domingo, outubro 23, 2005

Empreste a mulher, nunca o carro.

"Nos meus tempos de juventude e de moinice era costume dizer-se que havia duas coisas que nunca se emprestavam: a mulher e o carro!

Está visto que as coisas mudaram por completo. Então no que respeita a mulheres o problema já não é haver quem as empreste, mas basicamente quem as queira receber de volta, obrigando a cuidados redobrados de cada vez que nos querem impingir o produto.

Já nos carros a evolução não foi tão radical, e ainda sentimos um arrepio na espinha quando, por qualquer razão, somos obrigados a ceder as chaves do veículo a um manguela qualquer.

Mas o pior mesmo é se temos de entregar o volante à esposa ou equivalente. Não me refiro, claro está, àquelas cenas da fase de engate, em que, para impressionar e acelerar a sequência dos inevitáveis acontecimentos, colocamos a rapariga no lugar do condutor para que possa sentir toda a potência dos cavalos do motor.

É claro que o maior interesse da situação advém de facto de estarmos sentados ali ao lado, com as mãos completamente livres para mexer e remexer no produto, enquanto a dita se entretém a segurar o volante e na alavanca de velocidades.

O grave mesmo é quando a legitima se apropia inopinadamente do veículo para ir ao shopping ou buscar as crianças, sem manifestar qualquer respeito ou consideração pelo enorme esforço que despendemos a comprar e manter o bicho.

O problema é que as mulheres, quando olham para um carro, limitam-se a visualizar nada mais que um meio de transporte. As tontas não percebem ainda que para isso há os táxis, os autocarros, os comboios ou até os burros que servem muito bem esse objectivo e a metade do preço.

Ora, um carro, o nosso carro, nada tem a ver com ir do ponto A ao ponto B. A necessidade de uma deslocação ou de um percurso é apenas e só um argumento para pôr o motor a rodar e desfrutar da felicidade imensa de conduzir e subjugar o animal, fazendo com que ele obdeça a qualquer instrução que lhe transmitimos com os pés ou com as mãos.

Na verdade, o carro é o verdadeiro prolongamneto do nosso ser, e tudo o que fazemos com ele é reflexo da nossa personalidade e carácter. É exactamente por isso que compramos carros muito acima do que podemos e seguramente para além do que algum dia precisaremos, que os enchemos de acessórios e mariquices, que gastamos a tarde de domingo a lavá-los e a encerá-los.

Pois as tipas não respeitam nada e tratam o desgraçado a coice, esticando a primeira para lá do red-line, enjavardando o bando de trás com sacos de comida e ramos de verdura, enfiando-lhe com alegria amolgadelas no guarda-lamas e sujeitando o pobre a atrocidades várias de arrepiar a medula.

Esta completa incapacidade do mulherio em compreender o valor intrínseco e emocional de um automóvel leva-as também a comportarem-se na estrada de modo totalmente amorfo e insípido. É certamente por isso que quase nunca apanham multas e respeitam sinais de trânsito à risca, incluindo os ridículos limites de velocidade.

Trata-se de um comportamento altamente perigoso para os demais utentes da via pública, que a última coisa que esperam é que o veículo da frente atasque pepentinamente nos 50 ou trave num semáforo amarelo. Enfim, uma completa inconsciência.

Já connosco a coisa é completamente diferente, uma vez que o carro deve reflectir o estado de espírito em que nos encontramos. Se estamos irritados com o emprego, ultrapassamos furiosamente pela direita, se estamos chateados com a amante apitamos no meio da bicha, se as coisas nos correm bem aceleramos à grande, se nos correm mal acelaramos ainda mais. Enfim, uma alegria, uma multiplicidade e uma riqueza de comportamentos que as tolas das mulheres nunca poderão compreender
."

Manuel Ribeiro.

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