quarta-feira, maio 10, 2006

A arte da manipulação e as contabilidades artísticas

As contas e as estatísticas manipuladas fazem parte dos hábitos dos que mandam no sítio, ou melhor, os que são criados dos que mandam. Porque o hábito faz o monge, tornou-se um costume de marketing, e o marketing ou a cosmética fazem o destino para que foram criados.

Assim o homem que guarda o sítio, onde deveria haver o ouro das reservas, tornou-se num ser tipo delfo, não sei se é o termo, mas tem as orelhas em bico de tanto puxadas.

Depois os outros apenas dizem palavras de ocasião, em discussões que se passam na assembleia eleita pelas ovelhas do sítio, parecendo velório em que cada um, como nos enterros à americana, usam a retórica barata para fazer crer que uns são oposição e outros governo, seguindo-se as palmas, como agora também nos enterros de gente importante do sítio, coisa que ainda não entendi, porque não gosto de ouvir palmas num enterro, mas os costumes e hábitos ou a pele, cada um os deve sentir como seus.
Ficamos a saber por cada relatório que o crescimento vai ser este ou aquele, dependendo da dependência do mercado do petróleo, o que para o efeito é uma ajuda importante porque a culpa morre sempre solteira.

Entretanto os políticos que saíram, encontram depois de reformados à boa maneira do novíssimo estado do sítio e dos seus novíssimos príncipes, novas tarefas como assessores dependentes e independentes, e são tantos que se perde a conta, desde ex-primeiro ministro, ex-ministro, ex-deputado, ex-presidente de câmara, ex-aquilo que se lembrarem ou procurarem.

Como antes, em Cascais, onde residia a sede do poder real, os tecnocratas viviam nas imediações e participavam nas festas, nos bailes, na aparência exterior e ao mesmo tempo insultavam o sacrifício aos que gastavam a vida no serviço, nem sequer profissional, das fileiras; os de hoje, da esquerda à direita, continuam em festa, dividindo como sempre o país em dois, os oportunistas de todo o género e os que trabalham e se sacrificam sempre e sempre com mais pedidos de sacrifícios, a bem do novíssimo estado do sítio.

Em todos os grandes embusteiros há um fenómeno digno de nota, ao qual eles devem o seu poder. No próprio acto do embuste, entre todos os preparativos, com o horripilante na voz, na expressão, nos gestos, no meio da eficiente encenação, acomete-os a crença em si próprios: é esta que, tão milagrosa e fascinante, fala então aos circunstantes. Os fundadores das religiões distinguem-se desses grandes embusteiros por não sairem deste estado de auto-ilusão: ou, muito raramente, lá têm aqueles momentos mais lúcidos, em que a dúvida os subjuga; mas, habitualmente, consolam-se, atribuindo esses momentos mais lúcidos ao maligno Satanás. O engano de si próprio tem de estar presente, para que estes como aqueles façam um efeito grandioso. Pois as pessoas acreditam na verdade daquilo que, visivelmente, é crido com veemência.”

Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Excellent, love it! »

segunda-feira, março 05, 2007  

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