segunda-feira, agosto 01, 2005

Ele há tocas e tocas...

Cavar, limpar galerias faz parte do nosso trabalho de toupeiras.

A propósito de trabalhos do género e porque se fala muitas vezes sem referências, apenas por falar, desenterro um episódio, lembrado pelos mais velhos e a propósito deste sítio já chamado de Portugal com letra grande.

"Em 21 de Janeiro de 1961, o paquete português Santa Maria deixara Curaçau e La Guaira, onde embarcaram numerosos passageiros. Pela 1,30 da madrugada do dia 22, alguns daqueles passageiros atacaram com revólveres e metralhadoras ligeiras os centros vitais do navio, subjugaram o comandante, assassinaram o oficial de quarto, agrediram outros oficiais, apoderaram-se do paquete.

Este conduzia 370 tripulantes e cerca de 600 passageiros. Depois, o Santa Maria é desviado da sua rota, e durante dias cruza os mares da América Central. No comando do assalto e dominando depois o navio está Henrique Galvão.(...)

Porque os Estados Unidos e a Inglaterra dispõem de importantes unidades navais na zona, o governo português dirige-se aos governos americano e britânico pedindo ajuda para a captura do paquete, recomendando o máximo cuidado, dado que Henrique Galvão anunciara pela rádio que faria afundar o Santa Maria se contra este fosse usada a força; e Washington e Londres fazem sair barcos das suas esquadras ao encontro do paquete português. Em quarenta e oito horas, porém, Washington, muda de atitude, e além de se desinteressar do aprisionamento do Santa Maria, dá ao mundo a sensação, através de declarações oficiosas, de que considera o acto de Galvão como político, praticado em nome da democracia e em legítima oposição ao governo de Lisboa; e quando no mar alto navios da esquadra norte americana encontraram o paquete português, um almirante dos Estados Unidos vai a bordo deste conferenciar com Henrique Galvão.(...)"

...Depois de várias peripécias e porque Galvão não obtém apoio ou adesão de tripulantes ou passageiros, e a situação mantida pela força, se torna insustentável, o navio segue para o Brasil, (na altura tinha como presidente Jânio Quadros) e entregue ao adido naval português.

(...) "Para embaraçar os governos de Washington e Rio de Janeiro, é agradecida a sua cooperação, amigável e a sua atitude correcta."

(...) "E o governo português, precisamente porque põe de parte considerações de natureza política, afirma que não instará por que lhe sejam entregues os responsáveis pelos crimes de roubo, assassínio, ofensas corporais,... e sequestro de centenas de pessoas, confiando o apuramento dessas responsabilidades ao critério e consciência da comunidade internacional."

Excertos de "O Estado Novo" de Franco Nogueira.

Interessante, como um acto de terrorismo, pode ser interpretado de várias maneiras conforme os interesses, e as motivações.

Isto para lembrar que os heróis de hoje podem passar a vilões amanhã e vice versa, conforme os ventos e as marés dos interesses políticos e económicos, em nome da democracia ou da religião, sendo hoje talibãs amigos e amanhã terroristas.

Por mim cava a toca da forma que aches melhor, mas não te esqueças que nela terás de dormir e descansar.

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