quinta-feira, novembro 09, 2006

A CRIL, sempre a CRIL.

"O bairro da Azinhaga dos Besouros, nos arredores de Lisboa, nasceu na década de setenta e morreu, agora, para dar lugar à CRIL (mais aqui).

Como era de esperar, a reportagem visava sobretudo impedir o fecho da CRIL. Efectivamente se havia dúvidas, depois de ver as condições em que vivia o último morador na única casa em pé, elas dissiparam-se. E então quando apareceram associações e advogados dos moradores a falar só da CRIL esquecendo a Azinhaga … Não há dúvidas que as corporações são fortes e se Sócrates continuar a manter a tradição do seu governo (protestos originam recuos), adeus CRIL. Que se Mantenha o enorme parque de "estacionamento de estacionamente" poluente da IC19 / 2ª circular.

Breve história sobre a CRIL:

A construção do troço da circular regional interior de Lisboa (CRIL) entre a Buraca e a Pontinha está parada há 11 anos. O projecto ficou na gaveta do primeiro-ministro Cavaco Silva, em 1995. E aí se manteve durante os dois governos de António Guterres e os governos de Durão Barroso e Santana Lopes. Também está na gaveta de José Sócrates, mas este promete que a obra se encontra entre as prioridades do governo.

Nove ministros das Obras Públicas tiveram o dossier em mãos. Mas nenhum, até hoje, conseguiu encontrar uma solução, que contentasse todas as partes, e assegurar o financiamento da obra. Foi a solução do ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Ferreira do Amaral, em 1995, que sucumbiu ao protesto e à oposição dos moradores do Bairro de Santa Cruz.

Derrotado o PSD nas legislativas de 1995, António Guterres ascendeu ao poder. No seu primeiro governo, o primeiro-ministro socialista teve três ministros na pasta das obras públicas. O ministro do Equipamento Social, Henrique Constantino, faleceu dois meses depois da tomada de posse do governo e foi substituído por Murteira Nabo. Este ocupou a pasta por apenas 16 dias. Assumiu então o cargo João Cravinho, em acumulação com o planeamento e a administração do território.

No segundo governo do PS, Jorge Coelho tutelou a pasta do equipamento social, cargo em que foi substituído pelo ministro Ferro Rodrigues. Com o regresso do PSD ao poder, em 2002, o Ministério voltou a designar-se das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. No governo de Durão Barroso, o titular da pasta foi António Carmona Rodrigues, enquanto António Mexia assumiu o cargo com Santana Lopes. Finalmente, Mário Lino é o ministro em exercício, no actual governo de José Sócrates.

CHOQUES DE INTERESSES

Com 11 anos de paragem e dez de atraso na sua conclusão, o congelamento da obra não pode ser imputado apenas à inépcia dos titulares das pastas. Há interesses divergentes e uma disputa surda por parte de corporações instaladas, mas também a opção política de protelar o fecho da CRIL nestes seus escassos 3.450 metros. Esta deve-se, designadamente, ao impacte eleitoral de uma decisão que vai gerar descontentamentos vários.

A conclusão da CRIL deveria ocorrer antes da abertura da circular regional exterior de Lisboa (CREL). Mas, desde logo, inverteram-se as prioridades. A CREL foi inaugurada em 1995 e a conclusão da CRIL protelada para 1996. Posteriormente, a abertura deslizou mais dois anos. Deveria estar pronta para a abertura da Expo98.

Em 1999, a meta apontada para a conclusão pelo Instituto das Estradas de Portugal (IEP) era o ano de 2003. No ano 2000, tudo parecia apontar para o derradeiro arranque. O IEP procedia à análise de 11 propostas para o fecho do troço, apresentadas por quatro consórcios constituídos por 35 empresas.

Mas com a chegada do PSD ao poder voltou-se à estaca zero. No governo de Durão Barroso, o ministro anunciou que a via estaria concluída em 2005. Na cerimónia de inauguração do lanço da CRIL em Algés, em 2003, o primeiro-ministro afirmou que estaria pronta em 2006.

A partir de 2003 sucederam-se os projectos e os estudos, sem qualquer avanço visível. Entretanto, em 2005, José Sócrates anunciou que, entre 2006 e 2008, a conclusão do troço vai avançar. O processo destes pouco mais de três quilómetros de via merecia um estudo de caso. É inverosímil uma ocorrência desta natureza, onde nada parece funcionar nem se vislumbra que pareceres, propostas, posições de autarcas e moradores produzam quaisquer efeitos.

Entretanto, no decurso do decénio, nasceram prédios, os moradores instalaram-se, fizeram as suas vidas e agora apresentam-lhes uma auto-estrada a passar à janela. O troço da CRIL passa na confluência de seis freguesias (Alfornelos, Benfica, Brandoa, Buraca, Damaia e Venda Nova), produzindo efeitos directos em parte de quatro delas e na totalidade das outras duas, num universo estimado de cerca de 70 mil pessoas
. "

Sobre o novo traçado da CRIL ver aqui.

Duas notas finais:

1/ Estando já as obras contempladas no PDM quando foram construídas as novas casas, não deviam os construtores indemnizar os moradores?

2/ Salvo erro, parece-nos que os perigos alertados pelas associações derivam do anterior traçado. Segundo o novo mapa, as curvas não parecem muito acentuadas.

3/ Porque não têm a mesma preocupação com os portugueses que moram nas ruas?

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estou convencida que foi uma perfeita montagem. Então aquela cena em que a vizinha diz que o outro não abre a porta por causa do herói lá ir dormir todos os dias é espectacular.

quinta-feira, novembro 09, 2006  

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