Uma estória que não é de embalar...
por João Titta Maurício
Imaginem uma mulher, que foi passear para a praia, acompanhada por um amigo.
Brincando, rindo, divertindo-se, aventuram-se por caminhos pedregosos. Distraídos com o prazer de alegria feito, nem notam que a maré está a subir. A certa altura, a rapariga executa um salto mal calculado do qual resulta uma tão inesperada, quanto difícil situação: um dos pés fica preso nas rochas.
Ela tudo faz para se libertar, mas não consegue. Aflita, chama pelo companheiro, a quem brada por socorro. Ele aparece e, também assustado, exige que ela verifique se o pé está mesmo preso. Puxa-o. Ela, aflita, grita de dor e pede-lhe que pare. Sem paciência, ele insta-a a que se tente livrar sozinha e rápido, pois a maré está, perigosamente, a subir. Ela chora e afirma que não é capaz. Ele diz-lhe que não pode ficar mais tempo por ali, e berra para que ela puxe com força... mesmo que com isso lhe magoe o pé. Depois cura-se.
Ela diz que não e pede-lhe que vá encontrar alguém que os ajude. A resposta que recebe são gritos, onde ele lhe diz que não há tempo a perder, que ou ela aceita a ajuda dele e faz força... ou então ele deixa-a ali, sozinha, e que espere que apareça alguém.
Naquele momento de manifesta tensão, ela sabe que tem de decidir: ou espera, em solidão e em desespero, pela ajuda que não tem a certeza que apareça; ou decide-se aceitar a proposta dele e tenta, à bruta, libertar-se! Em desespero, aceita a única proposta disponível: a sugestão dele. O rapaz aproxima-se, agarra-a e ela, encontrando dentro de si forças que nem imaginava ter, puxa... puxa... e... liberta-se!
A adrenalina gerada pela tensão domina-a, e o alívio é tão grande que nem reparou... que perdeu o pé. Ele, vendo-a esvair-se em sangue, leva-a ao hospital mais próximo. Lá, alcançará o melhor tratamento que os conhecimentos médicos permitem e recebe uma prótese. Muito higiénica. Muito perfeita. Após um penoso e longo período de adaptação e recuperação, tenta recomeçar a sua vida. E, na rua, quando vestida e calçada, anda com toda a naturalidade. Quem não sabe, nem diria que usa prótese. Porém, ao acordar, quando coloca esse pé no chão, verifica a ausência de sensações tácteis, e recorda aquele dia. Todos os dias...
Perante este quadro, e imaginando que esta seria uma situação frequente, tão frequente que a comunidade deve intervir, são apresentadas três soluções preventivas. Uma, proibir as pessoas de irem para a praia (o que naturalmente foi liminarmente rejeitado). Ou então colocar nas praias, com o máximo de cobertura possível, técnicos para fazerem uma de duas: ou dispondo de meios para ajudar a remover as pedras que, pelo pé, possam prender as raparigas àquela condição desesperada; ou então, um competente médico que, sendo portador de eficazes e higiénicos instrumentos, possa – com asseio e segurança – promover o corte do pé.
Como cidadão e contribuinte, qual das soluções lhe parece dever ser aquelas que esperaria das autoridades públicas que escolheu e financia?
Se escolheu o médico higiénico, então suspeito que, com coerência, no próximo dia 11 de Fevereiro vai votar sim. Mas se exige da sua comunidade um comportamento solidário, e se espera do Estado a criação de condições que proponham e promovam o apoio àqueles que mais precisam... então bem-vindo ao Não!
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