terça-feira, maio 24, 2005

12 de Maio de 1949.


Termina o bloqueio ruuso à cidade de Berlim. Durante 28 anos, de 1961 a 1989, a população de Berlim, ex-capital do Reich alemão, com mais de três milhões de pessoas, padeceu uma experiência ímpar na história moderna: viu a cidade ser dividida por um imenso muro. Situação de verdadeira esquizofrenia geopolítica que cortou-a em duas partes, cada uma delas governada por regimes politicos ideologicamente inimigos. Abominação provocada pela guerra fria, a grosseira parede foi durante aqueles anos todos o símbolo da rivalidade entre Leste e Oeste, e, também, um atestado do fracasso do socialismo real em manter-se como um sistema atraente para a maioria da população alemã.


As Primeiras Pedras

"Terrível! Esta fronteira de pedra ergue-se... ofende/ os que desejam ir para onde lhes aprouver/ não para um túmulo de massa/ um povo de pensadores."

Volker Braun, 1965


Na manhã bem cedo do dia 13 de agosto de 1961, a população de Berlim, próxima à linha que separava a cidade em duas partes, foi despertada por barulhos estranhos, exagerados. Ao abrirem suas janelas, depararam-se com um inusitado movimento nas ruas a sua frente. Vários Vopos, os milicianos da RDA (República Democrática da Alemanha), a Alemanha comunista, com seus uniformes verde-ruço, acompanhados por patrulhas armadas, estendiam de um poste a outro um interminável arame farpado que alongou-se, nos meses seguintes, por 37 quilômetros adentro da zona residencial da cidade. Enquanto isso, atrás deles, trabalhadores desembarcavam dos caminhões descarregando tijolos, blocos de concreto e sacos de cimento. Ao tempo em que algum deles feriam o duro solo com picaretas e britadeiras, outros começavam a preparar a argamassa. Assim, do nada, começou a brotar um muro, o pavoroso Mauer, como o chamavam os alemães.


Berlim fora conquistada pelo Exército Vermelho em maio de 1945. De comum acordo, acertado pelo tratado de Yalta e confirmado pelo de Potsdam, entre 1944-45, não importando quem colocasse a bota ou a lagarta do tanque por primeiro na capital do III Reich, comprometia-se a dividi-la com os demais aliados. Desta maneira, apesar dos soviéticos tomarem antes a cidade, e também um expressivo território ao seu redor, tiveram que ceder o lado ocidental dela para os três outros membros da Grande Aliança, vitoriosa em 1945. Assim Berlim viu-se administrada, a partir de 8 de maio de 1945, em quatro setores: o russo, majoritário, o americano, o inglês e o francês. Com o azedar da relação entre os vencedores, em 1948 as quatro zonas reduziram-se a duas: a soviética e a ocidental. Em seguida, Stalin decidiu-se por um bloqueio total contra a cidade em represália ao Plano Marshall, que visava promover o reerguimento econômico da Europa destroçada pela guerra. Todas as estradas de rodagem e de ferro que ligavam Berlim com a Alemanha Ocidental foram então fechadas pelos soviéticos, na tentativa de fazer com que os aliados ocidentais desistissem da sua parte na cidade. Ou saíam ou os berlinenses morreriam de fome e frio.


A resposta norte-americana foi lançar mão de uma ponte aérea, a Berlin Airlift, que durou onze meses, de 25 de junho a 12 de maio de 1949, transportando milhares de toneladas de alimentos para manter os berlineses alimentados e aquecidos. O general Tunner aproveitou a ocasião, através da Operation Vittles, Operação Alimentos, para dar um verdadeiro show aéreo de eficiência: as toneladas diárias desembarcadas nos três aeroportos de Berlim saltaram de 5,4 toneladas ao dia para 7,8, sendo que em 16 de abril de 1949 ele fez com que, durante 24 horas ininterruptas, 1.398 vôos descarregassem 13 mil toneladas de carvão de uma vez só. Nos dois primeiros meses de operação, 100 mil toneladas haviam sido despejadas. Em vista disso, a ação soviética mostrou-se totalmente inoperante, obrigando Stalin a desistir por completo em 12 de maio de 1949. O toque de ironia quase surrealista daquela situação é que os mesmos aviões e as mesmas tripulações que três anos antes haviam bombardeado Berlim, agora mobilizavam-se para salvar seus habitantes de uma grande desgraça.

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