quarta-feira, julho 28, 2004

28 de Julho de 1904



Durante mais de 40 anos, desde o fim do conflito franco-prussiano (1870-71), a Europa asfixiava numa paz podre. Não houve guerra a quente, mas as diferentes ambições das grandes potências (Reino Unido, França, Alemanha e Rússia) tinham entrado em choque, o que gerou um clima belicista, com a consequente corrida às armas. No Verão de 1914, o Velho Continente ameaçava explodir a qualquer instante, faltando apenas um pretexto para a tragédia ter lugar.

No princípio do século, franceses e britânicos assumiam-se como grandes potências coloniais, enquanto os russos consolidavam a sua expansão asiática. Os alemães, conscientes da sua força demográfica e industrial, sentiam-se num colete de forças e reclamavam um papel condizente com as suas potencialidades, nem que para isso fosse necessário bater o pé, através das poderosas forças armadas construídas pelo imperador (kaiser) Guilherme II.

Ao kaiser não faltavam motivos para se escudar na força _ a ocidente, os nacionalistas franceses reivindicavam a posse da Alsácia e da Lorena (perdida na guerra com os prussianos); a sul, nos Balcãs, os russos do czar Nicolau II ameaçavam, com um crescente pan-eslavismo, pequenas nações de dois impérios moribundos: os austro-húngaros e os otomanos, frutos maduros cuja queda precipitaria um vazio que os pan-germanistas também não desdenhariam abocanhar.

Em 1904, britânicos, franceses e russos forjaram entre si uma aliança militar (Tríplice Entente), procurando responder a acordo semelhante, existente já há 22 anos, entre alemães, austro-húngaros e italianos (Tríplice Aliança). A Europa apresentava-se, assim, perigosamente dividida e essa divisão ficou bem patente quando, a 28 de Junho de 1914, um nacionalista sérvio (Gabriel Princip) assassinou em Sarajevo o herdeiro do debilitado Império Austro-Húngaro, arquiduque Francisco Fernando.

Com o imperador Francisco José velho e debilitado, a linha dura austro-húngara viu no atentado uma excelente oportunidade para reavivar o império, optando por declarar, a 28 de Julho, guerra aos sérvios, contando com o apoio do kaiser, o que enfureceu a Tríplice Entente e gerou a abertura declarada de hostilidades entre diferentes estados, não só à escala europeia, mas também mundial.

De facto, em virtude de interesses basicamente económicos, japoneses, chineses e brasileiros puseram-se rapidamente ao lado da Tríplice Entente (Aliados, que contavam já com a Bélgica), ao mesmo tempo que o conflito explodia também em África. Na Europa, os italianos abdicaram da facção germânica, tendo esse vazio sido preenchido pelos otomanos (turcos), dando origem ao bloco das Potências Centrais, que viria ainda a ser reforçado com os búlgaros.

A prazo, o bloco aliado seria consideravelmente reforçado com a entrada no conflito da Roménia, de Portugal e da Grécia. Mas seriam os americanos, com o seu poderio demográfico-industrial, a desequilibrarem a balança e a solucionar o conflito, que acabou com a desagregação dos impérios austro-húngaro e otomano, o que permitiu redesenhar os mapas da Europa e do Médio Oriente.

A Grande Guerra, mais do que a desaparição daqueles impérios, trouxe consigo dois factos políticos de grande relevância _ a emergência bolchevique na Rússia (que iria durar 72 anos, condicionando todo o século XX) e um tratado de paz (Versalhes) nada magnânimo, que impôs condições humilhantes aos alemães e os lançou na miséria, o que gerou condições extremamente favoráveis para que, na década seguinte, o pan-germanismo ressurgisse na figura de um demagógico Adolf Hitler, cuja loucura havia de atirar o Mundo para um conflito de ainda maiores dimensões.

Para nós, a presença do Corpo Expedicionário na Flandres resultou na preservação dos territórios africanos, pagos com o banho de sangue de La Lys, cenário onde milhares de soldados portugueses conheceram o horror das trincheiras. O princípio do fim da hegemonia europeia

O conflito devorou quatro impérios e fez sair do casulo os EUA; as injustas condições de paz favoreceram o advento do nazismo.

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