Cegos visionários
"A Internet dá-nos uma liberdade sem precedentes para encontrarmos ou para publicarmos qualquer conteúdo sobre qualquer tema. É cada vez mais evidente que a tecnologia está a mudar a nossa vida em aspectos essenciais da nossa cultura. O acesso à informação é a área onde essa evolução se faz sentir de forma mais profunda e mais rápida. A Internet dá-nos uma liberdade sem precedentes para encontrarmos ou mesmo para publicarmos qualquer conteúdo sobre qualquer tema. É a isso que se passou a chamar ‘web 2.0’, um nome estranho que expressa apenas a simplicidade com que hoje qualquer pessoa pode publicar as suas ideias, os seus vídeos ou as suas fotos, dando expressão às suas opiniões e influenciando redes de pessoas perfeitamente reais. Mas como é esta nova possibilidade de qualquer um poder comunicar para todo o mundo está a alterar o nosso dia-a-dia, a nossa economia e a nossa cultura?
Surgiram nos últimos seis meses duas respostas interessantes a esta pergunta, dois livros com visões igualmente provocadoras mas totalmente opostas. O primeiro foi publicado em Dezembro de 2006 por Don Tapscott e Anthony Williams com o título “Wikinomics: Como a colaboração em massa muda tudo” (uma tradução literal, pois ainda não saiu uma edição portuguesa). A conclusão a que chegam é que as novas formas de colaboração que a Internet torna possíveis estão a mudar, de facto, o funcionamento da economia e a tornar possíveis novos modelos de negócio. A razão que apresentam para isso é muito simples. Até agora, a colaboração estava restrita ao horizonte físico, uma limitação quase sempre intransponível. A Internet removeu essas barreiras, permitindo a colaboração livre à escala global. O desenvolvimento do sistema operativo Linux, abrindo o respectivo código a melhorias introduzidas por qualquer voluntário, demonstrou que, mesmo numa tarefa tão complexa, a colaboração aberta resulta. A liberdade para publicar, seja através de um ‘blog’ ou criando e alterando um artigo da ‘Wikipedia’, transforma-se na liberdade para colaborar, participar e ser ouvido. Da mesma forma, a ‘Wikieconomia’ é uma economia onde todos participam. Esta mudança de paradigma faz-se sentir nas empresas, em primeiro lugar, alterando as regras de jogo da inovação. Qualquer empresa procura fazer alguma coisa de forma diferente para ganhar uma vantagem competitiva sobre os seus concorrentes que aumente o seus lucros. A forma convencional de fazer isto é confiando na investigação, geralmente realizada em laboratórios e baseada no maior secretismo quanto ao que se está a preparar. A Procter&Gamble, por exemplo, resolveu quebrar essas regras e abrir a sua investigação e desenvolvimento aos contributos de milhares de voluntários que, por um prémio, estiveram dispostos a contribuir com as suas capacidades. Os exemplos multiplicam-se nas mais diversas indústrias, do sector mineiro à televisão, mostrando que há novas oportunidades de criar valor para quem souber aproveitar estas novas possibilidades.
Há apenas um mês surgiu outro livro com uma tese diametralmente oposta. Andrew Keen defende que a Internet está a matar a nossa cultura, dando o poder de uma tecnologia infinita a uma horda infinita de macacos ignorantes. É assim mesmo, sem compromissos, que começa a introdução de ‘The Cult of the Amateur’ (”O culto do amador”, também sem edição portuguesa). Onde Tapscott e Williams vêem as novas promessas da colaboração, Keen vê cegos a guiar outros cegos, difundido as suas imagens narcísicas e amplificando interesses e experiências banais. A ‘web’, defende ele, tornou-se num espelho de nós próprios, reflectidos em ‘blogs’ artigos na Wikipedia, vídeos no YouTube, pesquisas no Google ou notícias no Digg ou no Reddit.
O mais curioso em relação ao livro de Keen é que foi a “floresta digital de mediocridade” que ele denuncia que o tornou relevante, dando-lhe notoriedade através um mar de críticas ferozes. Tão ferozes, aliás, que muitos como eu ficaram curiosos por ler o livro e o compraram. É esse o elemento essencial que Andrew Keen ignora na sua análise. Hoje, a confiança na informação e a sua relevância não resultam apenas do reconhecimento de uma fonte concreta de informação, um jornal, um site ou uma estação de televisão. A confiança também nasce da reputação, do somatório incontrolável de muitas opiniões individuais. É esse o caminho que nos guia através da floresta de informação e nos permite ir para além do que já conhecemos, um pouco cegos mas cada vez mais visionários..."
Rui Grilo
Surgiram nos últimos seis meses duas respostas interessantes a esta pergunta, dois livros com visões igualmente provocadoras mas totalmente opostas. O primeiro foi publicado em Dezembro de 2006 por Don Tapscott e Anthony Williams com o título “Wikinomics: Como a colaboração em massa muda tudo” (uma tradução literal, pois ainda não saiu uma edição portuguesa). A conclusão a que chegam é que as novas formas de colaboração que a Internet torna possíveis estão a mudar, de facto, o funcionamento da economia e a tornar possíveis novos modelos de negócio. A razão que apresentam para isso é muito simples. Até agora, a colaboração estava restrita ao horizonte físico, uma limitação quase sempre intransponível. A Internet removeu essas barreiras, permitindo a colaboração livre à escala global. O desenvolvimento do sistema operativo Linux, abrindo o respectivo código a melhorias introduzidas por qualquer voluntário, demonstrou que, mesmo numa tarefa tão complexa, a colaboração aberta resulta. A liberdade para publicar, seja através de um ‘blog’ ou criando e alterando um artigo da ‘Wikipedia’, transforma-se na liberdade para colaborar, participar e ser ouvido. Da mesma forma, a ‘Wikieconomia’ é uma economia onde todos participam. Esta mudança de paradigma faz-se sentir nas empresas, em primeiro lugar, alterando as regras de jogo da inovação. Qualquer empresa procura fazer alguma coisa de forma diferente para ganhar uma vantagem competitiva sobre os seus concorrentes que aumente o seus lucros. A forma convencional de fazer isto é confiando na investigação, geralmente realizada em laboratórios e baseada no maior secretismo quanto ao que se está a preparar. A Procter&Gamble, por exemplo, resolveu quebrar essas regras e abrir a sua investigação e desenvolvimento aos contributos de milhares de voluntários que, por um prémio, estiveram dispostos a contribuir com as suas capacidades. Os exemplos multiplicam-se nas mais diversas indústrias, do sector mineiro à televisão, mostrando que há novas oportunidades de criar valor para quem souber aproveitar estas novas possibilidades.
Há apenas um mês surgiu outro livro com uma tese diametralmente oposta. Andrew Keen defende que a Internet está a matar a nossa cultura, dando o poder de uma tecnologia infinita a uma horda infinita de macacos ignorantes. É assim mesmo, sem compromissos, que começa a introdução de ‘The Cult of the Amateur’ (”O culto do amador”, também sem edição portuguesa). Onde Tapscott e Williams vêem as novas promessas da colaboração, Keen vê cegos a guiar outros cegos, difundido as suas imagens narcísicas e amplificando interesses e experiências banais. A ‘web’, defende ele, tornou-se num espelho de nós próprios, reflectidos em ‘blogs’ artigos na Wikipedia, vídeos no YouTube, pesquisas no Google ou notícias no Digg ou no Reddit.
O mais curioso em relação ao livro de Keen é que foi a “floresta digital de mediocridade” que ele denuncia que o tornou relevante, dando-lhe notoriedade através um mar de críticas ferozes. Tão ferozes, aliás, que muitos como eu ficaram curiosos por ler o livro e o compraram. É esse o elemento essencial que Andrew Keen ignora na sua análise. Hoje, a confiança na informação e a sua relevância não resultam apenas do reconhecimento de uma fonte concreta de informação, um jornal, um site ou uma estação de televisão. A confiança também nasce da reputação, do somatório incontrolável de muitas opiniões individuais. É esse o caminho que nos guia através da floresta de informação e nos permite ir para além do que já conhecemos, um pouco cegos mas cada vez mais visionários..."
Rui Grilo
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