domingo, março 18, 2007

Um País, dois sistemas

"Visto de Belém ou de São Bento, Portugal é o mesmo. Visto pela Esquerda ou pela Direita, Portugal está o mesmo. Cavaco Silva cumpriu o primeiro ano de mandato. José Sócrates celebrou dois anos em São Bento. Em tempo de balanços e de projecções, o País vive numa estranha imobilidade política. As ruas enchem-se com manifestações contra as políticas do Governo, mas o primeiro-ministro surge imparável nas sondagens. A Direita que contribuiu para a eleição de Cavaco Silva vai confessando em voz baixa o seu desalento, mas o Presidente da República mantém níveis de popularidade estratosféricos. A Esquerda domina a vida política nacional, mas o povo de Esquerda não se reconhece nas “políticas de Direita” do Governo socialista. A Direita agita-se e retorce-se, ameaça fracturas e dissidências, mas a Direita sociológica remete-se ao silêncio. Visto de Belém ou de São Bento, Portugal é o mesmo. Visto pela Esquerda ou pela Direita, Portugal está o mesmo.

Neste primeiro ano de mandato, Cavaco Silva tem vindo a exercer o seu magistério com um rigor económico. Fiel à letra e ao espírito da Constituição, o Presidente da República retirou grande parte da visibilidade política à função presidencial. Cavaco Silva não comenta, não teoriza, não critica. Cavaco Silva observa e analisa a vida política nacional. De caminho, a figura do Presidente da República ganhou em distância aquilo que perdeu em emoção.

Neste dois anos de mandato, José Sócrates lançou os alicerces do seu destino político. Ou não. O tempo que resta não poderá ser preenchido com a típica agitação sem movimento. A fase de celebração do “espírito reformista” chegou ao fim. Do primeiro-ministro os portugueses aguardam resultados – a única “propaganda” aceitável de um Governo que se encaminha para o final da Legislatura.

Mas o que se torna preocupante é a persistência de um País “normal” e que calmamente se recolhe na imobilidade. Mais preocupante ainda é uma prática política retórica, com toques de tecnocracia, e que vai aumentando a típica divisão entre o “País político” e o “País real”. A tendência para o “pântano” e para o “compromisso” parece condenar Portugal a uma espécie de grau zero da política. O Presidente da República insiste na imagem ideal do Portugal do futuro. O primeiro-ministro insiste na imagem virtual do Portugal moderno. Aos portugueses resta a imagem real de um País que não sente a obrigação de um destino comum
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Carlos Marques de Almeida

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

De um Portugal virtual moderno consigo fazer uma ideia, de um Portugal ideal futuro, não consigo ter a mínima ideia, tudo depende do ideal. Se o "ideal" fosse igual ao "virtual moderno", já haveria um destino comum e como o caminho se faz caminhando, o presente seria certamente menos penoso. Mas muitos portugueses são muito exigentes quando se trata de exigir dos outros o drama é também terem de participar.

domingo, março 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Começo por parabenizar o dr. Marqes de Almeida pelo seu excelente artigo, configurado num estilo literário apreciável. Como tal, deu-me muito prazer ler sua análise dos poderes presidenciais (e das suas fraquezas!) que levam o Presidente da República a ser uma espécie de árbitro de bancada: insulta os árbitros que estão no campo ajuízando as jogadas da sua equipa e da adversária, gritando, barafustando, discordando, vociferando, arrepanhando os (próprios) cabelos, (eu sei lá que mais!), mas sem poderes para interferir no desenrolar do jogo que se passa no relvado (neste caso, xadrez político). Resta-lhe, portanto, invadir o campo de jogos agredindo o árbitro principal de maneira selvática. Dando, assim, por terminado o jogo. Quem não se lembra do caso Jorge Sampaio/Santana Lopes? Ou seja, da bomba atómica em mãos presidenciais lançada contra o governo de então? A solução? Vestir a camisola de árbitro aos poderes presidenciais, pôr-lhe o apito na boca e dar-lhe responsabilidades de interferência directa no desenrolar do jogo. As bancadas, abstraindo os tifosos partidários (aquele desportista que se não revê em feroz partidarite clubistica), saberão, por sua vez, justiçar o trabalho levado a cabo pelo árbitro e o comportamento jogadores em campo com o seu voto nas urnas. Não é uso dizer-se que o voto é a arma do povo?

domingo, março 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

A fase de reformista está no fim?,nâo concordo consigo,vâo continuar,e vâo ser mesmo necessárias,só que o Governo que tem um bom Markting, provocou uma habituçâo no País,que as que se vâo a seguir já o povâo está calminho ,e aceita tudo.Os pêésedistas, esses estâo arrumadinhos por uns tempos,os Cêgêtêpedistas,os Capistas os Frenprofistas e todos esses istas que há para aí,isso estâo todos arrumados,já ninguèm os ouve só os seus correlegionários.E ainda para animar mais o Sócrates vem aí o novo partido do Santana/Portas que segundo informações que obtive aqui em Coimbra,vai se chamar P.A.M. ( Partido para Animar a Malta.Portanto meu caro C.M.A.,nâo admira que o Sócrates esteja em alta nas sondagens,nâo temos cá melhor,já uma vêz lhe disse que este País só vai para a frente á trancada,e é isso que o Sócrates e o Cavaco sabem,portanto nâo esperem que as reformas necessárias vai deixar de ser feitas.Ou de costas ou de lado ou de frente ou de empurrâo elas vâ mesmo para a frente.Lembra-se dos tubarôes da C.A.P.que queriam mais eletricidade verde para aquecerem as piscinas deles,levaram com o pau de marmeleiro,e estâo calados que nem uns ratos,e têm que repor o dinheiro.Fogo em cima desles. Obrigado pelo seu excelente artigo.

domingo, março 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

De facto o PR e PM tem a mesma visão do País, ambos querem que Portugal se desenvolva, mas que seja de maneira mais sólida, e por isso as reformas e os bons resultados obtidos pelo Sócrates e pelo Cavaco nas sondagens. Porque a maioria do Portugueses já se aperceberam que este governo está a fazer o que é certo. Porque cheios de políticas populares que beneficiam alguns a curto prazo, mas que prejudicam todos os Portugueses a longo prazo estamos todos, que é o que tem acontecido de á mais 30 anos para cá. Quanto á oposição tem tido uma atitude pouco credível, e é normal ter uma visão diferente, infelizmente é o que acontece sempre com a oposição, atacam todas as medidas sejam boas ou más.

domingo, março 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Artigo muito bem escrito. A verdade é que Cavaco a menos que mude rapidamente, o que não é provável converteu-se á esquerda tal como Eanes. Os líderes à direita que aparecem até ao momento são fracos e já mostraram que são imcompetentes. É assim necessário que a direita portuguesa encontra rapidamente um líder forte, credível e competente, que tem de ser necessriamente do PSD e que possa começar a organizar a resistência ao regime socialista e consequentemente derrube o Governo, caso contrário Portugal corre o risco de definitivamente ficar uma Venuzuela de Chavez ou Argentina ou seja uma "ilha" na União Europeia.

domingo, março 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Vamos lá a ver! De estranho a actual situação política só tem uma coisa: como explicar as sondagens favoráveis a este Governo, face aos escassos resultados conseguidoa? No resto bate tudo certo. A oposição está aos papeis porque o Governo tem maioria e ocupa parte do espaço da direita. O PR tem um tempo que não é o do Governo (que começa a escoar-se). Convem-lhe apoiar o Governo lembrando, entretanto, que quer ver resultados. O problema de Socrates é a situação económica, que não arranca. Mas como poderia arrancar se o Governo não faz nada por isso? Reduzir o deficit, por si só, não incentiva p crescimento! O choque tecnológico e o "investimento no factor humano" podem ser boas ideias para ganhar eleiçoes, mas depois na prática não resolvem nada! Este Governo tem um IMENSO MINISTERIO DAS FINANÇAS e, pura e simplesmente, não tem ministerio da economia.

domingo, março 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Gostei do seu artigo, é isso mesmo, temos um Presidente, que idealiza um Portugal para o futuro. Temos um Primeiro Ministro, que insiste na imagem virtual dum Portugal moderno. Portanto, um país dois sistemas. Qualquer destes sistemas não têm nada a ver com o país real. Porque nenhum deles consegue de facto tomar o toiro, pelas devidas hastes.

domingo, março 18, 2007  

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