quarta-feira, janeiro 31, 2007

Soares ou Aznar?

"Considero Mário Soares uma personagem surpreendente porque penso que, depois de tantos anos na política, não aprendeu nada. O que fazer com os “ex” – condição na qual também me incluo – ?

Para alguém que já foi primeiro-ministro, e inclusivamente Presidente da República – tendo antes ocupado o cargo de secretário-geral do respectivo partido –, o futuro apresenta-se complicado. Os seus sucessores, por seu lado, gostariam que os “ex” mantivessem a boca fechada, uma vez que tudo o que disserem será incomodativo e inoportuno do ponto de vista político. Isto para mim, é um erro na perspectiva do interesse público. Devemos permitir que os “ex” continuem a falar e a escrever, neste caso sem as restrições colocadas pelo poder que impedem uma maior franqueza. Pessoalmente, acompanho dois “ex” de luxo, a saber, Mário Soares e José María Aznar. Considero Soares uma personagem surpreendente porque penso que, depois de tantos anos na política, não aprendeu nada. Continua a acreditar no socialismo e na esquerda como a melhor opção para o progresso, refutando a experiência histórica, que prova exactamente o contrário.

Também acredita que os EUA não constituem um modelo a seguir, que Bush é uma personagem nociva, e continua a apostar numa Europa forte, capaz de disputar e conquistar a liderança moral do mundo. Ou seja, continua a ser um utopista, o que, se tivermos em conta a sua avançada idade, é um mérito sem precedentes. Para Soares, a Europa deve consolidar o seu modelo social que fomenta a coesão, corrige desigualdades e proporciona o bem-estar geral. Cito estas ideias de Soares para as confrontar com as de Aznar – radicalmente opostas mas, na minha opinião, bem mais acertadas. Não porque o primeiro seja português e o segundo espanhol, mas sim porque este último pertence à direita liberal. Concordo com Aznar quando ele afirma que o modelo social europeu – tão apreciado por Mário Soares –, não fez mais do que colocar milhões de pessoas no desemprego, se bem que salvaguardadas por este Estado de Bem-Estar que tanto nos prejudica, e que mais não é do que um excelente antídoto para a economia produtiva ou a garantia ideal para o empobrecimento generalizado. E, enquanto a Europa, agora presidida pela senhora Merkel, está empenhada em continuar a discutir este modelo social, supostamente repleto de êxito, a verdade é que o mundo continua a rodar, violenta e rapidamente, na China ou na Índia – como se pode constatar, nestes dias, no Diário Económico -, alheio aos nossos problemas e ignorando, completamente, a nossa falta de ambição.

O cenário que se apresenta é o de um mundo globalizado e presidido por alterações tecnológicas constantes. Nunca a liberdade de comércio e de transferência esteve tão generalizada como actualmente, proporcionando oportunidades de progresso e bem-estar a tantos milhões de pessoas. No entanto, aqui na Europa, e graças a pessoas como Mário Soares, continuamos a preocupar-nos com as desigualdades existentes no mundo. Assim, o panorama que se devia traduzir em optimismo e numa vontade de fazer coisas novas, acaba por se transformar, na Europa, na reafirmação do modelo que continua a ser válido e merecedor de um aprofundamento. Porém, pessoalmente, acredito que a realidade é bem distinta. A Europa leva décadas a braços com um crescimento económico mínimo, sem comparação possível com os EUA. Ora, isso deveria ser suficiente para convencer pessoas como Soares da necessidade de alterar este paradigma, e de como o intervencionismo, o proteccionismo e o imobilismo são o caminho mais curto para a irrelevância mundial. Do ponto de vista económico, o Estado de Bem-Estar não só se mostrou impossível de ser financiado a longo prazo, como é perverso, culturalmente falando, pois deu origem a múltiplas gerações de jovens habituadas a ter a vida facilitada ou subsidiada, castrando, deste modo, a sua capacidade de criar riqueza e valor.

Mas há mais, principalmente na perspectiva política. Contrariamente ao que pensa Mário Soares, há muito que a Europa perdeu a esperança em si própria, porque faz tempo que renunciou à defesa dos seus valores, e à estima dos mesmos. O relativismo moral instalou-se na sociedade. Segundo Aznar, “uma parte da Europa, ou se quisermos, do Ocidente, parece fascinada pela tentação da autodestruição”, e demonstra uma vontade insólita em atribuir todos os males do mundo – desde os mais brutais e execráveis atentados terroristas à persistência da pobreza em extensas zonas do globo –, à arrogância ocidental. E quem pensa assim? Soares, claro. Neste momento chegámos a uma encruzilhada histórica que, sem dúvida, dará as boas vindas a qualquer contributo como, por exemplo, os dos “ex” presidentes Soares e Aznar. Pessoalmente preferiria o segundo, e o leitor?
"

Miguel Angel Belloso, Ex-director do “Expansion”

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo substancialmente com o que o articulista diz aqui neste artigo.Soares e um fossil.O Socialismo esta completamente desacreditado em todos as suas vertentes. O Socialismo tem sido desacreditado pelos factos historicos do ultimo seculo. As Esquerdas Europeias sao responsaveis pelo situacao em que se encontra a europa hoje. O Relativismo Moral e Cultural e a criacao dum Mito e Mentira de que os Europeus e a Cultura Ocidental sao responsaveis pelo que se passa no Terceiro Mundo tem contribuido pelo declinio da Europa e criado um imobilismo e impasse que so condizira a Europa ao seu suicidio.A Europa precisa de agentes revolucionarios que alertam os seue jovens para este perigo e os conduzam a lideranca de uma guerra de limpeza dos agentes derrotistas da esquerda. So assim a Europa se podera salvar do suicidio.A palavra de ordem deve ser. Nao mais o relativismo moral ou cultural.Um retorno aos valores que criaram a europa:Judeo-Cristaos.Acabar com o estado de well-fare.Promover a familia e acabar com o aborto livre e criar leis de emigracao que defendam as suas fronteiras eque que facam os emigrantes responsaveis pela aceitacao dos valores Ocidentais.

quarta-feira, janeiro 31, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Ca está um artigo bem escrito e interessante. Mas não é fácil tomar partido sobre ele. Quanto ás personagens eu tambem prefiro Aznar. Sempre considerei Soares uma pessoa medíocre a quem saiu o euromilhoes na vida. Ja quanto´às ideias é mais dificil opinar. Lembro que Aznar apoiou (e acreditou cegamente) na invasão do Iraque. Acabou convencido que fora a ETA que produzira o 11M, quando todo o mundo estava a ver que tanto num caso como noutro estava errado. Mario Soares nunca cometeu erros desses. Foi sempre mais flexivel, mais intuitivo. Mas nunca passou da mediania. Um lider à medida deste país e talvez daí a carreira que teve.

quarta-feira, janeiro 31, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Não quero acreditar. Há portugueses que preferem ser pobrezinhos a ser americanos? Claro que são classe média/alta. Ou então são parvos. Mas, podem sempre ir viver para Cuba, ou qualquer outro paraíso anti-americano.

quarta-feira, janeiro 31, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Quando os "velhos do restelo" falam em "agentes revolucionários" vem-me à memória alguns conceitos parecidos com o "nacional socialismo"...será que a Europa precisa novamente de "malhar" nesse passado? Quando há infertilidade de imaginação recorre-se sempre à trilogia, pátria, família e autoritarismo!...

quarta-feira, janeiro 31, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Artigo muito realista mas com certeza muito mal visto por aqueles que só querem acreditar no que lhes convem e não no realmente existe.

quarta-feira, janeiro 31, 2007  

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