domingo, agosto 22, 2004

A atenção do BE.

"...indo à raiz da questão, o facto é que, com a saída dos colonos britânicos do Sudão, em 1956, a elite política árabe-muçulmana norte-sudanesa, a quem foi entregue a administração de todo o país, acreditou, desde a primeira hora da independência, em que a unidade do Sudão dependia da conversão forçada e total do Sul ao arabismo e ao islão.Com esse objectivo, governos sucessivos dos líderes do Norte, que jamais abriram mão do poder em Cartum, puseram em prática planos que visaram arabizar e islamizar o Sul e a vasta área dos Montes Nubas. Essa política de assimilação forçada ficou particularmente evidenciada entre 1958 e 1964, com o regime feroz do general Ibrahim Abboud.O antigo ditador sudanês injectou inúmeros fundos para impôr o monopólio dos meios de comunicação social em árabe e a exclusão total de línguas e dialectos tribais, a exclusão do cristianismo e das religiões tradicionais.

Em 1960, por exemplo, foi imposto por decreto que a sexta-feira passasse a ser dia santo de descanso e de oração para todos os sudaneses, independentemente da fé. E, em 1962, seguiu-se o decreto da Lei das Sociedades Missionárias, que passou a restringir a propagação do cristianismo, decorrendo daí a expulsão de todos os missionários estrangeiros do Sul do Sudão, em 1964, a imposição forçada da indumentária muçulmana tradicional (a jilaba), a circuncisão obrigatória e a imposição de nomes árabes às crianças em idade escolar como condição incontornável para entrar nas escolas básicas e secundárias. A explicação simplória do actual chefe da diplomacia sudanesa cai obviamente por terra.Com o actual regime ditatorial de Omar Hassan el Bashir, que declarou o Sudão como república islâmica e governa pela charia (lei islâmica), as políticas de assimilação dos predecessores foram ultrapassadas em brutalidade.

A Frente Islâmica Nacional de Bashir preparou um plano muito ambicioso com o objectivo de transformar radicalmente aspectos fundamentais da vida política, económica, social e cultural sudanesa.O programa, designado por Chamada Compreensiva, advoga a propagação do islão, a submissão de todos os aspectos da vida aos valores islâmicos, a expansão da língua árabe.Na aplicação de tal programa, muitos sudaneses sofreram amputação de braços e pernas ou pés e mãos por crimes menores, como pequenos roubos ou a pretexto de roubos não provados. Factos que, mais uma vez, desmentem claramente o simplismo do chefe da diplomacia de Cartum."


Estranhamos o "silêncio" do BE.

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