No jobs for other boys
"José Sócrates recusou sempre falar sobre o caso Charrua – o professor contra o qual a DREN (Direcção Regional de Educação do Norte) instaurou procedimento disciplinar e promoveu comunicação ao Ministério Público para eventual instauração de processo-crime. Alegando que o Governo não se imiscui em processos disciplinares ou em inquéritos da Função Pública.
Ora, não é verdade. Como bem revela agora o caso de Celeste Cardoso, a directora do centro de saúde de Vieira do Minho exonerada do cargo com a justificação de ter quebrado o «dever de lealdade» para com o ministro da tutela. E isto porque, como consta da fundamentação do despacho de exoneração, permitiu a afixação na sala de espera do centro de saúde (no SAP) de um cartaz «que em termos jocosos utilizava declarações do ministro da Saúde, procurando atingi-lo». E porque «desresponsabilizou-se totalmente pela situação, apesar de ser a dirigente máxima do centro de saúde (...) onde o cartaz foi afixado, transferindo toda a responsabilidade para terceiros, não revelando contrição pelo sucedido». É nestes termos que se fundamenta a exoneração.
Ou seja, se Celeste Cardoso tivesse seguido o exemplo da DREN e interposto processo disciplinar ao vereador da CDU e médico do centro de saúde de Vieira do Minho que assumiu a autoria da fotomontagem e dos comentários jocosos e ainda da sua afixação, certamente não teria sido exonerada.
Assim, não chegou ao fim do mandato e foi substituída por um médico que, por coincidência, é vereador eleito pelas listas do PS num concelho vizinho (Ponte da Barca).
O despacho de exoneração é de Janeiro, dois meses antes da ex-directora do centro de saúde terminar o mandato. E meses antes de vir a público o caso Charrua.
Correia de Campos até podia ter razão para não reconduzir a senhora – até porque não preenchia os requisitos legais –, mas a forma como tudo se processou e os casos somados não abonam a favor do Governo.
O exemplo de firmeza e de autoridade que o Governo pretende dar resulta, no final, num reflexo de autoritarismo e de abuso de poder que facilmente se mistura com clientelismos partidários e outros vícios próprios das maiorias absolutas mal interpretadas.
No caso de Vieira do Minho, como no de Charrua, o poder afirma-se pelo lado mais fraco.
E isso tem custos.
Maiores ainda para Sócrates e para o Governo numa altura em que o estado de graça já lá vai e em que o Executivo dá sinais de não ter nem a determinação nem a firmeza de outros tempos. Recua nas maternidades, recua na lei do tabaco, recua nas urgências, recua na Ota (ainda que, neste último caso, o erro não esteja no recuo, mas nos seus antecedentes: no autismo e na precipitação dos governantes).
Tudo isto desgasta. E o Poder, como é sabido, mais do que se conquista, perde-se."
MRamires
Ora, não é verdade. Como bem revela agora o caso de Celeste Cardoso, a directora do centro de saúde de Vieira do Minho exonerada do cargo com a justificação de ter quebrado o «dever de lealdade» para com o ministro da tutela. E isto porque, como consta da fundamentação do despacho de exoneração, permitiu a afixação na sala de espera do centro de saúde (no SAP) de um cartaz «que em termos jocosos utilizava declarações do ministro da Saúde, procurando atingi-lo». E porque «desresponsabilizou-se totalmente pela situação, apesar de ser a dirigente máxima do centro de saúde (...) onde o cartaz foi afixado, transferindo toda a responsabilidade para terceiros, não revelando contrição pelo sucedido». É nestes termos que se fundamenta a exoneração.
Ou seja, se Celeste Cardoso tivesse seguido o exemplo da DREN e interposto processo disciplinar ao vereador da CDU e médico do centro de saúde de Vieira do Minho que assumiu a autoria da fotomontagem e dos comentários jocosos e ainda da sua afixação, certamente não teria sido exonerada.
Assim, não chegou ao fim do mandato e foi substituída por um médico que, por coincidência, é vereador eleito pelas listas do PS num concelho vizinho (Ponte da Barca).
O despacho de exoneração é de Janeiro, dois meses antes da ex-directora do centro de saúde terminar o mandato. E meses antes de vir a público o caso Charrua.
Correia de Campos até podia ter razão para não reconduzir a senhora – até porque não preenchia os requisitos legais –, mas a forma como tudo se processou e os casos somados não abonam a favor do Governo.
O exemplo de firmeza e de autoridade que o Governo pretende dar resulta, no final, num reflexo de autoritarismo e de abuso de poder que facilmente se mistura com clientelismos partidários e outros vícios próprios das maiorias absolutas mal interpretadas.
No caso de Vieira do Minho, como no de Charrua, o poder afirma-se pelo lado mais fraco.
E isso tem custos.
Maiores ainda para Sócrates e para o Governo numa altura em que o estado de graça já lá vai e em que o Executivo dá sinais de não ter nem a determinação nem a firmeza de outros tempos. Recua nas maternidades, recua na lei do tabaco, recua nas urgências, recua na Ota (ainda que, neste último caso, o erro não esteja no recuo, mas nos seus antecedentes: no autismo e na precipitação dos governantes).
Tudo isto desgasta. E o Poder, como é sabido, mais do que se conquista, perde-se."
MRamires
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