segunda-feira, dezembro 18, 2006

Judite de Sousa (RTP) - O Livro de Carolina

[... Não alinho em cinismos e em falsos moralismos de gente que se considera muito séria e que diz que nunca comprará semelhante "porcaria" embora já conheça todos os detalhes rocambolescos contados pela autora. Nem tão-pouco alinho no discurso pseudo-moralista dos que dizem que dadas as origens da senhora, não seria de admirar que o desfecho só poderia ser este. Neste ponto, não há comentários sobre a decência a fazer. Cada qual é quem é.

Só num país pacóvio é que as reacções à publicação de um livro como o de Carolina Salgado foram e são tão surpreendentes. Basta vermos a quantidade de histórias editadas na Grã-Bretanha, nos últimos anos, pelos amantes de Diana, mordomos e guarda-costas. Ou até esse grande "best-seller" publicado, recentemente em França, "Sexus politicus" sobre a vida íntima e os bastidores do poder dos políticos, os mortos e os vivos.

Quanto ao livro de Carolina, há duas partes uma é a história de vida da própria e das intimidades do casal. São páginas que se lêem a correr e que, confesso, são excelentes momentos de entretenimento. A outra parte do livro remete-nos para o "bas-fond" das negociatas da bola. Esse mundo, narrado por Carolina, é feito de vigarices, compadrios, ajustes de contas que, no limite, terminam em grandes tareias. Naturalmente, tudo isto terá de ser provado mas é, precisamente, neste ponto que o livro é verdadeiramente importante.

O livro teve o mérito de ressuscitar o "Apito Dourado", um processo judicial que estava adormecido e que todos já acreditavam que não iria dar em nada. No meio de elefantezinhos nos pijamas e de flatulências, o livro de Carolina recolocou em andamento a investigação sobre a corrupção no futebol. Quem julgava que o apito não iria apitar enganou-se. Já não é tão certo que assim seja. Perante o que está escrito, ninguém pode assobiar para o lado e fazer de conta que o que se sabe é pouco ou nada e que nada se consegue provar. Podem não existir provas para já, mas existem testemunhas ou, pelo menos, uma testemunha, a própria Carolina.

Com efeito, o livro agitou a máquina do Ministério Público e relançou a investigação.

O procurador Carlos Teixeira voltou a dar sinais de si, ficando o país também a saber que os senhores magistrados andavam a ser vigiados e a ver as suas vidas devassadas.

O livro de Carolina deu ainda ao procurador-geral da República a primeira oportunidade de brilhar. A prosa da antiga companheira de Pinto da Costa deu a Pinto Monteiro pretexto para mostrar trabalho e ainda por cima numa área onde a opinião pública espera "sangue ". O procurador, e bem, não desperdiçou a oportunidade e inteligentemente foi recuperar a "Passionária" da Justiça, Maria José Morgado. ...]

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