CDS – o fim da linha
"Em 1987, quando se falava no “partido do táxi”, o CDS obteve 22121 votos em Lisboa. Estará à vista o “partido do ‘skate’”?
O resultado do escrutínio para a Câmara de Lisboa motivou uma profusão de análises políticas sobre o futuro dos partidos ditos de “direita” em Portugal.
Por razões óbvias, preocupa-me sobretudo o descaminho em que vejo entrar o CDS.
É que a dura realidade dos números é de tal sorte ostensiva que não pode ser considerada “conjuntural”. De facto, em 2005, com a candidatura de Maria José Nogueira Pinto, e sob a liderança de Ribeiro e Castro, o CDS alcançou 16723 votos (5,9%), permitindo-lhe eleger um vereador, num quadro em que o famoso inimigo do Partido, o “voto útil”, era por demais evidente. Agora, menos de dois anos volvidos, e já sob a batuta de Portas, o CDS ficou-se pelos 7528 votos (3,7%), tendo perdido, pela primeira vez em mais de 30 anos, a sua representação em Lisboa. Acresce que não houve vestígios de “voto útil”, bem pelo contrário.
Ainda neste plano, e para que se perceba bem a dimensão do desastre, lembro que, em 1987, quando se falava no “partido do táxi”, o CDS obteve 22121 votos em Lisboa. Ou seja, o CDS obteve em 2007 um terço dos votos alcançados 1987. Estará à vista o “partido do ‘skate’”?
Perante este problema, Portas anunciou um período de reflexão, após o que se propõe, agora, terminada a meditação, instaurar uma acção contra o Estado pelas sistemáticas violações – flagrantes, é certo – do segredo de justiça. É um passo deslocado, convenhamos. Afinal, não eram estas eleições um teste à sua liderança?
De resto, se houve candidato prejudicado pelas notícias de envolvimento em processos de natureza criminal foi Carmona Rodrigues, que, não obstante, conseguiu um bom resultado.
Valia a pena, pois, e o quanto antes, pensar mais detidamente nas razões que determinaram tão maus resultados eleitorais para o CDS.
É o que me proponho fazer, já que actual Direcção do CDS prefere perorar sobre “bodes expiatórios”; um ansiolítico pouco recomendável.
Assim, e desde logo, é óbvio que o CDS padece de um gravíssimo problema de credibilidade, após dois anos de guerras internas alimentadas por Portas. Infelizmente, o eleitorado ainda se recorda do tumultuoso Conselho Nacional que levou ao abandono do Partido por parte de Nogueira Pinto. Não fosse essa lamentável ocorrência, e seria ela a candidata natural do CDS a estas eleições. E granjearia um belíssimo resultado, ou não fosse Nogueira Pinto quem protagonizou o único projecto para Lisboa, digno desse nome, durante o mandato de Carmona (o projecto da Baixa-Chiado). Depois, há um conjunto de pessoas próximas da actual Direcção que publicamente defendem ideias impróprias de um Partido de matriz democrata-cristã. Aconteceu durante a recente campanha do Referendo ao Aborto e lá continuam, candidamente, com o beneplácito de quem lidera o Partido, a defender agora o casamento entre homossexuais. É evidente o prejuízo que tais posições acarretam para o CDS, já que afastam a corrente conservadora do eleitorado português que tradicionalmente vota neste Partido. Finalmente, a equipa apresentada para Lisboa não tinha um projecto próprio, diferenciador dos projectos dos demais candidatos, ou, pelo menos, não foi capaz de o exteriorizar, conquanto esteja à frente dos destinos do Partido em Lisboa há mais de 10 anos.
Dito isto, parece-me imprescindível que a Direcção do CDS arrepie caminho o quanto antes: o novo projecto de Portas para o Partido assenta, ao que tudo indica, no “pragmatismo ideológico”, isto é, numa combinação de ideias de direita com outras de esquerda, a que associa a sua proverbial capacidade de comunicação.
É o caminho errado. É o caminho do partido ‘tutti-fruti’. É o caminho que, a ser trilhado por mais tempo, fará o CDS chegar ao fim da linha.
Há ainda uma opção: recomeçar. Recomeçar com a formulação de soluções para os problemas nacionais que se escorem nos princípios de sempre do CDS: o humanismo personalista, a democracia cristã, o conservadorismo nos costumes e o liberalismo económico com sentido social e pendor nacional.
Há espaço na sociedade Portuguesa para este ideário. Espero que o CDS o volte a ocupar."
Pedro Melo
O resultado do escrutínio para a Câmara de Lisboa motivou uma profusão de análises políticas sobre o futuro dos partidos ditos de “direita” em Portugal.
Por razões óbvias, preocupa-me sobretudo o descaminho em que vejo entrar o CDS.
É que a dura realidade dos números é de tal sorte ostensiva que não pode ser considerada “conjuntural”. De facto, em 2005, com a candidatura de Maria José Nogueira Pinto, e sob a liderança de Ribeiro e Castro, o CDS alcançou 16723 votos (5,9%), permitindo-lhe eleger um vereador, num quadro em que o famoso inimigo do Partido, o “voto útil”, era por demais evidente. Agora, menos de dois anos volvidos, e já sob a batuta de Portas, o CDS ficou-se pelos 7528 votos (3,7%), tendo perdido, pela primeira vez em mais de 30 anos, a sua representação em Lisboa. Acresce que não houve vestígios de “voto útil”, bem pelo contrário.
Ainda neste plano, e para que se perceba bem a dimensão do desastre, lembro que, em 1987, quando se falava no “partido do táxi”, o CDS obteve 22121 votos em Lisboa. Ou seja, o CDS obteve em 2007 um terço dos votos alcançados 1987. Estará à vista o “partido do ‘skate’”?
Perante este problema, Portas anunciou um período de reflexão, após o que se propõe, agora, terminada a meditação, instaurar uma acção contra o Estado pelas sistemáticas violações – flagrantes, é certo – do segredo de justiça. É um passo deslocado, convenhamos. Afinal, não eram estas eleições um teste à sua liderança?
De resto, se houve candidato prejudicado pelas notícias de envolvimento em processos de natureza criminal foi Carmona Rodrigues, que, não obstante, conseguiu um bom resultado.
Valia a pena, pois, e o quanto antes, pensar mais detidamente nas razões que determinaram tão maus resultados eleitorais para o CDS.
É o que me proponho fazer, já que actual Direcção do CDS prefere perorar sobre “bodes expiatórios”; um ansiolítico pouco recomendável.
Assim, e desde logo, é óbvio que o CDS padece de um gravíssimo problema de credibilidade, após dois anos de guerras internas alimentadas por Portas. Infelizmente, o eleitorado ainda se recorda do tumultuoso Conselho Nacional que levou ao abandono do Partido por parte de Nogueira Pinto. Não fosse essa lamentável ocorrência, e seria ela a candidata natural do CDS a estas eleições. E granjearia um belíssimo resultado, ou não fosse Nogueira Pinto quem protagonizou o único projecto para Lisboa, digno desse nome, durante o mandato de Carmona (o projecto da Baixa-Chiado). Depois, há um conjunto de pessoas próximas da actual Direcção que publicamente defendem ideias impróprias de um Partido de matriz democrata-cristã. Aconteceu durante a recente campanha do Referendo ao Aborto e lá continuam, candidamente, com o beneplácito de quem lidera o Partido, a defender agora o casamento entre homossexuais. É evidente o prejuízo que tais posições acarretam para o CDS, já que afastam a corrente conservadora do eleitorado português que tradicionalmente vota neste Partido. Finalmente, a equipa apresentada para Lisboa não tinha um projecto próprio, diferenciador dos projectos dos demais candidatos, ou, pelo menos, não foi capaz de o exteriorizar, conquanto esteja à frente dos destinos do Partido em Lisboa há mais de 10 anos.
Dito isto, parece-me imprescindível que a Direcção do CDS arrepie caminho o quanto antes: o novo projecto de Portas para o Partido assenta, ao que tudo indica, no “pragmatismo ideológico”, isto é, numa combinação de ideias de direita com outras de esquerda, a que associa a sua proverbial capacidade de comunicação.
É o caminho errado. É o caminho do partido ‘tutti-fruti’. É o caminho que, a ser trilhado por mais tempo, fará o CDS chegar ao fim da linha.
Há ainda uma opção: recomeçar. Recomeçar com a formulação de soluções para os problemas nacionais que se escorem nos princípios de sempre do CDS: o humanismo personalista, a democracia cristã, o conservadorismo nos costumes e o liberalismo económico com sentido social e pendor nacional.
Há espaço na sociedade Portuguesa para este ideário. Espero que o CDS o volte a ocupar."
Pedro Melo
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