O deserto sem guias
"É fácil estabelecer a ordem de uma sociedade na submissão de cada um dos seus componentes a regras fixas. É fácil moldar um homem cego que tolere, sem protestar, um mestre ou um Corão. Mas é muito diferente, para libertar o homem, fazê-lo reinar sobre si próprio.Mas o que é libertar? Se eu libertar, no deserto, um homem que não sente nada, que significa a sua liberdade? Não há liberdade a não ser a de «alguém» que vai para algum sítio. Libertar este homem seria mostrar-lhe que tem sede e traçar o caminho para um poço. Só então se lhe ofereceriam possibilidades que teriam significado. Libertar uma pedra nada significa se não existir gravidade. Porque a pedra, depois de liberta, não iria a parte nenhuma."
Antoine de Saint-Exupéry, in 'Piloto de Guerra'
Começo com este pequeno texto, escrito por um príncipe da literatura. De facto o que é que sobra da libertação? Parece-me que sobra o deserto para onde foram libertados os humanos do sítio. Sem caminho traçado e sem horizontes.
Porque será? Quem são os causadores?
Como toupeira penso que os ratos, ou melhor as ratazanas, que enxameiam os corredores do poder. Identificam-se entre si pelo cheiro e quem não faz parte do grupo é eliminado e esquecido.
O sítio cada vez mais mal frequentado e governado por interesses alheios aos interesses do cada vez maior rebanho quieto e sem chama, convém que assim seja e assim continue.
As reformas anunciadas não são reformas, são ordens de estranhos, mas no entanto donos do destino dos pobres humanos do sítio.
Dizia alguém, chamado de Medina Carreira que as unanimidades levam ao desastre, não por estas palavras, mas através de outras que fazem antever o futuro. De facto, apesar de se falar em governo e oposição, elas são face da mesma moeda e esta apenas tem valor para os que delapidam tudo o que foi um país.
A justiça vale o que vale em tempos de crise de valores. As reformas anunciadas na saúde e na segurança social servem apenas para alimentar um monstro com a forma de polvo. Todos os dias fecham empresas e são recusados liminarmente projectos de investimento porque quem os propõe não tem cheiro de ratazana instalada; nem cheiro, nem hábitos, nem dono. Na educação continua o arrazoado de asneiras.
A alternância que tanto agradava ao geronte chamado de Soares serve perfeitamente para perpetuar a vitória dos imbecis, dos incapazes e dos cinzentos, aguardando-se a grande opa dos iberistas confessos, não se sabendo se já distribuíram os pelouros, porque as mais valias já estão distribuídas pelos donos de fortunas roubadas a todos os que são obrigados a contribuir para um estado que de tal só tem o nome. São tantos, que à sua volta criaram o deserto e a cada vez maior pobreza da chamada classe média.
O fundo do poço está aí e não será possível afundá-lo muito mais.
O verão está à porta e com ele o negócio dos fogos e da indústria do fogo que decerto queimará tudo o que ainda não ardeu, mas que decerto enriquecerá ainda mais os donos da mesma.
Portanto os humanos do sítio irão continuar a caminhar com o olhar triste e fixado para o chão, mas apenas fixado nele e sem dele levantar os olhos, porque o horizonte não existe, mas está lá, como o céu que muda de fisionomia todos os dias, bastará para tal que a alma ainda tenha vida e que esta consiga juntar-se a outras que pensam da mesma forma e não estejam corrompidas pela corrupção, pelo nepotismo, pelo tráfico de influências e pela plutocracia que envenenou o sítio e o pensamento dos que ainda acreditam e que só podem correr por fora do sistema e contra ele.
"A minha civilização repousa sobre o culto do Homem através dos indivíduos. Teve o desígnio, durante séculos, de mostrar o Homem, assim como ensinou a distinguir uma catedral através das pedras. Pregou esse Homem que dominava o indivíduo...Porque o Homem da minha civilização não se define através dos homens. São os homens que se definem através dele. Há nele, como em todo o Ser, qualquer coisa que os materiais que o compõem não explicam. Uma catedral é uma coisa muito diferente de uma soma de pedras. É geometria e arquitectura. Não são as pedras que a definem, é ela que enriquece as pedras com o seu próprio significado. Essas pedras ficam enobrecidas por serem pedras de uma catedral. As pedras mais diversas servem a sua unidade. A catedral as absorve, até às gárgulas mais horrendas, no seu cântico. Mas, pouco a pouco, esqueci a minha verdade. Julguei que o Homem resumia os homens, tal como a Pedra resume as pedras. Confundi catedral e soma de pedras, e, pouco a pouco, a herança desvaneceu-se. É preciso restaurar o Homem. Ele é a essência da minha cultura. Ele é a chave da minha Comunidade. Ele é o princípio da minha vitória."
Antoine de Saint-Exupéry, in 'Piloto de Guerra'
Antoine de Saint-Exupéry, in 'Piloto de Guerra'
Começo com este pequeno texto, escrito por um príncipe da literatura. De facto o que é que sobra da libertação? Parece-me que sobra o deserto para onde foram libertados os humanos do sítio. Sem caminho traçado e sem horizontes.
Porque será? Quem são os causadores?
Como toupeira penso que os ratos, ou melhor as ratazanas, que enxameiam os corredores do poder. Identificam-se entre si pelo cheiro e quem não faz parte do grupo é eliminado e esquecido.
O sítio cada vez mais mal frequentado e governado por interesses alheios aos interesses do cada vez maior rebanho quieto e sem chama, convém que assim seja e assim continue.
As reformas anunciadas não são reformas, são ordens de estranhos, mas no entanto donos do destino dos pobres humanos do sítio.
Dizia alguém, chamado de Medina Carreira que as unanimidades levam ao desastre, não por estas palavras, mas através de outras que fazem antever o futuro. De facto, apesar de se falar em governo e oposição, elas são face da mesma moeda e esta apenas tem valor para os que delapidam tudo o que foi um país.
A justiça vale o que vale em tempos de crise de valores. As reformas anunciadas na saúde e na segurança social servem apenas para alimentar um monstro com a forma de polvo. Todos os dias fecham empresas e são recusados liminarmente projectos de investimento porque quem os propõe não tem cheiro de ratazana instalada; nem cheiro, nem hábitos, nem dono. Na educação continua o arrazoado de asneiras.
A alternância que tanto agradava ao geronte chamado de Soares serve perfeitamente para perpetuar a vitória dos imbecis, dos incapazes e dos cinzentos, aguardando-se a grande opa dos iberistas confessos, não se sabendo se já distribuíram os pelouros, porque as mais valias já estão distribuídas pelos donos de fortunas roubadas a todos os que são obrigados a contribuir para um estado que de tal só tem o nome. São tantos, que à sua volta criaram o deserto e a cada vez maior pobreza da chamada classe média.
O fundo do poço está aí e não será possível afundá-lo muito mais.
O verão está à porta e com ele o negócio dos fogos e da indústria do fogo que decerto queimará tudo o que ainda não ardeu, mas que decerto enriquecerá ainda mais os donos da mesma.
Portanto os humanos do sítio irão continuar a caminhar com o olhar triste e fixado para o chão, mas apenas fixado nele e sem dele levantar os olhos, porque o horizonte não existe, mas está lá, como o céu que muda de fisionomia todos os dias, bastará para tal que a alma ainda tenha vida e que esta consiga juntar-se a outras que pensam da mesma forma e não estejam corrompidas pela corrupção, pelo nepotismo, pelo tráfico de influências e pela plutocracia que envenenou o sítio e o pensamento dos que ainda acreditam e que só podem correr por fora do sistema e contra ele.
"A minha civilização repousa sobre o culto do Homem através dos indivíduos. Teve o desígnio, durante séculos, de mostrar o Homem, assim como ensinou a distinguir uma catedral através das pedras. Pregou esse Homem que dominava o indivíduo...Porque o Homem da minha civilização não se define através dos homens. São os homens que se definem através dele. Há nele, como em todo o Ser, qualquer coisa que os materiais que o compõem não explicam. Uma catedral é uma coisa muito diferente de uma soma de pedras. É geometria e arquitectura. Não são as pedras que a definem, é ela que enriquece as pedras com o seu próprio significado. Essas pedras ficam enobrecidas por serem pedras de uma catedral. As pedras mais diversas servem a sua unidade. A catedral as absorve, até às gárgulas mais horrendas, no seu cântico. Mas, pouco a pouco, esqueci a minha verdade. Julguei que o Homem resumia os homens, tal como a Pedra resume as pedras. Confundi catedral e soma de pedras, e, pouco a pouco, a herança desvaneceu-se. É preciso restaurar o Homem. Ele é a essência da minha cultura. Ele é a chave da minha Comunidade. Ele é o princípio da minha vitória."
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8 Comments:
Nada mais digo de valor a acrescentar.
Bom fim-de-semana.
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