Vamos para São Tomé ?
1.Perante as recentes notícias, ainda não inteiramente confirmadas, de que os EUA terão acordado com o governo são-tomense a construção de um porto de águas profundas e a ampliação do aeroporto de S. Tomé para que aí se estabeleça uma pequena base militar americana permanente, o que demonstra que os EUA estão cada vez mais a olhar estratégicamente para África, julgo que Portugal na medidas das suas possibilidades deveria investir e se possível congregar esforços junto dos seus parceiros do mundo lusófono, no quadro da CPLP para que pudesse manter uma presença numa região a que o ligam laços históricos e culturais que não devemos perder.
Convido os colegas deste blogue a lerem o texto e a comentá-lo, caso achem que esta ideia tenha pernas para andar.
2.Não se pode enviar rapidamente em força, como dizia o outro, duas fragatas e 4 corvetas, com uns meios aéreos de apoio para lá intervir “a pedido” do governo são-tomense, ou "à francesa", impor um governo pró-português que defenda os interesses geo-estratégicos de Portugal, no seu espaço atlântico, e no seio da CPLP?
Que inclusive passe pelo estabelecimento de uma força militar permanente (uma pequena base naval) que ajude esse país a garantir a sua segurança perante o gigante nigeriano?
Afinal, para quem andou a apoiar a invasão do Iraque, parece que agora se está nas retrancas.
É que se não formos lá nós, irão os nigerianos, para ver se apanham o petróleo, e repare-se que os nigerianos foram há poucos meses visitados pelo presidente Bush.
Se tal fosse necessário, tentar congregar esforços junto de Angola para colaborar nessa intervenção, que se processaria no quadro da CPLP, e tiraria argumentos aos que logo clamariam contra o "neo-colonialismo".
Claro que em teoria não se deve defender intervenções em assuntos internos de estados soberanos, e por isso condeno a actual intervenção no Iraque.
Mas em São Tomé é diferente.
Na Guiné em 98, a acção de Portugal foi meritória no sentido de manter uma presença vigilante e de congregar esforços entre as partes no sentido de colocar as pessoas a falar umas com as outras.
Mas essa pressão só se consegue com uma força militar credível que permita que São Tomé mantenha a capacidade de soberania.
Ora se não fizermos nada, o mais provável é que a Nigéria tome conta do território, com o pretexto de impôr a "democracia", tal como a Indonésia fez com Timor em 75, quando a presença portuguesa desapareceu e os timorenses da UDT e da FRETILIN se guerreavam entre si.
Por isso, defendo que a intervenção portuguesa no quadro de concertação com os outros estados mais próximos, histórica e culturalmente de São Tomé (Angola e Brasil) pudessem participar numa força conjunta de protecção do território e assim permitisse a Portugal e à CPLP mostrar ao mundo que somos poucos e pobres, mas não somos parvos.
Relembro que no início de 2003 o primeiro-ministro de São Tomé em visita a Lisboa quase convidou o governo português a colocar lá uma força militar permanente para garantir a defesa do território perante as ameaças veladas vindas do vizinho gigante, que é a Nigéria.
E deu a entender que poderia estender esse convite aos EUA, que pelos vistos estão prestes a aceitar essa oferta.
Simplesmente os EUA nunca tiveram grande propensão para intervir em assuntos africanos e se agora se verifica uma viragem é no sentido da África anglófona de que a Nigéria, com o seu petróleo e a sua numerosa população será um aliado preferencial.
E esta seria no fim de contas uma forma de Portugal demonstrar alguma política externa coerente com o discurso, e também coerente com o seu património histórico e cultural, em vez de se andar a dispersar pelos iraques e bósnias deste mundo.
Julgo que uma presença permanente de 1 fragata e duas corvetas (que seriam rendidas mensalmente e um destacamento da FAP através de um C-130 para rotação de forças e transporte de equipamentos) poderia marcar essa presença, sendo essa base poder ser potenciada com o concurso de meios navais brasileiros, nomeadamente através do porta-aviões S. Paulo que o Brasil possui.
Seria ainda necessária a construção de alojamentos, infra-estruturas de apoio, um hangar para estacionamento de uma pequena esquadrilha de 4 helicópteros pesados e de 8 a 10 helicópteros ligeiros, e ainda capacidade para estacionamento esporádico de uma esquadrilha de aviões de combate. Também seria necessária a construção de meios para armazenamento de combustível.
Claro que essa pequena base naval poderia ser pontualmente cedida para escala de meios navais de países aliados, mas a sua gestão continuaria a ser da soberania conjunta de Portugal e S. Tomé, numa espécie de Diego Garcia à escala lusa.
Desse modo, o espaço lusófono ficaria com uma presença mais marcante no Atlântico Sul, e seria uma forma de dar algum corpo à CPLP.
3 Comments:
Prezado M.O.
Tenho a impressão de já ter lido este texto, ou outro igualzinho, noutro sítio qualquer. Será possível?
Jo@o
Confirmada a suspeita do comentário acima, e perante o seu convite ao diálogo, tão invulgar neste blog, direi o seguinte:
1-Acho que devíamos mandar imediatamente para S. Tomé o nosso porta-aviões Vasco da Gama, apoiado por uma esquadra de submarinos. Assim poderíamos proteger a soberania de S. Tomé impondo um governo pró-português. De seguida, estabeleceríamos ali uma pequena base naval e instrumentalizaríamos a CPLP, colocando-a mansamente ao serviço dos interesses geo-estratégicos de Portugal. Os americanos, impressionados, desistiriam de S. Tomé e tratariam de consolar os pobres nigerianos, pelos quais sentem grande empatia pelo facto de serem anglófonos. Este episódio marcaria o fim da Era Unipolar, pondo doravante o mundo em sentido com o emergente Polígono Sul-Atlântico, Brasil/Angola/CVerde/STomé, todos sob a batuta lisboeta que assumiria também a pasta energética. Ah, que sublime vingança. Passados 500 anos era ver a Europa vir mendigar o petróleo ao Terreiro do Paço, como outrora vinham à pimenta. Moçambique seria um posto avançado no Indico e em pouco tempo poderíamos controlar simultaneamente a rota do Cabo e a do Suez, e negociar uma pequena base naval em Damão. Antes de passarmos além da Taprobana, trataríamos de consolidar a posição africana, resgatando as Zâmbias aos usurpadores, deixando um rasto cor-de-rosa de Angola à contracosta.
2- São Tomé é um protectorado dos angolanos, que têm para lá uns tipos fardados a engordar, já enjoados de tanto tédio. Não são anglófonos mas consta que compraram na Amazon um exemplar de casca rija do American Heritage Diccionary.
3- Durão Barroso, prenhe de visão estratégica, resolve alienar o sector energético à benfazeja iniciativa privada, e depois da sua derrota eleitoral é nomeado pelos americanos rei da Nigéria, sob o nome de Burroso I.
Jo@o
Jo@o:
É possível que o tivesse visto, porque este texto já foi publicado no forumdefesa.com, que é um site ligado a temáticas de defesa e de política externa, estratégia, conflitos do presente, etc.
Também publiquei uma versão reduzida deste texto no expresso-on-line, a propósito do golpe de estado que lá decorreu no ano passado.
Cumprimentos.
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