sexta-feira, janeiro 21, 2005

1947, partilha da palestina

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Com o fim da II Guerra Mundial e os horrores do holocausto judeu, o movimento sionista passou a exercer uma maior pressão internacional para a criação de um Estado judeu. No dia 2 de abril de 1947, a Grã-Bretanha solicitou ao Secretário-Geral da ONU, Trygve Lie, a convocação de uma sessão extraordinária da Assembléia-Geral da organização, para estudo da “Questão Palestina”. Em 28 de abril, a A ONU reuniu-se e decidiu, em 5 de maio, criar a “Comissão Palestina”, composta de representantes de 11 Estados-membros.

No final de agosto, foram apresentados 2 projetos diferentes:

a) o projeto majoritário sugeria:
1) fim do Mandato britânico;
2) proceder à partilha da Palestina e criar nela um Estado judeu e um Estado árabe;
3) considerar a cidade de Jerusalém como zona internacional com o patrocínio da ONU.

b) o projeto minoritário previa:
1) fim do Mandato britânico;
2) criação de um Estado federal cuja capital seria Jerusalém, que se comporia de um Estado árabe e de um Estado judeu.

No dia 29 de novembro de 1947, na Assembléia-Geral da ONU, em Flushing Meadows, EUA, presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, foi votada a partilha da Palestina, quando 33 Estados votaram a favor, entre os quais EUA, Rússia e Brasil. Treze Estados (10 países islâmicos, Cuba, Grécia e Índia) votaram contra a partilha e 10 abstiveram-se (entre os quais INLSTERRA ARGENTINA). Os votos que decidiram a favor da partilha vieram do Haiti, Libéria e Filipinas – considerados países “satélites” dos EUA –, os quais eram inicialmente contra a partilha, mas foram pressionados a votar a favor. Jerusalém teria status de cidade internacional. A ONU destinou aos judeus as terras mais férteis da Palestina, como a planície costeira e a planície do Esdrelon, além do Lago da Galiléia. Embora a população árabe, na época da partilha, comportasse 2/3 da população total da Palestina, de 1.936.000 habitantes, a ONU lhe destinou apenas 42,88% do território, com terras arenosas e pobres.
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Votaram a favor: 33
Austrália, Bélgica, Bolívia, Brasil, Bielorússia, Canadá, Costa Rica, Checoslováquia, Dinamarca, República Dominicana, Equador, França, Guatemala, Haiti, Islândia, Libéria, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Nicarágua, Noruega, Panamá, Paraguai, Peru, Filipinas, Polónia, Suécia, Ucrânia, União Sul Africana, U.S.A., U.R.S.S., Uruguai, Venezuela.
Contra: 13
Afeganistão, Cuba, Egipto, Grécia, Índia, Irão, Iraque, Líbano, Paquistão, Arábia, Saudita, Síria, Turquia, Yemen.
Abstenções: 10
Argentina, Chile, China, Colômbia, Salvador, Etiópia, Honduras, México, Reino .Unido, Jugoslávia.


Para se perceber o porquê deste "regresso" dos judeus à Palestina, e os movimentos que se empreenderam até se chegar à partilha do territótório é bom lembrar:

A 1ª diáspora ou dispersão judaica (exílio) ocorreu em 586 a.C., quando o imperador babilônico Nabucodonosor II destruiu Jerusalém e o Templo de Salomão, e deportou os judeus para a Babilônia (586-538 a.C.). A 2ª diáspora judaica começou a partir de nova destruição de Jerusalém e do 2º Templo (que havia sido reconstruído por Herodes), realizada por Tito em 70 de nossa era, e encerrou-se em 135, depois que os judeus se revoltaram com a paganização da cidade de Jerusalém, feita pelo Imperador Adriano, com um templo dedicado a Júpiter. Após essa revolta, os judeus remanescentes na Palestina foram proibidos de pôr os pés na Cidade Santa, que passa a se chamar Aelia Capitolina, e começam e se espalhar por todo o mundo, ficando um número insignificante deles na Terra Santa. Em 637, começa o domínio árabe sobre a Palestina, permeado por um curto domínio do Reino Latino (dos Cruzados), de 1099 a 1291, o qual foi desbaratado por Saladino, Sultão do Egito. A partir do início do século XIV, a Palestina se torna parte do Império Otomano, que perdurou até o fim da I Guerra Mundial (1918).
O SIONISMO

theodore herzl , PAI DO SIONISMO
O Sionismo, ideologia nacionalista que prega a volta dos judeus à Palestina, começa a tomar corpo principalmente depois das perseguições movidas contra os judeus na Rússia, devido ao envolvimento da judia Vera Figner no assassinato do Czar Alexandre II, em 1881, e do processo na França contra o Capitão Dreyfus, de família judaica, condenado em 1894 por um crime que não cometera. O judeu húngaro Theodor Herzl, autor do livro “Der Judenstaat” (O Estado Judeu), no qual aborda idéias de assentamentos judaicos na Palestina, observando a intolerância contra os judeus na sociedade, especialmente o Caso Dreyfus, organiza, em agosto de 1897, o 1º Congresso Sionista Mundial, na Basiléia, Suíça, ocasião em que afirma: “O sionismo é o movimento do povo judeu em marcha para a Palestina; mas, o retorno à Palestina deve ser precedida pelo retorno do povo judeu ao judaísmo”.

O Congresso Sionista reuniu 204 dirigentes judeus do mundo todo e as seguintes resoluções secretas foram tomadas em 3 dias de debates:
“1) Estimular a colonização da Palestina, povoando-a de judeus, mediante uma emigração metodicamente organizada;
2) Organizar o movimento judeu, unificando suas formações espalhadas pelo mundo;
3) Despertar, reforçar e mobilizar a consciência judia em todas as comunidades;
4) Atuar nos diferentes Estados para obter o apoio e a anuência dos mesmos para o movimento sionista”. (Hussein Triki, in “Eis aqui Palestina”, pg. 53)

“Quanto a Herzl, fixou, por sua vez, as fronteiras do Estado, como segue: vão do Nilo ao Eufrates e da margem direita do Nilo ao Mar Vermelho e a margem esquerda do Eufrates, a maior parte do Iraque e a totalidade da Jordânia e da Síria, sem falar, naturalmente, da Palestina”. (Hussein Triki, op. cit., pg. 67).

Assim, a partir do Congresso Sionista, começa a ocupação judaica da Palestina, a “Eretz Israel” ou a “pátria histórica dos judeus”, embora outros países fossem propostos para a criação de um novo Estado judeu, como a Argentina, o Chipre, o Sinai e Uganda.

Em 1880, havia cerca de 20.000 judeus na Palestina (Dictionaire Diplomatique, pg. 204). Em 1914, cerca de 30 kibbutzim já se haviam estabelecido na Palestina, somando 40.00 judeus, embora houvesse crescente restrição dos otomanos. Em 1919, já eram 56.000 (Survey of Palestine, TI, pg. 144). Em 1923, após o recenceamento da Administração Herbert Samuel, a Palestina contava com 757.000 hab, dos quais 83.000 eram judeus. A colonização era feita, principalmente, por meio dos “kibbutzim”, colônias agromilitares de inspiração socialista. Afirmou H. Samuel: “A política que tenho a missão de implementar no nome de S. M. compreende o fomento da imigração judia até o ponto em que haja alcançado um nível tal que permita afirmar o direito dos judeus de criar um governo judeu na Palestina”.

Entre 1920 e 1925, a Administração H. Samuel, em cooperação com “El Kahal”, havia introduzido na Palestina 50.000 imigrantes judeus, que vieram principalmente da Rússia e da Polônia. Entre eles destacam-se: David Ben Gurión, Golda Meir, Jacobo Shapiro, Haim Gebai, Mordkhai Bentof, Moshe Sharet. Ao final do Mandato britânico, eram 600.000 judeus. Em 1916, os sionistas eram proprietários de 241.000 dunums (1 dunum = 1.000 m²); em 1947, de 1.850.000 dunums.

A criação do Protetorado britânico sobre a Palestina, depois da I Guerra Mundial, realizada pela Liga das Nações (precursora da ONU), e a posterior criação do Estado judeu, foi uma traição da Grã-Bretanha ao acordo firmado com o Príncipe Faiçal, da Arábia Saudita, na Campanha Árabe contra os turcos, durante I Guerra Mundial, no qual se garantia “a unidade dos países árabes e a independência de todos esses países” – traição essa já vislumbrada por “Lawrence da Arábia” em seu livro “Os Sete Pilares da Sabedoria”, embora não conhecesse o conteúdo do Acordo Sykes-Picot. Lawrence era um oficial inglês, amigo dos árabes, e participou da campanha contra os turcos para a libertação da Península Arábica, Palestina e Síria.

Em 1916, o acordo “G.S.I(j)” foi firmado entre os sionistas e o Comando britânico na zona do Oriente Médio, pelo qual os britânicos armaram as brigadas da Hagganah – embrião do futuro Exército de Israel – e ficaram encarregados de seu adestramento na guerrilha.

Em 1917, David Ben Gurión e Isaac Ben Zvi formam nos EUA uma brigada de voluntários judeus americanos para combater os turcos no Egito e na Palestina. Durante a II Guerra Mundial, a Hagganah tinha cerca de 30.000 militares, entre os quais Moshe Dayan, herói da “Guerra dos Seis Dias”, de 1967.

No dia 2 de novembro de 1917, o Governo britânico reconheceu a “Declaração Balfour” – de seu Ministro do Exterior, Arthur James Balfour – que concedia o direito do estabelecimento de um “lar judeu” na Palestina. No entre-guerras, o Mandato britânico permitiu aos sionistas montar uma indústria bélica, que chegou a produzir “200 metralhadoras por dia, 400.000 cartuchos calibre 9 mm por mês, 150.000 obuses e 30.000 granadas calibre 3 polegadas; sem contar os morteiros pesados e leves e uma indústria muito adiantada de mina”. (Hussein Triki, op. cit., pg. 121).

Nessa época, milhares de judeus europeus imigraram para a Palestina, fugindo do nazismo, ocasião em que aumentaram os distúrbios entre árabes e judeus, e surgiram os primeiros grupos terroristas judeus, como o Irgun de Menachen Begin. O hebraico ressurgiu como língua oficial para os judeus na Palestina, graças principalmente ao trabalho de Eliezer Ben-Iehudá.

Com o fim da II Guerra Mundial e os horrores do holocausto judeu, o movimento sionista passou a exercer uma maior pressão internacional para a criação de um Estado judeu. No dia 2 de abril de 1947, a Grã-Bretanha solicitou ao Secretário-Geral da ONU, Trygve Lie, a convocação de uma sessão extraordinária da Assembléia-Geral da organização, para estudo da “Questão Palestina”. Em 28 de abril, a AGNU reuniu-se e decidiu, em 5 de maio, criar a “Comissão Palestina”, composta de representantes de 11 Estados-membros.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Legal essa história!

quinta-feira, abril 06, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Mas e o voto minerva, do Osvaldo Aranha, onde entra nessa história?

quinta-feira, abril 06, 2006  
Anonymous Anónimo said...

vou confiar num cara chamado smeagol e outro toupeira? '-'

quarta-feira, agosto 31, 2011  
Anonymous Anónimo said...

Não houve voto minerva, Osvaldo Aranha articulou até conseguir o nº de votos necessários para a criação do Estado Judeu, tipo, adiou a votação.

domingo, maio 27, 2012  

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