Chávez

"A esses representantes da direita brasileira posso lhes dizer que será mais fácil, muito mais fácil, que o império português volte a se instalar em Brasília do que o governo da Venezuela devolva a concessão que colocou fim à oligarquia venezuelana"

Hugo Chávez

"Vejo e revejo os recentes grunhidos de Hugo Chávez, em que acusa José María Aznar de ser "um lacaio de Bush", de pertencer à extrema-direita e de se assemelhar a Hitler. O espanhol provoca a Chávez "nojo e pena".

Os grunhidos não inspiram sequer a sombra de um comentário. Mas nojo e pena são, por acaso, sentimentos envolvidos na reacção de uma pessoa mediamente equilibrada ao Vitalício Líder da Venezuela. Por mim, confesso ainda um certo, e perverso, fascínio. Assistir aos espectáculos de Chávez não difere de assistir àqueles documentários dedicados a escaravelhos e invertebrados afins, os quais, apesar da inferior condição, revelam indícios de organização e, passe o disparate, de "raciocínio" notáveis. Perante um espécime como Chávez, não cessa de me espantar que aquilo, embora mal, fale. E que, embora pior, pense.

O meu fascínio pela criatura termina, porém, nas fronteiras definidas pela National Geographic. De regresso à civilização, o facto de a criatura mandar na Venezuela não é exactamente um elogio ao discernimento dos venezuelanos que o apoiam (e é uma catástrofe garantida para os restantes). Quanto àqueles que, neste hemisfério, o ergueram a bandeira do anticapitalismo, o seu discernimento já estava toldado há muito.

São gente do género do nosso Boaventura de Sousa Santos, um académico que equipara a astrologia à ciência, e que considera Chávez, Morales & Cia. a "vanguarda da reinvenção do Estado, da democracia e da esquerda". O "passado" da esquerda seria termo mais adequado. O ridiculamente chamado "bolivarismo" emergente na América Latina remonta aos fundamentos psicológicos do marxismo e derivados, ao comunismo depurado de "legitimações" teóricas ou pechisbeques ideológicos. Chávez personifica a verdade e a essência do género. Na sua bestialidade primordial não há senão violência pura: a vontade de destruição que sempre atraiu os ressentidos do Ocidente, e constituiu, literalmente no fundo, o eterno móbil das vocações totalitárias, logo do autêntico socialismo "científico"."

Alberto Gonçalves