domingo, setembro 30, 2007

'MÃE? LIGUEI SÓ PARA DIZER QUE ESTE MÊS NÃO NOS DÁ JEITO IR AÍ. BEIJINHOS'

"Aqui há uns anos, distribuir torradeiras, frigoríficos e microondas pelas massas era desfaçatez digna do pior populismo. Hoje, dar telemóveis a velhinhos, como faz o Governo Civil de Braga com o apoio do ministro Vieira da Silva, é uma iniciativa de enorme alcance social. É possível que dos vulgares electrodomésticos de cozinha às conquistas das tecnologias de comunicação haja uma qualquer distância ética que me escapa. O Governo também espalha computadores pelo povo e poucos criticam convictamente o gesto.

Ou então foram os tempos que mudaram, e entretanto tornou-se louvável comprar a simpatia popular mediante a oferta de entulho diverso. Se é disto que se trata, e dependendo do entulho, o princípio não me parece mau. Há muito que os cidadãos desistiram de aguardar contrapartidas pelo seu empenho cívico e lisura. As pessoas votam, elegem representantes, pagam os salários dos representantes, pagam a mando dos representantes impostos directos, indirectos e acumulados, descontam para o que calha e recebem de volta reformas pífias, serviços estatais anedóticos, "desígnios nacionais", um chafariz na praça e indiferença.

Um telemóvel, pelo menos, é um bem palpável, bastante preferível ao chafariz ou a três horas de espera no centro de saúde. No caso dos "idosos isolados" de Braga, para recorrer aos termos do governador civil, o telemóvel é uma autêntica bênção, que poupa aos familiares a maçada da deslocação a casa dos velhinhos, agravando o isolamento destes mas aumentando imenso a qualidade de vida daqueles. As grandes rupturas políticas nunca são consensuais: o major Valentim, esse precursor, que o diga
."

Alberto Gonçalves

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