quinta-feira, abril 29, 2004

O engano do 25 de Abril...

"Distinga-se o 25/A do 1/Maio/74. Este – a que alguns, mentindo, chamam “25 de Abril” – nada mais é que a origem da deriva “esquerdista” e “proto-totalitária” pretendida por alguns... e apoiada por outros. No Estádio 28 de Maio, naquela solarenga tarde, foi delicioso ouvir Mário Soares, ao lado de Cunhal, bradando contra o “imperialismo norte-americano” e o “capitalismo”. Observar o seu incómodo quando o líder comunista, ignorando-o, agarra dois atrapalhados jovens militares, fixando uma imagem para o futuro: se “o Povo está com o MFA”, saibam “com quem está o MFA”! E reparem Álvaro Cunhal, a cerrar de lábios, claramente recusando acompanhar o Povo que cantava “A Portuguesa”... desconhecia a letra ou não o reconhecia como o seu hino?!?
Não é este o “25 de Abril” que celebramos. Portugal não comemora (nem podia comemorar) a tentativa de implantação do bárbaro e canalha totalitarismo comunista – que ceifou centenas de milhões de vidas! Esse é o “25 de Abril” do PCP, de Vasco Gonçalves e da 5ª Divisão, de Otelo e das perseguições do COPCOM!

Portugal aplaude o 25/A da Liberdade. Que lhe possibilita questionar, concordar ou discordar. Que propôs que a Nação, em Liberdade, escolhesse o seu Futuro. Um 25/A de Homens verticais e de Honra, como Salgueiro Maia ou Sanches Osório – verdadeiros “capitães de Abril” e não “revolucionários” da 25ª hora (alguns até viviam à custa do regime que abjuraram) que, a mando de um certo sector político, se infiltraram para preverter o sentido e o espírito do Programa.

É de Sanches Osório o livro a quem pedi emprestado o título desta crónica. Escrito no exílio, quando foi perseguido pelos cobardes que, abusando do espírito tolerante dos que fizeram o 25/A, procuraram emporcalhar a Honra e vergar a Seriedade de homens bons! Nele confirmamos que o 25/A não é de ninguém, pois «o Movimento dos Capitães não tinha nenhum compromisso político definido com qualquer corrente da oposição ao regime deposto». É legítimo afirmar-se que a adesão da população da área de Lisboa ao golpe militar era fruto de uma vontade de mudança... mas daí descobrir uma vontade revolucionária é uma mentira descarada.

Descobrimos uma discussão entre Spínola e Costa Gomes/Rosa Coutinho, onde «por vontade de Costa Gomes e Rosa Coutinho, a PIDE/DGS haveria continuado» - ao contrário do que se defendia no Programa do MFA. De facto, a PIDE foi extinta, mas Costa Gomes/Rosa Coutinho levaram a melhor: ainda que de sinal contrário, continuaram «as detenções arbitrárias, sem mandato, sem juíz, sem assistência jurídica. As coisas não sucedem por casualidade... há um estado de espírito, uma atitude determinada por detrás delas». Assim se compreende o comportamento de Rosa Coutinho em Angola (onde confessa, censurou o discurso de resignação de Spínola, beneficiou o MPLA e tantas outras “acções democráticas”) e a conivência de Costa Gomes com Vasco Gonçalves e Otelo.

Importaria também esclarecer qual o objectivo do discurso proferido na Sexta-feira Santa de 74, no Barreiro, onde «Álvaro Cunhal e Rogério Carvalho afirmaram que seria necessário criar uma polícia política» (seria o KGB o modelo?). E não serve invocar o cenário da “guerra fria”: é desculpa igual aos que defendem as acções de Augusto Pinochet...

Conhecemos a urgência do MDP/CDE em assaltar a sede da Mocidade Portuguesa e destruír os arquivos. Parece que seria devastador conhecer imagens de dirigentes (alguns ainda no activo) uniformizados e alegres, rendendo honras às bandeiras da “juventude salazarista”? Diz Sanches Osório, «esse tipo de fotografias existiam... às centenas»!

E já agora: quem alterou o texto do Programa do MFA sobre os “Territórios Ultramarinos”? Na versão 25/A propunha-se a autodeterminação, através de referendos organizados e controlados pela ONU. A revisão “abrilista” consistiu apenas no seu abandono para pilhagem pelos partidos comunistas a soldo de Moscovo. Consequências? O declínio económico (Moçambique, em 1973, era o 2º território mais rico de África; em 1987, era o mais pobre). E milhões de mortos!

Nasci em 1967. Como o 25/A não é uma “vaca sagrada”, e tudo o que sei vem da pouca memória dos factos e algumas leituras. São normais as minhas dúvidas e legítimas as minhas perguntas! Respondê-las tornará as coisas mais claras... e mais verdadeiras!"

João Titta Maurício

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