pode estar em crise, quase na bancarrota, deprimido, com os indígenas divorciados dos políticos e à rasca para pagar as hipotecas das casinhas, dos popós comprados com o IVA mais barato, das férias no Brasil e das roupinhas de marca sacadas em saldos mais ou menos baratos. Neste ambiente triste, indigente e esquizofrénico, nem tudo está perdido. Haja esperança, imaginação e, acima de tudo, muito humor. Todos os dias há agradáveis surpresas. Para todos os gostos e feitios. E debates muito sérios e profundos sobre problemas graves e urgentes da sociedade portuguesa.
Há tempos foram os velhinhos que morriam sozinhos e que eram descobertos por acção do Fisco. Enterrada essa questão, as almas lusas encontraram rapidamente outro motivo de indignação, revolta e, claro, de acaloradas discussões. Tudo porque um grupo operacional de guardas prisionais decidiu em boa hora pôr na ordem um indivíduo, assíduo frequentador das cadeias, que tem como passatempo preferido conspurcar as celas que o Estado lhe cede gratuitamente. Os politicamente correctos do costume saltaram para a praça pública, ministros e deputados bateram com a mão no peito e o caso vai para o Ministério Público.
É evidente que o réu não é o energúmeno. É o guarda, o chefe dele, o director da prisão e sabe-se lá mais quem. Mas as boas notícias abundam. Depois de discussões acesas e violentas sobre o Serviço Nacional de Saúde e o tendencialmente gratuito da coisa, eis que a excepcional ministra da Saúde, uma senhora amiga de Manuel Alegre e da ala esquerda do PS, vem propor com ar zangado um novo imposto para a Saúde com o objectivo de castigar severamente os malandros que usam e abusam dos hospitais do Estado. Outro esquerdista dos Açores não lhe quis ficar atrás e veio ameaçar com multas os pais que não se envolvam na educação das suas crias.
E, qual cereja em cima do bolo, a Câmara de Mangualde decidiu dar um enorme presente aos seus cidadãos. Imagine-se só. Uma praia com água salgada, com telas para imitar um mar azulinho, talvez com golfinhos e umas sereias de morrer e um céu apetecível, com algumas nuvens brancas em suave movimento. A Pátria, como se vê, não está morta. Há muita inovação, gente com o cérebro a ferver, que não se resigna perante a queda no abismo e prevê, com enorme sabedoria, o futuro que está reservado a esta terra de Viriatos. É que os indígenas de Mangualde vão ainda ter direito a bolas-de-berlim. Bonitas e originais."
António Ribeiro Ferreira
O País pode estar em crise, quase na bancarrota, deprimido, com os indígenas divorciados dos políticos e à rasca para pagar as hipotecas das casinhas, dos popós comprados com o IVA mais barato, das férias no Brasil e das roupinhas de marca sacadas em saldos mais ou menos baratos. Neste ambiente triste, indigente e esquizofrénico, nem tudo está perdido. Haja esperança, imaginação e, acima de tudo, muito humor. Todos os dias há agradáveis surpresas. Para todos os gostos e feitios. E debates muito sérios e profundos sobre problemas graves e urgentes da sociedade portuguesa.
Há tempos foram os velhinhos que morriam sozinhos e que eram descobertos por acção do Fisco. Enterrada essa questão, as almas lusas encontraram rapidamente outro motivo de indignação, revolta e, claro, de acaloradas discussões. Tudo porque um grupo operacional de guardas prisionais decidiu em boa hora pôr na ordem um indivíduo, assíduo frequentador das cadeias, que tem como passatempo preferido conspurcar as celas que o Estado lhe cede gratuitamente. Os politicamente correctos do costume saltaram para a praça pública, ministros e deputados bateram com a mão no peito e o caso vai para o Ministério Público.
É evidente que o réu não é o energúmeno. É o guarda, o chefe dele, o director da prisão e sabe-se lá mais quem. Mas as boas notícias abundam. Depois de discussões acesas e violentas sobre o Serviço Nacional de Saúde e o tendencialmente gratuito da coisa, eis que a excepcional ministra da Saúde, uma senhora amiga de Manuel Alegre e da ala esquerda do PS, vem propor com ar zangado um novo imposto para a Saúde com o objectivo de castigar severamente os malandros que usam e abusam dos hospitais do Estado. Outro esquerdista dos Açores não lhe quis ficar atrás e veio ameaçar com multas os pais que não se envolvam na educação das suas crias.
E, qual cereja em cima do bolo, a Câmara de Mangualde decidiu dar um enorme presente aos seus cidadãos. Imagine-se só. Uma praia com água salgada, com telas para imitar um mar azulinho, talvez com golfinhos e umas sereias de morrer e um céu apetecível, com algumas nuvens brancas em suave movimento. A Pátria, como se vê, não está morta. Há muita inovação, gente com o cérebro a ferver, que não se resigna perante a queda no abismo e prevê, com enorme sabedoria, o futuro que está reservado a esta terra de Viriatos. É que os indígenas de Mangualde vão ainda ter direito a bolas-de-berlim. Bonitas e originais."
António Ribeiro Ferreira
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