Onde está o preâmbulo?
"Os novos Códigos Penal e de Processo Penal, que entram em vigor já no próximo sábado, são o mais fiel retrato do desastroso estado a que chegou o Estado de Direito na República.
Desde logo, o Legislador, mesmo tratando-se de alterações em leis fulcrais, que mexem com todo o edifício penal, não se deu sequer ao trabalho de juntar preâmbulo ou exposição de motivos aos diplomas aprovados. Inédito. Insólito.
A exposição de motivos faz parte integrante da lei e é fundamental para a compreensão e interpretação da vontade do Legislador por quem tem de a aplicar, com ela trabalhar ou simplesmente a ela se sujeitar.
Por vezes, gastam-se páginas e páginas do Diário da República com verdadeiras teses de justificação dos mais inócuos actos normativos.
Desta vez, nem uma linha.
Assim sendo, é legítimo interpretar que o Legislador não quis ou não pôde expressamente expor os motivos das alterações introduzidas.
E, se assim foi, olhando para as leis e para as suas imediatas consequências, percebe-se bem porquê.
A alteração das regras do segredo de justiça, a proibição de publicidade das escutas sem autorização dos visados mesmo que após trânsito de sentença condenatória, os direitos a informação dos arguidos sobre todos os factos que lhes são imputados e todos os meios de prova constantes do processo antes de ser interrogado, o direito das testemunhas a fazerem-se acompanhar por advogados, as alterações às regras das perícias físicas e psicológicas, a nulidade da aplicação de medida de coacção não requerida pelo Ministério Público, a impossibilidade de recurso da decisão que não determine a prisão preventiva, o estrangulamento dos prazos na fase de inquérito incompatível com investigações de complexidade maior, a impossibilidade de aplicação da prisão preventiva a crimes puníveis com pena de prisão até cinco anos, o cumprimento das penas até dois anos em regime domiciliário, a recorribilidade da decisão que nega a liberdade condicional... por aí fora. Cruzando com recentes casos mais mediáticos (da Casa Pia à ‘Operação Furacão’, do caso Portucale ao ‘Apito Dourado’), não será difícil perceber qual foi a verdadeira vontade do Legislador e compreender a razão pela qual não a expôs num clássico preâmbulo. Não era, de facto, necessário. E até pareceria mal.
As alterações aos Códigos Penal e de Processo Penal eram uma necessidade e uma reclamação dos próprios operadores da Justiça. Só que não eram estas – é ouvi-los!
Não é bom para o Estado de Direito que o regime penal retroceda em vez de avançar. Que proteja mais os arguidos do que os ofendidos. Que tenha de ser mais célere do que justo. Que a Justiça, além de cega, passe a ser muda."
MRamires
Desde logo, o Legislador, mesmo tratando-se de alterações em leis fulcrais, que mexem com todo o edifício penal, não se deu sequer ao trabalho de juntar preâmbulo ou exposição de motivos aos diplomas aprovados. Inédito. Insólito.
A exposição de motivos faz parte integrante da lei e é fundamental para a compreensão e interpretação da vontade do Legislador por quem tem de a aplicar, com ela trabalhar ou simplesmente a ela se sujeitar.
Por vezes, gastam-se páginas e páginas do Diário da República com verdadeiras teses de justificação dos mais inócuos actos normativos.
Desta vez, nem uma linha.
Assim sendo, é legítimo interpretar que o Legislador não quis ou não pôde expressamente expor os motivos das alterações introduzidas.
E, se assim foi, olhando para as leis e para as suas imediatas consequências, percebe-se bem porquê.
A alteração das regras do segredo de justiça, a proibição de publicidade das escutas sem autorização dos visados mesmo que após trânsito de sentença condenatória, os direitos a informação dos arguidos sobre todos os factos que lhes são imputados e todos os meios de prova constantes do processo antes de ser interrogado, o direito das testemunhas a fazerem-se acompanhar por advogados, as alterações às regras das perícias físicas e psicológicas, a nulidade da aplicação de medida de coacção não requerida pelo Ministério Público, a impossibilidade de recurso da decisão que não determine a prisão preventiva, o estrangulamento dos prazos na fase de inquérito incompatível com investigações de complexidade maior, a impossibilidade de aplicação da prisão preventiva a crimes puníveis com pena de prisão até cinco anos, o cumprimento das penas até dois anos em regime domiciliário, a recorribilidade da decisão que nega a liberdade condicional... por aí fora. Cruzando com recentes casos mais mediáticos (da Casa Pia à ‘Operação Furacão’, do caso Portucale ao ‘Apito Dourado’), não será difícil perceber qual foi a verdadeira vontade do Legislador e compreender a razão pela qual não a expôs num clássico preâmbulo. Não era, de facto, necessário. E até pareceria mal.
As alterações aos Códigos Penal e de Processo Penal eram uma necessidade e uma reclamação dos próprios operadores da Justiça. Só que não eram estas – é ouvi-los!
Não é bom para o Estado de Direito que o regime penal retroceda em vez de avançar. Que proteja mais os arguidos do que os ofendidos. Que tenha de ser mais célere do que justo. Que a Justiça, além de cega, passe a ser muda."
MRamires
15 Comments:
O que estes politicos imcompetentes vão conseguir é transformar um cidadão em criminoso, porque vai ter que pegar na caçadeira para defender a sua vida e os seus bens. Os criminosos vão gozar com os policias, os politicos nada temem pois tem sempre um batalhão que lhes guarda as costas.
O clima deste país não é propício ao desenvolvimento bananas. Só nas zonas mais próximas do Equador. Mas apesar disso e sem explicação aparente, as bananas desenvolvem-se aqui como em nenhuma outra parte!
Muito bem Srs. Legisladores,continuem assim que vão muito bem, já agora ponham os criminosos todos à solta"coitadinhos" e prendam os cidadãos cumpridores porque nós é que somos os MAUS e "eles" as vítimas. Não há mais paciência que aguente!!! cambada de incompetentes, cada vez estaremos mais revoltados com tanta injustiça e incompetência, é de MAIS. Almada
Isto é uma vergonha, as vítimas são cada vez mais e ninguém se preocupa com elas. Por outro lado os criminosos, são cada vez mais protegidos. Sem dúvida que o que está a dar é a vida criminal. Nunca se sabe, se com as crescentes dificuldades financeiras que sinto, considerando as facilidades do novo CPP, qualquer dia não vou tam,bém optar pela mesma vida!
Com a criminalidade a aumentar assustadoramente, e ainda soltam os presos. Tudo isto porque este governo só quer poupar dinheiro, e como todos sabemos um preso custa dinheiro ao estado. Assim vem cá para fora roubar o que é nosso, mas isso tambem já estamos todos habituados, ou quase todos.
As obras dos governantes são o que se vê!? Como já há falta de segurança, mandam mais uns quantos "fora da lei" cá para fora para agitar mais as águas, e aumentar o nível de criminalidade, o que irá justificar mais policias. Logo, mais armamento nas ruas, logo mais problemas... Enfim, cada vez mais se promove a cultura da violência, dando origem a mais acções de justiça por conta própria,por exemplo.
Claro que já à partida o assunto estava destinado a "não chegar a bom porto". Jamais o (desgoverno ou os delegados do ministério público teriam coragem para enfrentar o poder económico/financeiro instituido. São estes poderes que "controlam" em contraposição à actividade fiscalizadora das "entidades oficiais", o resto é "cantiga para boi dormir".
Claro que já à partida o assunto estava destinado a "não chegar a bom porto". Jamais o (desgoverno ou os delegados do ministério público teriam coragem para enfrentar o poder económico/financeiro instituido. São estes poderes que "controlam" em contraposição à actividade fiscalizadora das "entidades oficiais", o resto é "cantiga para boi dormir".
Enquanto isto andam uns quantos pacóvios a procurar assaltantes fugidos. Para quê? Este afinal é o paraíso de ladrões, pedófilos, dirigentes de futebol corruptos, políticos idem, etc. Não gastem dinheiro mal gasto senão esta canalha não tem onde roubar...
Começo a ficar cansado de ser um trabalhador honesto e pobre..Neste país onde reina a incompetência compensa cada vez mais o crime. Porque não fazem um referendo a questionar se os portugueses querem leis mais duras para os criminosos, ou se os preferem impunes e á solta?
Este pobre governo está a enviar uma mensagem clara aos portugueses honestos: Ou fazem outra revolução corajosa ou enveredem pelo caminho da máfia e da preversão, senão não se safam. Mais uma prova que o poder económico manipula o poder político farrapilheiro.
Os cidadãos dessa espécie de Portugal têm que pensar em não pagar impostos ou mesmo em roubar porque trabalhar em Portugal não compensa mas crime sim compensa e muito. Lisboa
Como quem manda em Portugal não são os políticos, mas sim os seus patrões, logo as leis têm de ter o aval dos que lhes dão emprego, quando têm de deixar a Assembleia da República.
Ora aí está o Sr Alberto Costa no seu melhor, alguém se lembra dele quando foi MAI, eu lembro deixou a sua marca pela negativa e agora continua, defensor dos "coitadinhos deste país" e dos grandes lobies, foi as férias judiciais, que com uma grande treta enganou o povinho só veio piorar as coisas, assim vai a nossa justiça, votei nestes senhores, sinto-me enganado, mas não me enganam mais.
O povo tem a memória curta. Repare-se nos comentários e veja-se que já ninguém se lembra do Processo Casa Pia. Foi este processo, marco histórico, que fez mudar a maior parte da lei processual penal. Fica aqui o reparo.
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