quinta-feira, julho 12, 2007

Lisboa não é só dos lisboetas

O título é óbvio. Mas, a avaliar por certos aspectos da campanha para as eleições autárquicas de domingo, a dimensão real da afirmação pode não ser. Está a encerrar uma campanha que teve o mérito de ser relativamente calma e de evidenciar o recurso a escassos meios de propaganda. (...) Porém, no que diz respeito à discussão dos grandes problemas ou das propostas apresentadas por parte dos 12 candidatos, a ideia que fica é que prevalece a visão de Lisboa no limite geográfico desta autarquia e das suas problemáticas envolventes, secundando a transversalidade deste lugar com todo o país e com o próprio mundo.

Lisboa é capital de Portugal. E, por isso, o seu destino, a sua força, a sua imagem, o seu presente e futuro, na perspectiva política, cultural ou social, têm a ver com o país. Sejam quais forem as disputas mesquinhas a que posições enviesadas do valor-região podem levar - a menos que outra capital venha a ser decretada -, Lisboa, a autarquia de Lisboa, tem de assumir-se com esse estatuto e com todas as obrigações que desse estatuto resultam para com os cidadãos deste país.

Aquilo a que obriga a dimensão cultural, política, social, económica e financeira de uma capital de um país na ponta extrema da Europa e porta de entrada a quem vem dos oceanos não teve grande presença nas agendas.
As visitas aos locais escolhidos decifram a dimensão da preferência dada a um outro regionalismo. Ou seja, não se progrediu muito em relação aos outros regionalismos que, por vezes, tanto se acusa. Nem se conseguiu demarcar, por ironia das delimitadas propostas, da acusação do preconceito nacional de que Lisboa é Lisboa e o resto é o resto, é paisagem. Antes, quase se acentuou esta perspectiva. O discurso sobre o aeroporto de Lisboa é lastimoso. Não está em causa Lisboa continuar ou não com o aeroporto da Portela.
O que está em causa é Portugal ter ou não um aeroporto à escala mundial, compatível com a continuidade da Portela. Como é que Lisboa interpreta os interesses do país ?

Votar por Lisboa é assumir deveres para com todos os portugueses. O governo autárquico de Lisboa interessa, por isso, a todo o país. Desde Caminha ou Bragança ao Algarve, às ilhas. Quem ganhar esse governo tem uma tarefa programática, de interesse nacional reeleger Lisboa como a real capital de todos os portugueses.

Paquete de Oliveira (Sociólogo e professor)
Jornal de Notícias

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