A verdade dos produtos chineses
"Escândalos garantiram que os produtos chineses passassem a ser vistos não só como baratos ms como prejudiciais para a saúde.
Quando um antigo colega tentou trazer alguma luz sobre a controvérsia referente a importação de produtos baratos da China, colocou-se à porta da Wal-Mart de Illinois e perguntou aos clientes se estavam interessados em congratular os trabalhadores chineses mal pagos pelos produtos tão acessíveis. Em resposta, e como destaca James Kynge no seu recente livro sobre o impacto global da China, a maior parte dos compradores virou costas, ignorando por completo a pergunta e o inquiridor.
Este episódio teve lugar em 2005. Mas depois de vários escândalos referentes à exportação de fármacos e comida chinesa contaminada, ocorridos nos últimos meses, semelhante exercício pode dar azo a uma hostilidade sem precedentes em detrimento de uma indiferença generalizada. Mais, estes escândalos garantiram que os produtos chineses passassem a ser vistos não só como baratos mas como prejudiciais para a saúde.
Paralelamente ao número de conflitos bilaterais entre os EUA e a China, as ironias perversas abundam. A presente onda de situações escandalosas teve início no começo do ano nos EUA quando várias marcas de rações para animais domésticos – contendo aditivos chineses e com rótulos enganadores –, provocaram o envenenamento e a morte a centenas de cães e gatos.
Como é sabido, o facto de alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos mal rotulados terem provocado, sistematicamente, o mau estar e mesmo a morte de milhares de pessoas na China tem sido largamente ignorado.
Assim, os consumidores chineses indefesos podem agradecer aos pobres animais domésticos do ocidente. Sem esta hecatombe, as autoridades chinesas dificilmente teriam tomado medidas referentes a uma regulamentação mais severa sobre estas indústrias.
Mas o aparecimento de novas normas também pode ter consequências perversas. Regra geral, o ocidente sempre encorajou a aposta empresarial na China. No entanto, uma regulamentação mais severa pode subir a fasquia dos padrões da indústria, colocar entraves à entrada de novos empresários e provocar a diminuição da concorrência ao “dizimar” os pequenos operadores. Como resultado, os grandes vencedores serão as grandes empresas estatais – detentoras de fortes laços de ligação com o Partido Comunista e que terão as novas regras moldadas aos seus interesses.
A par destes acontecimentos os líderes chineses defendem publicamente a criação de emprego, contudo, os incentivos económicos continuam a favorecer as indústrias detentoras de grandes capitais e não o sector dos serviços, sinónimo de novos postos de trabalho. Nos últimos anos, os lucros astronómicos auferidos por estas indústrias foram directamente canalizados para os órgãos e investidores estatais e não para os trabalhadores. Os outros vencedores foram as multinacionais estrangeiras que utilizam a China como base de exportação.
Na China e durante vários anos, os custos referentes à mão-de-obra têm vindo a subir, se bem que continuem baixos devido ao aumento da produtividade e à incapacidade de organização dos trabalhadores para conquistar melhorias significativas na sua condição de vida.
Mas o muito receado “preço chinês” sempre foi muito mais do que uma simples questão de mão-de-obra barata – fenómeno apoiado pela ausência ou incumprimento de normas ambientais, financiamentos vantajosos e vários incentivos oferecidos por regiões que competem entre si por investimentos favoráveis.
Para as empresas que fabricam produtos de baixo valor acrescentado, o financiamento vantajoso e os incentivos estão a ser prejudicados pelo Governo central que defende uma aposta das empresas no desenvolvimento das indústrias nacionais.
A imposição do cumprimento das normas ambientais assim como o estabelecimento de um regime regulador genuíno promete ser uma tarefa bastante mais complicada. No entanto, a autonomia local, e o desejo individual de toda e cada uma das cidades, vilas e aldeias chinesas em colher os frutos do crescimento económico tornam possível a consecução de uma normativa eficaz.
Muitos analistas estrangeiros referem que a poluição chinesa é já um problema global, pois o país do sol nascente apresenta-se como o maior emissor de gases de efeito de estufa. Mas se a poluição chinesa é o preço a pagar por ter os consumidores norte-americanos satisfeitos então não seria má ideia dividir os custos, principalmente com os países que compram os produtos chineses. "
Richard McGregor
Quando um antigo colega tentou trazer alguma luz sobre a controvérsia referente a importação de produtos baratos da China, colocou-se à porta da Wal-Mart de Illinois e perguntou aos clientes se estavam interessados em congratular os trabalhadores chineses mal pagos pelos produtos tão acessíveis. Em resposta, e como destaca James Kynge no seu recente livro sobre o impacto global da China, a maior parte dos compradores virou costas, ignorando por completo a pergunta e o inquiridor.
Este episódio teve lugar em 2005. Mas depois de vários escândalos referentes à exportação de fármacos e comida chinesa contaminada, ocorridos nos últimos meses, semelhante exercício pode dar azo a uma hostilidade sem precedentes em detrimento de uma indiferença generalizada. Mais, estes escândalos garantiram que os produtos chineses passassem a ser vistos não só como baratos mas como prejudiciais para a saúde.
Paralelamente ao número de conflitos bilaterais entre os EUA e a China, as ironias perversas abundam. A presente onda de situações escandalosas teve início no começo do ano nos EUA quando várias marcas de rações para animais domésticos – contendo aditivos chineses e com rótulos enganadores –, provocaram o envenenamento e a morte a centenas de cães e gatos.
Como é sabido, o facto de alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos mal rotulados terem provocado, sistematicamente, o mau estar e mesmo a morte de milhares de pessoas na China tem sido largamente ignorado.
Assim, os consumidores chineses indefesos podem agradecer aos pobres animais domésticos do ocidente. Sem esta hecatombe, as autoridades chinesas dificilmente teriam tomado medidas referentes a uma regulamentação mais severa sobre estas indústrias.
Mas o aparecimento de novas normas também pode ter consequências perversas. Regra geral, o ocidente sempre encorajou a aposta empresarial na China. No entanto, uma regulamentação mais severa pode subir a fasquia dos padrões da indústria, colocar entraves à entrada de novos empresários e provocar a diminuição da concorrência ao “dizimar” os pequenos operadores. Como resultado, os grandes vencedores serão as grandes empresas estatais – detentoras de fortes laços de ligação com o Partido Comunista e que terão as novas regras moldadas aos seus interesses.
A par destes acontecimentos os líderes chineses defendem publicamente a criação de emprego, contudo, os incentivos económicos continuam a favorecer as indústrias detentoras de grandes capitais e não o sector dos serviços, sinónimo de novos postos de trabalho. Nos últimos anos, os lucros astronómicos auferidos por estas indústrias foram directamente canalizados para os órgãos e investidores estatais e não para os trabalhadores. Os outros vencedores foram as multinacionais estrangeiras que utilizam a China como base de exportação.
Na China e durante vários anos, os custos referentes à mão-de-obra têm vindo a subir, se bem que continuem baixos devido ao aumento da produtividade e à incapacidade de organização dos trabalhadores para conquistar melhorias significativas na sua condição de vida.
Mas o muito receado “preço chinês” sempre foi muito mais do que uma simples questão de mão-de-obra barata – fenómeno apoiado pela ausência ou incumprimento de normas ambientais, financiamentos vantajosos e vários incentivos oferecidos por regiões que competem entre si por investimentos favoráveis.
Para as empresas que fabricam produtos de baixo valor acrescentado, o financiamento vantajoso e os incentivos estão a ser prejudicados pelo Governo central que defende uma aposta das empresas no desenvolvimento das indústrias nacionais.
A imposição do cumprimento das normas ambientais assim como o estabelecimento de um regime regulador genuíno promete ser uma tarefa bastante mais complicada. No entanto, a autonomia local, e o desejo individual de toda e cada uma das cidades, vilas e aldeias chinesas em colher os frutos do crescimento económico tornam possível a consecução de uma normativa eficaz.
Muitos analistas estrangeiros referem que a poluição chinesa é já um problema global, pois o país do sol nascente apresenta-se como o maior emissor de gases de efeito de estufa. Mas se a poluição chinesa é o preço a pagar por ter os consumidores norte-americanos satisfeitos então não seria má ideia dividir os custos, principalmente com os países que compram os produtos chineses. "
Richard McGregor

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