O Falcon e o OE
"O Governo ficou muito incomodado com uma pequena notícia que a SIC divulgou na segunda-feira sobre o meio de transporte que o primeiro-ministro utilizou para se deslocar ao Portugal – Liechenstein, jogado sábado à noite em Aveiro. A notícia contava que José Sócrates tinha decidido ir de avião a Aveiro (mais precisamente a Ovar) e recordava algumas polémicas recentes (muitas delas alimentadas pelo Partido Socialista) sobre a utilização dos nossos prestimosos Falcon. Como sempre, o Governo demorou a explicar que a agenda (que ninguém conhecia) do primeiro-ministro foi muito intensa nesse dia e que só por este meio ele chegaria a tempo de ver Portugal qualificar-se para o Mundial de 2006. Houve ainda mais umas explicações sobre as horas de voo necessárias (e já pagas) para a manutenção do acordo com a Força Aérea.
Será sempre ridículo discutir se o primeiro-ministro deve ir para Aveiro de Falcon ver um jogo de futebol num Sábado à noite e mandar uma comitiva de carros por estrada para o ir buscar. É, no mínimo, miserabilista. Mas o que o governo tem que perceber é que há factos aparentemente pouco relevantes que acabam a ser noticiados e comentados porque são “exemplos”. Santana Lopes era mestre em não perceber isto e o Partido Socialista lá vai tendo os seus pequenos casos, dos quais a reforma acumulada do Ministro das Finanças era o mais óbvio e as nomeações “rosa” os mais tristes.
O único problema da viagem de Falcon é que surge num Estado que continua a gastar muito e mal. Em que, a par de alguns ataques correctos a corporações, continuamos a assistir a gastos completamente tontos, duplicação de institutos, mega-gabinetes ministeriais (cheios de requisitados da “privada”), nenhuma mobilidade de pessoal, etc. O Orçamento de Estado de 2006 é o documento-chave para inverter esta situação e esta percepção. José Sócrates já prometeu (numa reunião partidária) a “maior redução do défice real da história das finanças públicas”. Tem agora a oportunidade de o cumprir.
Tenho a certeza que o governo que fizer algo a sério nas Finanças Púbicas não precisa de se armar em moralista nem dar provas de estoicismo para que todos percebamos que o esforço é, de facto, conjunto. O Governo não precisa de mandar os ministros de transportes públicos para os jogos da selecção (já agora, porquê tantos a ver o jogo?), precisa, isso sim, de mostrar que está a fazer algo que torne sustentável este País, algo que mostre que as nossas despesas não vão continuar a crescer descontroladamente a caminho do precipício. E é aqui que entra o Falcon e o número de secretárias e essas coisas todas que também fazem parte deste jogo político. Um governo que gira bem o país não terá que explicar os seus actos mais comezinhos.
Deixo só mais um conselho ao governo. Deixem as presidenciais aos candidatos e o referendo do aborto aos movimentos de cidadãos. O país não se gere condicionado por corridas eleitorais de curto prazo. Quem o fizer, dará todas as condições ao próximo presidente para dissolver a Assembleia. Há muita gente que continua a dizer que Jorge Sampaio criou um precedente terrível ao dissolver um parlamento maioritário. Enganam-se: Santana Lopes é que criou as condições para a dissolução."
Ricardo Costa
Será sempre ridículo discutir se o primeiro-ministro deve ir para Aveiro de Falcon ver um jogo de futebol num Sábado à noite e mandar uma comitiva de carros por estrada para o ir buscar. É, no mínimo, miserabilista. Mas o que o governo tem que perceber é que há factos aparentemente pouco relevantes que acabam a ser noticiados e comentados porque são “exemplos”. Santana Lopes era mestre em não perceber isto e o Partido Socialista lá vai tendo os seus pequenos casos, dos quais a reforma acumulada do Ministro das Finanças era o mais óbvio e as nomeações “rosa” os mais tristes.
O único problema da viagem de Falcon é que surge num Estado que continua a gastar muito e mal. Em que, a par de alguns ataques correctos a corporações, continuamos a assistir a gastos completamente tontos, duplicação de institutos, mega-gabinetes ministeriais (cheios de requisitados da “privada”), nenhuma mobilidade de pessoal, etc. O Orçamento de Estado de 2006 é o documento-chave para inverter esta situação e esta percepção. José Sócrates já prometeu (numa reunião partidária) a “maior redução do défice real da história das finanças públicas”. Tem agora a oportunidade de o cumprir.
Tenho a certeza que o governo que fizer algo a sério nas Finanças Púbicas não precisa de se armar em moralista nem dar provas de estoicismo para que todos percebamos que o esforço é, de facto, conjunto. O Governo não precisa de mandar os ministros de transportes públicos para os jogos da selecção (já agora, porquê tantos a ver o jogo?), precisa, isso sim, de mostrar que está a fazer algo que torne sustentável este País, algo que mostre que as nossas despesas não vão continuar a crescer descontroladamente a caminho do precipício. E é aqui que entra o Falcon e o número de secretárias e essas coisas todas que também fazem parte deste jogo político. Um governo que gira bem o país não terá que explicar os seus actos mais comezinhos.
Deixo só mais um conselho ao governo. Deixem as presidenciais aos candidatos e o referendo do aborto aos movimentos de cidadãos. O país não se gere condicionado por corridas eleitorais de curto prazo. Quem o fizer, dará todas as condições ao próximo presidente para dissolver a Assembleia. Há muita gente que continua a dizer que Jorge Sampaio criou um precedente terrível ao dissolver um parlamento maioritário. Enganam-se: Santana Lopes é que criou as condições para a dissolução."
Ricardo Costa
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