Quanto Mais Despidos Andamos Nós?
O que se segue está mal estruturado, é aborrecido e não conclui.
Fala-se muito em como o partido conservador está a apanhar o partido trabalhista - embora eu aposte, sem hesitar, em como o último vai ganhar com uma margem confortável e toda a gente nas redacções dos jornais que não o Guardian se vai fingir surpreendida- para as próximas eleições aqui no burgo. O que é que distingue um partido do outro? O que é que os poderá distinguir no futuro?
Estudo numa faculdade muito especial. Com todos os seus defeitos, tem a capacidade de criar um pequeno mundo que se esforça por pensar diferente - tem um bar que se tornou lenda no país inteiro, por motivos que não vou agora expôr porque ainda penso em ter um emprego em Portugal, tem historiadores que fazem diários do Saddam Hussein na primeira pessoa depois do onze de setembro, tem cientistas políticos que escreveram o programa do primeiro governo do Nelson Mandela (e depois foram despedidos), tem economistas que chumbam os alunos se eles usarem uma função de produção que agrege capital, tem princesas herdeiras de reinos árabes a estudar mestrados em estudos femininos e organiza exposições com pintores e poetas de países que eu, há poucos meses, não conseguiria identificar no mapa. Por mais que pareça diferente, a SOAS não é vista em Londres como uma faculdade especial - a não ser pela lenda do bar. Se tirarmos a UCL, os estudantes da Universidade de Londres (a única universidade pública na capital, que inclui a LSE, a UCL, a SOAS, etc...) não usam polo ralph lauren, não têm camisas as quadrados, nem ratos gigantes nas costas, não têm carro que se confunda com o pénis e têm um cérebro. Lembro-me do meu primeiro ano na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, em que um professor que um dia até foi ministro perguntou à turma toda se havia ali alguém comunista. Como ninguém respondeu, ele disse que estava satisfeito por não ter que chumbar ninguém. Percebe-se porquê. A academia Portuguesa luta diariamente por se afirmar num contexto intelectual maioritariamente de esquerda dogmática. A Inglaterra nunca teve esse trauma. Cambridge, por exemplo, tem uma Universidade que muita gente considerará ortodoxa, e no entanto também chumbam alunos que agregem capital na função de produção - se não o fazem deviam, porque foi lá que se provou ser uma fraude. Foi e é a casa dos mais famosos economistas que lutaram contra a ortodoxia, e abriga um dos poucos jornais científicos que publica além das hipóteses que definem o paradigma autista da economia neoclássica. Em suma, a academia britânica nunca teve medo do confronto, e esteve quase sempre - tirando Oxford - na linha da frente do que seria considerado a esquerda intelectual. Sim, a academia britânica está muito mais à esquerda que a academia continental, embora a sua sociedade esteja muito mais à direita. É comum ver mulheres que usam burka nas faculdades britânicas, ou associações de estudantes que proibem a venda de coca-cola.
A diferença começa a tornar-se, no entanto, perigosamente homogénea - primeira imagem a despropósito: uma rapariga que conhecia dizia-me que, no Rio, as grandes promessas eleitorais eram pavimentar as favelas e combater a pobreza, mas que, na prática, as duas coincidiam. Há umas semanas a sociedade judáica, da minha faculdade, convidou um membro da diplomacia de Sharon para uma conferência. De imediato, a associaçao de estudantes reuniu e concordou em anular esse convite. Por mais paradoxal que pareça, a razão invocada, num curto email, foi a defesa da diferença. Ken Livingston, o presidente da câmara de Londres, foi bruto com um jornalista judeu. Licenciou-se na SOAS. Foi convidado para ser o presidente honorário da associação de estudantes. Pouco depois, esta promoveu um debate sobre o assunto, e houve tantos assobios que se decidiu retroceder no convite. O próprio governo teve que intervir, forçando o reitor a censurar a associação de estudantes e obrigá-la a voltar atrás nas duas decisões. Mas isso não anula o problema. Uma das melhores faculdades brintânicas, St. Andrews, na Escócia, convidou o presidente do partido nacionalista inglês. Receberam tantos telefonemas com ameaças de morte que decidiram cancelar o convite. Em nome da segurança dos seus alunos.
Não quero dar um sentido ao que escrevi atrás, concluir ou tirar ilações sobre o futuro da humanidade - mesmo que isso dê razão a quem leu até aqui, achou que isto agora é que era e me insulta avidamente. Já disse que o partido trabalhista vai ganhar com enorme vantagem, e é tudo o que me importa concluir sobre o assunto. No entanto, a imagem é recorrente: quanto menos vítimas é que o lado bom da barricada faz em comparação com o lado mau? Quanto menos alemães é que foram mortos, em relação aos aliados?
A outra imagem que me ocorre é esta: a maioria das raparigas que saem à noite em Londres fazem-no de mini-saia e sem meias. Mesmo com os oito graus negativos de há dois meses atrás, e mesmo que tenham que fazer fila de uma hora para entrar num club. Nas faculdades, uma enorme proporção de raparigas usa burka.
Fala-se muito em como o partido conservador está a apanhar o partido trabalhista - embora eu aposte, sem hesitar, em como o último vai ganhar com uma margem confortável e toda a gente nas redacções dos jornais que não o Guardian se vai fingir surpreendida- para as próximas eleições aqui no burgo. O que é que distingue um partido do outro? O que é que os poderá distinguir no futuro?
Estudo numa faculdade muito especial. Com todos os seus defeitos, tem a capacidade de criar um pequeno mundo que se esforça por pensar diferente - tem um bar que se tornou lenda no país inteiro, por motivos que não vou agora expôr porque ainda penso em ter um emprego em Portugal, tem historiadores que fazem diários do Saddam Hussein na primeira pessoa depois do onze de setembro, tem cientistas políticos que escreveram o programa do primeiro governo do Nelson Mandela (e depois foram despedidos), tem economistas que chumbam os alunos se eles usarem uma função de produção que agrege capital, tem princesas herdeiras de reinos árabes a estudar mestrados em estudos femininos e organiza exposições com pintores e poetas de países que eu, há poucos meses, não conseguiria identificar no mapa. Por mais que pareça diferente, a SOAS não é vista em Londres como uma faculdade especial - a não ser pela lenda do bar. Se tirarmos a UCL, os estudantes da Universidade de Londres (a única universidade pública na capital, que inclui a LSE, a UCL, a SOAS, etc...) não usam polo ralph lauren, não têm camisas as quadrados, nem ratos gigantes nas costas, não têm carro que se confunda com o pénis e têm um cérebro. Lembro-me do meu primeiro ano na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, em que um professor que um dia até foi ministro perguntou à turma toda se havia ali alguém comunista. Como ninguém respondeu, ele disse que estava satisfeito por não ter que chumbar ninguém. Percebe-se porquê. A academia Portuguesa luta diariamente por se afirmar num contexto intelectual maioritariamente de esquerda dogmática. A Inglaterra nunca teve esse trauma. Cambridge, por exemplo, tem uma Universidade que muita gente considerará ortodoxa, e no entanto também chumbam alunos que agregem capital na função de produção - se não o fazem deviam, porque foi lá que se provou ser uma fraude. Foi e é a casa dos mais famosos economistas que lutaram contra a ortodoxia, e abriga um dos poucos jornais científicos que publica além das hipóteses que definem o paradigma autista da economia neoclássica. Em suma, a academia britânica nunca teve medo do confronto, e esteve quase sempre - tirando Oxford - na linha da frente do que seria considerado a esquerda intelectual. Sim, a academia britânica está muito mais à esquerda que a academia continental, embora a sua sociedade esteja muito mais à direita. É comum ver mulheres que usam burka nas faculdades britânicas, ou associações de estudantes que proibem a venda de coca-cola.
A diferença começa a tornar-se, no entanto, perigosamente homogénea - primeira imagem a despropósito: uma rapariga que conhecia dizia-me que, no Rio, as grandes promessas eleitorais eram pavimentar as favelas e combater a pobreza, mas que, na prática, as duas coincidiam. Há umas semanas a sociedade judáica, da minha faculdade, convidou um membro da diplomacia de Sharon para uma conferência. De imediato, a associaçao de estudantes reuniu e concordou em anular esse convite. Por mais paradoxal que pareça, a razão invocada, num curto email, foi a defesa da diferença. Ken Livingston, o presidente da câmara de Londres, foi bruto com um jornalista judeu. Licenciou-se na SOAS. Foi convidado para ser o presidente honorário da associação de estudantes. Pouco depois, esta promoveu um debate sobre o assunto, e houve tantos assobios que se decidiu retroceder no convite. O próprio governo teve que intervir, forçando o reitor a censurar a associação de estudantes e obrigá-la a voltar atrás nas duas decisões. Mas isso não anula o problema. Uma das melhores faculdades brintânicas, St. Andrews, na Escócia, convidou o presidente do partido nacionalista inglês. Receberam tantos telefonemas com ameaças de morte que decidiram cancelar o convite. Em nome da segurança dos seus alunos.
Não quero dar um sentido ao que escrevi atrás, concluir ou tirar ilações sobre o futuro da humanidade - mesmo que isso dê razão a quem leu até aqui, achou que isto agora é que era e me insulta avidamente. Já disse que o partido trabalhista vai ganhar com enorme vantagem, e é tudo o que me importa concluir sobre o assunto. No entanto, a imagem é recorrente: quanto menos vítimas é que o lado bom da barricada faz em comparação com o lado mau? Quanto menos alemães é que foram mortos, em relação aos aliados?
A outra imagem que me ocorre é esta: a maioria das raparigas que saem à noite em Londres fazem-no de mini-saia e sem meias. Mesmo com os oito graus negativos de há dois meses atrás, e mesmo que tenham que fazer fila de uma hora para entrar num club. Nas faculdades, uma enorme proporção de raparigas usa burka.
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