quinta-feira, julho 19, 2007

HERDEIROS SEM HERANÇA

"A decadência do PSD não começou hoje. Poupemos o esforçado dr. Marques Mendes de uma miséria que não é só dele. Atrás de Marques Mendes há uma História. Na verdade, se repararem, o naufrágio deste PSD é o naufrágio de uma geração de políticos que nasceram à sombra do cavaquismo. Não há praticamente ninguém dos que estiveram e estão agora, de Mendes a Durão Barroso, até ao eterno Santana Lopes, que não tivesse aparecido na política pátria no período de ouro em que o PSD ocupou o poder. Uma geração que dependeu de Cavaco Silva, que adulou Cavaco Silva, e a quem este, com maior ou menor resistência, concedeu honrarias e protagonismos. Uma geração que chegou cedo a cargos de Governo: Mendes ou Durão não tinham 30 anos quando se tornaram secretários de Estado e, desde então, não pararam. Uma geração que criou e apadrinhou o seu artista trágico, o próprio Santana, até ele resolver cumprir o seu destino. Uma geração que só podia acabar mal.

O essencial defeito desta geração de líderes do PSD é que nenhum teve propriamente uma educação política que não se resumisse ao contacto com o poder. Foi o poder que os fez, que os inventou e reinventou. Mas, precisamente, uma educação política não se faz no poder. O poder comprime, deforma, vicia. O poder ilude. Uma verdadeira educação política tem de anteceder o poder. Pressupõe um espírito de aprendizagem, um conhecimento da realidade, um distanciamento, um permanente exame da validade das nossas convicções. Ao contrário disso, uma geração inteira de líderes do PSD, amigos e inimigos cíclicos, aprendeu tudo o que sabe passando pelo partido e pelos governos. Jantou e intrigou, como insiders à mistura com outros insiders. Visitou concelhias. Viveu mais por dentro do que por fora. Na oposição andou atarantadamente a medir o tempo. Infelizmente para ele, Marques Mendes pertence demasiado a uma geração que não teve nunca independência para criar um pensamento político próprio, nunca reflectiu sobre o mundo em que vivia nem sobre as transformações desse mundo, nunca passou pelo choque de realidade que a personalidade exige.

Não que Marques Mendes ignorasse o problema. Ouviu e procurou moldar-se. Tendo apanhado o PSD depois do fiasco de 2005, Mendes apostou na moralização interna. Sabia que seria bem-visto. Mas, com um José Sócrates perito na impostura, isso não chegava. A política é uma competição de força, uma espécie de jogo de sumo. Mendes nunca conseguiu, não tem conseguido, mostrar que é melhor ou que faria melhor do que o actual primeiro-ministro. Não faltam por aí ideias para sustentar um discurso de oposição. Aliás, nunca houve tantas. Mas já não me parece que sejam para Mendes e, até se calhar, para a sua geração de herdeiros sem herança.
"

Pedro Lomba

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