Exterminadores implacáveis.
"O PS está a aproveitar as profundas divergências na direita para a massacrar sadicamente com o chicote do défice, criando um alibi para as medidas difíceis. Atenção que o PS trabalha por camadas. Primeiro, foi Santana. Quem julgou que se salvava e até preferiu Santana a Sócrates está hoje a começar a provar o sabor da implacável máquina socialista. A maneira como os socialistas estão a tentar inocular o estigma da incompetência santanista em Manuela Ferreira Leite até assusta, o que não deixa de ser um aviso para... Cavaco Silva.
Quem a estratégia do PS parece querer poupar é Marques Mendes, que os socialistas estão convencidos que pode vir a ser um bom seguro de vida de Sócrates (quando for preciso fazer funcionar a apólice). A última vez que o PS achou que tinha um seguro de vida foi com Durão Barroso (depois, como se sabe, o sinistro acabou por cair em cima de António Guterres). Há muitos que subestimam o actual líder do PSD. Atenção que Marques Mendes pode ser uma espécie de Trapattoni, com um jogo que não é bonito mas que, com frieza e calculismo, pode levar a água ao seu moinho. Por sua vez, Sócrates pode estar sobrevalorizado. Em 1998, quando Durão chegou à liderança do PSD, Guterres também parecia imbatível...
Quem os socialistas não poupam são os arautos dos dois últimos governos da direita, primeiros-ministros e ministros das Finanças. Jorge Coelho teve mesmo o desplante de considerar, esta segunda-feira, que o défice de 6,83 é da exclusiva responsabilidade de Santana Lopes e Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix. É paulada da grossa e oferece poucos riscos. Durão está em Bruxelas e não se queixa. Santana está acabado. Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix estão muito isolados, apesar de continuarem a disparar. Bagão Félix deu uma lição de competência e seriedade no último "Prós e Contras", da RTP 1. Manuela Ferreira Leite atirou à "mouche" quando disse, na Rádio Renascença, que há pouco mais de um ano o problema do PS ( e de Jorge Sampaio) era haver mais vida para além do Orçamento. Afinal, parece que não há mesmo mais vida para além do OE. Este facto, inegável, parece, aliás confirmar o total embuste do PS nesta questão do défice. O busílis é que quando Durão fez o discurso da tanga e pediu colaboração ao PS, os socialistas fizeram-lhe um manguito. Quando Ferreira Leite e Bagão Féliz eram ministros, os socialistas queriam era rambóia. Hoje, que são poder, querem viver dedicadamente para o Orçamento. Bolas, claro. Além do mais, até o Piruças sabia mais ou menos, há três meses, o valor do défice, o que só fortalece a ideia da encenação socialista para justificar medidas contrárias às que foram prometidas na campanha eleitoral. Estas promessas, feitas há tão pouco tempo, são outro busílis da questão. O povo foi ou não enganado? É possível invocar o direito de resistência e não pagar o aumento dos impostos? São coisas como estas que provam o afundamento dos políticos portugueses.
Os super-heróis. Atenção que, com estes socialistas, formados na sofisticação socrática, estamos a lidar com superprofissionais, gente que trabalha em rede, por camadas, com uma cúpula em S. Bento e peças espalhadas por muitos sítios, funcionando como batedores do executivo . Na última segunda--feira, quem tinha dúvidas da Rede Socialista devia ter assistido à frenética movimentação de peças pela comunicação social, preparando as medidas que hoje o engenheiro Sócrates vai apresentar na Assembleia da República. João Cravinho esteve na Rádio Renascença, debatendo o défice com Manuela Ferreira Leite. Guilherme Oliveira Martins esteve na SIC a defender o aumento dos impostos. Pina Moura, sempre activo, bisou na RTP 1 e na SIC. Foi a este último ex-ministro das Finanças do PS que coube anunciar (praticamente) o aumento do IVA de 12 para 19 por cento em alguns produtos. Como se sabe, no mesmo dia Vítor Constâncio apresentou o seu "relatório 6,83", o que indica que nada está a ser deixado ao acaso e que tudo é concertado. Ainda por cima, há peças para todos os gostos, o original Cravinho, o acutilante Pina Moura, o afável Oliveira Martins, o "bulldozer" Jorge Coelho.
A comunicação social parece ter um papel crucial na estratégia do PS. Uma semana antes de Vítor Constâncio apresentar o seu "relatório 6,83" não se falava de outra coisa nos jornais e na televisão. Parece que há peças no PS com a função de alimentar os jornais e a televisão, colocando-os ao serviço da Rede. O ministro Mário Lino chegou a falar, na Assembleia da República, no défice de 7 por cento. Houve quem, ingenuamente, esfregasse as mãos com a "gaffe". Santa ingenuidade. É preciso tomar consciência profunda com quem estamos a lidar. Não foram sete por cento, foram 6,83, talvez tendo havido, aqui, a preocupação de criar uma pequena folga psicológica. Com o aumento do IVA as coisas devem correr da mesma maneira. Hoje, vamos ver confirmadas as "previsões" de Pina Moura e Oliveira Martins do aumento do IVA.
Em suma, o PS tem um Governo em S. Bento e outro que se passeia pela comunicação social, liderado por Pina Moura e Jorge Coelho, cuja função é preparar as medidas difíceis e almofadar o engenheiro Sócrates. Não há dúvidas de que o primeiro-ministro trabalha com rede. Também não devem existir dúvidas de que está tudo tão exemplarmente montado que, depois de 20 de Fevereiro houve, certamente, uma mega-reunião socialista para escolher as peças e fazer a atribuição de funções, dentro e fora do Governo.
O horror no PSD. Manuela Ferreira Leite não se pode atirar como gostaria à grande operação mistificadora que os socialistas montaram com o défice 6,83 porque a sua intervenção poderia obrigar à defesa de Santana Lopes. Marques Mendes também não defende Ferreira a Leite a sério porque nada tem a ganhar politicamente. Quanto a Santana e Bagão, Marques Mendes nem quer ouvir falar. Cavaco Silva, como se sabe, até já disse que estava de acordo com as linhas gerais que o executivo de José Sócrates tem aplicado, o que só confirma a sua corrida a solo para Belém, alheio a outras necessidades. António Borges não deve nada a ninguém e a sua postura é um pouco como a de Cavaco, correndo a solo, apostando que o PSD ainda vai precisar dele para regressar ao poder. Até o próprio Santana já disse que admirava o engenheiro Sócrates, no fundo preferindo o líder do PS ao líder do PSD. Os social-democratas vivem tempos de horror."
Por Paulo Gaião.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home