Notícias a la carte
"As notícias levadas à capa do Independente, desde há uns anos para cá, dariam matéria bem suculenta para quem quisesse apreciar os nacos de prosa intencional de um jornalismo "engagé", não se sabe bem em quê.Hoje, a notícia é sobre ... Sócrates! A gente que lê percebe imediatamente o interesse jornalístico - eleições à porta; Sócrates apontado primeiro-ministro "with a bullet", oposição em pantanas e tachos a arder em lume brando ou já arrumados nas prateleiras do fundo. Assim, a "bomba" é... o financiamento partidário da campanha eleitoral do PS! Nem mais... A notícia começa assim:
A Polícia Judiciária (PJ) tem "fortes indícios" de que a alteração da Zona de Protecção do Estuário do Tejo por José Sócrates terá tido como contrapartida o financiamento de campanhas eleitorais do PS.Zás! Deve ser a primeira vez que alguém escreve, com tanta desenvoltura esclarecida, que há "fortes indícios" de que determinado negócio público-privado, colheu dividendos para sacos azuis partidários. Nem em Felgueiras; nem na Guarda; nem em Oeiras ou em Cascais tal aconteceu. Suspeitas poderia haver; investigações idem; agora, "indícios fortes" de angariação de moedas e notas para pagamentos de companhas, isso é que é novidade d' O Independente! E logo agora... Pois bem, Como chegou tal novidade ao jornal dirigido pela intrépida Inês, no artigo assinado por Francisco Teixeira?Ele o diz, através de um Inquérito Policial! Primeiro erro - não há Inquéritos policiais! O Inquérito que pode existir é apenas o previsto na lei de processo penal- artº 241 e seguintes e artº 262 e seguintes do Código de Processo Penal.Logo, o processo que existe não é policial, mas do Ministério Público. Estará na PJ para investigação porque esta entidade é a competente para tal, nestes casos- artº 4º al. s 9 da Lei 21/2000 de 10 de Agosto.
Diz-se também na notícia que "A PJ requereu já ao Ministério Público diversas diligências". Outra asneira, esta mais relativa - a PJ não requere nada a quem dirige o Inquérito (artº 263º nº 1 do CPP) ! Quando muito sugere, num espírito de colaboração, já que lhe compete assistir o MP e segundo o nº 2 do artº 263, a PJ "actua sob a directa orientação do MP ". É assim que deve ser e se assim não foi, há um carro à frente dos bois, notoriamente.Seja como for, há matéria para o jornalista indagar, antes de publicar. Finalmente, o mais grave. Escreve-se na notícia que "De acordo com um mandado de busca e apreensão a que o Independente teve acesso, os investigadores têm autorização judicial para passar a pente fino o Freeport. Na quarta-feira de Cinzas, a PJ fez uma busca na Câmara de Alcochete".Isto, já não é simplesmente fruto de um erro ou de uma ignorância. Isto é uma violação flagrante do segredo de justiça, contada quase em directo.
Ou então, um grande embuste. Um logro que deve ser colocado como hipótese bem plausível, perante o bem visível rigor demonstrado na notícia.O acesso que o jornal teve ao tal eventual "mandado de busca" associado ao facto de se escrever que o jornalista teve acesso a " um documento da PJ ", faz pensar em quê, no que se refere a essa violação flagrante do segredo de justiça ?! Obviamente que alguém da PJ, ou pelo menos alguém directamente ligado ao processo, o forneceu! E se isso for verdade, e o facto relatado corresponder à realidade, é objectivamente grave.Mas pode não ser! Não seria a primeira vez que num jornal se escreve algo...inventado! Veja-se a título de exemplo o que se passou no Público ainda nesta semana.E por isso nessa dúvida fico. Ou seja, a notícia do Independente não me merece crédito, pelas asneiras que invoca; pela intenção turva que imprime e pela incerteza das fontes.Em resumo, mau jornalismo!Enfim... valerá tudo, na luta política?
E o jornalismo deve servir para essa luta política directa e sem pejo?ADENDA ( às 18h e 5)O Correio da Manhã escreveu sobre o assunto. A notícia parece-me de sobriedade qb e no seu maior relevo- que é sem dúvida a imputação de responsabilidades, - antes das investigações estarem concluídas, escreveu... O presidente da Câmara de Alcochete, José Dias Inocêncio, afirma desconhecer sobre quem poderão recair as suspeitas dos crimes de corrupção e de participação económica em negócio que estão a ser investigados pela Polícia Judiciária, mas garante que “todo o processo de licenciamento da Freeport foi exemplar”.O Público, sobre o assunto, numa página interior e sem destaque de maior, escreveu, no que é mais sensível, o seguinte:
(...)um inquérito que incide sobre suspeitas dos crimes de corrupção e participação económica em negócio, que está a ser investigado há vários meses.Em causa estão, essencialmente, as circunstâncias em que o Ministério do Ambiente, à época dirigido por José Sócrates, aprovou uma alteração aos limites da Zona Especial de Protecção (ZPE) do Estuário do Tejo na zona do Freeport e avaliou favoravelmente os impactes ambientais da sua construção.A notícia do Independente é um pouco mais sofisticada... Para além da chamada da primeira página, com o apelo do costume à cacha e à "bomba" escondida e prestes a rebentar, o teor da notícia é mais explícito e não deixa lugar a qualquer dúvida, mesmo ao mais ingénuo...
A Polícia Judiciária (PJ) tem "fortes indícios" de que a alteração da Zona de Protecção do Estuário do Tejo por José Sócrates terá tido como contrapartida o financiamento de campanhas eleitorais do PS.Não se confundam as coisas. Porque outros o fazem com esse mesmo propósito."
Publicado pelo amigo José na Grande Loja.
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